Forever Young escrita por Dafne Federico


Capítulo 26
Capítulo XXVI: A vida é uma viagem curta, na garupa de uma moto


Notas iniciais do capítulo

Cá estou eu postando na sexta à noite só pra não perder o costume.
Penúltimo/último capítulo ... Porque F.Y termina hoje, vou postar esse capítulo e o próximo assim que publicar esse aqui. Não revisei, então ignorem possíveis erros.
Capítulo DEDICADO a linda da Gigi grace, que deixou uma recomendação incrível! FOR YOU, DARLING!
No primeiro capítulo deixei umas coisas em abertos, porém ninguém me perguntou nada e tals então, como esse capítulo faz muitas referências ao primeiro capítulo, se quiserem reler o primeiro capítulo antes desse... Mas eu deixei bem explicadinho, ao menos é o que eu acho kkk
ENJOY!



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Eu estava em pânico.

Assim que Silena ficou seminua e deu a largada, o vidro grosso do copo que eu segurava foi de encontro ao chão e estilhaçou. Geralmente eu tenho um controle razoável sobre o meu corpo, porém o pânico fez os ossos dos meus dedos congelarem e eu perdi o controle de todas as articulações, deixando o copo escorregar e atacar o asfalto.

Fixei meus olhos na corrida sem desviá-los. A pista a minha frente era uma reta, com caixotes de carga dos dois lados, e depois de alguns metros transformava-se em uma curva para a esquerda.

Nico e Luke cruzavam a reta na mesma velocidade, alta, quase lado a lado. O cabelo escuro e a lataria petróleo, opostos as mechas cor de areia e a motocicleta prateada.

Prometi nunca mais chamar Senhora O'Leary de sucata, mesmo preferindo Monique.

Castellan desviou os olhos concentrados da pista e encarou Di Ângelo alguns segundos antes de ambos fazerem a curva, sem diminuir a velocidade, e sumirem do alcance dos meus olhos.

– Porra. - xinguei.

Virei instantaneamente a cabeça para o lado contrário assim como todos.

Não tinha prestado muita atenção no trajeto quando estava na garupa de Nico, fiquei ocupada de mais gritando, pelo pouco que recordava eram três voltas, o que queria dizer que a qualquer momento eles passariam novamente por mim completando a primeira volta e iniciando a segunda.

Respirar. Expirar. Respirar. Expirar.

Repeti a sequência mentalmente, com os olhos fechados, tentando ficar calma. Não ver o que estava acontecendo era mais torturante do que ver.

Ouvi o barulho forte dos motores, seguido pelo vento característico de quando um carro ou uma moto passa por você em alta velocidade e um gemido satisfeito das pessoas. Abri os olhos e vi tudo começar a desmoronar.

A Senhora O'Leary estava a esquerda e a motocicleta de Luke a direita, o vento causado pela velocidade e o barulho do motor continuavam segundos depois deles terem passado. Luke emparelhou a motocicleta com a de Nico, jogando a moto contra a dele e pressionando.

Lembrei do que Leo me dissera algumas horas antes.

" E o cara anda dizendo por aí que não era para o garoto ter batido naquela noite, era Nico quem ele queria com a cabeça estourada. "

Nico afastou a Senhora O'Leary alguns metros para a direita e a atirou contra Luke antes que ele tivesse tempo de prensá-lo contra a carga, o impacto fez Luke ir para a esquerdar e perder velocidade, ficando alguns metros para trás.

"– Di Ângelo, há uma possibilidade dele tentar prensar a gente contra a carga? - gritei rezando para ele dizer que Luke não era louco de fazer isso.

– Você acha? - Nico gritou, não estava rindo mais. "

Ingenuidade a minha achar que, para Luke, ganhar era o suficiente.

– Ele vai tentar fazer a mesma coisa. - sussurrei.

Ele era orgulhoso, tinha um ego inflado e detestava Nico Di Ângelo pelo fato dele ter humilhado-o mais de uma vez.

Aquele não era um momento para reviver nostalgias.

Castellan parou de olhar para frente virando o rosto para a esquerda e olhou para Nico, suas mãos se fecharam no guidão e ele acelerou.

Eu recordava que da outra vez Nico tinha desacelerado por metros e contornado a moto de Luke fazendo ele se chocar contra outra pessoa, porém não sabia se ele usaria a mesma tática já que Luke a conhecia.

Luke continuava acelerando, pela rapidez em que ele o alcançava e a velocidade em que Nico mantinha era notável que Nico desacelerava aos poucos. Luke cruzava a pista rápido e na diagonal, veloz e para a direita. Meu corpo se esqueceu da sua função básica de respirar e minha garganta fechou, não ouvia mais os batimentos cardíacos desregulados, era como se eu estivesse em pausa.

A moto prateada atravessou os últimos metros com agilidade e se chocou com força e barulho contra a Senhora O'Leary, esmagando-a contra um contêiner cinza da mol. O som dos pneus queimando se arrastou e parou dando lugar ao estampido alto da lataria negra chocando-se, da cabeça, da pele rasgando e do sangue escuro tingindo a pintura cinza enferrujada.

Afastei o pensamento mórbido da minha cabeça, isso não vai acontecer, pare de imaginar, e voltei a prestar atenção.

Luke estava alguns metros atrás e alguns metros ao lado de Nico, preparando-se para atirar a própria moto com força contra ele e com isso jogá-lo contra os contêineres. Cada vez mais próximos, apenas alguns metros de distancia.

Eu queria fechar os olhos e esperar terminar, mas observei atenta a distância desaparecer, dez metros, sete, cinco.

Nico deu uma olhada rápida para Luke, os olhos escuros correram o espaço entre os dois, provavelmente decidindo o que deveria fazer, e ele freou. Segundos depois a motocicleta prateada de Luke passou alguns centímetros à frente dele e seguiu indo em direção aos caixotes de carga, sem tempo para parar, Luke se jogou da moto instantes antes dela encontrar o contêiner em um batida alta e os pneus dianteiros e a parte da frente da moto despedaçarem.

Mesmo Di Ângelo não estando tão rápido quanto Luke, era uma velocidade considerável, e a freada repentina jogou Nico para frente com força, atirando-o metros a frente.

Nico rolou no chão, encostando a ponta dos dedos na costela, e soltou um gemido de dor. Ele estava deitado com as costas no chão e com um joelho flexionado, respirando devagar, aparentemente bem. Eu soltei o ar aliviada e senti os órgãos do meu corpo voltarem a trabalhar aos poucos.

Senhora O'Leary estava tombada na pista, a lataria amassada em um dos lados, um dos espelhos destruído e a pintura com arranhões causada pelo contato com a motocicleta de Luke.

Deu um passo em direção a Nico e Rachel segurou minha mão me impedindo.

– Castellan ainda está ...? - o cara com moicano colorido perguntou para uma garota loira ao lado dele.

Instantaneamente levei o olhar até Luke.

Ele estava deitado de barriga no chão com a cabeça virada de lado. O corpo dele convulsionava, os braços, as pernas e a cabeça contorciam-se, os olhos estavam virados e um líquido branco parecido com espuma saia da boca dele. Ele estava tendo um ataque epilético.

– A gente precisa sair daqui. - Rachel sussurrou para mim. - Alguém vai chamar a polícia ou o resgate.

Nico levantou com dificuldade, a mão esquerda apertando a região da costela. Ele tirou o celular o do bolso e o levou ao ouvido conforme andava em direção a Senhora O'Leary.

Rachel estava certa alguém ia chamar o resgate. A multidão a nossa volta começou a se dispersar e carros e motos deram partida pouco antes de ouvirmos o som das sirenas e avistarmos as luzes azul, vermelho e branco.

– Merda. - disse Rachel arregalando os olhos verdes para as luzes - Vamos dar o fora. - ela segurou meu pulso com mais força e correu me puxando com ela.

Corri os olhos na esperança de ver Nico.

– Ele vai dar o fora também - Rachel falou e voltou a me puxar para o lado contrário de onde vinham as sirenes.

Ainda bem que eu não ouvi Hera e calcei meus tênis. Pensei correndo com Rachel entre os caixotes de carga da Coca-Cola que formavam um caminho. Olhei para trás a tempo de ver policias gritando e adolescentes chapados correndo e ligando os carros.

Sem olhar para frente acabei dando um encontrão com Rachel.

A ruiva tinha parado de correr porque tínhamos alcançado o carro dela, um Porsche Carrera conversível.

Sério? Um Porsche?

Eu deveria estar feliz por ter como sair dali, porém começava a duvidar de que iriamos conseguir. Da outra vez Nico tinha nos levado com a Senhora O'Leary que, embora fosse uma Harley, entrava em qualquer lugar, já um carro não tinha essa vantagem e não era como se todos na cidade tivessem um Porsche.

Não comentei isso com Rachel e não a esperei destravar a porta do passageiro, pulei para dentro, afundando a sola do All Star no banco pouco antes da ruiva dar ré.

Rachel Elizabeth Dare dirigia como uma louca, cruzando as ruas periféricas da cidade como se estivéssemos dentro de um Need For Spead. E, embora não houvêssemos sido perseguidas pela polícia eu tinha a sensação de que se, por acado, topássemos com uma viatura seriamos paradas.

– Acho que está tudo limpo. - falou entrando em uma rua vazia. - Vamos dar uma parada ou arriscamos e vamos para casa?

– Damos uma parada. - respondi sem pensar duas vezes.

Se ficasse mais tempo dentro do carro com ela no volante colocaria para fora todo o álcool que tinha bebido na festa de Jason. Ai, Jason.

Jason. Luke. Nico.

Minha cabeça latejou.

Rachel concordou aumentando ao máximo o volume do rádio em uma música animada do The Killers e começou a cantar empolgada enquanto sorria e balançava a cabeça.

Ri com a cena.

Demos mais algumas voltas pelas ruas desertas próximas a estradas, até Rachel deixar o asfalto e entrar com o carro no capim alto. Olhei-a confusa e ela deu de ombros enfiando as rodas do carro na terra e seguindo alguns metros até estacioná-lo atrás de um edifico pichado e aos pedaços, que eu deduzi ser o que sobrou de um cinema.

– Isso foi inteligente. - admiti.

A garota fez uma referência.

– Ao contrário do que a sua amiga nerd e loira diz, eu sou um gênio. - tentei ignorar o comentário sobre Annabeth, a loira só tinha ciúmes de Rachel porque a ruiva era a melhor amiga de Perseu - Se a polícia passar pela rua não vai nos ver, ao menos é o que eu espero, meu pai surtaria.

O pai dela tinha shoppings centers espalhados por todo país e não parecia ser radical e autoritário. Quer dizer, Rachel Dare dormia com mais caras do que podia-se contar e seus únicos interesses eram ouvir música e pintar retratos abstratos.

Nós continuamos dentro do carro.

– Vou tentar descobrir se está tudo bem com o restante do pessoal. - ela anunciou retirando o celular do bolso dos jeans apertados e começou a digitar uma mensagem.

Liguei meu celular também e mandei uma mensagem para Nico.

– Vocês fazem um casal bonito. Você e o Di Ângelo. - eu fiz uma careta para o comentário e ela sorriu - Quero dizer, vocês viviam aos tapas, mas todo mundo achava que era porque vocês eram muito parecidos ou porque se pegavam.

Foi a minha vez de gargalhar.

Eu estava conversando com a garota mais rodada do Tennessee sobre fofocas antigas a meu respeito.

" ... ou porque se pegavam"

Essa frase me levou de volta para a noite no cemitério, para uma parte específica da conversa com Nico.

"– Ressentimentos? - perguntou depois de uma tragada longa.

Ergui as sobrancelhas.

– Por favor! Se está falando sobre aquela camiseta dos Beatles, tínhamos cinco anos ...

– Não era á isso que me referia. - cortou.

Eu tinha gelado. Conversar sobre duas crianças morenas, uma de olhos extremamente pretos, outra de olhos absurdamente azuis, puxando uma camisa dos Beatles, no pátio de um colégio, como se suas vidas dependesse do resultado do cabo de guerra com a camisa do John Lennon, era uma coisa. Conversar sobre qualquer outro assunto que envolvesse ele, era outra.

– Sinceramente, não sei do quê você está falando. - menti. "

Eu sabia do que ele falava quando perguntou se eu tinha ressentimentos, não era sobre camisas de bandas de rock, nem discussões idiotas ou provocações. Algo que eu tinha usado para humilhar Luke em público, algo que eu não tinha dado muito importância.

Quem diria que fofocas estudantis tinham fundamento?

Nico perguntara se eu tinha ressentimentos por ter ficado com ele enquanto namorava Luke.

Eu e ele nunca tínhamos nos dado muito bem, apesar de sempre termos tido coisas em comum discutíamos por tudo. Era como se eu fosse anarquista e Nico autocrata ou como se eu fosse punk e ele hippie, embora não fossemos nenhuma dessas coisas.

Luke detestava o pai e mesmo assim conseguia conviver com ele, ele era atlético e idealista, inteligente e bacana, bonito e extrovertido. O tipo de pessoa que você admira e acha que a vida é perfeita. E casal bonito era o que diziam sobre eu e ele.

A voz de Rachel interrompeu meus pensamentos conflitantes, nostálgicos e irrelevantes.

– E aí? - ela indagou e notou minha expressão confusa antes de explicar - Qual dos dois? Personalidades parecidas ou se pegaram e não deu certo?

Não tinha falado disso nem com Annabeth, que era minha melhor amiga e que, por acaso, detestava Rachel, contudo não parecia ter mais importância.

– Um pouco dos dois. - disse com sinceridade.

Embora não tenha entrado em detalhes com Rachel eu pensei neles, voltando dois anos atrás.

Nico Di Ângelo era intragável. Esbarrava em mim de propósito, escolhia as palavras perfeitas para me ofender, armava climas ridículos e fazia questão de ter opiniões contrárias as minhas. Vivíamos em uma constante implicância.

Nós estávamos na casa de Travis Stoll, que ainda não era conhecido pelas orgias e festas estilo Projeto X, e sim por reuniões onde ficávamos no seu quarto ouvindo Queens Of The Stone Age e bebendo o Whisky dos pais dele. Eu e Luke acabamos discutindo e ele saiu irritado e Connor, Travis, Clarice e Silena desceram deixando Nico e eu sozinhos.

– Essa música é uma merda. - reclamei passando as canções.

Nico estava atirado na cama de Travis, que mais tarde se tornara o paraíso dos casais chapados em suas festas, desleixado e levantou o olhar critico na altura do meu.

– Não é porque você e o James Dean brigaram que você precisa expor o seu mal humor. - disse com a voz irritantemente calma.

James Dean?

Fiz um gesto obsceno com o dedo médio na direção dele. Nico apenas sorriu, como se o fato dele ter conseguido me tirar do sério o divertisse. Se eu o xingava, ele sorria, se eu agia normalmente, ele sorria, e o pior, o sorriso dele era atraente.

Continuei passado as músicas até chegar em Little Sister e sentei na beirada da cama a uma distancia segura de Nico Di Ângelo, com alguns CD's e uma garrafa de Jack Daniel's entre nós.

Conseguia ouvir Clarice gritando no andar de baixo.

– Você sente prazer em me irritar. - concluí. - E por que James Dean?

Se alguém poderia ser comparado ao James Dean esse alguém era Di Ângelo, só faltava um maço de cigarro para ficar perfeito. Luke era desencanado e tinha fixação em revolução, não em rebeldia.

Nico levantou sentando-se e me encarou. E essa era outra coisa a qual eu detestava, ele tinha a necessidade de ficar me encarando como se fosse melhor do que eu.

– É essa a imagem que ele tenta passar. - disse dando de ombros - O cara bacana que consegue a garota difícil que ninguém mais pode ter.

Fiquei na dúvida se ele estava dizendo que eu tinha uma personalidade difícil ou se eu era difícil na questão de ficar com caras. Não tinha importância, eu era as duas coisas.

Em uma frase ele conseguiu me chamar de difícil em dois sentidos diferentes e ainda alegar que meu namorado era narcisista.

– E que imagem você está tentando passar? - ressaltei a palavra você.

Ele se aproximou.

– Não tento passar imagem nenhuma. - retrucou irritado e perto demais para o que eu considerava seguro - Não sou Luke.

Não, você não é.

Nico estava perto o suficiente para eu perceber o quão bonito ele era, não do tipo loiro dos olhos azuis, ele conseguia ser bonito sem ter nenhuma característica diferente, uma beleza despreocupada que fazia você imaginar que ele simplesmente era bonito, sem olhos azuis e sem precisar se arrumar.

Ele notou que eu o encarava e sorriu convencido, o que me trouxe de volta a razão e me fez lembrar que esse "é Nico Di Ângelo e essa sou eu, a garota comprometida com o James Dean". Tentei me afastar, o que foi um erro, porque eu já estava na beirada na cama e indo mais para trás eu iria cair dela, felizmente - ou não - Nico colocou o braço nas minhas costas e me puxou para perto, impedindo a queda.

Droga. Ele podia ter me deixado cair da cama. Desejei imaginando que seria um choque de realidade que me impediria de fazer uma burrice. Estava admitindo ter ficado tentada a me agarrar com ele, o que acabou acontecendo.

Cinco minutos depois Little Sister tinha terminado e tocava Make It Wit Chu e eu estava deitada por cima de Nico, me agarrando com ele desesperadamente e esquecendo que tinha um namorado.

Di Ângelo estava com o braço travado ao redor da minha cintura e eu despenteava o cabelo dele e segurava a gola da sua camisa. A boca de Nico me seguiu quando interrompi o beijo para respirar e precisei colocar a palma da mão contra o peito dele empurrando-o contra a cama de Travis para conseguir fazê-lo. Nico virou os olhos escuros na direção da porta ofegando e soltou uma risada cínica.

– O que ...? - perguntei seguindo o olhar dele.

Luke estava apoiado contra o batente da porta, os braços cruzados e o olhar fixo em nós. A expressão enojada em seu rosto me fez sentir péssima, meu rosto esquentou e sai apressada de cima de Nico.

As sobrancelhas claras de Luke arquearam-se esperando uma explicação.

Olhei para Nico. Ele continuava deitado despreocupado na cama e levou os olhos pretos de Luke para mim entretido, como se fossemos uma piada que o estivesse divertindo.

– Acho que deveria deixar vocês ... conversarem. - ele falou ao notar meu olhar nele e levantou com um pulo indo em direção a saída, Luke se afastou para deixar Nico passar e fechou a porta quando ele saiu.

O pessoal estava sentado na sala de estar jogando verdade ou desafio com uma garrafa e pararam de falar assim que viram eu e Luke descendo as escadas de mãos dadas.

– O que deu no Di Ângelo? Ele desceu todo irritado e foi embora sem dizer nada. - informou Travis e eu precisei me controlar para não responder que Nico não parecia nada irritado minutos antes, pelo contrário, parecia satisfeito - Enfim, foi estranho, ontem ele tinha dito que queria aproveitar os últimos dias em Nashville e agora some.

Encarei Travis confusa.

– Como assim últimos dias em Nashville?

– Ele não te contou? - eu neguei com a cabeça e o garoto deu com os ombros - A família dele vai se mudar para Los Angeles.

Filho da mãe.

Isso explicava a risada dele ao ver Luke e a maneira como ele não tinha se preocupado, ele não estaria ali depois, só tinha aproveitado a oportunidade. Desejei que Travis estivesse certo e eu não precisasse mais ver a cara dele.

Luke disse que não tinha importância se não voltasse a acontecer, ninguém saberia e isso não mudava nada. Isso mostrava que ele realmente era uma pessoa bacana e compreensiva que fazia questão de lembrar disso toda vez discutíamos. E quando brigamos em público e ele insistiu em dizer o quão legal tinha sido comigo por ter me perdoado e que eu devia isso a ele, eu o humilhei.

" - Naquela época ele foi melhor que você. Não é minha culpa que você é sexualmente retraído e fisicamente broxante. "

Falar isso na frente das pessoas o deixou irado e no outro dia eu recebi uma centena de anexos para o mesmo vídeo.

A tela do meu celular acendeu avisando que eu tinha uma nova mensagem.

" Estou bem. Onde você está? "

Respondi Nico.

– Conversei com a Silena. - Rachel informou atirando o seu celular no banco - Ela disse que levaram o Luke para o hospital e avisaram a família dele, não sabem o que ele teve, mas não é tão grave quanto pareceu. - fiquei aliviada com a nova informação - Acho que podemos ir para casa.

Tudo o que não queria era ir para casa.

– Vou esperar o Nico. - comuniquei descendo do carro - Obrigada por ter me tirado de lá e obrigada pela bebida.

Rachel sorriu e deu partida no Porsche.

Fiquei sentada nos degraus desgastados do cinema abandonado até ver a motocicleta estacionando-o na minha frente. De perto vi que a Senhora O'Leary estava de fato detonada, mas havia prometido nunca mais chamá-la de sucata.

Levantei e sentei na Senhora O'Leary ficando de frente para Nico.

Ele ergueu o olhar na altura do meu, as íris escuras correndo pelo meu rosto e pelo meu corpo e os lábios formaram um malicioso sorriso lateral. Não podia culpa-lo, aquele vestido era menor do que eu imaginava.

Eu estava muito contente por ele estar bem e sorri de volta.

– Gostei da roupa. - ele disse sorrindo e deslizando a mão pela minha coxa.

Toda vez que ele me tocava, focava os olhos nos meus como se analisasse minha reação, que com certeza não era boa, porque Nico me desconcentrava.

Entrelacei os dedos nos fios de cabelo que caiam no rosto dele antes de beijá-lo. Gostava de como ele me aproximava e tocava o meu corpo sem pudor. Gostava de me sentir nervosa e desesperada e esperava que em algum momento não me sentisse mais assim, mas esse momento não tinha chego, beijar Nico nunca era o suficiente.

Nico colocou as mãos na minha cintura e me afastou de vagar.

– Devo perguntar pra quem você estava torcendo? - ele disse ofegando.

Encarei-o atônita.

Minha noite tinha sido uma porcaria e por causa dele tinha piorado. Eu tinha ficado encharcada, apavorada, enjoada graças a bebida estranha que Rachel me dera, e estava cansada.

– Não acredito que disse isso. - me afastei dele enojada - O que você quer que eu te diga? Que eu rezei para você atender os seus caprichos ridículos e ganhar dele para a gente poder transar depois?

Nico revirou os olhos.

– Desculpa, estou bêbado.

Sério? Ele ia usar essa desculpa?

Fiquei puta com o fato dele fazer piadas sobre aqui. Olhei na direção contrária a dele tentando pensar em algo para amenizar a minha fúria, sem sucesso me levantei da Senhora O'Leary e me aproximei dele até minha boca estar colada no seu ouvido:

– Você sempre está bêbado. - retruquei ressaltando a palavra sempre e comecei a andar.

Não seria novidade voltar para a casa a pé, sozinha e congelando. Isso me deixou com a expressão de déjà vu.

Nico riu.

– Bem observado. - admitiu - Foi um comentário infeliz.

– Foi. - concordei sem olhar para trás.

Nico era um cretino. Eu me preocupava com ele e ele tirava sarro.

– Sério que você vai insistir nisso de sair andando de madrugada porque ficou chateadinha? - Nico gritou para mim e eu só consegui pensar que ele tinha usado um adjetivo no diminutivo para me definir - Você está sendo cansativa e infantil.

Chateadinha era ruim, infantil era bem pior.

Parei de andar abruptamente e me virei lançando um olhar diabólico para ele.

– Quer que eu diga o que você está sendo? - lancei a pergunta retórica fazendo questão de demonstrar o quão irada ele tinha me deixado - Patético e o que é pior, está fazendo eu me sentir patética. Porque toda vez que eu lembro daquela porcaria de corrida de siamesas a primeira coisa que eu lembro é das suas risadas enquanto corria, consigo ouvir você rindo e me lembro de como você sente prazer com isso. Eu penso, tudo bem se ele quer agir como um playboyzinho mimado e rebelde sem causa, é assim que ele se sente vivo. Então você faz piada com a minha cara e eu me sinto uma idiota por tentar entender e respeitar você.

As palavras foram saindo da minha boca e a cada palavra minha voz demonstrava mais raiva do que na palavra anterior.

Nico estava em pé, apoiado na motocicleta, me olhando inexpressivo. Ele andou calmamente na minha direção sem demonstrar emoções sobre o que eu tinha dito e esperou estar parado na minha frente para responder.

– Você sabe qual é a diferença entre mim e você? - ele cuspiu a pergunta irritado - Eu faço o que eu quero, Grace, você deixa de fazer o que tem vontade por causa de ideias ridículos de que você tanto se gaba, no final você se preocupa mais com o que vão pensar de você do que da satisfação que vai sentir se fizer.

Fechei os punhos com força suficiente para impedir a circulação nos dedos.

Eu tinha conseguido irritá-lo e ele devolvera.

O que me deixava ainda mais fora de mim era o fato dele estar certo. Eu tinha uma par de ideologias que aplicava até mesmo com os meus amigos e eu me preocupava em segui-las. Não dar detalhes sobre caras a Annabeth, mesmo se eu precisasse de sua opinião, porque eu tinha um ideal sobre exposição. Não dar um nome para o que eu tinha com ele Nico, porque eu tinha um ideal sobre relacionamentos. E não tinha dado a Nico o direito de criticá-los.

– Sabe o que me daria satisfação agora? - soltei sem saber ao certo o que eu ia dizer, a raiva e a adrenalina criaram um mecanismo de defesa - Te dar um tapa na cara. Mas, como você disse, eu não faço nada que vá contra o que eu penso.

Então eu desisti.

Dei uma última olhada em Nico antes de voltar a andar apressada pela rua.

Merda. Como eu podia gostar de alguém que faz tudo o que eu abomino? Como eu podia gostar de alguém que despertava o meu pior?

– Thalia? - Nico chamou e eu travei.

Parei de caminhar e fiquei parada encarando a rua vazia.

" Are you gonna drop the bomb or not? "

(Você vai deixar cair a bomba ou não?)

Essa música de novo não! Pensei assim que lembrei do verso como uma pergunta. Até parece uma trilha sonora maluca do que quer que seja que eu tenho com Nico.

Sitting in a sandpit, life is a short trip

(Sentando num fosso de areia, a vida é uma viagem curta)

Eu iria detonar tudo, porque como dizia aquela música perseguidora não iria viver para sempre, então o que me sobrava era acreditar que eu teria uma viagem curta e pelo visto ela seria em cima de uma motocicleta com nome de mulher.

Virei ficando de frente para Nico.

– É o que você pensa? - indaguei.

– Sim é o que eu acho. - ele admitiu. - E também acho que você é interessante, bonita, inteligente, engraçada, sensual e gos ...- ele tinha mantido o olhar firme no meu durante o discurso e então ele se dispersou descendo pelo meu corpo - ... atraente. - ele se corrigiu - Eu gosto da sua personalidade e também me sinto atraído por você. E não costumo sentir essas duas coisas pela mesma pessoa ao mesmo tempo, então não quero discutir com você por essa idiotice.

Aquilo me pegou de surpresa.

Nenhum de nós dois costumávamos dizer como nos sentíamos em relação ao outro e quando eu disse que gostava dele, Nico não falou nada, só me beijou.

E eu praticamente o ataquei.

Encostando minha boca na dele com pressa e sem me importar que ele tinha gosto de Marlboro, passando os dedos pelos cabelos pretos que nunca ficavam no lugar e puxando a gola da sua camisa. As mãos dele acariciaram minha coxa e fizeram o vestido subir até parecer uma camisa.

Sabia que não estava atraente como Nico dissera, gostosa talvez, mas minha aparência com certeza era péssima. Tinha certeza de que a droga do delineador que usava para destacar meus olhos tinha manchado quando o alarme de incêndio fez chover dentro de cada e que meu cabelo estava uma merda, ondulado e com frizz. E também tinha certeza que eu precisava ir para cama com Nico Di Ângelo rápido.

Ele era terrível, errado e minha perdição.

Nico Di Ângelo era espantosamente bonito, beijava bem e fodia bem. Ele tinha o dom de me levar de irritação a excitação e, mesmo que ele me tirasse do sério, eu estava louca por ele.

Me afastei poucos centímetros dele para respirar e poder me agarrar com ele de novo.

– O que você estava fazendo no cemitério aquele dia? - passei os lábios pelo rosto dele parando no ouvido e perguntei ainda ofegando.

Com os braços ao redor do pescoço dele e com o corpo contra o dele, embora ainda não fosse o suficiente, conseguia sentir o peito dele subindo e descendo enquanto respirava.

Nico me olhou confuso, provavelmente tentando entender de onde tinha vindo aquela pergunta.

– O que as pessoas fazem em cemitérios, Grace? - era bem típico de Nico responder minhas perguntas com outras perguntas.

Pessoas normais visitam seus mortos e góticos fumam baseado em cima de túmulos. Pela primeira vez precisava classificá-lo como uma pessoa comum.

Não quis perguntar quem ele tinha perdido.

Di Ângelo tirou a mão que apertava minha coxa, mantendo a outra ao redor da minha cintura, e tirou o chaveiro de Angry Birds do bolso dos jeans.

– Quer pilotar? - ele rodou as chaves com os dedos.

Encarei ele e o chaveiro homossexual cética.

Na noite do Austin City Limits tinha praticamente implorada para dirigir o carro dele e agora ele oferecia as chaves da Senhora O'Leary sem pedidos ou resistência. Isso era surpreendente.

– É uma desculpa para se aproveitar de mim? - indaguei imaginando ele tirando uma casquinha e pronta para dizer que ele não precisava disso, eu estava completamente na dele - Porque é a única explicação para você me deixar fazer isso.

Os lábios dele se inclinaram em um sorriso.

– Minha moto está acabada. - ele apontou para o estado crítico em que a Senhora O'Leary se encontrava - É sua única oportunidade, porque não vou oferecer de novo quando concertar ela.

Peguei as chaves da mão dele sorrindo.

– Estou sóbria. - gritei para ele enquanto caminhava na direção da moto.

Tinha roubado uma garrafa de Whisky de Leo, bebido vodca com meu pai e virado um copo de absinto. Não poderia dizer que estava sóbria.

Nico franziu as sobrancelhas focando os olhos escuros em mim, demonstrando que não acreditava na minha afirmação.

– E ...?

– E você pediu para te responder quando estivesse. - expliquei sentando na Senhora O'Leary.

Di Ângelo sentou na garupa, atrás de mim, colocando a mão sobre a minha e virando a chave na ignição, enquanto ensinava os comandos básicos já que eu nunca tinha dirigido uma moto.

– Então como estamos? - perguntou contra o meu ouvido, o que deixou a pele do meu pescoço arrepiada.

– Estamos. - respondi sorrindo antes de dar um beijo rápido nele e virar para frente, fechando as mãos no guidão da Senhora O'Leary e dando a partida.

Nós poderíamos decidir os termos de estar depois.


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Notas finais do capítulo

O que acharam????? Explicações nas notas finais do próximo e pequeno capítulo, mas antes de irem para ele C-OM-E-N-T-E-M.