Desejo

Chapter Four: Amarelo

Amarelo associa-se com a parte intelectual da mente e a expressão de nossos pensamentos.É o poder de discernir e discriminar, a memória e as ideias claras, o poder de decisão e capacidade de julgar.

Nunca tinha sentido tanto frio na sua vida. Os dedos dos pés pareciam não ter circulação de sangue e o vento estava tão frio que queimava sua pele. Ótima maneira de começar um dia de treinamento.

A verdade é que ela estava cheia de fúria. Não conseguia entender como ele fora capaz de usá-la daquela maneira. Mas então era exatamente isso que nukenins faziam, certo? Eram traidores para com suas vilas, mentirosos e dissimulados e... E...

E Sakura estava apaixonada por dois deles.

Nunca acreditou que essa fosse uma coisa possível. Então, a vida, o destino, ou como você quiser chamar, tinha jogado tamanha façanha diretamente em seu rosto.

Naquela manhã em específico, tinha prendido o cabelo em um rabo-de-cavalo e vestido às fardas pretas para o treinamento. Não se falaram abertamente desde a noite anterior, quando ele havia ordenado que ela seduzisse um nukenin. Pensou que ele ficaria fulo por ter fracassado, e talvez a comandasse atacar Suigetsu e trazê-lo como refém. Mas não. Itachi não tinha aberto a boca nenhuma vez, para repreendê-la ou explicar-se, como Sakura gostaria que ele fizesse.

Ficou o fitando. Os olhos dele nunca estavam fixos nos dela. Nos últimos meses suas técnicas de genjutsu foram complementadas, e agora era quase tão boa quanto ele. O que, se você parar para pensar, é uma grande coisa.

Nunca pensou que receberia qualquer espécie de treinamento quando se aliasse a Akatsuki. No começou acreditou que ficaria trancada em algum dos quartéis generais, e quando alguém estivesse ferido seria mandado até ela. Afinal, como eles poderiam ter certeza que ela não os trairia? Que não acreditaria que Naruto era mais forte que eles, que a organização nunca seria capaz de pegá-lo?

Uma kunai voou e Sakura a segurou a centímetros dos olhos.

Ele tinha começado.

Depois de todo aquele tempo trabalhando juntos, tinha começado a descobrir alguns dos pontos fracos dele.

Itachi poderia estar quase cego, mas o que lhe faltava nas vistas ele tinha na audição. Seus ouvidos eram melhores do que os de qualquer ninja que conheceu. Talvez ele devesse ficar na floresta, apenas escutando de vez em quando. Sakura não tinha como saber.

– Você não está se concentrando. – Ele disse.

Não respondeu. A raiva ferveu no seu peito e baniu o frio por alguns minutos. A neve que afundava seus pés foi ignorada, e ela correu na direção dele, os punhos cheios de chackra, pronta para um ataque certeiro.

Claro, ele era melhor e mais experiente que ela. Haruno Sakura parecia sempre se esquecer desse detalhe importante.

Itachi segurou o pulso dela e o girou, a garota soltou um grunhido, mas ele não pareceu notar, ou se importar.

– Sua impulsividade vai destruir você. – Falou. - Instinto pode ser algo bom, mas só quando você sabe usá-lo. Se continuar assim vai ser um alvo fácil, fraca e indefesa, sem qualquer utilidade para qualquer um de nós. Caso falhe, não se esqueça de que quando sua vila for destruída, só haverá um culpado.

Ajoelhada no chão com os pulsos presos por ele, Sakura agiu, exatamente do jeito impulsivo e mal calculado que Itachi reclamara. Não importava quão bom ele fosse, só a Hokage e quem sabe Shizune, podiam competir com a força inumana dela.

Puxou os membros para trás, as costas no chão. Ele foi obrigado a seguir o movimento, e quando a garota encolheu as pernas junto do tronco, levou menos de um segundo para que as esticasse e o chutasse no estômago.

Quem era a fraca, inútil e indefessa agora?

– Você é um imbecil, Itachi-kun.

Ela podia ser doce. Tinha se sentido tocada quando ele a levou para ver os pais dela, sãos e salvos. No entanto, depois da noite de ontem, certo rancor começou a borbulhar dentro dela. Sakura não gostava de ser usada, não gostava que as pessoas usassem sua facilidade de amar contra ela. Não gostava de estar louca por Uchiha Itachi, e gostava muito menos de vê-lo destratando-a, exatamente como seu irmão mais novo fazia.

Haruno Sakura era uma mulher crescida agora. E não deixaria ninguém humilhá-la.

Ficou de pé, indo até o ponto onde ele havia se chocado com as árvores. Sentiu a umidade do ar, e tentou captar a pulsação do sangue, ele não havia sangrado exatamente, mas Sakura sabia que o Uchiha não estava em seu melhor estado de eficiência.

Algo se moveu a suas costas, e ela agiu rápido. Desviou da shuriken e saltou para as copas das árvores.

Mas não era Itachi. Não dessa vez.

Olhou para a garota parada lá em baixo, os olhos cerrados para ela.

Não soube onde seu maldito sensei estava, mas onde quer que fosse, estaria a observando. Tentando descobrir o que faria, ou o que deveria fazer. Afinal, aquela era a ruiva companheira de Sasuke. Se ela estava aqui, ele deveria estar por perto.

– Você não deveria sair por aí atacando membros da Akatsuki. – Sakura falou sorrindo, uma expressão debochada e não natural no seu rosto.

Tinha aprendido com Kisame que você deve se mostrar o pior e mais horrível possível para qualquer ninja que não fizesse parte da organização. Eles tinham que temer você. E era meio difícil de colocar medo nas pessoas quando você tem cabelo cor de algodão doce, e um corpo de aparência frágil. Quanto mais estúpida e arrogante eles pensarem que você é, melhor. É mais fácil vencer o inimigo quando ele está com medo de você.

– Vadia. – A ruiva xingou, ainda levantando a cabeça para encará-la.

– Uzumaki Karin. – Sakura disse. – Sasuke a mandou atrás de mim? Ou é Itachi que você está procurando?

Os olhos dela se arregalaram por uma fração de segundo. No exato momento em que seu nome foi proferido.

– Aposto que é a primeira alternativa em busca da segunda. – A rosada deu de ombros e saltou, parando na frente da outra.

Milagrosamente, Sakura era alguns centímetros mais alta que ela. A pulsação da ruiva estava forte, mas não trêmula. Ela esperava por algo, pôde sentir. Uma armadilha, sem dúvida. Quem sabe Itachi estivesse planejando aquilo o tempo todo. Tentando descobrir se sua acompanhante era melhor que os de seu irmãozinho. Sakura nunca ousaria o chamar de parceiro, ou companheiro novamente.

– Você pode dizer para seus amigos saírem das tocas agora.

– Não sei do que está falando. – Karin balançou a cabeça, irritada. – Eu vim aqui sozinha. Queria falar com você.

– Diga isso para os três homens escondidos a sul, leste e o oeste de você.

– Não tem nin-

A rosada agarrou o seu pescoço e a levantou do chão. Seus olhos focaram nos dela. Aquele genjutsu, em específico, era usado em interrogatórios, e só poderia ser usado se estivesse tocando a “vítima”. Os olhos da ruiva ficaram foscos e suas mãos caíram ao lado do corpo. Para qualquer pessoa que não fosse Sakura, ela parecia morta.

Um véu de memórias surgiu diante de seus olhos.

Viu Naruto, ajoelhado, implorando para que Sasuke dissesse onde ela estava. O rosto do Uchiha tremendo rápido demais para que alguém além de Karin notasse, a estranha curiosidade e preocupação no rosto dele quando o nome de Sakura foi proferido. O momento em que ela entrou no bar, vestida como uma prostituta e se jogando em cima dele, como Karin identificou o chackra de Itachi nas roupas dela. E que a vinham seguindo desde então.

– O que você fez? – Uma voz perguntou a leste.

Sakura não respondeu, só largou o corpo inconsciente da mulher. Um rugido veio da mesma direção em que a voz. E ela segurou o punho enorme que tentou acertá-la. Pertencia a um rapaz que em qualquer outra situação poderia ser chamado de bonito.

Ela encarou os olhos dele, segurando os punhos como se não estivesse fazendo muito esforço. O cabelo dela caia parcialmente pelo rosto e as linhas do seu rosto começaram a parecer frágeis. Seu lábio tremeu e ela disse:

– Você vai mesmo me acertar?

O homem tremeu. No entanto, ao som da voz dela, a mutação, do que supôs ser o selo amaldiçoado, começou a retroceder. Em algum momento ela estava segurando as mãos dele, as mãos de um rapaz qualquer. Quando a guarda dele abaixou, Sakura girou e acertou um chute certeiro no rosto, deixando mais uma pessoa desacordada.

Gostaria que fosse tão fácil assim acabar com Itachi. Mas quando os dois começavam a lutar, ela geralmente saia perdendo.

Suspirou. Sasuke e Suigetsu agora se aproximavam. Não queria vê-lo de novo. Não sabia o que Itachi estava querendo com aquilo. Kisame disse que ele planejava matar Sasuke em breve, e Sakura se perguntou por que não agora? Os companheiros dele tinham sido nocauteados, ao menos parte deles, e Sasuke estava focado nela no momento, Itachi poderia simplesmente chegar e enfiar uma kunai no coração do irmão.

– Onde está Itachi, Sakura?

Não tremeu ao escutar a voz dele, como imaginou que faria. Seus olhar se levantou dos corpos e se focou nos olhos vermelhos dele. Suigetsu vinha de algum ponto as costas de Sakura, e ela se virou de modo que os dois estivessem dentro de sua visão.

– Essa, é uma pergunta que eu não sei responder.

Em um momento ele estava na frente dela. Quando tentou agarrar seus ombros, Sakura deu um passo para trás, e foi alvo da fúria do moreno. Ele tentou usar o sharingan nela, mas a Haruno só arqueou a sobrancelha para ele. Tinha aprendido a se livrar daquele tipo de truque, apenas parcialmente, mas no momento parecia estar dando resultado.

– Não vou dizer onde seu irmão está. E sugiro que vá para casa, Sasuke. Se você tentar lutar contra ele, vai morrer.

Ele tentou agarrá-la mais uma vez, a forçar a contar tudo o que ele queria saber. No entanto, Sakura encostou o dedo no peito dele, o coração do rapaz parou por um segundo. Ele piscou, então, ela não estava mais lá.

Sakura desapareceu, e Sasuke nunca imaginou que algum dia correria atrás dela.

– Pegue os dois. – Disse. – Eu vou encontrá-la.

Continua.