Don't Disappoint escrita por Ster


Capítulo 1
Capítulo Único - Não me desaponte.




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1

Robert não fazia ideia de como, mas sua filha tinha feito os brinquedos voarem em sua direção. Primeiro ele ficou chocado, depois riu, em seguida entrou em desespero. Chamou a mulher às pressas e relatou o que acontecera, apavorado com a ideia da filha estar com espíritos malignos no corpo ou algo do tipo. Isobel riu sem graça, forçando para que sua voz ficasse grave.

– Acho que está trabalhando demais. – sorriu dela, disfarçando. – Bebês não fazem coisas voarem, Robb.

– Eu vi. Juro que vi, Izzie! – ela ria novamente, não achando nada engraçado. Morria de medo do marido pesquisar, ir afundo em suas “visões”. O Primeiro Ministro Trouxa da Escócia era o homem mais gentil que todos já viram. Atencioso, prestativo e muito inteligente, junto com sua mulher Isobel, ele tinha uma família invejável com sua pequena filhinha Minerva.

O povo amava a pequena Minerva McGonagall.

Porém, eles não sabiam de uma coisa, um segredo que nem mesmo o pobre Robert desconfiava. No fundo da gaveta de Isobel, havia um pedaço de graveto muito firme e bem desenhado. Era flexível, com ébano e pelo de unicórnio, 22cm.

1938.

Bruxos ainda ardem em fogueiras

2

A maior diversão da vida de Mini McGonagall era assistir sua mãe se maquiar.

Adorava quando ela cacheava seu cabelo bem curtinho e colocava tiaras caríssimas. Admirava seus brincos de pérolas que custavam a casa inteira e prestava muito atenção na forma como sua mãe passava o batom. Mas quando Isobel queria maquiar a filha, Mini fugia.

– Vou parecer uma idiota. – resmungava ela. Quando Mini se olhava no espelho, ela até gostava de seus cachos negros como a noite. Tinha intensos olhos verdes e segundo seu pai, olhos que faziam seus pais fazerem o que ela quisesse quando bem entendesse. Mas ela não usava seus olhos para o mal, claro que não. Talvez para castigar seus irmãos Malcolm e Robert II.

– Claro que não, já é uma mocinha. – Mini rolava os olhos para sua mãe.

– Não me chame de mocinha. – ela gostava de brincar na rua com os garotos e se lembra de ter chorado a tarde toda quando eles a excluíram de uma brincadeira. Mas no dia seguinte decidiu que iria entrar na roda de amizade nem que fosse a força. E precisou quebrar os dentes de Dougal McGregor.

– Você é uma mocinha, Minerva.

– Preferia que não fosse. – ela cruzou os braços, visivelmente emburrada. Izzie virou-se para a filha abruptamente.

– O que você disse?

– É tudo mais fácil se você é um garoto. Pode brincar na rua, usar calças e gritar. Mas se é uma garota tem que fazer isso e aquilo, argh! – Isobel riu, um pouco desconcertada com a forte personalidade de sua filha. Izzie não era daquele jeito, Robert muito menos, então não fazia ideia de quem ela puxara toda aquela força.

– Filha, as mulheres também são importantes.

– Não são não, nenhuma delas é médica ou jogadora de futebol.

– Por que isso é para os homens.

– Então quero ser um homem!

– Por que te frustra tanto ser uma garota? – desde que Isobel fora obrigada a revelar a seu marido que Minerva era uma bruxa, assim como ela e Malcolm e Robert II, sua filha revelou muito mais do que a poderosíssima magia em seu sangue. Ela parecia uma selvagem. Izzie queria uma menininha para mimá-la e fazê-la sua companheira, mas Mini queria tudo menos isso. Não penteada seus cachos e odiava tomar banho, chorava e implorava de joelhos para poder usar calças e não vestidos, roía suas unhas e ria alto igual a todos os garotos. A delicadeza passara reto da pequena Minerva McGonagall.

– Porque eu não quero ser igual a você.

3

Quando Hogwarts veio, Isobel chorou.

De inveja.

Claro que também estava triste por ter que ver a filha partir, mas ficara tanto tempo sem tocar em sua varinha que já tinha até desaprendido a fazer os mais simples dos feitiços. E ela fora uma das garotas privilegiadas a estudar em Hogwarts uma vez que naquela época, isso não era muito comum. Minerva nunca esteve tão ansiosa e animada, não parava de contar para seu pai tudo que sabia sobre o local e Robert não parava de perguntar a Izzie se era seguro e a mesma enlouquecia com os choros de Malcolm e Robert II querendo ir também.

Minerva queria ser curandeira, auror, pesquisadora, jogadora de Quadribol...

– Filha, isso são coisas de homens, eu já te disse. Talvez você possa ser modelo, tem lindos olhos verdes e....

– Modelo? E eu vou ficar fazendo o que minha vida toda? Tirando foto? Prefiro virar uma sem-teto a desperdiçar minha vida tirando fotos! – Isobel engolia a malcriação e se calava, observando a mulher medir o uniforme no corpo de Minerva. – Me diga a senhora, realmente escolheu ser costureira ou foi obrigada pois eram as únicas opções no mercado para uma mulher?

Isobel às vezes se perguntava se a filha tinha mesmo onze anos.

Eram tão diferentes. Izzie era tão doce, delicada, vaidosa e solidária. Mas Minerva era agressiva, forte, determinada e ousada. Parecia que tinha um homem habitando seu corpo, e isso assustava sua mãe, mas orgulhava seu pai.

– Vai ser uma grande mulher, você vai ver, Izzie, não se preocupe.

Isobel não duvidava.

Por isso tinha inveja, porque a filha seria mais do que uma bela e estúpida mulher.

4

Os professores idolatravam Minerva.

Lá, apenas os muito íntimos a chamavam de Mini, e grande parte de McGonagall. Ela lembra de como havia uma garota ao seu lado que não parava de falar enquanto ela sentia uma vontade incontrolável de fazer xixi, olhando aquele chapéu falante à sua frente. Suas pernas finas tremiam quando ela subiu naquele banco e o professor Ignatius Prewett colocar o chapéu em sua cabeça.

Ele ficou um minuto inteiro se decidindo e então em sua cabeça, apenas para que ela ouvisse, ele disse:

– Por mim, você iria para a Corvinal, pois Rowena choraria de orgulho. Mas há algo em você que me obriga... GRIFINÓRIA!

5

De todas as matérias, ela era apaixonada por Transfiguração. Ela ficava bêbada de desejo em aprender, saber mais. Imagine transformar alguém em um rato. Pode transformar sua casa em uma barraca, uma mesa em um colchão. Você poderia viver com um móvel só toda a sua vida. Ela amava aquela matéria, idolatrava seu professor Dumbledore e gostava tanto de Hogwarts que mal sentiu culpa em não ter ido para casa naquele Natal de 1955.

– Sabe, eu até gosto de Transfiguração, mas não vejo utilidade, você entende o que eu quero dizer? Porque assim, eu posso até viver minha vida toda com um móvel só, mas e se eu precisar de um sanitário? Como vou me deitar no colchão sabendo que defequei nele? Pensando nisso, os mendigos poderiam ser bruxos, não é? Facilitaria tanto a vida deles, não é verdade? Pense bem só, eles teriam tudo com um móvel só. Claro que teríamos que ensiná-los, mas valeria a pena no fim das contas, você não concorda comigo, Mini Moo? Porque isso ajudaria o mundo, e nos tornaria pessoas melhores. – Pomona Sprout poderia ser considerada a melhor amiga de Minerva se ela não a detestasse. Ela odiava quando Poppy começava a falar desesperadamente, o que era um costume da amiga.

– Não sei. – retrucou Minerva, seca enquanto andava pelos corredores. Ela era a única aluna de Hogwarts que usava calças.

– É irritante que você seja da Grifinória e eu da Lufa-Lufa, de verdade. – Pomona tinha um cabelo armado, cachos muito abertos, que lhe dava uma aparência selvagem, talvez fosse isso que Minerva gostasse nela. – Quer dizer, ok, eu sou inútil demais para estar na Grifinória, mas e minha mamãe diz que tenho que fazer Estudo dos Trouxas, mas eu gosto de Aritmância e seria legal eu ter mais uma aula com você, e eu não entendo porque não posso fazer essa matéria também, me explique isso!

– É inexplicável, Pomona. – disse Minerva vagamente, no auge dos seus quinze anos, ela tornou-se mais selvagem do que jamais fora, e gostava quando os garotos a olhavam de calças, com um olhar assustado e às vezes até mesmo admirado.

– O que significa inexplicável?

– Não posso explicar. – Minerva observava o Jardim enquanto andava, queria ver se via Professor Dumbledore.

– Ok, obrigada de qualquer forma. – Pomona não percebia a irônia na voz da amiga.

6

Voar.

Minerva McGonagall conseguia quebrar todos os estereótipos femininos. Era elegante e educada, mas não admitia ser submissa a nenhum homem. Usava saia quando bem entendesse e calças era algo que encomendava com frequência. E quando ela teve a oportunidade de sentir o vento correr em seu rosto e a velocidade contida nela finalmente ser liberada, Mini sentiu-se ela mesma.

Ela sempre estava voando, o tempo inteiro.

Havia algo nela que lutava para sair sempre que ela estava no ar, ou fazendo algo que fazia sua adrenalina subir, era assustador e tentador, e Mini se perguntava como podia fazê-lo sair dela. No verão do sexto ano, ela estava andando por sua rua, observando o local que tão pouco visitava e sentiu um frio na barriga divertido quando ouviu:

– E eu ainda não recebi meu beijo, feiosa. – Dougal ainda tinha o molar estranho por conta do soco que recebeu de Mini aos sete anos. Os dois tinham mudado e muito. As garotas trouxas morriam de amores por ele e não entendiam porque ele gostava tanto da Mini Macho, como era chamada Minerva.

– E não vai receber. – sorriu ela.

– Deveria, fica tanto tempo fora, poderia me trazer um presente pelo menos, não sei, uma lembrancinha, fala sério, seus pais são ricos. – Os dois começaram a andar pela rua. Sua mãe já tinha dito que não era certo ela ficar andando com garotos pela rua, preocupada com o que diriam, mas Minerva ria sonoramente em claro tom de deboche. Afinal, ela já fizera tanta coisa “errada” para o mundo machista e hipócrita que a mãe já deveria estar mais que acostumada com isso.

– Posso fazer uma folha. Melhor, um pergaminho.

– Sua miserável! – riu Dougal, com as mãos nas costas. – Já está prometida?

– Minha mãe marcou um almoço para mim amanhã a noite. – Minerva estava furiosa quando saiu de casa para andar, queria matar a mãe por ter feito aquilo com ela. Não queria saber se já estava na idade ou não, casaria quando bem entendesse e ela não tinha nada a ver com isso. Casaria com quem ela quisesse e ponto final. – Você acredita nisso?

– Arrote, o cara vai te odiar. E ambos sabemos que você é a arrotadora número um da vizinhança. – Minerva e Dougal gargalharam sonoramente no fim da rua, fazendo a velha senhora Brooks olhá-los como se fossem marginais depravados. Mini cruzou os braços para a senhora e semicerrou os olhos.

– SIM? POSSO AJUDÁ-LA EM ALGO?

– Esses jovens de hoje em dia... – resmungou ela, arrastando-se para dentro de casa.

– Pateticamente caquética. – riu Dougal, os dois esperaram ela olhá-los novamente para Dougal debochar, assustando mais ainda a senhora Brooks – OH MINERVA, NÃO ESQUEÇA DE TRAZER AS DROGAS!

7

– Cristo crucificado. – Minerva rolou os olhos quando observou o restaurante. Liso com cachos muito bem definidos nas pontas, Mini estava totalmente irritada. Odiava a maquiagem, o cabelo e aquela roupa que a fazia parecer um projeto de sua mãe. Aquele homem sequer merecia todo aquele capricho. O restaurante era estúpido, a música era irritante e o casal diante deles era pior do que tudo aquilo junto. Quando pela graça de Merlin, Walburga e Orion finalmente se levantaram para cumprimentar alguém importante, Abraxas Malfoy soltou suas asinhas.

– Um Uísque de Fogo Single Malte, por favor... E para a dama...

– Uma Água de Gilly. – Abraxas soltou um muxoxo debochado, e Minerva não guardou o desprezo que estava sentindo em ter que jantar com aquele homem. Ele era um típico Malfoy, feições aristocratas, olhos frios e cabelo tão platinado que poderia ser branco. E aquela beleza perfeita irritava Minerva.

– Então, você ainda está em Hogwarts. – ele inclinou-se na mesa. – Soube que ganhou prêmios para a escola em Transfiguração.

– Sou a melhor aluna do meu ano.

– Eu vejo. Sua mãe já te deu as lições... Você sabe, como ser uma boa esposa? – Minerva quase não segurou o suspiro.

– Eu não sou um elfo doméstico. Aliás, se um homem quer um empregado e não uma esposa, devia comprar um elfo. Gasta menos. – Abraxas gargalhou friamente, recebendo seu copo e dando um belo copo. Mini contava as horas para se ver livre daquele lugar.

– Você acha que o mundo gira ao seu redor.

– Não muito diferente de você.

– Minerva, querida, você é uma mulher.

– Oh, que gênio! – debochou Mini McGonagall. Abraxas a olhou seriamente, terminando seu uísque.

– O que eu quero dizer, é que você não deve agir como se tivesse direitos. Pois os únicos que tem, é ficar quieta e aceitar. – Mini perdeu a paciência e jogou o lenço em seu colo na cara de Abraxas.

– Você que cale a boca e aceite! – ela levantou-se, porém ele agarrou seu braço. Mini arregalou os olhos. Segura essa, Malfoy. – Está me tocando? Seu pervertido! PERVERTIDOOOOOOOOOOOOO!

8

– Eu não posso acreditar que você fez Abraxas Malfoy ser pego pelos aurores trouxas por tentativa de abuso sexual em público!

Policiais, Pomona.

– Esses mesmo! Uau... Uau! – era dia de jogo. Minerva estava triunfante pois era o clássico Grifinória versus Sonserina e ela não hesitaria em esmagar os Sonserinos sem pensar duas vezes. Sem contar que seria a decisão da Copa de Quadribol e ela estava decidida a ganhar a taça pela casa, queria seu nome gravado a ouro na Galeria de Troféus. Mais uma vitória para Minerva McGonagall.

Doce ilusão.

9

O sétimo ano foi triste para Minerva.

Ela não podia voar por conta das concussões que o balaço causara em seu quadril no jogo do ano passado, estava em pé de guerra com os pais por estar sem um marido a àquela altura do campeonato e já não se sentia motivada a continuar, não se sentia motivada a nada. E havia um homem, Grindelwald, que estava formando um exército bruxo por todo o mundo, atrás de algo que pelo visto, apenas Dumbledore sabia.

E ele fora atrás dele para impedi-lo.

Minerva entrou em desespero.

– PROFESSOR! – ela perdeu sua vocação em Quadribol, perdeu tudo que tinha, não podia perder tudo que ainda restava, não podia perder sua última esperança. – Professor Dumbledore, por favor, não, eu te imploro, por favor...

– Senhorita...

– NÃO! Eu estava aprendendo, eu estava respirando, vivendo, tinha ar nos meus pulmões novamente, o que eu vou fazer se o senhor for embora? Transfiguração é minha vida! – Dumbledore parecia sentir pena do desespero de Minerva. Estava de frente para o portão de Hogsmeade, era noite, Dumbledore tinha suas malas em mão e Mini seu desespero entre seu robe.

– O que o senhor quer? Mais dinheiro? Eu posso falar com o diretor, posso falar com meu pai, mas pelo amor de Merlin... Ninguém nunca acreditou em mim desse jeito, nunca... Ninguém nunca lutou por mim, por favor, eu te imploro, pelo amor de Merlin... – Minerva já soluçava, agarrando com força os braços do professor como fosse se seu último sopro de vida.

– Senhorita McGonagall, por favor...

– Você acredita em mim mais do que eu jamais acreditei, eu preciso disso... Eu vou morrer se não tiver isso, vou morrer se não aprender, se não tiver o que me mantem viva, TRANSFIGURAÇÃO ME MANTÉM VIVA! – Existem dores que não se tratam nos hospitais, assim aqueles que sofrem fazem o possível para curarem-se. Alguns curam a dor da solidão fazendo novos amigos. Alguns diminuem sua grande culpa com um pouco de dinheiro. Alguns aliviam seus desejos mais ardentes com pequenos atos de bondade. Mas tristemente existem aqueles que não conseguem se curar, pois sabem que mais dor há de chegar. Minerva só queria estar viva.

Só queria acreditar, acreditar.

– Eu sinto tanto, Minerva... – E assim que ele atravessou o portão. Aconteceu, o vazio em Minerva transformou-se em tranquilidade e a mesma diminuiu lentamente e encolheu até finalmente virar um gato malhado. Seus grandes olhos não viam nada quando disparou em direção da Floresta Negra.

Sem olhar para trás.

10

– Então está me deixando? Posso saber por que?

Minerva McGonagall acariciou seu troféu antes de colocá-lo em sua mala.

De que ele servia? O que servia ela ter tantos troféus, títulos e reconhecimentos? Do que adiantava ter tudo se teria que ceder em algo? Por toda a sua vida ela lutou feito uma desgraçada. Lutou contra tudo e todos que encontrou. Ditou as regras, fez as regras, estudou, aprendeu, mostrou que uma mulher pode e sempre poderá ser melhor que um homem. Ela pode e é. Ela sempre soube disso e sempre quis que alguém também soubesse disso.

Agradecia Dumbledore por existir.

Por acreditar nela.

Hoje era o dia em que ela partiria para Londres. Três dias antes, ela tinha marcado um casamento. Tinha vivido um longo ano de amor. O amor de sua vida estivera diante dos seus olhos desde que se entendia por gente e nunca viu, nunca enxergou. Minerva queria que o mundo todo a visse, mas ela nunca via ninguém. Ela amava Dougal. Sempre amou, mas nunca percebeu, cega o tempo inteiro, enxergando apenas o ponto de chegada. Era egoísta, arrogante e ambiciosa. Sacrificava tudo e todos apenas para si. Pensando apenas em si mesma.

Lutou. Lutou e lutou novamente.

Queria ser grande, queria ser vista, lembrada, quem sabe adorada. Estudou, batalhou, jamais submissa a ninguém. Nunca achou que nenhum homem poderia subir em seu pódio e alcança-la e quando finalmente Dougal o fizera, ela nem se assustou.

Estava esperando.

Mas Dumbledore estava certo sobre ela. Ela não era igual a toda, não nasceu para viver um conto de fadas perfeito, não nasceu para fazer tortas de pêssego enquanto seu marido lia um jornal e as crianças brincavam no jardim. Ela era diferente. Sempre foi.

Sempre vai ser.

“Respire, McGonagall.

Não seja insensível. Está se escondendo, as mulheres da sua geração são graciosas, mas você sabe que é diferente. Elas são um insulto para a natureza. Pessoas medíocres vão te ver, mas não irão te enxergar. Vão murchar com sua sombra. Mas não se abaixe para consolá-los. Não procure amigos em todos os lugares, pois não vai encontra-los. Eles vêm até você. Essas pessoas não vão entende-la. Nunca vão. E se tiver sorte, quando for uma velha enrugada feito eu, um dinossauro, irá achar um jovem inspirador, arrogante e dono do mundo que acredita que toda a magia está em suas mãos. E você vai treiná-lo como eu te treinei. Até lá, leia bons livros.

Você não nasceu para ser graciosa, e sim grandiosa, McGonagall.

Não me desaponte,

Dumbledore”

– Porque eu não quero ser igual a minha mãe.

11

O trabalho no Ministério entediava Minerva.

Sentia-se invisível, impotente. Então não hesitou com o convite de Dumbledore para lecionar a grande paixão de sua vida em Hogwarts, uma vez que agora ele era o diretor. Estar em casa novamente em um título maior ainda era gratificante para Minerva, e ficou mais feliz ainda ao encontrar sua velha amiga Pomona, que virara professora de Herbologia. Foram anos solitários e felizes.

Ela continuou alcançando vitórias, uma seguida da outra, mas o vazio em seu peito escorria por seu sorriso forçado quando ela recebeu a notícia de que Dougal estava se casando. Lá estava ele. Não é difícil, é simples. Está formando uma família. Isso não é difícil. Ele está lá e ela está ali, onde tudo é a mesma coisa. Ela continua rígida, focada, ambiciosa e egoísta. Não é difícil. Este é o lugar onde ela escolhi estar. Ela era o amor de sua vida e agora era um fantasma. Isso não é difícil... É insuportável.

E Minerva estava certa em querer estar sozinha.

Pois não há dor quando não se tem nada a perder.

12

Assustador.

Minerva McGonagall morria de medo de Elphinstone Urquart. Tinha medo de seu sorriso aberto, seus olhos divertidos e carinhosos, tinha pavor de seu cabelo fortemente cacheado e negro, e sentia calafrios com seus risos familiares e acolhedores. Ela tinha medo, pois já sentiu aquilo antes. Já sentiu aquela sensações. Anos de flertes não correspondidos, de pedidos não atendidos, de declarações não ouvidas, Elphin queria a flor mais inalcançável da árvore. A flor que estava no topo, longe e segura de todas, ele a queria. Mas ela estava longe o suficiente para não ser tocada

Ela tinha pavor.

Mas ele não.

Ela estava segura que ele não subiria em seu pódio.

Mas Elphin escalou sem jamais olhar para baixo.

– Eu amo você. – era verão de 1982 e mesmo na escuridão da Floresta Negra, Minerva conseguia ver o sorriso de Elphin. Mas ela estava apavorada, chocada consigo mesma. – Eu amo você! Eu, Minerva McGonagall estou dizendo que te amo!

– Eu... Eu amo você também, você sabe disso...

– Não! Você está me traumatizando, porque... Eu... Eu não posso respirar... Sem você! – Minerva ficara trinta anos sozinha. Dez anos com Elphin tentando alcança-la, tocá-la, e quando ela notou que ela queria que ele o fizesse todo esse tempo, sentia-se sufocada. Era um rebuliço de sentimentos confusos e dispersos, ela queria aquele homem gentil, bondoso e paciente. Queria aquele homem tão diferente dela e que a aquecia de uma forma que jamais fora aquecida.

– Tudo que você tem que fazer é dizer sim, Minerva. Dizer sim.

13

– Eu tento, Minerva, eu tento amar você de todas as formas, mas você não me deixa, você não me dá nada em troca!

– Você quer que eu seja submissa a você, isso é tudo que você quer.

– Não... Pare de distorcer as coisas! – Elphin respirou fundo, inclinando-se na mesa de Minerva McGonagall. – Eu não te conheço, não sei nada sobre você. Dumbledore sabe mais do que eu, sabe... Sabe tudo sobre você.

– O quê? Você sabe tudo sobre mim!

– Dougal. – Minerva parou no tempo ao ouvir aquele nome. Ele só ressonava em sua mente, mas ouvi-la de verdade, sentir o nome... Era como receber um tapa. – Dougal, você nunca me falou sobre ele.

– O quê?

– Estava noiva, quase se casou. Por que não aconteceu?

– Não vou falar sobre isso.

– Viu? Você não me dá nada, não compartilha nada! Me explique como eu vou amar sozinho, você diz que me ama mas não me deixa sentir, não me deixa ver, Minerva!

– OK! – gritou ela, exausta. – Você quer saber sobre Dougal? Então vamos falar sobre ele. Esse homem tirou algo de mim. Pedacinhos. Pedacinhos por pedacinho conforme o tempo passava e eu não notei. Um dia eu era Minerva McGonagall e no outro eu estava pensando em vestidos, bebês e cozinhando. E eu estava pronta, eu estava pronta para me tornar quem eu fugi por toda minha vida. E eu me tornaria. Eu realmente me tornaria. Eu deixaria de ser Minerva McGonagall por ele. E eu me perdi por muito tempo, tentando recuperar o que ele tirou de mim e agora... – seus olhos estavam cheios de lágrimas que jamais sairiam. Ela jamais deixariam cair novamente. Elphin parecia petrificado diante daquela mulher que tanto admirava e amava, que tanto desejava e respeitava, ali, mostrando que tinha um coração. – E agora que finalmente sou Minerva McGonagall novamente... Eu não posso. Eu amo você. Amo mais do que já amei Dougal, e isso me assusta muito porque quando você me pediu para ignorar o chamado de Dumbledore e eu ignorei... Você tirou um pedaço de mim. E eu deixei. E isso nunca... Nunca vai acontecer novamente.

14

Por toda sua vida, Minerva teve medo de se tornar sua mãe.

Submissa, regrada e estupidamente robótica. Jurou a si mesma que jamais abandonaria suas ideologias, nunca abaixaria sua cabeça para um homem, nunca seria uma empregada, uma escrava, um objeto. Ela não teve um casamento tradicional, subiu a um altar com um vestido vinho e sem flores nas mãos. Não havia votos de amor eterno e seu sobrenome não foi mudado. A festa foi casual e apenas para amigos mais próximos.

Sua casa era em Hogsmeade, pois ali ficava seu trabalho e quando ela se pegava admirando Elphin durante o sono, ela sentia raiva.

Porque ela entendeu sua mãe.

Isobel McGonagall não era burra ou estúpida como Minerva tanto julgara. Ela era uma mulher apaixonada. Cegamente apaixonada, tão apaixonada que abriu mão de si mesma pelo homem que amava. E porque ela não pôde fazer o mesmo por Dougal? Cega por poder? A sede de vitória era tão sufocante assim? Mas então ela se deitava novamente e acariciava o cabelo do marido, em silêncio.

Pois certas perdas eram necessárias para que o bom viesse.

E durante doces quatro anos, ela foi tão feliz que recompensou anos de dor e solidão, ganhos por sua ambiciosidade doentia. Ela alcançou todos os seus objetivos e pagou por seus erros e quando finalmente terminou, ali estava seu presente. Nos fins de semana, sua casa vivia cheia de crianças, seus sobrinhos, que corriam de um lado para o outro e Minerva se arrependia por ter sido tão rígida em relação a crianças, por achar que estragaria sua vida, que mataria sua sede de viver.

Elphin seria um ótimo pai, assim como era um ótimo marido.

Ele conseguiu escalar o grande e gélido pódio de Minerva McGonagall, cheio de armadilhas e buracos negros. Ele conseguiu o que ninguém nunca conseguiu.

E ela acha que isso é o suficiente para receber seu amor.

15

Mini tem um desejo profundo por transfigurar.

Transfigurar, transfigurar e um desinteresse na dramática vida pessoal dos outros colegas. Ela é hiper-competitiva, ambiciosa sem limites e brutalmente honesta, e unicamente focada em fazer absolutamente qualquer coisa que ela possa para aprimorar suas habilidades com a varinha. Teve um marido quando a idade começou a bater em sua porta e nunca teve filhos pois o trabalho era a sua única fonte de vida.

Saber quais são os seus problemas, e realmente superá-los são duas coisas completamente diferentes.

Amou e foi amada.

Odiou e foi odiada.

Fria e rígida, os alunos a odiavam.

Doce e sensível, aquela era Minerva McGonagall.

Nasceu para ser grandiosa e não graciosa.

Não me desaponte.


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Notas finais do capítulo

Esclarecimentos:
Tudo nessa fanfic é real exceto pelo relacionamento familiar dela. Dougal realmente existiu e ela quase se casou com ele, e ela foi casada SIM com Elphin.

Seu marido morreu em 1985 atacado por alguma coisa que eu não lembro. O resto da história vocês conhecem.

MAS E AÍ, VOCÊS GOSTARAM??????? Faz tempo que eu queria escrever sobre ela, pois Minerva me lembra muita Cristina Yang (personagem que eu usei muito para estruturar a McGonagall), então, espero que tenham gostado.

Vejo vocês nos reviews?