Laura E Edgar - Um Novo Olhar escrita por Bia


Capítulo 42
Família


Notas iniciais do capítulo

Queridas leitoras, desculpa pela minha ausência, por motivos pessoais não pude postar nas últimas duas semanas, pois estava fora da minha cidade... Agora que voltei a minha rotina e como havia prometido que sempre postaria aos domingos, hoje estou aqui para fazer isso bem cedo e espero que gostem e comentem... Quero dedicar este capítulo a alguém especial e que agora é uma estrela... Saudade eterna... E a todas que me apoiaram na minha ausência... bjs e meu obrigado.



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Família (capítulo 42)

– Então Antônio Ferreira, trouxe a matéria sobre os revoltosos da Marinha. – Guerra ansioso e com um sorriso de quase deboche de mim.

– Não me fala este nome... Só de ouvir quero subir pelas paredes de tanta raiva... – Entreguei a pasta ao Guerra e ele folheou algumas folhas. - Trouxe e não imagina o trabalho que meu deu.

– Raiva, ou ciúmes, Edgar? – Definitivamente Guerra não leva a sério meus sentimentos em relação ao Ferreira.

– Vamos nos atentar a matéria? – Falei seriamente.

– Então, é ciúmes mesmo... Eu sabia... – Guerra não parava de rir de mim.

– Você tem que revisar a matéria não? – Disse seriamente.

– E perder esta sua cara... Edgar, sei que a matéria está ótima, e sua cara esta sensacional... Se você pudesse ver a fumaça saindo da sua cabecinha, até você iria gargalhar comigo. – Edgar não parava de rir de mim.

– Eu não sei por que ainda permaneço seu amigo... – Irritado.

– Por um motivo bem simples meu caro, Antonio Ferreira... Eu e você somos como você e a Laura, pode ter o que for, podemos ficar longe um do outro o tempo que for, porém meu amigo, ninguém nos separa... Sem contar que o senhor me ama, está é a verdade... Sem contar que nos últimos tempos tem me divertido muito com estes ciúmes todo...

– A única verdade que vejo é que ainda terei que rever as bases dessa amizade... Isto sim... – Disse seriamente, apesar de não deixar de achar engraçado o que Guerra acabara de dizer.

– Seja honesto com você mesmo... Você não vive sem mim, Edgar... – Guerra não parava de rir. E eu confesso que não aguentei e o acompanhei...

– Agora mudando de assunto... A Laura te contou que esteve aqui, atrás do Antônio Ferreira.

– Ela me disse e foi bem claro quando falou... – Disso já não achei tanta graça.

– Ela quer se encontrar com ele, ou com você... Sei lá até eu começo a ficar maluco com esta história... – O divertimento do meu amigo apenas aumentava.

– Eu sei...

– O que eu faço? Dou uma desculpa qualquer e falo que o Ferreira não pode falar com ela... Ou você vai tomar coragem e falar finalmente a verdade sobre quem é o Antonio Ferreira...

– Eu já tentei falar em algumas vezes e me faltou coragem... Tenho medo de falar e ela ficar chateada comigo por não ter dito nada... Logo agora que tudo vai bem com a gente... Eu quero falar e não tenho coragem...

– É, mas sabe que não vou poder inventar desculpas o tempo todo... Tenho certeza que a qualquer momento ela virá bater aqui na porta atrás de uma resposta... É está bem determinada em conhecer o Ferreira... Eu consegui adiar por alguns dias, porém não vou conseguir para sempre, conhece muito bem a sua esposa e ela não vai desistir, mesmo que você peça, ela não vai...

– E eu não sei... Só de pensar que ela quer conhecer o Ferreira, meu sangue ferver de raiva... Tenho vontade de dá uns bons socos naquele jornalistazinho mequetrefe...

– Antes que você comece sua auto-flagelo... Seria bom você pensar na possibilidade de se conversar com a Laura... Ela é a sua esposa, vai ser compreensiva com você...

– Até parece que você não conhece a Laura, para ela achar que eu estava mentindo, não custa muito... Ela pode interpretar errado e tudo que temos agora ir por água abaixo e isso, Guerra, eu não quero... Sei perfeitamente o que é viver sem a Laura e não quero passar por isso novamente... Nunca tivemos tão unidos, é quase igual ao tempo do início do nosso casamento e morro de medo de perder isso mais uma vez... Só eu sei o que passei naqueles anos todos e não quero reviver nada disso de novo... Foi através do Ferreira que conheci a Catarina, você sabe disso... Ela não vai gostar de saber desta parte da biografia do Ferreira, se não fosse por ele... Tenho medo que isso seja mais um motivo para uma briga, ou pior, outra separação... Eu não aguento isso não.

– Edgar, eu acho que você subestimando a Laura...

– Talvez, eu só tenho medo de perdê-la novamente, sabe o quanto foi difícil viver sem ela todos estes anos...

– Edgar, a Laura adora seu texto... E nele está um Edgar que ela ainda não conhece, porém já admira muito... Quando ela souber que se trata de você... Eu acho que a reação dela vai ser muito positiva... Acho que ficará impressionada com você... O jornalista que tanto admira é o homem a quem ama... Ela já admira você quando souber, vai admirar muito mais... Eu tenho certeza disso... – Guerra tentava me animar.

– Queria ter esta sua confiança... – Desanimado.

– Edgar, pelo que me consta você sempre foi um homem confiante...

– Só que agora... Eu não te contei ainda...

– O quê?

– Se já não bastasse o Antonio Ferreira, agora temos outra pessoa a quem Laura começa a nutrir uma grande admiração? – Quase sendo sarcástico.

– Não me diga que você inventou outro pseudônimo... – Guerra soltou um sorrisinho malicioso.

– Falo sério Guerra... Laura conheceu um tal de Henrique Medeiros e pelo jeito gostou muito de conversar com ele...

– Finalmente... Alguém real para você sentir ciúmes...

– Guerra!!! Falo Sério e você vem com piada... Aliás, hoje o senhor está insuportável com estas piadinhas sem graças... – Queria fuzilá-lo.

– Hoje eu estou inspirado... – Guerra continuava a rir.

– Você está impossível hoje, isto sim. – Disse sério.

– Desculpa... Desculpa... Qual o nome que você falou?

– Henrique Medeiros... A Laura gostou muito de conversar com ele, tinha que ver a animação dela ao falar desse talzinho... Posso com isso?

– Ela disse alguma coisa que pudesse... Sei lá... Demonstrar algum interesse por ele... – Guerra só podia está de gozação comigo.

– Carlos Guerra, o que você quer insinuar...

– Eu nada... Antes de você ter uma sincope no meio do meu escritório... Como soube da existência deste tal Medeiros...

– Laura me contou, quem mais poderia ter feito...

– A própria Laura te contou, assim, do nada?

– Mais ou menos isso... Ela me contou que conheceu deste tal sujeito aí...

– E o que tem demais?

– Como assim, o que tem demais? Laura gostou de conhecer outro homem...

– Edgar, meu caro... Em primeiro lugar, acho melhor o senhor começar a controlar este seu ciúme... Afinal de contas, metade desta cidade é formada por homens se você tiver ciúmes de cada um deles... Você não chega aos trinta anos, este seu coração não vai aguentar tanto ataque de ciúmes... Em segundo lugar se a Laura foi quem te contou sobre o Medeiros, então meu amigo não tem com que se preocupar...

– Por que não?

– Se foi à própria Laura quem te contou... É porque ele não teve ter grande importância para ela.

– Como não, ela ficou impressionada com ele... Tinha que vê o entusiasmo dela.

– Edgar, você conhece sua mulher melhor que ninguém... Se a Laura foi a primeira a te falar é porque achou que você merecia saber deste rapaz, não vejo a sua querida esposa como alguém leviana... Ela participou disso para você... Realmente pode até ter ficado impressionada com ele, porém, ela quis que você soubesse e isso é o que é importante para a Laura... Apenas quis participar a você que conheceu alguém... Já reparou que quando soube do Ferreira, ela foi falar com você e agora faz o mesmo com este outro... o tal Medeiros... Quer que você saiba da vida dela... É a sua opinião que importa para ela e não o do Ferreira, que é você mesmo e coitada ainda não sabe disso – Guerra não agüentou segurar o riso. - ou o do Medeiros... Será que está tão cego que não consegue reparar isso... É sempre você Edgar...

– Não sei Guerra, quando penso que a Laura... Pode se interessar por outro homem... Eu fico para morrer...

– Só que o senhor não está morto, ao contrário, está bem vivo. A sua esposa está te dando um voto de confiança, aproveita isso... Edgar, se a Laura não te quisesse, acredite, meu caro, ela já teria deixado isso bem claro para você... Outro dia mesmo ao vir aqui e falar do Ferreira, eu perguntei a ela se você sabia, ela me respondeu que você já estava ciente que procuraria por mim e do desejo dela de conhecer Ferreira... Perguntei a ela o que deveria falar se você perguntasse algo, a resposta dela foi: a verdade. Então Edgar, acha realmente que a Laura possa querer que você não saiba de alguma coisa...

– Ela foi bem clara comigo, disse que tinha procurado você... Eu confio na Laura, meu receio é dela perceber que eles possam ser mais interessantes do que eu. Meu pavor é que ela pergunte como eu conheci a Catarina, por exemplo, e foi através do Ferreira, eu tenho medo que isso a afaste de mim... Se você soubesse o pânico que tenho de perder a Laura novamente...

– Edgar, se você continuar a agir desta maneira boba, talvez isso possa até acontecer... Agora, se você for o homem que sempre foi, e este sim, que fez a Laura se apaixonar... Meu caro, você sempre terá a sua esposa ao seu lado. Ela aprendeu amar o homem moderno e com pensamentos avançados que veio de Portugal, e você é este homem, então meu caro porque não deixa de lado toda esta insegurança e este ciúme todo e vá viver sua vida com a sua Laura. Em algum momento ela te perguntou como você conheceu a Catarina?

– Nunca, nunca perguntou nada...

– Se ela não perguntou é porque não quis saber... Não sei se um dia ela vai querer saber ou não. Acredite em mim, caso isso ocorra, com certeza a melhor maneira é falar a verdade... Por outro lado, vejo que ela quer ficar bem com você e deixar isso tudo no passado e é o que você deve fazer por hora. Se perguntar, você fala, se não deixe por conta dela... Uma coisa eu tenho certeza, ela não voltou para saber como você conheceu a mãe da sua filha e sim porque ainda te ama... E pelo que me consta não é pouco, do contrário, não teria voltado.

– E este Henrique Medeiros?

– O que tem ele?

– Pelo jeito é alguém que chamou a atenção da Laura...

– Uma coisa você tem a seu favor, meu amigo... A Laura com ele não casa. – Guerra começou a ri. - E você também... Edgar, eu sei que vocês dois estão juntos, apesar de ainda serem divorciados... E isso, é algo que você tem a seu favor... – Praticamente as gargalhadas.

– Eu posso saber como?

– Que tipo de advogado é você... Se esqueceu que nem você nem a Laura podem se casar novamente... Se houver um casamento, neste caso seria a revogação do divórcio. Por incrível que pareça até o divórcio prende vocês... – Guerra ria da própria piada ridícula.

– Isto foi a coisa mais idiota que eu já ouvi... Não creio que outra vá superar isso...

– Agora falando sério... Conte para Laura que é o Ferreira... Tenho certeza que ela vai adorar saber que o marido dela e o mesmo homem que assinou a matéria que tanto a tocou... Edgar, finalmente, a Laura vai saber que você compreendeu o sofrimento dela e ainda colocou no papel... Se ela quer tanto conhecer o tal jornalista é porque ficou impressionada... Converse com sua esposa, diga a verdade. Eu tenho certeza que você vai ter uma bela surpresa...

Guerra falava, mas tinha tantas dúvidas e tanto medo da reação da Laura não ser exatamente a que o meu melhor amigo descrevia. Medo que isso causasse mais um mal estar entre tantos que já haviam afetado nossas vidas... Tomar coragem para falar... Junto com o desejo que revelar de uma vez por todas que sou eu quem ela admira...

– Está bem... Eu vou contar a verdade para a Laura... Eu preciso de mais uns dias... Quando você pretende publicar a nova matéria do Antônio Ferreira.

– Vou fazer uma revisão hoje, a edição de amanhã já esta fechada e a gráfica já está imprimindo... Depois de amanhã sai à matéria nova... Vou lê agora...

– Então você vai me fazer um favor... Dois ou três dias depois que esta matéria for publicada, quero que mande uma mensagem para a Laura dizendo que o Ferreira irá se encontrar com ela no Bar Guimarães, no dia seguinte, às 5 da tarde... Pode ser assim? – Ansioso.

– Então eu tenho uma resposta do Ferreira.

– Tem... E seja o que Deus quiser...

– Eu vou marcar com a Laura daqui a dois dias está bem para você. No dia seguinte a da publicação da matéria.

– Está... Bem... Está bem...

– Vai dá tudo certo, Edgar... Tenho certeza que ainda vamos rir muito disso tudo... – Tomara que Guerra esteja certo.

Dois dias depois lá estava ela, publicada como Guerra havia falado, senti um frio na boca do estômago, não pela matéria porque já sabia que amanhã, no final da tarde, seria o encontro de Laura com Antônio Ferreira, ou melhor, comigo. Laura não havia dormido aqui em casa, Melissa veio ontem para cá e daqui a pouco a levaria para casa de Isabel onde teria mais uma aula com Laura. Tomei meu café junto com minha filha e depois pegamos o caminho do Cosme Velho onde minha esposa já estava a nossa espera...

– Boa dia, tia Laura. - Melissa abraça a Laura que retribui com um beijo.

– Bom dia querida, como você está linda hoje. Bom dia Edgar, como passou a noite.

– Solitária.

– Foi por uma boa causa... – Ela tentou segurar o riso, sem grande êxito.

– Então menina linda, preparada para mais uma aula...

– Estou. Não vejo a hora de começar...

– Que bom...

– Então já vou indo... Depois conversamos...

– Por que você não fica. – Não esperava um convite de Laura.

– Quer que eu fique? Talvez minha presença atrapalhe um pouco...

– Sua presença nunca atrapalha, Edgar... Eu fico com a Melissa ali na sala de jantar, enquanto o senhor fica na sala, já leu a matéria sobre a revolta dos marinheiros? Está ótima, li assim que o jornal chegou.

– Eu já li... Do Antônio Ferreira... – Sentia-me levemente desconfortável, nada que a Laura tivesse notado.

– Ótima matéria, não? Nossa eu fico admirada com ele conseguiu entrevistar os marinheiros, ainda dentro dos navios. Aquele marinheiro que recebeu mais de cem chibatadas... Nunca imaginei que fossem tratados daquela forma, é muita crueldade com quem ajuda a cuidar do nosso país... Fico impressionada com a coragem do Ferreira de se expor assim... É um jornalista maravilhoso. – O entusiasmo que ela falava da matéria, por um momento tive vontade de falar ali mesmo, e pensar que talvez amanhã tivesse finalmente meu encontro com a Laura para esclarecer quem era o jornalista que ela tanto admira.

– Que bom que acha isso... – Ainda desconfortável.

– Oh, Edgar... Quer tomar um café na cozinha... Melissa você fica um pouquinho aqui, enquanto converso com seu pai... – Laura nem percebe, porém segura minha mão antes de me conduz corredor adentro.

– Está bem...

– Vamos... – Laura me levou até a cozinha e quem disse que resisti ao chegar lá... Apenas a beijei.

– Calma... A Melissa está na sala... Está muito ansioso?

– A senhora quer dizer saudoso... – Beijava o pescoço dela enquanto a segurava pela cintura.

– Eu também estou com saudades... Eu tenho uma coisa para te falar...

– O quê é?

– Pouco antes de vocês chegaram, eu recebi uma mensagem do Guerra...

– Mensagem? – Outro friozinho na boca do estômago.

– O Antônio Ferreira aceitou conversar comigo amanhã no Bar Guimarães...

– Que bom... – O som da minha voz quase não saiu.

– Eu sei que não gosta da ideia... Por isso mesmo quero que venha comigo ao encontro... Que tal? – Ela me olhava de um jeito tão meigo.

O que eu poderia responder naquele momento...

– E a que horas será seu encontro com o Ferreira?

– Ás cinco... No final da tarde... Confesso que estou ansiosa... Não vejo à hora de me encontrar com ele... – Seu entusiasmo, parecia uma menina quando tem a promessa que vai ganhar uma boneca em breve.

– Você realmente quer tanto se encontrar com o Ferreira?

– Eu quero sim, Edgar... Gostaria que ficasse um pouquinho feliz comigo... Não precisa ter ciúmes... Por isso que quero que vá comigo. Tenho certeza que vai gostar muito de conversar com o Ferreira, assim como eu... Eu quero este encontro há tanto tempo e seria tão bom se fosse comigo...

– Eu gostaria muito, só que não vou poder... Lamento Laura... – Tentei disfarçar.

– Tem certeza? Será que não pode dá um jeitinho de ir... Quero tanto que esteja comigo amanhã...

– Eu já tenho um compromisso marcado para este horário... – Detestava mentir para Laura. – Acho que não vou poder desmarcar... Quem sabe outro dia converso com o Ferreira. Quem sabe assim entenda a admiração que minha esposa sente por ele.

– Que pena, queria tanto que fosse comigo... Assim, tenho certeza que esta sua ciumeira com o Ferreira iria passar... Compreendo que não possa adiar.

– Passou um pouquinho... Não vou negar que ainda me sinto desconfortável... Já que a senhora deseja assim... Quem sou eu para dizer qualquer coisa, se quer conhecer então vá conhecê-lo. – Laura me beijou no rosto.

– Fico feliz que não se sinta tão incomodado... Só lamento que não possa. Tenho certeza que assim que perdesse esta cisma, vocês se tornariam bons amigos. – Era tão bom ver o sorriso de Laura.

– Quem sabe outro dia... Acho melhor a gente voltar a Melissa está nos esperando...

– É melhor... Antes... Então teve uma noite solitária... – Laura me provocava acariciando meu pescoço.

– Eu não imaginava que aquela cama pudesse ser tão grande... Você faz muita falta... A senhora me deixa cada vez mais mal acostumado... Deveria proibi-la de me deixar sozinho por tanto tempo... Quase não consegui dormir imaginando a gente naquela cama.

– Eu já estou acostumada com você do meu lado... Foi difícil aguentar a saudade... Mas eu não vou negar eu dormir muito bem, nesses últimos dias eu tenho dormido muito bem, Sabe que nem tenho acordo com facilidade durante a noite, acho que meu sono está mais pesado que ou seu, porém, fico um pouco sonolenta quando acordo... Dá uma preguiça de sair da cama, eu tenho vontade de ficar um pouco mais deitada... Nada que um café bem forte não resolva... Em falar nisso, quer um café?

– Não obrigado... Vamos... A senhora tem uma aula para dá.

– Vamos... Porém, antes... – Senti um beijo apaixonado.

– Melhor que café... – Era tão bom tê-la assim, perto de mim e segurava pela cintura o mais próxima possível do meu corpo.

– Bobo. – Fez um carinho na minha barba e mais um beijo no pescoço.

Laura e Melissa ficaram na sala de jantar. Era a primeira vez que via a Laura dá aula para nossa menina... Eu, como um pai coruja e um marido apaixonado, fiquei ali, lendo o restante do jornal, só que não resistia e ficava ali, contemplando as duas... Minha filha fica tão à vontade com a Laura, e ficaram ali... Não me intrometia apenas observava... Na realidade ficar junto a elas... Era a minha família... A gargalhada das duas, a cara de séria da minha Abelhinha quando tentava resolver algum exercício e Laura ficava supervisionando atenta e depois explicava... Confesso que nem vi a hora passar, foi uma das manhãs mais agradáveis que passei... Depois elas se levantaram e Laura, mais uma vez nos convidou para almoçar e eu a ajudei a preparar a comida... Era uma delícia ficar ali com as duas, elas conversando entre si e eu era quase um mero observador...

– Estava pensando... Faz alguns dias que estou com vontade de comer aquele pão maravilhoso feito pela Dona Carmen. Será que seu pai, Melissa, me ajudaria a fazer?

– Papai o senhor vai ajudar a tia Laura a fazer pão? – Era a vez de minha menina ficar entusiasmada.

– Pão? Eu nunca fiz pão na vida... Nem sei por onde começa...

– Eu também nunca fiz, porém lembro que quando eu era criança, na fazenda, eu via a cozinheira fazendo... Dona Carmen me explicou que este não é tão difícil, eu anotei tudo direitinho, acho que vai ser fácil e nem precisa ficar tanto tempo descansando... O ruim é que não sou boa para sovar... Que tal se nós três fizermos o pão... – Laura estava animada com a ideia de fazê-lo.

– Eu pensei que seu lado de prendas domésticas fosse quase inexistente... – Provocava-a.

– Eu sei fazer alguma coisa, reconheço que não é meu forte, porém, se eu tiver alguém forte para sovar o pão... Alguém como você, por exemplo... Eu tenho certeza que podemos dá conta desse pãozinho... Só que antes precisamos arrumar a cozinha, me ajuda? Dois são mais rápidos que um...

Depois de receber estes dois convites nada tentadores, porém em ótima companhia, ajudei a arrumar a cozinha, enquanto minha esposa lavava os pratos e os enxugava e colocava no armário. Logo em seguida a vi colocar alguns ingrediente em cima da mesa e conferir a receita que tinha em mãos. Laura queria que eu a ajudasse a fazer o pão que eu adorava e Dona Carmen sabia fazer como ninguém... Então me vi ainda com o avental e as mangas levantadas. Laura misturou os ingredientes e mexeu inicialmente a massa, depois, quando precisou, eu sovei a massa durante um bom tempo enquanto Laura e Melissa me observavam e riam da minha cara quando fazia força... Fiquei ali até Laura acertar o ponto da massa... Tudo bem, eu estava com elas e tudo que mais amava estava ali, comigo... Somos uma família. Laura colocou a massa para descansar e algum depois assou... O cheio chegava à sala e depois, enquanto esfriava, ficamos ali, conversando...

– Se você soubesse o quanto eu estava com vontade de comer estão pão... Será que ficou digno da Dona Carmen? – Laura tirou do forno à lenha e colocou em um prato sobre a mesa. A fumaça ainda saía do pão e o aroma... Fez com que eu lembrasse os meus tempos de menino em Petrópolis - O cheio é o mesmo... Não vejo a hora de corta e passar a manteiga... Ela derretendo nele... Não vejo a hora de experimentar... – Laura corta um pedaço e serve a Melissa... – Assopra um pouquinho e experimenta.

– Dá uma delícia tia Laura...

– Um pedaço para o cavalheiro que sovou o pão... – Laura me entregou um pedaço.

– E agora, o meu pedaço... – Laura pegou uma fatia, passou a manteiga... Experimentou de olhos fechados e deliciando o pedaço – Tão bom quanto o da Dona Carmen, e com esta manteiga... É quase um manja dos Deuses... – Abocanhou mais um pedaço.

– Você realmente estava com vontade de comer este pão? – Apenas a fitava enquanto experimentava.

– Pensei nele nestes últimos dois dias... Pensei em fazer lá em sua casa, mas como você tinha ficado o dia fora e ontem não tive tempo, estava com muita vontade... Era só pensar nele que minha boca salivava... Nossa, como este pão é gostoso. – Laura saboreava com tanto gosto, eu nunca tinha a visto saborear algo com tanta vontade.

– Eu confesso que enquanto sovava a massa, por um momento pensei que não fosse ficar lá essas coisas... Afinal de contas nunca tinha sovado pão na vida.

– Edgar, é claro que ficaria bom, foi feito com muito amor... E quando se é feito assim, sempre fica bom... – Deu mais uma mordida. – Ah, Edgar, está uma delícia mesmo... Matei minha vontade... – Laura lambia os lábios e os dedos. – Muito bom...

– Tia Laura, eu posso comer mais um pedaço?

– Claro meu amor... – Laura corta mais um pedaço e entrega a Melissa. – Quer um pouquinho de manteiga. É uma delícia quando ela derrete no pão.

– Quero sim... – Laura passa a manteiga e Melissa saboreia com gosto.

– Melissa, sabia que quando eu era criança, sempre comia este pão... Tem uma senhora que fazia para a gente e eu me deliciava assim como você está fazendo agora. O seu tio Fernando também adorava... Sua avó sempre fazia para nós antes de eu ir para Portugal.

– Nossa, papai, lá em casa sempre poderia ter... Pede para Matilde fazer para gente também...

– Vou pedir sim... Já que está lambendo os dedinhos... Gostou mesmo? Não é, mocinha.

– Muito gosto mesmo, papai... – Melissa saboreava.

– Então Melissa, gostou da aula de hoje?

– Adorei tia Laura, principalmente agora... Foi bom ficar aqui com a senhora e o papai... E agora mais com este pão... Hoje foi supimpa...

– Ouviu senhora Vieira... Foi supimpa... – Segurei a mão da Laura. – Acho que é melhor irmos... Já está ficando tarde Melissa...

– Ah, papai vamos ficar só mais um pouquinho com a tia Laura...

– Eu adoraria minha filha, eu prometi a sua mãe que a levaria no final do dia...

– Eu sei papai... Só mais um pouquinho... Gosto tanto quando estamos juntos... É tão gostoso ficar com o senhor e com a tia Laura...

– É muito bom ouvir isso Melissa, eu também adoro ficar com vocês... – Laura abraça nossa menina. – Só que seu pai combinou com a sua mãe... Olha só, eu prometo que daqui a pouco estaremos juntas novamente, se esqueceu que estou te dando aulas.. Vamos nos vê ainda esta semana...

– Está bem... Queria tanto ficar... Mas já que a senhora disse que vamos ter outra aula esta semana... Tomara que não demore muito... – Melissa fez um pequeno biquinho.

– Eu trago você Melissa, você vai voltar a ver a sua tia Laura logo, logo... Tempo vai passar rapidinho... Daqui a pouco estão juntas novamente.

– Logo, logo, vamos estar juntas novamente, eu prometo... Ouviu o que seu pai disse... Passa bem rápido.

– Então vamos? – Estiquei a mão para pegar a mãozinha da minha filha.

– Sim. – Melissa consentiu com a cabeça.

– Espera que vou pegar um pedaço de pão para você levar, Melissa. Espera lá sala mais um pouquinho que eu falo com seu pai...

– Sim senhora... – Melissa se senta no sofá da sala.

Laura pega parte do pão e enrola em um pano e me entrega.

– Então, espero a senhora daqui a pouco, se quiser assim que deixar a Melissa na casa dela eu volto de busco você... – Falei baixo para Melissa não ouvir.

– Vou te esperar voltar... – Ela me beijou.

– Tenho que ir...

– Então até daqui a pouco... – Sorriu para mim e retribui já ansioso por me reencontrar ela.


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Notas finais do capítulo

Meninas, espero que tenham gostado e não deixem de comentar, estava com muita saudades de vocês... E até a próxima semana.