Meu nome é Robert Alexander III, mas pode me chamar de Moose. Moro em Baltimore, Maryland. Tenho 16 anos e estou no 1° ano na Maryland School of Arts. Entrei como o cara que gostava de mexer com luzes, mas agora faço dança. Ninguém na escola sabia que eu dançava, mas no semestre passado eu e meus amigos criamos o MSA e ganhamos uma competição de street dance. Depois disso comecei a me entrosar melhor com o pessoal da escola, mas sempre faltou minha melhor amiga, Camille. Ela não tinha conseguido entrar porque não aceitavam facilmente pessoas que dançavam street dance, mas depois que formamos nosso grupo, eles passaram a aceitar mais pessoas que tem esse estilo de dança. E agora ela vai entrar na escola. Não poderia estar mais feliz por ela. A alguns meses ela conseguiu sair da casa dos pais adotivos que ela detestava e agora mora com o irmão dela que faz de tudo por ela. Falta pouco pro pai biológico dela voltar pra casa, e agora ela conseguiu uma vaga aqui na MSA.
Mas como nem tudo é um mar de rosas, eu estou com um grande problema. O problema mais sexy que já vi na vida, e se chama Sophie.
Semestre passado, depois de termos ganhado a competição, a garota mais popular, mais bonita e uma das mais talentosas da escola simplesmente me beijou. E desde então temos ficado às vezes. Acho que gosto muito dela, e Andie acha que ela quer namorar sério comigo, então vou pedir pra namorar com ela. Até aí tudo bem. O grande problema é que ainda não contei pra Camille, não sei porque. Toda vez que penso em contar, eu perco a coragem. E ela sempre é a primeira pessoa a saber tudo sobre minha vida. Mas agora ela vai chegar na escola e vai perceber.
Como vou conseguir contar pra ela? Como ela vai se sentir sendo a última a saber da coisa mais incrível que aconteceu na minha vida? Sinceramente não sei. Só espero que ela não fique muito chateada. Raramente brigamos, mas quando brigamos, Camille simplesmente se afasta, desaparece, não fala comigo. E isso acaba comigo. É pra ela que eu conto tudo, só ela entende todas as minhas piadas, ela que fica do meu lado quando todos estão contra. Cam foi a primeira pessoa que me viu dançar, ela que me ensinou alguns passos de hip hop, sempre foi ela que me encorajou, elogiou minha dança, meu jeito, meu estilo. E agora eu escondo um lado importante da minha vida pra ela, e nem sei o porquê disso.
Me lembro de quando vi Cam dançando pela primeira vez. Tyler tinha ensinado a ela alguns passos, e eu vi que podia aquilo também. Nem éramos amigos ainda, apenas a vi dançando na escola quando ninguém estava vendo. Depois daquele dia, fui sozinho pro meu quarto e fiquei ensaiando alguns passos. Eu era uma criança, um magrelo desengonçado, com o cabelo todo enrolado que não tinha um estilo, não tinha ainda uma visão apenas minha sobre o mundo. Camille já tinha seu próprio estilo, toda largadona, e conseguia ser linda assim, ela sabia o que queria da vida, e era dançar. Até o dia em que estávamos só nós dois estudando na biblioteca, ela sempre estudava muito, pois era bolsista na escola e deveria tirar notas maiores do que a dos alunos como eu, que pagavam. E eu estudava porque não tinha muito o que fazer. Eu tinha alguns amigos, mas eles não me entendiam muito. E aí Camille foi pegar um livro na estante e começou a ir andando e dançando. Eu fiquei a olhando e ela percebeu. Como ela era muito marrenta quando tinha essa idade, ela disse.
– Tá olhando o que? Sabe fazer melhor? Vem aqui então. - eu fiquei parado na minha cadeira sem saber o que fazer. E ela ficou me desafiando. - O que? O curly hair fofinho e riquinho não sabe dançar? Ah tadinho, vai pro colinho de mamãe chorar.
Depois de uns minutos não aguentei mais a provocação e levantei. Comecei a fazer os passos que tinha ensaiado em casa, e ela ficou de boca aberta. Assim que acabei, a moça da biblioteca entrou e pediu silêncio a todos, e falou para sentarmos e ficarmos quietos.
E aí depois de uma semana, o professor de artes perguntou quem queria fazer a apresentação de final do ano. Seria um menino e uma menina, o professor escolheu Camille, mas nenhum outro garoto na sala sabia dançar, e eu não me manifestei. Então Cam falou na frente de toda a sala que eu sabia dançar, o resto vocês já podem imaginar. E foi daí que começou nossa amizade. Então, se hoje eu sei dançar, se hoje tenho meu próprio estilo, meu próprio jeito, se sei o que quero pra minha vida, é graças a uma baixinha, largadona, que se faz de durona mas na verdade é uma das pessoas mais sensíveis do mundo. E ela não merece ser a ultima a saber. Mas agora já era e eu apenas espero que ela me perdoe.