61ª Edição: Herança Familiar, ou Não? escrita por AlexandreTHG


Capítulo 14
Capítulo 14 - Reencontrando Inimigos.


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal, me desculpem pela demora desse cap... foi meio complicado esses dias.
Como podem ver, a fic está com uma nova capa. E devo agradecer a Biia Mellark e seu blog troublemakerdesigns.blogspot.com pelo design ótimo, obrigado!!
E como sempre, espero que gostem :D



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Eu e Henri sem palavras saímos de perto do corpo de Nataly e esperamos. O aerodeslizador veio e a levou. Levantamos o braço esquerdo com os três dedos médios de pé e o direcionamos para o aerodeslizador sumindo nas nuvens, dando adeus a nossa amiga.

Tempo depois enxugamos as lágrimas e nos afastamos dali. Nos sentamos em um tronco próximo no chão e relaxamos, ainda em silêncio. Uma pochete pendia na cintura de Henri e ao seu lado uma mochila grande.

– Pega um. – diz ele. Estendeu a mão, e no centro dela ele estava segurando dois anéis prateados. Eram de Nataly. – Ela queria que eu ficasse com um e você com outro.

Peguei um dos anéis e coloquei no dedo indicador da mão esquerda. Sempre que o visse, lembraria do sorriso de uma pessoa maravilhosa, que era capaz de fazer todos à sua volta sorrirem, lembraria da minha amiga que morreu nos Jogos Vorazes.

– O que aconteceu com vocês? – pergunto, quebrando o silêncio do luto.

– Eu e ela por sorte estávamos próximos no lançamento. Ela pegou essa mochila enorme na base da cornucópia e eu peguei essa pochete com dardos para uma zarabatana que estava junta. E... – Ele sorriu para mim e se virou, para seu lado esquerdo, onde havia alguma coisa que eu não havia visto.

De lá, ergueu de suas mãos um tridente. O tridente médio que eu vira no fundo da cornucópia. O único tridente da arena. O tridente que fora pego pelo menino do distrito 9, e que pelo visto, Henri tirou dele.

– Quando eu estava saindo da cornucópia, devagar como sempre sou, vi um garotinho segurando ele e um machado. O menino estava com dificuldade, então, digamos, dei uma “forcinha” a ele e peguei o tridente. – nós rimos do trocadilho e ele me entregou a arma. – Eu sabia o quanto você queria um te vendo com um no desfile e nos treinamentos.

– Obrigado. – digo, sorrindo em agradecimento por esse gesto extremo de amizade.

– Nem sei como sai vivo da cornucópia lerdo como eu sou. A sorte estava mesmo há meu favor. Segui Nataly e andamos por muito tempo, até procuramos você, mas não achamos. Quando nós estávamos com sede e não achamos nenhuma fonte de água, eu deduzi que deveria derreter a neve.

– Eu ia me juntar a vocês, mas eu precisava sair correndo dali não importa para onde. O garoto do distrito 1, Luigi, estava na minha cola com um arco e flecha. Eu precisava fugir.

– Entendo. Nataly era muito habilidosa, ela criou rapidamente uma fogueira e uma coisa para colocarmos a neve sem a água escapar. Também encheu essa mochila de ótimas frutas comestíveis. – diz ele.

– Não tinha nada nessa mochila enorme? – pergunto, estranhando em uma mochila grande não ter nada.

– Tinha só um tipo de cobertor verde escuro bem quente e um cantil de água vazio. Aquele cobertor foi ótimo durante a noite; e acho que essas frutas ainda podem durar dias se economizarmos.

– Tudo bem. – digo. Depois fico cabisbaixo evitando a próxima pergunta, mas ela escapa. – E como vocês... bem, e como ela...

– Eu e ela continuamos andando por ai o dia todo. Ela na frente observando todo o ambiente buscando cavernas, buracos ou coisas assim que ela sempre foi ótima em achar. Até que ela achou um abrigo em uma árvore e a gente ficou lá. Revezamos a guarda durante a noite toda, até que quando amanheceu... – Ele parou por um tempo, a tristeza dominou a sua expressão. – Eu estava abaixado arrumando o cobertor na mochila até que ela gritou e me virei. A garota do 10, Trice Formentin, acertou Nataly no peito com uma foice. Atirei nela com meus dardos, dois deles atingiram o ombro dela, o que a fez recuar e correr. Eu estava possuído pelo ódio, então corri atrás dela com uma vontade imensa de matá-la pelo que fez com Nataly. Mas, como você sabe, essa droga dos meus pés tortos como de patos me fazem andar lentamente, então não alcancei ela. Nataly veio atrás de mim até não aguentar mais e cair. Tempo depois você apareceu, e aqui estamos nós. – Após ouvir isso, senti uma coisa percorrendo meu corpo. Uma coisa que eu tinha repugnância de sentir. Uma coisa que eu raramente sentia. Raiva.

– Aquela garota. Ela é uma sanguinária maldita. Ela vai se arrepender disso. Ela disse que perseguiria a mim e ao Patrick. Em vez disso, foi atrás de vocês, meus amigos.

– Parece que ela além de vencer, quer ser a melhor aqui. Por isso como você e ele tiraram a mesma nota que ela, ela quer se vingar. – diz ele analisando a situação.

– Mas ela não vai ser a melhor, muito menos vencer. – digo. – Eu vou acabar com ela.

Henri me olhou confuso. E eu entendi por que.

Eu nunca fui assim. Eu sempre fui uma pessoa animada e feliz, e agora estou possuído pela raiva de uma garota que assim como eu, quer sair viva daqui. Os Jogos estavam me deixando assim.

O resto do dia passou rápido. Eu e Henri nos alimentamos com umas sementes, frutas e o restante da carne da lebre. Bebemos água e derretemos mais neve para encher nossas garrafas. Tudo isso em silêncio; mas com as armas em prontidão para alguma surpresa. Tudo já estava arrumado em nossas mochilas, o tridente em minha mão e a lança no cinto, e Henri com sua zarabatana em mãos e com uma pochete cheia de dardos. Estávamos prontos para uma batalha, de preferência com Trice, para vingar nossa amiga. O fim do dia estava próximo, já já ficaria noite; foi quando um tiro de canhão soou.

– Quem será que foi? – pergunto.

– Não sei. Quem ainda está vivo? – Henri estava distraído desenhando alguma coisa haver com ângulos na neve.

– Todos os tributos do 1 ao 4. A garota do 5, Jacqueline. A garota do 7, Géssika. Trice, e o garoto do 12, Ralf.

– Algum deles acabou de morrer. – Ele fala distraído.

– Nós precisamos sair daqui. – digo. – Não podemos ficar parados, ou quem vai nos fazer andar vão ser os Idealizadores, e a gente não quer isso.

– Tudo bem. – Ele apaga seu passatempo. – Vamos para onde?

– Vamos para onde eu estava antes de vir para cá. Uma descida de um morro, ótima para passar a noite.

– Certo. – diz ele. Levantamos e começamos a andar.

Durante o caminho, lembrei-me de Nanda. Nataly foi sua amiga, e foi a razão que fez nós nos conhecermos. E agora ela se foi, imagino como Nanda está se sentindo. Deve ser mesmo ruim viver na Capital sem amigos, e ver um amigo seu morrendo pela televisão.

A noite chegou. Enquanto andávamos, eu na frente e Henri atrás, nada nos chamava atenção na floresta coberta de neve. A neve parecia a mesma desde o início, não derreteu sozinha durante o dia e nem nevou mais para aumentá-la. Foi quando em uma olhada para o tridente que Henri tirou do menino do distrito 9 na cornucópia, lembrei-me do mesmo. Com a situação depois da morte de Nataly, eu havia esquecido de falar sobre o que aconteceu comigo, o garoto do 9 e Mary. Por vir do mesmo distrito, Henri poderia saber mais sobre ela e saber o que ela pretendia com as nozes e aquelas ferramentas.

Contei-lhe tudo. Sobre a morte do menino, a bolsa de ferramentas, e o interesse de Mary pelas nozes, nozes que, pelo visto, não tinham mais na floresta além daquele lugar com os esquilos. Eu pelo menos não vi mais nenhuma.

– Me conte como eram essas nozes, e a tal bolsa. – Pediu ele. Contei-lhe os detalhes. Forçando minha mente, até lembrei que as nozes tinham traços homogêneos, eram todas exatamente iguais. – Bem, essas ferramentas não são tão difíceis de encontrar. São coisas comuns, servem para arrumar qualquer coisa, ou mexer no interior dela. Se ela estava com essas ferramentas, e essas nozes são as quais eu estou pensando...

– O que? O que ela pretende? – pergunto.

– Essas nozes são nozes especiais. Não são naturais. Se ela abri-las corretamente no ponto certo, colocar um pouco de... e adicionar aquilo...

– Aquilo o que? O que? – insisto. Parecia que ao pensar ele se desligava das coisas ao redor. Continuou pensando e gesticulando como se estivesse com as nozes e as ferramentas.

– É claro! – exclamou ele. – É obvio, ela pretende criar...

Foi ai que começou.

O chão aos nossos pés começou a se mover. Nós caímos e Henri foi interrompido quando ia falar. Mas apenas onde estávamos, em linha reta. Podíamos ver a terra ao nosso lado parada.

– Pula para o lado! Isso parece uma longa estrada andando sozinha, é um truque dos Idealizadores! – grito. Ao se mover o chão fazia um barulho alto. – Está nos levando à algum lugar! Pula para o lado comigo!

O chão pareceu ir mais rápido. Finquei o tridente no chão me ajudando a permanecer parado e de pé, mas Henri rolou para trás e ficou caído no chão.

– Precisamos pular! – exclamo.

– Eu não consigo me levantar! O impacto do vento criado pela velocidade está forte demais! – grita ele. Deixei uma mão segurando o tridente preso e com a outra tentei ajudá-lo a se levantar. Finalmente ele conseguiu levantar e estava na hora de pularmos. Mas era tarde demais.

Uma curva estava à nossa frente. Quando chegamos até ela, Henri não aguentou o impacto e foi jogado para frente, no chão, enquanto eu ainda com a mão no tridente preso ao chão continuei em movimento. Meu aliado havia ficado para trás. Fomos separados novamente.

Quando finalmente saltei, cai no chão seguro e parado como deve. Levantei-me com o tridente pronto para atacar. Graças à meu amigo que agora estava perdido eu tinha esta arma poderosa, e a lança ainda no cinto para emergências.

Observei a floresta ao meu redor. Parecia a mesma, árvores e neve rasa. Sentei-me para descansar e bebi um pouco de água. O chão movente em que eu estava agora havia parado.

O hino de Panem começou a tocar, e nos céus as figuras dos tributos mortos surgiram. Lá estava Nataly. E logo após ela, Ralf, o garoto do distrito 12; ele havia sido morto então.

Deitei e me permiti relaxar observando o céu estrelado. Será que essas “estradas” também moveram outros tributos? Elas já me separaram do meu aliado, mas um truque assim dos Idealizadores não serviria só para isso. Com certeza usaram isso para unir alguns tributos que devem estar lutando nesse momento. Se eu seguisse naquela coisa, provavelmente estaria de cara com outro tributo agora.

Eu não podia dormir aqui. Exposto no chão. Levantei-me para ir a procura de um abrigo. Então começou novamente. O chão aos meus pés começou a se mover de novo.

Pulei para uma parte parada e segura, mas assim que caí, a que eu estava parou e essa começou a me carregar. Pulei novamente, e aconteceu a mesma coisa. Não ia parar até acontecer o que os Idealizadores pretendem, então decidi enfrentar logo o que está por vir. Finquei o tridente no chão e me segurei, esperando o perigo.

Então algo estranho aconteceu. Notei que próximo a mim, depois de um trecho de chão seguro, havia outra “estrada” se movendo na direção oposta. Olhei para ela e vi. Empoleirada em uma árvore, com uma foice nas mãos, Trice Formentin me encarou com o olhar de longe e sumiu na noite levada pela sua parte movente. Fiquei com medo de por ela estar indo na direção oposta a minha, levarem ela até Henri.

Tempo depois o chão aos meus pés parou. A minha direita estava a floresta como sempre, sem mudanças. E a minha esquerda, um enorme lago congelado apareceu. Do outro lado dele, após uma camada longa de árvores, vi a ponta do chifre da cornucópia. Eu estava do outro lado da arena.

Avaliei a minha situação. Ainda estava com o tridente e a lança, e a mochila com sementes, minha garrafa, o saco de dormir e o elástico dentro. Então pisei na borda do lago para checá-lo, o gelo parecia pedra. Parecia estar firme.

Então, ouvi um grito, um grito de uma garota. Olhei ao meu redor e localizei no lado esquerdo do lago. Belatriz surgiu de dentro da floresta arremessada por alguma coisa e caiu com um forte impacto no gelo rígido.

Próximo dela, se esgueirando entre as árvores e com um arco e flecha nas mãos, estava Luigi. Ele apontou uma flecha para Belatriz.

Sem exitar, peguei a lança do cinto e arremessei-a, cravando-a na cabeça do garoto. Acabei de matar um carreirista e salvar a vida de Belatriz.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Comentem :)
Até o próximo!!!