Elouise escrita por Twelve


Capítulo 15
Capítulo 15




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Chegando lá, fui muito bem recebida, obrigada. Jhonatan adorou me ver e disse que estava com saudades. E eu sentia o mesmo. Ele me perguntou sobre essa visita inesperada no meio da noite, então eu contei tudo e ele ficou bastante bolado com a minha mãe. Nunca que imaginaria que ela fosse homofóbica, a ponto de por a própria filha pra fora de casa, já que ele é gay assumido e ela nunca teve nenhum problema com ele. Mas depois me tranquilizou dizendo que logo ela se arrependeria do que fez e me mandaria ir de volta pra casa. E eu me senti melhor ao ouvir ele dizer isto!

Depois do jantar, eu fui dormir no colchonete no lado da cama dele. Nós ficamos conversando até altas horas sobre vários assuntos aleatórios e estávamos até nos divertindo quando de repente ouvimos um barulho na porta de casa, como se alguém tivesse jogado uma garrafa de vidro. Eu tomei um baita susto, mas percebi que Jhonatan após ouvir o barulho não tinha se surpreendido tanto quanto eu.

–Deve ser o meu pai que chegou. -disse ele um tanto preocupado e infeliz.

–Nossa! Eu tomei um susto. O que deu nele pra fazer essa barulheira toda a essa hora da madrugada?

–É que ele é um alcoólatra e todo dia ao invés de voltar pra casa depois do trabalho, ele vai beber e só volta nesse horário.

Eu fiquei surpresa. Nunca que Jhonatan me contara que o pai dele era um alcoólatra. Eu estava pensando no que dizer a ele. Uma palavra de consolo ou sei lá, mais nada vinha em mente. Quando, de repente, meus pensamentos foram interrompidos por um grito feminino, provavelmente o grito da mãe de Jhonatan. Ele saltou da cama e foi correndo até a sala e viu o seu pai enforcando sua mãe e começou a discutir com ele que completamente embriado não reconhecia nem mais o seu filho.

–Pai, larga a mãe! -disse Jhonatan.

–Quem és tu, intruso? Ela quer me por pra fora de casa. Da minha casa, essa vadia!

–Pai, pelo o amor de Deus, pai. Larga a mãe. Sou eu, Jhonatan, o teu filho!

Logo desceram até a sala os outros dois irmãos de Jhonatan e a pequena Lívia de três anos que veio seguindo os gritos meio atordoada. Todos ficaram horrorizados com o pai que sem reconhecer a esposa e os filhos, continuava a gritar acordando toda a vizinhança.

No fim, os irmãos de Jhonatan conseguiram conter o velho bêbado e o puseram na cama e ele logo adormeceu e dormiu como uma pedra. Jhonatan voltou exausto pro quarto e só queria dormir o tempo que restava antes de amanhecer e o despertador tocar pra ir pra escola.

Eu não soube o que dizer, então permaneci calada e me deitei apavorada com tudo aquilo. Sempre vi Jhonatan feliz na escola. Nunca imaginei que ele passasse por um drama como este todos os dias em casa. Percebi que eu não era a única infeliz nesta história.

Antes de dormir, pensei em Jhonatan, em sua mãe, seu pai, seus irmãos... Em Elouíse, Isadora, na minha mãe, todos estavam infelizes e todos apenas viam o próprio sofrimento, principalmente eu. Ninguém parava pra ver no que poderia está acontecendo com o próximo. Ninguém parava pra pensar o que causaria as suas atitudes a tal pessoa. Logo, me arrependi por não ser tão mais presente na vida de meu amigo, por ter sido injusta com Elouise e não dar-lhes o valor que merece, embora eu a ame muito. Me arrependi também por ter maltratado Isadora. Ela foi imprudente contando tudo pra minha mãe, mas ela não imaginaria que iria acontecer tudo aquilo e só fez porque me amava. E por fim, me arrependi por não ser a filha que a minha mãe queria que eu fosse e isso foi o estopim pra que eu me debulhasse em lágrimas.

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Ao acordar, eu tomei um susto. Por alguns segundos não reconheci o local onde eu estava e nem me lembrava de tudo que acontecera noite passada. Eu estava com uma terrível dor de cabeça e com a vista embaçada. Cocei os olhos e bocejando olhei pra cama de Jhonatan bem arrumada e o seu ursinho encostado no travesseiro, ele não estava lá. De certo foi pra escola, pensei, e nem me chamou...

Penteei os cabelos, lavei o rosto e disse pra mim mesma mostrando o punho e olhando nos meus olhos inchados no espelho:

–Força, Júlia!

Desci as escadas com uma maior cara de nada, tentando agir naturalmente na casa alheia. A mãe de Jhonatan não tinha me visto chegar ontem a noite, pois fez a janta e foi deitar-se. Ela com uma cara de espanto perguntou:

–Quem és tu?

–Eu? Júlia! Sou amiga de Jhonatan... -disse eu completamente sem graça. E após minhas tais palavras, um dos irmãos de Jhonatan muito engraçado, disse:

–Hmm... Acho que o John mudou de lado. -e pôs-se a rir junto com o outro irmão.

Eu não sabia onde enfiar a minha cara que por certo estava completamente vermelha e tentando consertar o mal-entendido disse:

–Não... Eu... Não é isso não, senhora! Jhonatan é meu amigo só. Eu dormi aqui ontem porque... a minha mãe me pôs... pra fora de casa e...

–AH! Mas o que tu fizeste pra ser expulsa de casa? Não pude ver John sair hoje de manhã cedo pra escola, pois eu estava com uma terrível dor na cabeça, senão ele teria me explicado que tu estarias aqui... Desculpa!

–Tudo bem... Ah! a minha mãe tá chateada comigo por umas coisas aí... Eu vou pra casa. Com certeza ela vai me deixar entrar agora, então... Com licença, eu vou indo aqui!

–Não vai tomar café primeiro? Senta aqui, come um pão...

–Não. Obrigada! Eu to sem fome... -disse eu sem graça querendo ir embora.

–Vem Júlia, "amiguinha" do John! -disse um dos garotos que ria-se pelos cotovelos.

–Júlia cara de jujuba ha-ha! -disse a pequena Lívia batendo palma.

Me sentindo pressionada e totalmente constrangida, me sentei à mesa onde todos estavam comendo e me servi a contragosto. Depois do café da manhã, agradeci a mãe de Jhonatan e fui embora pra casa.

Ao chegar no portão, eu chamei a minha mãe umas quatro vezes e notei que não havia ninguém em casa. Eu olhei para os dois lados da rua pra ver se vinha alguém e em seguida, tentei pular o muro que não era tão alto. Com dificuldade, eu acabei conseguido e pulei pro lado de dentro da casa e fui correndo em direção à minha janela. Era um pouco alta pra eu conseguir subir normalmente, então eu peguei uns tijolos no meio de uns escombros no quintal e depois de alguns minutos e com muito esforço, alcancei a minha janela e subi no meu quarto.


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