Doce Libertinagem escrita por Zusaky


Capítulo 1
Capítulo único.


Notas iniciais do capítulo

Como devem ter notado, é uma fanfic yaoi, caso não goste, não leia!



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“Aposto que você pensou que eu seria delicado
Você pensou que um anjo tivesse o encantado
Mas eu estou prestes a aumentar a temperatura
Eu estou aqui para o seu entretenimento”

Era como se fosse um sonho. A serenidade reinava, afinal, era um costume nato o Paraíso estar em abundante placidez. Cada anjo restringia-se a fazer apenas o que lhes fora ordenado, era uma ordem indubitável, privando-os de executar o que realmente desejavam, porém, cada um dos seres ali cumpria suas tarefas mantendo um sorriso angelical no rosto.

Um desses anjos, porém, ainda estava infeliz com a própria situação. Hidan invejava os humanos, não pelo fato de estes serem protegidos, mas por causa da liberdade da qual eram possuidores. Muitos julgavam aquilo como sendo um equívoco, afinal, os seres do Paraíso eram tão livres quanto quaisquer outros; as graciosas asas que possuíam era um dos sonhos que os mundanos tinham desde tempos antigos.

Hidan ainda permitia-se observar as pessoas, o modo como elas viviam suas vidas pacatas era surpreendente. E ele questionava-se internamente o porquê de não aproveitarem nada, ainda mais pelo fato de terem apenas uma única vida.

Os mundanos eram curiosos, um deles em especial, cujo somente o nome deixava o albino enojado. Shikamaru Nara era, de fato, um humano incomum; tinha toda e qualquer liberdade que se podia imaginar, no entanto, recusava-se a tomar rédeas de alguma coisa, nem ao menos tinha com o que gastar seu tempo livre. Seus amigos, sempre convidando-o para sair, eram ligeiramente dispensados pelo próprio.

E o anjo continuava naquela rotina tão tediosa quanto a do rapaz que observava diariamente. Mesmo que Shikamaru não estivesse ciente de tal coisa, era com Hidan que compartilhava cada momento de sua apática vida. Ah, como Hidan o odiava, mesmo que isso fosse contra sua natureza.

Houve o dia, então, em que o Nara envolveu-se com outro garoto de sua idade, um sujeito ruivo qualquer, mas foi este quem fez com que algo como uma cratera se formasse no peito de Hidan, que amargurava-se sempre que tinha o desprazer de ver ambos juntos.

E então, tomado pela ira e pela inveja, o albino foi condenado a viver no mundo dos humanos. Suas vastas e belas asas, antes alvas, agora eram tomadas pela cor negra. Agora, ele vagava silenciosamente por aquele lugar já corrompido.

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— Aqui está sua bebida, senhor.

O som da batida ao fundo parecia aumentar cada vez mais, azucrinando-lhe os ouvidos, ato este que, por mais que fosse incomodo, ao menos fazia com que pensamentos baldios ocupassem seus pensamentos.

— Obrigado.

Somente ao sentir uma fraca ventania em sua nuca foi que Shikamaru deduziu que a noite havia chegado, motivo este que explicava o fato de a boate já estar transbordando pessoas. Indagou-se, então, o que raios ainda fazia ali, lugar cujo qual nunca o agradara. Um nome lhe veio à mente.

“Sasori...”

Os dedos suados do Nara apertaram a taça de vidro. Seus olhos chocolates, antes focados na bebida, distraíram-se no instante em que algo fétido adentrou-lhe as narinas. O outro rapaz, sentado ao seu lado, segurava um cigarro entre os dedos pálidos; por vezes consentindo com que a fumaça deste escapasse de seus lábios. Excêntrico, seria esta a palavra perfeita para descrevê-lo, por mais que sua excentricidade não o deixasse menos belo.

Shikamaru somente tratou de ignorar o olhar que o desconhecido lhe lançou, e então logo pôs-se a degustar o líquido na pequena taça. Sua garganta queimou.

— Quer um trago? — Indagou o albino, um sorriso maroto delineava-se nos finos lábios.

— Não fumo. — respondeu, ainda sem olhá-lo.

— Mas bebe.

— Só o suficiente.

Shikamaru bocejou. O estranho soltou uma risada baixa, quase contida, o que fez com que o Nara finalmente o olhasse. Os olhos arroxeados esbanjavam apenas malícia. Ou talvez aquilo fosse apenas impressão, não soube identificar, uma vez que a fumaça, ainda presente, impedisse tal confirmação. A iluminação, que era precária naquela pequena parte da boate, também contribuía.

O volume da música havia aumentado. O atendente limpava os copos com um pano alvo, alheio às conversas.

— Não acho que valha a pena martirizar-se por causa de um amor não correspondido — disse o rapaz das madeixas alvas, o tom maroto adornando-lhe a voz. — Porra. A vida é mais do que isso.

— Talvez seja. — Shikamaru afagou as próprias madeixas. — E você? O que faz aqui, senhor?

— Matando o tempo. Aliás, preferiria que chamasse-me de Hidan — e soltou um riso baixo, dando mais uma tragada logo em seguida. — Na verdade, uma pessoa daqui capturou minha atenção.

Shikamaru arqueou uma sobrancelha, em um claro ato de descrença. O torpor começava a fazer efeito em seu corpo, enquanto as lembranças novamente tomavam posse de sua mente. A cena de Sasori agarrando-se com um desconhecido ainda insistiam em fazer com que seu peito doesse. A raiva contida dentro de si fez com que ofegasse.

Contudo, ele logo entrecortou sua respiração ao sentir braços fortes circundarem seu corpo, mas ainda assim permaneceu intacto, enquanto permitia com que as mãos – ásperas, ele notou – passeassem em seu corpo.

— Resolveu me atacar agora? Hã? — Indagou o Nara.

— Estou apenas tomando posse do que é meu.

— Te fode.

— Te fodo.

Hidan, que agora encontrava-se atrás do corpo do menor e um pouco encurvado pela sua altura, fitou o atendente frente ao balcão, que também os olhava. O velho, ao notar raivoso do albino sobre si, apenas virou-se, voltando a limpar os copos. A mão do albino procurou a de Shikamaru, e quando encontrou-a, entrelaçou os dedos.

— Apenas cale-se e venha comigo.

O moreno não contestou, porém uma preocupação acometeu seu corpo no instante em que entraram em um cômodo um pouco mais afastado da pista de dança. A única visão que tinha era do mais puro escuro, o que não era de todo um incomodo, pelo fato de estar corado diante dos atos libidinosos do semi conhecido. Mas, afinal, o que ainda o fazia ficar ali, seguindo-o para seja lá onde quer que eles fossem? Indagou-se internamente se seu lado racional, por vezes dono de diversos elogios, estaria morto. Talvez estivesse. Ou não. Era difícil dizer.

Sendo empurrado bruscamente pra algum outro cômodo, Shikamaru viu-se em um quarto, era pequeno e abafado; apenas um abajur iluminava o simples ambiente. Ansiava ter analisado melhor o lugar no qual se encontrava, contudo, Hidan pensava diferente. Possuidor de braços fortes, não foi preciso muito esforço para jogar o moreno na cama, desarrumando os lençóis beges.

— Ei...

Os protestos de Shikamaru foram interrompidos no instante em que sentiu o hálito quente do albino em seu pescoço.

— Por que veio comigo? — Hidan indagou, logo acrescentando em seguida: — Digo, você não é do tipo que vai pra cama com qualquer um.

Shikamaru suspirou, desgostoso.

— Não seja problemático, Hidan.

O mais novo perdeu a fala. Sem pedir qualquer tipo de permissão, os lábios do albino chocaram-se com os do Nara, em um beijo sem pudor algum, impregnado de sensualidade. E então eles perdiam-se numa batalha vã entre suas línguas, ambas ansiando por mais espaço. O perfume de Hidan era forte, como uma mistura cítrica, do tipo que acabava por embebedar o parceiro por tamanha fragrância que exalava.

Hidan mordeu o lábio inferior do rapaz com força o suficiente para fazê-lo sangrar; voltaram a beijar-se. Uma loucura, pela parte do menor. Um prazer indescritível pela parte do mais velho. Shikamaru dava fortes mordidas no ombro esquerdo do outro, tentativa inútil de conter seus gemidos. Eram uma combinação perigosa.

Corpos desnudos. Mãos que desgrenhavam madeixas, músculos que tremiam a cada toque, arrepios que rodeavam os corpos, o afável gosto metálico em suas bocas... Ambos envolvidos no pecado da luxúria.

O Anjo Caído havia, então, conseguido o que tanto desejou.

Ao fim, Shikamaru bocejou, os olhos cansados e a expressão sonolenta frustraram o amante, que ainda estava sob seu corpo. “O que caralhos ele tem?”, pensou com desgosto.

Em um súbito ato evasivo, Hidan jogou o Nara contra a parede mais próxima, os dedos gélidos, que antes acariciavam a face do menor, circundavam o pescoço deste, que agora mantinha um olhar trêmulo sobre o outro rapaz.

— O que está fazendo? — Inquiriu, ainda incerto. Vislumbrou, mesmo que de relance, algo reluzir da mão livre do albino.

— Já disse. Apenas tomarei posse do que é meu — O sorriso que mantinha no rosto era indecifrável. — Assim como um perfeito Anjo Caído.

Antes que pudesse protestar, ao menos questionar algo, Shikamaru sentiu uma dor aguda em sua barriga. Contorceu-se ao ver Hidan tirar uma adaga dali, deixando com que escorresse, de iníciEU o, somente um filete de sangue; não havia sido um golpe profundo. O líquido vermelho escorregava vagarosamente. O albino beijou o moreno novamente, o aprazível gosto de ferrugem ainda estava ali.

— Eu realmente não te entendia. — O albino afastou-se, deixando o menor ir ao chão. — Você nunca aproveitou as oportunidades que a vida lhe deu. Jogou fora a porra da liberdade. Parecia um pássaro preso em uma gaiola pequena. Você, no entanto, cercava-se com suas próprias grades imaginárias.

— Você é um louco — disse o moreno, tentando estancar o sangue com a própria mão.

— E quem não é? — Devolveu, irônico.

Shikamaru tentou observar melhor o quarto, com certa dificuldade, numa tentativa de escapar dali. Não havia janela, a porta estava trancada. Em uma situação daquele tipo, divagou, seria normal sentir-se atordoado, porém, apenas experimentava sinistros arrepios circundarem o próprio corpo. Não deveria ter bebido tanto naquela noite, uma vez que julgava difícil distinguir o real do surreal.

Hidan aproximou-se novamente do Nara, juntamente com sua lâmina, passando-a levemente no rosto do outro, fazendo com que mais um pequeno fio de sangue deslizasse para fora. Não satisfeito, o albino ainda levou a língua ao ferimento, lambendo-o, enquanto ocupava-se em manter um sorriso cínico ao mesmo tempo.

— Hidan... — Shikamaru balbuciou. — Pare com isso.

— Parar? — A irritação contida em sua voz era quase palpável. — Você pode até ser um pequeno gênio, mas continua o mesmo mentecapto de meses atrás. O mesmo preguiçoso, Shikamaru.

O moreno estremeceu ao ouvir seu nome sair dos lábios do outro. Não lembrava-se de ter dito como se chamava, muito menos do fato de Hidan conhecê-lo tão bem. “Ele também disse algo sobre Anjos Caídos antes... Será mesmo louco?”, com tal pensamento fixo em sua mente, exasperou:

— Alguém que não diz coisas plausíveis, notei isso desde o início — e então pôs-se a fitá-lo, e quando o fez, sentiu-se zonzo com tamanha intensidade. — O que ainda quer de mim?

— Finalmente perguntou! — Hidan desdenhou. — Quero te possuir. Em um sentido mais literal, diferente do que fizemos minutos atrás.

— Mas...

O protesto do pequeno Nara é silenciado diante mais um beijo do albino. Este, no entanto, não havia sido como os demais, indolente e momentâneo, mas sim inteiramente possessivo, fazendo com que o moreno gemesse, mesmo que isso não fosse de seu desejo. Quando o beijo findou-se, Hidan encostou sua testa na de Shikamaru, que permanecia com os olhos cerrados. O Caído movimentou os lábios finos vagarosamente, como se segredasse algo para o amante, que apenas respondeu com um baixo “sim”.

O moreno, então, fez com que seus olhos chocolates e enevoados se encontrassem com os violetas do outro.

— Só alcançarei a perfeição quando o Anjo Caído me possuir. Ele irá acariciar todo o meu corpo e, através do prazer, ele possuirá minha alma. Me completará e me fará dele até o fim. Agora e sempre serei dele.

Shikamaru não estava ciente de como havia proferido tal frase, nem o porquê de tal ato, apenas o fez. Na realidade, mesmo que quisesse, sua mente não mais conseguia processar coisa alguma, nem ao menos sentia seu corpo, mas isso pouco lhe importava. Estava inebriado.

Ainda que a sonolência estivesse tomando conta de si, notou um brilho branco ofuscar-lhe a visão. O som de um fraco bater de asas chegou aos seus ouvidos. Não mais via o albino na sua frente, mas ainda sentia sua presença no quarto, além da fragrância de seu perfume.

O Nara fechou os olhos. Contudo, ao completar tal ação, viu-se em uma imensidão inteiramente negra, porém, não sentia mais medo. Hidan estava à sua frente, mas diferente de antes, agora era possuidor de duas belas asas negras, que chegava a quase se misturar com o ambiente.

Shikamaru não precisou de explicação alguma, palavras eram desnecessárias. Diferente de minutos atrás, sua parte racional havia voltado a funcionar, fazendo com que todos os últimos acontecimentos se desvendassem no que lhe pareceu apenas poucos segundos.

— Por que eu ainda estou vivo? — Indagou, eliminando a pouca distância entre ele e o anjo.

— Somente para meu entretenimento.

E eles estariam fadados a viverem juntos por toda a eternidade.


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Notas finais do capítulo

O trecho no início pertence à música "For your entertainment", do Adam Lambert.