Digno leitor, ao ler essa fic, apague a luz. É mais confortável e excitante, porém, devo pedir que fique atento...

                Para um bom inicio de conversa deve saber que me chamo Melissa Catharina Van Patrick, filha única da família mais rica e prestigiada de GrenVille. Porém será apenas isso que eu contarei. O resto você ira descobrir ao longo de minha historia, que começa aqui e agora.

                Ter uma festa de 15 anos é o sonho de qualquer menina, não acha? Usar aquele lindo vestido, ter uma festa perfeita, ser o centro das atenções, e sem esquecer o clímax da festa: dançar com o seu príncipe.  Para ser direta e sincera, nunca sonhei com essas coisas. Nunca gostei de festas. Mas mamãe sempre quis ver a sua única filha dentro de um vestido de debutante.

                Como sempre fui uma filha obediente, cedi tudo o que ela quis. Ela escolheu o vestido, a cor da festa, o sabor do bolo, a musica, quem seria convidado, quem não seria. Nunca a vi tão feliz. Foi nessa época que eu pude confirmar que minha mãe vivia por status na sociedade.

                - Lembre-se, você deverá agir como uma dama na frente de minhas amigas.. – Era sempre o que dizia com sua voz fina e irritante. – E seja mais feminina.

                - Sim mamãe... - Era o que ela ouvia. Note, meu querido leitor, que eu não tinha personalidade, muito menos vontade própria. Sempre fui assim, e acreditava que sempre seria.

                Primeiro de outubro, meu aniversario havia chegado. Praticamente todos da cidade estavam lá. Minha mãe estava radiante, afinal, iria mostrar a todos que era a mais rica e que só ela poderia fazer uma festa extraordinária como aquela. Meu pai mantinha sua cara sem expressão, como sempre.  A mim só restava ser gentil e boa moça, ter conversas falsas com todas as minhas supostas amigas e sorrir para as câmeras.

                O salão era na prefeitura, a decoração original era do século 18, assim como tudo em GrenVille, a cidade das bruxas, como é conhecida. Não sei como, mas conseguiram tirar todas as espadas e objetos históricos que ali ficava, menos duas imponentes lanças que se cruzavam protegendo o brasão da cidade, estampado em uma das paredes. Pode ver que o antigo salão sombrio agora estava cor de rosa choque.

                Naquela noite de outono o vento assoviava assustadoramente, o que normalmente faria os mais medrosos se trancarem em casa. Mais todos haviam esquecido os seus medos e colocado o traje de gala só para ir ver a ultima da família Van Patrick

                À meia noite minha detestável genitora anunciou a valsa. Ela havia pedido ao namorado de minha prima para ser meu par. Usando uma roupa creme com detalhes rosados ele me conduziu pelo salão.

                Tudo estava acontecendo com perfeição até que, num passe em falso, ele foi atravessado por uma das enormes lanças.Uns gritaram, outros desviaram o olhar, mas ninguém conseguiu formar uma frase.

                O corpo se encontrava ajoelhado, a lança em seu pescoço e seu olhar fixo no meu. O sangue escorria por minha face, sujava meu vestido, tingindo-o de escarlate. Eu sentia o calor e a vida do rapaz deixando o corpo lentamente, fui ao chão.

               Podia ouvir os soluços de minha prima, que agora estava abraçando o morto. Uma sombra surgiu a minha frente.

                - Melissa... – Levantei os olhos e encontrei minha mãe. Se acha que ela veio me consolar, saiba que está enganado. Ao invés de um abraço de consolo recebi um tapa, que soou por todo o salão. Todos olhavam a dama que tirava a luva suja de sangue e a jogava na minha cara enquanto seguia para fora do salão.

                Logo o corpo foi retirado, os convidados se foram e eu continuei ali, ajoelhada. Não meu caro, ninguém veio em meu socorro.

               A luz da lua refletia na enorme possa de sangue, me fazendo ver algo que ninguém havia notado, o liquido rubro estava tomando a forma de uma frase.

                - “A sua hora chegou, minha princesa.” – Li em voz alta o que estava escrito em uma caligrafia bela e arrojada. Sem entender minhas próprias ações, rasguei meu vestido e esfreguei o chão, não com medo, mais com ódio.

                Não lembro o que aconteceu depois disso, só me lembro que acordei na manhã seguinte, em minha cama, sem sangue e sem roupa.