A saga de V - Immortalis escrita por Adriana Macedo


Capítulo 6
Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Obrigado por estar aqui. Está estória é muito importante para mim. Boa leitura.



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Capitulo V

Eu observava as pequenas estrelas brilhantes no teto do meu quarto. Dante estava enroscado em algumas almofadas dormindo. Depois da briga que tivemos acho difícil voltarmos a nos falar normalmente.

Eu não podia deixar meu pai nem minha irmã, era injusto com eles. Dante disse que eles ficariam bem, a única que corria riscos era eu. Mesmo assim, eu também precisava deles. Eu bati o pé e disse não centenas de vezes, mas Dante só me deixou um tempo para pensar. E era isso que eu estava fazendo agora.

Brigamos por algumas horas, em sussurros já que minha família ainda estava acordada. Agora estava prestes a amanhecer e eu ainda não tinha uma decisão. Dante também disse que enquanto eu fui pegar o leite Robert apareceu em minha varanda, achei aquilo impossível e só mais um motivo para Dante me tirar de casa, mas parte do meu subconsciente sabia muito bem que aquilo podia ser verdade.

Dante se espreguiçou nas almofadas e lançou um olhar frio em minha direção. Ele ainda estava chateado, sei que disse algumas coisas bem mal-educadas e desagradáveis, mas ele tinha que entender, ele estava me obrigando a deixar minha família. Minha única família.

Ele andou até a janela e antes de pular me deu um aviso “Te vejo na escola”, eu assenti e então ele pulou. Era incrível como eu podia entender o que ele dizia só com o olhar enquanto estava em forma de gato. Quem sabe ele inseria seus pensamentos em minha cabeça, mas não quis pensar muito nisso só o fato de ele ler os meus pensamentos já era atordoador imagine se eu soubesse que ele pode me fazer pensar o que ele pensa.

Não consegui dar nenhum cochilo, apenas esperei a aurora e me arrumei silenciosamente para a escola. Queria ir antes que todos acordassem, não queria dar de cara com a minha mãe depois de ontem. Passei pelo quarto de Anita e ela dormia como um anjinho – ou não, pensei em Dante e em como ele ronronava como gato. – dei-lhe um beijo na testa e sussurrei um eu te amo, ela sorriu feliz e então eu fui embora.

No caminho para a escola fiquei repassando a conversa com Dante, em como ele havia dito que eu iria morar com ele como uma ordem. Eu não tinha escolhas então? Toda aquela encenação de um tempo para pensar havia sido só um pretexto? Ele realmente não me conhecia.

Sentei no jardim da escola, como eu havia chegado cedo demais à escola ela ainda estava fechada e eu era a primeira aluna a chegar. Peguei na bolsa meu velho Ipod pouco usado e coloquei os fones no ouvido.

Então um pensamento veio a minha mente e ele tinha nome. Robert. O que eu sabia daquele completo estranho? Deitei no banco e fechei os olhos deixando a musica me absorver...

Já era noite, Veneza estava fria e silenciosa parecia que eu era o único ser vivente ali. Os camponeses já haviam se retirado as suas casas, os nobres dormiam e os amantes se encontravam. Assim como eu.

Sai sem que ninguém percebesse, minha criada jurou silencio. Eu precisava ver Robert, havia dias que não nos víamos. Caminhei o mais rápido que pude até o celeiro onde costumávamos nos ver.

No caminho até lá fiquei pensando no noivo em quem minha família havia arrumado para mim. Eu sentia pena dele, eu nunca me casaria com ele. Nem que pra isso eu precisasse morrer, eu morreria feliz. Com Robert.

Nunca o havia visto, só o que sabia era o que minhas criadas me falavam, o que era muito pouco. Sabia apenas que ele era filho de um nobre muito rico de algum lugar que chamavam de Paris.

Cheguei ao celeiro antes de Robert, meu coração dava saltos e batia tão forte que alguém do lado de fora do celeiro poderia até escutar, respirei fundo algumas vezes e finalmente o acalmei. Esperar por Robert era quase tão doloroso quanto não poder vê-lo. Minha mãe nunca nos aceitaria e apenas por um motivo: Robert não tinha nenhum ouro a me oferecer, e ela também não entendia que eu não queria ouro nenhum.

Ouvi o protesto das dobradiças na porta, por precaução escondi-me atrás de um monte de feno.

- Victoria? – Robert sussurrou. Sai de meu esconderijo e corri aos seus braços.

-Robert! Você veio, estava começando a ficar preocupada que não tivesse conseguido sair do castelo, aumentaram a vigilância... – ele colocou o dedo sobre meus lábios ainda me segurando em seus braços.

- Nunca a deixaria esperar. – então ele me beijou.

- Sei que não deixaria. – ri sem folego. – eu te amo. – falei

- Eu também te amo Victoria minha amada.

Não me lembro de ter me sentido tão completa assim em nenhum momento de minha vida. A culpa de estar traindo meu pai rondava minha cabeça sempre que voltava para casa, mas nunca se instalava. O que eu sentia por aquele homem que agora me segurava nos braços era maior que qualquer sentimento.

- Fuja comigo. – ele falou, agora estávamos deitados no telhado contemplando as estrelas.

- Não posso. – falei olhando para ele, e descendo do telhado, já havíamos tido essa conversa.

- Por que eu não tenho como te dar uma boa casa e uma boa vida assim como aquele que escolheram para ti? – ele me seguiu.

- Sabes que isso não tem cabimento. Eu te amo, não amo o que tens. – falei colocando a mão em seu rosto e olhando profundamente em seus olhos azuis, ele beijou minha mão e se ajoelhou.

- Case-se comigo Victoria Halo e deixe-me fazer de você a mulher mais feliz do mundo, e faça esse pobre coitado ter esperanças de sorrir. – ele pediu

- Eu aceito. – como não podia aceitar? Pensaria nas consequências quando retornasse para casa. – Eu fujo com você. – completei, seus olhos brilhavam, ele sorria e me beijava.

Ele me tomou nos braços e vivendo meu perfeito conto de fadas até que o dia de amanha chegasse, consumamos nosso amor à luz das estrelas.

Acordei num sobressalto, o ultimo alarme para a entrada soava. Eu havia dormido no jardim?

- Que droga. – eu levantei e corri para a sala. O sonho latejando em minha cabeça.

Quando cheguei à sala os dois esperavam por mim, eu podia sentir as faíscas e a tensão que estava ali. Senti no meio dos dois, não disse uma palavra a nenhum dos dois. Não falei com Dante por que ainda estava bem ressentida por ontem, e não falei com Robert por que Dante não permitia. Mas se bem que...

- Bom dia Robert. – eu sorri para ele, pude ouvir o trincar dos dentes de Dante, ele não podia fazer nada na frente de tantos mortais. Mas o feitiço virou contra a feiticeira, eu recordei do sonho.

- Victoria é arriscado. – Robert disse me reprimindo, mas com a ternura na voz assim como no sonho. O sonho, meus pensamentos, Dante. Agora ele sabia.

- Sonhei com você. – falei não me importando com Dante, ele já sabia mesmo.

- Sonhou? – ele sussurrou, a professora estava começando a olhar para nós.

- Com a noite, no celeiro. – sussurrei. Ele arfou, ele havia lembrado.

- Victoria. – ele gemeu. Eu sorri.

- Ainda não me lembro de tudo, está vindo aos poucos. – falei.

- Aos poucos? – ele ficou preocupado. – Do que mais lembrou?

- Do dia em que fugimos. – falei com a garganta ardendo, lembrando. E ouvi um arfar do meu outro lado. Dante também estava compartilhando aquele pensamento. Antes que Robert pudesse fazer outra coisa além de me lançar um olhar triste a professora nos chamou a atenção.

- Bem, se já sabem o suficiente de Francês podem se retirar. – ele falou.

- Não senhora. – falamos os três juntos.

Não falamos mais nada até o fim da aula. Bem, não se podia agradar um sem magoar o outro. Não que me importasse com os sentimentos de Dante, ele não se importou com os meus. Olho por olho, dente por dente. Robert, no entanto estava radiante. Eu me sentia um pouco mal, eu o tinha usado.

Era estranho o jeito que meu subconsciente sabia quem em alguma parte de mim eu amava incondicionalmente o garoto ao meu lado, mas o meu consciente reprimia o meu subconsciente dizendo “você mal conhece o garoto, o amor de vocês aconteceu em outra vida, isso não tem nada a ver com você Vinny”. Eu estava dividida.

O alarme soou e então saímos em silencio da sala. Dante tinha todas suas aulas junto comigo então me seguiu. Não falamos nas aulas seguintes, e também tentei controlar meus pensamentos, eu não sabia como fazer então apenas pensava nos cálculos a minha frente. Os olhos dele tinha o mesmo aviso do dia em que nos conhecemos “PERGIO, AFASTE-SE”. E eu o obedeci.

Na hora do almoço peguei uma maçã e Dante pegou um pedaço de torta de chocolate. Sentamos no mesmo lugar da véspera e ficamos em silencio por um tempo, até que não aguentei.

- Descu... – comecei

- Desculpas aceitas. – ele respondeu mais ao meu pensamento do que a minha fala.

- Vai ficar emburrado assim mesmo? – perguntei descrente.

- Você não faz ideia não é? – ele falou. Seus olhos duros formando um diamante negro.

- De que? – perguntei.

- Suas estupidas ações não refletem só em você! Sabe o que poderia ter acontecido se me pegassem deixando você falar com ele? – ele leu meus pensamentos. – Imaginei.

- Olha, eu ainda estou bastante irritada sobre sua “determinação” de morar com você. E estou recuperando minha memoria agora e sabe é bem frustrante não lembrar o que fiz a centenas de anos atrás. Apesar de não parecer Dante eu tenho apenas 16 anos e não estou pronta pra lidar com tudo isso. – desabafei.

- Não parece que entendeu o sentido de você vir morar comigo. – ele olhou para o outro lado.

- Para falar a verdade, não entendi. – mordi com força minha maçã.

- Agora preste atenção, eu não quero obrigar você a vir morar comigo e nem queria isso pra dizer a verdade, mas eu sou apenas um peão e quando mandam eu tenho que obedecer. Sua historia já foi longe demais na visão deles e ele não querem que fuja do controle de novo. Sinto muito se a condessa esteja confusa com sua perda de memoria, mas quero que saiba que não é a única a lidar com isso. Conforme-se e pare de pensar só em você.

Depois do almoço ficamos em silencio pelo resto do dia, de novo. Não vi mais Robert pela escola, estava começando a achar que ele só participava das aulas de Francês. Na hora da saída enquanto guardava minhas coisas no armário e Dante me vigiava vi de relance Peter passar. E pelo jeito que nos olhou não parecia ter me perdoado.

- Vai para casa comigo? – perguntei.

- Não, tenho que passar em casa para arrumar algumas coisas. – ele disse frio.

- Então nos vemos amanha? – falei.

- Mais tarde. – ele corrigiu e saiu na frente, um pouco antes da chuva começar.

Peguei no armário o guarda-chuva reserva que eu guardava para emergências e sai tomando a direção contraria a de Dante.

No estacionamento pude jurar que vi o carro vermelho de minha mãe estacionado perto da secretaria, mas não prestei muita atenção nisso. O barulho de meus sapatos de salto nas poças de água formadas pelas chuvas era o único som que ouvi, era confortador. Senti-me livre.

Quando cheguei a casa tirei os sapatos e coloquei o guarda-chuva no cabide para secar, ao que parecia não havia ninguém em casa o que estava se tornando estranhamente comum. Fui até a cozinha onde a empregada enxugava e guardava as louças, era estranho como aquela mulher parecia um fantasma. Nunca soube seu nome, mas também nunca dava tempo de decorar, minha mãe sempre arrumava um jeito de demiti-las sempre que me pegava falando com elas.

Ela parou o que estava fazendo quando me viu na porta, terminou de colocar o ultimo copo no armário e saiu em direção à lavanderia. Lembrei-me do sonho, da empregada que me ajudava a sair ao encontro de Robert, minha mente fez uma ligação impossível ao passado e ao presente. Aquilo estava me deixando maluca.

Peguei umas bolachas e um pouco de agua e fui para o quarto. Tomei um belo banho com meu shampoo favorito de frutas vermelhas que deixava meu cabelo com um cheiro doce. Coloquei um jeans e uma blusa solta, meu conjunto de roupas favorito.

Comia as bolachas e lia um livro quando Dante pulou pela janela em forma de gato, eu estava disposta a fazer as pazes já que não havia escolha. Dante passaria mais tempo comigo do que eu estava disposta a aceitar. Deixei uma vasilha com leite e um pedaço de torta no cantinho onde ontem ele dormiu.

Ele percebeu o presente e miou como um obrigado. Comeu a torta e tomou o leite e depois deitou em sua almofada. Estávamos em silencio quando alguém bateu na porta e quando abri para minha surpresa era a empregada.

- Sua mãe deseja falar com você agora na sala. – e ela se retirou.

Olhei para Dante que me olhava um pouco alarmado, mas ele não podia fazer nada a não ser esperar no quarto.

Desci meio desconcertada até a sala onde minha mãe e – para minha surpresa – meu pai me esperavam. Ele me olhava meio triste e meio receoso e minha mãe com um olhar triunfante. Na mesa de centro havia uma apostila e uma sacola de compras.

- Sente-se querida. – papai falou. Obedeci e sentei a frente deles.

- O que é isso? – perguntei deixando que minha curiosidade me comandasse. Meus instintos diziam que não era nada bom.

- Seu novo uniforme. – minha mãe sorriu um sorriso que ela só dava quando conseguia o que queria.

- Meu novo uniforme? – perguntei.

- Bem querida, sua mãe e eu conversamos e decidimos que o melhor para seus estudos agora seria um colégio Interno da Suíça. – meu pai murmurou. Aquelas palavras haviam sido ensaiadas eu tinha certeza.

- E você vai amanha. – completou minha mãe. Eu fiquei em estado de choque. Ela me entregou a apostila. – Bem isso são as normas que acho que você deveria ler. Os livros e o resto do seu material eu já comprei e mandei diretamente para lá. Está aqui sua passagem – ela me entregou um papel. – E acho que você deve ir arrumar suas coisas agora.

- Eu vou para a Suíça? – falei com a voz estrangulada.

- Infelizmente filha. – meu pai confirmou. E se ele havia confirmado não havia nenhuma remota chance de minha mãe mudar de ideia.

Subi em transe para o quarto, em uma mão eu segurava a apostila e na outra a sacola com o uniforme. Entrei no quarto onde Dante me esperava na forma humana. Eu deixei que as lagrimas caíssem pelo rosto. Ele trancou a porta e me encarou. Só estava esperando que meus pensamentos se materializassem em palavras.

- Tudo bem, eu me vou morar com você. – falei.

Quando todos foram dormir – depois de mais uma briga sem nenhum sucesso de meus pais – arrumei minhas coisas assim como minha mãe havia mandando, mas não para ir ao Internato na Suíça e sim para a casa de Dante, que agora cuidava dos últimos detalhes.

Ele apagaria da memoria de cada pessoa que me conheceu, inclusive meus pais. Daqui a algumas horas eu me tornaria emancipada e maior de idade no papel. Ele se livrava de cada foto e cada mínimo detalhe que me envolvesse. Não tinha como negar que aquilo arrancava parte do meu coração.

- Quer se despedir de sua irmã? – Dante falou. Eu assenti e fui até o quarto dela.

Ela dormia profundamente e como eu sabia que daqui a alguns instantes tudo que eu falasse para ela seria esquecido só dei-lhe um beijo demorado na testa e cobri-lhe com o lençol. Antes de sair para não voltar sussurrei ao seu ouvido “Seja Feliz” e então Dante apagou sua memoria.


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Notas finais do capítulo

Reviews são bem vindos. Obrigado.



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