A saga de V - Immortalis escrita por Adriana Macedo


Capítulo 4
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Meu capitulo favorito.



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Capitulo III

Sentei-me no sofá e dona Cho serviu chá para mim. Minhas mãos tremiam e Wing olhava-me ansiosamente.

- Vai me explicar? – olhei para ela.

- Mais é claro! – ela agora estava mais calma e suas asas haviam desaparecido por completo.

-Do que Traves me chamou? - foi minha primeira pergunta.

- Victoria Halo. – ela respondeu. Colocou as mãos sobre as pernas e começou. – Esse foi seu primeiro nome.

-Como assim? – perguntei. Vinny era meu nome, meu próprio pai escolheu para mim.

-Vinny, para explicar um pouco melhor sua historia usarei seu primeiro nome – Victoria – e Traves pelo seu primeiro nome também, Robert.

Victoria nasceu em 1500. Ela era a filha única de um casal de condes muito respeitados da época, os “Halos”. Eram muito ricos, obviamente, e sua filha estava prometida a um jovem herdeiro muito rico da época. Se não fosse por um motivo. Ela estava apaixonada por Robert Ivan, o moço mais lindo e mais pobre de Veneza. Naturalmente aquilo estava proibido pelos pais da moça. Ela iria se casar com o herdeiro.

No dia do casamento Victoria fugiu, não posso dizer que a culpo. Era uma moça de apenas 17 anos e Robert tinha 21, é óbvio que ele fez a cabeça da jovem moça. Eles planejavam deixar tudo para trás e viver seu proibido amor, e viveram mais por pouco tempo. A mãe de Victoria ordenou que encontrassem e matassem a jovem. Victoria era considerada a desgraça da família.

Ela foi encontrada e morta, assim como o ordenado, mas para os camponeses Victoria havia sido morta por Robert a fim de roubar a moça. A morte de Victoria foi para Robert quase a morte, se ele não descobrisse um jeito de enganar a morte, ele então conseguiu sobreviver até a próxima reencarnação de Victoria. Mas enganar a morte é um tabu. Ninguém pode fazê-lo e por isso ele sofre as consequências. Ela jamais sobrevive depois dos 17 anos, e ele nunca terá paz.

- Meu aniversario é daqui a quatro meses. – eu sussurrei.

- Isso mesmo. – ela confirmou, nos seus olhos havia lagrimas. – Fui destinada a ser seu “anjo da guarda”. Você tem que terminar sua vida, mas para Robert só resta morte. Por isso devo afastar um do outro, só assim você terá como viver depois dos 17 anos.

- Minha própria mãe? – eu estava chorando.

- Sim. E é sempre assim, por todas suas vidas. Sua mãe sempre lhe odeia. É parte da consequência. – ela me abraçou. Eu a afastei.

- Eu quero voltar para casa. – falei.

-Não pode. – ela me olhava confusa.

-Isso tudo é mentira! – eu levantei do sofá pegando minhas coisas. Continuei – Eu não posso ter nascido a mais de cem anos atrás, eu tenho 16 anos e me chamo Vinny! Tenho pai e mãe e irmã e um namorado e eu o amo! – dessa parte eu não tinha certeza! – eu mal conheço o Traves ou Robert seja lá qual for o nome dele! Não posso ser uma reencarnação de alguém que eu não conheço. Deveria ao menos lembrar meu passado não acha?- eu suspirei e parei com a mão na maçaneta. Olhei para Wing – Vocês estão com a garota errada. – então eu fui embora.

Com lagrimas nos olhos, e enxergando a rua tão bem quanto um cego enxergaria eu fui para casa.

Quando você acha que seu mundo é típico e normal, vem uma avalanche e cobre você com historias sobre reencarnações e anjos. Minha cabeça fervilhava e eu não sabia o que fazer, tenho certeza que ninguém saberia o que fazer se em menos de 24h tudo em que você acredita e tudo que você vive fosse mentira. Aquela vida não era minha, minha família não era minha, aquele pai não era meu!

Quando cheguei à minha casa todos estavam dormindo, fui para o quarto e não fiz barulho. Dormi, e tive pesadelos. Na verdade o único que eu tive durante toda minha vida.

Eu estava numa caverna, era fria e úmida. Minhas roupas estavam molhadas devido ao lago que tive que atravessar a cavalo junto com Robert, que agora havia saído para conseguir comida, deixando-me sozinha naquele lugar. Havia goteiras e morcegos, eu estava com muito medo. Na ultima vila que passamos ouvimos o comentário de alguns capangas da condessa. As ordens dela eram claras, encontrem-na e matem-na. Robert havia me tranquilizado dizendo que minha própria mãe não teria coragem e com o tempo aceitaria nosso casamento.

Levantei da pedra cheia de limo onde estava sentada, e pus-me a caminhar de um lado para outro. Robert estava demorando demais. Os cavalos estavam lá fora, agora que a chuva já havia passado, eles pastavam o mato verdinho da beirada do rio. Eles tinham mais sorte que nós. Dois dias sem parar de galopar, não havia comido nada desde que sai do castelo. Mas não podia reclamar, eu havia escolhido aquela vida para mim mesma. E eu a viveria.

Decidi a sair da caverna, não aguentava mais o cheiro de mofo e nem os morcegos que do alto me olhavam sedentos. Tirei meus sapatos e rasguei a beira do meu vestido assim eu poderia me mover melhor.

Eu acariciava os cavalos, pronta para prendê-los quando senti uma mão sobre meus olhos. Suspirei aliviada.

-Voltastes meu amor. – e então tirei as mãos do meu rosto e virei. Soltei um grito.

- Não estais alegres com a minha visita condessa? – o capanga de minha mãe riu.

- Vais embora seu porco! – eu cuspi e me afastei.

-Não antes de fazer o que sua querida mãe mandou. – ele correu atrás de mim.

Agradecida por ter rasgado a bainha de meu vestido, eu corri pelo campo. Meu plano era correr até o rio. Não cheguei tão longe. Senti as balas atravessarem meu braço e minha perna fazendo-me perder a velocidade e ofegar de dor. Quando senti a terceira bala soltei um grito. Era meu fim. Eu queria gritar por Robert, onde estaria meu amado? Nem pude me despedir.

Senti quando aquele porco imundo jogou-me no chão e ficou em cima de mim. Com as forças que me restavam tentei tira-lo de cima de mim, não consegui ele era muito mais forte. Ficamos cara a cara no chão. Ele sorria sombriamente, então eu cuspi bem no meio de sua face.

-Vai se arrepender disso condessa. – e eu me arrependi.

Já estava sem forças, sangrando e molestada. De bruços para o chão eu estava morrendo de frio, não me restava forças nem para abrir os olhos, eu escutava ele rindo com o resto dos capangas, os quais não moveram um dedo para impedir que ele me judiasse. Só esperava pela morte e queria que ela chegasse rápido. Desejava que Robert não chegasse a tempo de me ver aqui. Ao que parece, as ordens eram me levar morta ao castelo e dizer à vila que eu havia sido sequestrada e morta por Robert.

-Ela ainda respira senhor. – alguém chegou perto o bastante de mim para confirmar o que disse, mas eu não me movi um centímetro.

-Traga a espingarda. – ele se aproximou e sussurrou ao meu ouvido. – Faça uma boa viagem condessa. – Senti o cheiro da pólvora bem próximo e sussurrei.

-Robert eu te amo.

Acordei abafando o grito no travesseiro e suando frio. Aquele havia sido ainda mais real, eu finalmente conseguia lembrar de todo o sonho, e agora o que eu queria era esquecer. Sentia-me suja tanto por dentro como por fora. Podia lembrar o cheiro daquele homem em cima de mim, do cheiro da pólvora e do zunido da arma em meu ouvido.

Aquilo não podia ser real, eu estava aqui e muito bem. Eu estava viva. As lagrimas corriam pelo meu rosto. Como eu poderia não lembrar-me de um amor pelo qual eles dizem que eu morri?

Toquei meu braço, era como se sentisse a bala pegando-o de raspão. Doía muito. Olhei no relógio eram quase cinco horas, eu esperaria pela manha, tinha absoluta certeza que não conseguiria dormir novamente.

Sai de casa muito mais cedo que o normal, estava avida por respostas e dessa vez eu não fugiria, eu não iria ser covarde. Wing teria que me responder tudo! Então antes de ir para a escola fui até a casa dela.

Bati varias vezes na porta e ninguém respondeu. Tentei olhar pela janela, mas as cortinas estavam empatando a visão. Ela não podia ter ido tão cedo para a escola. Era estranho como eu me sentia observada ali.

Olhava para o enorme jardim a frente da casa e não via ninguém, mas não passava a sensação de alguém de observando. Bati novamente na porta. Alguém finalmente atendeu.

-Dona Cho! – eu agradeci e a abracei pegando-a num susto. – Cadê a Wing? – olhei para dentro da casa. Dona Cho que olhou com os olhos chorosos e fungou.

-Ela foi embora. – disse.

-Como assim? – eu explodi e entrei na casa. – Cadê ela dona Cho, não é hora para brincadeiras! – assim que entrei na sala, a pessoa que estava sentada no sofá levantou.

-Como ousa a entrar em minha casa? – ele explodiu. Eu congelei.

- Quem é você? – perguntei.

-Quem é você? – ele revidou. Então dona Cho interviu.

- Sua nova missão anjo, ela é a reencarnação de Victoria. – Dona Cho disse.

-Essa então é a Victoria? – ele baixou o tom e encurtou o espaço entre nós. – Me desculpe não quis ser grosso, só estou cansado da viagem.

- O que aconteceu com a Wing? – eu perguntei sem desculpa-lo.

- Wing? – ele me olhou confuso – A sua anja da guarda foi tirada desse caso por envolver-se emocionalmente com você! Então eu assumo a partir daqui, com total liberdade de mata-la se me desobedecer. – ele falou.

-Envolver-se emocionalmente? O que você está dizendo? – falei.

- Ela foi tirada do caso antes que perdesse as asas. – ele falou voltando ao sofá. – Isso mata um anjo sabia? – ele olhava como se me culpasse

- Onde ela está? – fui até ele

-Voltou para seu lugar de origem ou está protegendo outra pessoa, como qualquer outro anjo.

-E quem é você? – eu perguntei.

- Pensei que já soubesse. – ele riu. – Prazer seu mais novo anjo da guarda. Mas pode me chamar de – ele pensou por um momento – Dante.

Cheguei à escola antes de Dante, pelo que disse, ele estudaria no lugar de Wing e ninguém a lembraria a não ser eu, então era melhor eu manter o bico calado – essas foram suas palavras. Também disse as regras, eu não deveria chegar perto de Traves, ele disse que não era nada pessoal, só estava cumprindo ordens e por fim disse que não o incomodasse a não ser que fosse extremamente necessário. Não preciso nem dizer que ele me irritou logo de cara não é?

Mas aquilo nem de longe me assustou ou me desanimou. Mas sim o que a dona Cho disse antes que eu saísse.

- Tome cuidado. Se novo anjo da guarda recebeu uma promoção, ele nem sempre foi um anjo superior. Antes ele era um anjo inferior. – ela disse.

- Como assim – perguntei.

- Ele era um anjo da morte. – ela respondeu e bateu a porta.

Aquilo definitivamente acabou com meu dia. Além de ter perdido minha melhor amiga e tudo em que acreditava, meu novo anjo da guarda era um anjo da morte. Legal!

Na escola, minha maior preocupação era encontrar Robert/Traves – ainda não tinha decidido por qual nome chama-lo – se eu o encontrasse eu não saberia o que dizer. Mas eu sabia qual a primeira coisa a fazer assim que cheguei.

-Peter, eu preciso falar com você. – disse chegando ao seu grupo de amigos.

- Estou um pouco ocupado. – ele virou-se para os amigos e riu debilmente.

- Não perguntei se está ocupado, quero falar com você! – eu disse firme e o puxei pela manga do uniforme para longe do grupo.

-Olhe se ainda está brava comigo por causa do americano saiba que não fui eu que comecei...

- Calado. – eu o interrompi. – O que eu quero falar com você não tem nada a ver com Traves. – o que não era bem verdade.

- Então o que é? – ele falou

- Quero terminar com você. – falei. Por um momento pensei que Peter ia desmaiar, seu rosto ficou amarelo e suas pernas pareceram meio bambas, mas ele rapidamente recuperou o equilíbrio e passou as mãos pelos cabelos castanhos.

- Se é isso que você quer. – sua voz saiu estrangulada, como se estivessem acabado de socar seu estomago. Quase senti pena, quase.

- Sim, é isso. – disse firme.

- Ok. Então. – ele falou olhando-me nos olhos. Seus olhos castanhos úmidos.

- Amigos? – eu sorri e levantei a mão. Ele a olhou e fui embora. Bem, acho que não.

Fui para a aula de Francês com um gosto amargo na boca, seria minha primeira aula com Dante. E como ele havia assumido o lugar de Wing, ele sentaria ao meu lado, e não era só isso, Traves/ Robert sentava ao meu lado também. Seria um ótimo começo de dia.

Entrei na sala e ainda havia poucas pessoas, sentei em meu lugar e esperei pela tempestade. Não esperava que os dois – Dante e Robert – se vissem e apertassem as mãos como bons amigos, esperava algo como a reação de Wing. Pensar nela doía.

O primeiro a entrar foi Dante, ele se postou ao meu lado normalmente, como se fizesse aquilo há séculos e puxou os livros da bolsa colocando-os na mesa. Ele viu que eu o observava e olhou pra mim.

- O que foi? – ele me olhou com seus olhos negros.

- Nada. – respondi. Tive um estalo, já havia visto aqueles olhos antes. Mas antes que pudesse perguntar ele falou.

- Soube que terminou com Peter. – ele disse como se fosse um assunto normal e sempre soubesse que eu estava namorando. Eu nunca havia dito nada a ele.

- Como sabe? – estreitei os olhos.

- Está pensando tanto nisso que está me dando dor de cabeça. – ele fingiu dor.

- Você pode ler meus pensamentos? – eu levantei da cadeira e falei mais alto do que planejava. Ele me puxou de volta, fazendo-me sentar.

- Claro! – como se fosse óbvio. – Você os deixa abertos, qualquer um poderia ler se quisesse. – ele não parecia nem um pouco culpado.

- Como assim abertos? – falei

- Não os protege. – ele me olhou como se eu sofresse algum problema.

- Claro isso esclarece tudo. – falei sarcástica.

E então o momento esperado aconteceu, Robert entrou e primeiramente olhou para mim e sorriu depois ele viu Dante e trincou os dentes. Ao meu lado Dante cerrou os punhos em cima da mesa e falou.

- Esse idiota ainda teve coragem de vir? – Dante disse.

- Aqui na escola não. – falei pressentindo que a qualquer momento eles poderiam começar a brigar.

Robert sentou ao meu lado, mas não disse nada. Seus punhos estavam tão cerrados quanto os de Dante. A professora entrou naquele momento. Que senso de oportunidade, pensei grata pela primeira vez em vê-la.

Essa foi de longe a aula mais tensa que eu já tive. A professora não comentou sobre o aluno novo Dante, ela simplesmente passava por ele e falava como se já estivesse totalmente acostumada a sua presença. Ao meu lado os dois soltavam faísca. Estava morrendo de dor de cabeça e queria muito ir à enfermaria, mas eu sabia que o único motivo de eles não estarem se matando nesse exato momento era eu. Eu estava no meio dos dois.

- Bem pensado senhorita. – Dante sussurrou em meu ouvido. Ele estava lendo meus pensamentos de novo. Idiota! Robert vendo que ele Dante estava perto demais soltou um rosnado baixo. Uma parte de mim queria loucamente explicar a ele que não era nada do que ele estava pensando, essa era minha parte Victoria.


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Notas finais do capítulo

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