Fernanda E Caio - O Político. escrita por Vanessa Carvalho


Capítulo 11
Capítulo 11




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O domingo começou mais frio que o normal. Fernanda acordou cedo e deixou Caio dormindo mais um pouco. Aproveitou para preparar o café e colocar ração para o cachorro. Como estava frio, aproveitou e levou uma manta nova para ele se aquecer.

– Ei, garotão... Tudo bom? Trouxe o café e uma manta pra você. – Ela falou afagando a cabeça dele.

Voltou para casa. Cristina havia acabado de acordar e estava procurando a mãe. Depois de um abraço apertado, Fernanda preparou o café da filha.

– Filha, hoje nós vamos lá no trabalho do papai.

– Oba... Posso ficar brincando com aqueles brinquedos?

– Pode sim, mas vou chamar o Julinho pra ficar com você.

– Tá bom.

Não demorou muito e Caio apareceu na cozinha. Estava frio e ele automaticamente acordava reclamando disso. Sempre fazia Fernanda rir.

– Você tem certeza? – Ela perguntou em certo momento.

Ele não tinha certeza. Sabia que se Tiago pediu essa reunião com os dois, alguma coisa estava escondendo e não era prudente falar onde estavam. Ele passou o dia inteiro ontem pensando no que poderia ser sem chegar a nenhuma conclusão.

– Certeza não tenho não. Mas se for pra fazer esses dois sumirem da nossa vida, faço qualquer coisa.

Fernanda suspirou. Se fosse o que ela estivesse pensando, provavelmente teria problemas com isso. Caio poderia ser cabeça dura quando se tratava dela, mas ela já não era mais aquela advogada frágil que ele conheceu há cinco anos. E ele deveria confiar nisso.

Depois do café, Fernanda foi dar banho em Cristina. A deixou pronta com uma roupa mais quentinha e foi se arrumar. Caio estava mais calado que o normal, sinal de que estava preocupado demais para falar. Fernanda odiava quando o marido ficava perdido em pensamentos próprios sem dividir com ela.

– Amor... – Ela falou segurando em sua mão fazendo-o sentar na beira da cama. – Vai me dizer o que você está pensando ou vamos ficar nesse clima pesado o dia todo?

– Eu só estou me perguntando o motivo de Tiago e aquele tal Mateus quererem que você participe dessa reunião. – Ele falou a última palavra com deboche demais para Fernanda deixar passar em brancas nuvens.

– No que você realmente está preocupado? – Ela perguntou olhando diretamente nos olhos dele.

– Se acontecer algo com você...

– Ei... Ei... Primeiro, vamos deixar pra nos preocuparmos quando eles falarem do motivo de eu participar. Depois... Amor... Eu já não sou tão fragilzinha, lembra?

– Ah é, doutora? E posso saber como não? – Ele perguntou passando as mãos na cintura de Fernanda.

– Assim... – Fernanda com uma posição clássica de luta, rapidamente se desvencilhou dos braços do marido ficando atrás dele com os seus próprios braços em volta de seu pescoço apertando gentilmente, sorrindo. – Dessa forma. – Ela falou beijando o rosto de Caio que ria.

– Isso pode não ser suficiente. – Ele falou tão rápido quanto, jogando-a na cama e ficando por cima dela sorrindo.

– Nesse caso... – Ela falou envolvendo as pernas na cintura do marido apertando mudando de posição ficando sentada por seus braços – Teremos que confiar no meu treinamento com armas. – Ela falou levantando da cama puxando o marido.

– Tudo bem, vamos ver o que eles tanto querem.

Eles chegaram ao escritório na hora marcada, mas Tiago e Mateus ainda não estavam lá. Caio e Fernanda deixaram Cristina aos cuidados de Julinho na brinquedoteca. Ele estava ensinando Cristina a jogar videogame. Caio arrumou a sala de reuniões cuidadosamente. Fernanda ficou olhando o computador do marido atrás de seu relatório. Ela havia criptografado uma cópia do arquivo no computador do escritório. Sabia que o sistema de segurança de lá era de última geração e dificilmente ele seria invadido.

Depois de meia hora esperando, Fernanda avistou o carro de Tiago estacionando perto do de Caio. Logo atrás um Jetta preto que Fernanda deduziu que fosse de Mateus. Ser delegado federal valia a pena.

– Eles chegaram. – Caio falou entrando em seu escritório.

– Lembre-se amor, vamos deixar que eles falem primeiro, tudo bem?

– Tá, tá... Escutar primeiro... Falar depois.

Tiago e Mateus estavam vestidos causalmente. Fernanda não se acostumava em ver seu amigo de bermuda e camiseta. Já havia se acostumado a vê-lo com roupas escuras e pesadas do trabalho. Caio os levou para a sala de reuniões que já estava preparada com refrigerantes e sucos. Não era porque era domingo que Caio relaxaria no tratamento de quem chegava em seu escritório.

– Bom dia Caio. Fernanda. – Tiago falou animadamente. – Já havia ouvido falar daqui, mas não imaginava que fosse assim tão grande.

– Letra e música de Caio. Mateus, bom dia.

– Bom dia Fernanda. Bom dia Caio. Obrigado por nos receber num domingo e aqui. Era a única forma segura que encontrei para falar o que temos que falar. – Mateus foi direto. Fernanda começou a gostar dele.

– Falar sobre o quê, exatamente?

– Caio você sabe que Aguiar tem uma rede de prostituição, que ele usa esse escritório para os relatórios das moças que entram e saem da Europa, não sabe?

– Desconfiava, na verdade.

– Você sabe que Aguiar é o sobrenome dele?

– Bem... Imaginei.

– Nós sabemos que ele trabalhava com um irmão, “os irmãos Aguiar” como eles eram conhecidos. Mas há alguns anos ele vem trabalhando sozinho, a única pessoa que ele confia é esse tal Henrique. Você sabe. Não sabemos o que aconteceu com o irmão, se está vivo, ou morto. Não sabemos nem sequer o nome dele, mas sabemos que alguma coisa tem a ver com vocês dois, pois desconfiamos de algumas coisas. E sabemos também que você, Fernanda está no centro de tudo.

– O que eu posso ter a ver com isso?

– Qual é, Tiago. Tá desconfiando da Fernanda? Que ela tenha alguma coisa a ver com esse esquema sujo? Além do mais, você sabe que eu, mesmo nos meus áureos tempos não concordava com nada disso e... – Enquanto Caio contestava Tiago, Fernanda notou que Mateus e Tiago olharam um pro outro como se tivesse algo importante para falar e eles não tinham certeza de como fazê-lo.

– Amor... – Fernanda falou olhando diretamente para Tiago – Deixe os dois falarem o que eles têm pra dizer.

– Acredito que o irmão de Aguiar seja um velho conhecido de vocês. – Fernanda sabia onde essa conversa iria chegar e não estava gostando nada disso.

– NÃO. – Ela falou antes mesmo de Mateus continuar e Caio notar o que estava acontecendo.

– Fernanda, escute... As pistas...

– As pistas estão erradas, Tiago. Ele não tinha irmão nenhum. Ele era... – Ela falou gritando levantando ficando de costas para eles.

– Filho único? Tem certeza disso? Vasculhe sua memória, Fernanda. Qual era o sobrenome dele?

– Ei, ei, ei... Posso saber do que vocês dois estão falando?

– Tiago... Isso não pode ser... Vocês estão errados. – Ela estava parada em frente a uma janela de braços cruzados.

– Fernanda... Dá pra me falar o que porra está acontecendo?

– Acreditamos que Aguiar seja o irmão mais novo de Pedro. – Mateus falou cuidadosamente.

– O QUÊ? – Caio gritou. – Que porra é essa, Tiago?

– Caio... Analise tudo... Fernanda sabe que isso pode ser verdade.

– Então? – Caio perguntou se virando para Fernanda. – Fernanda, que merda que eles dois estão falando? – Caio não estava irritado de verdade. Seu tom de voz demonstrava mais que ele estava apavorado com o que poderia acontecer.

Fernanda estava tentando de todas as formas não acreditar naquilo que Tiago estava falando. Não poderia ser verdade. Aguiar não poderia ser irmão de Pedro. Pedro não tinha irmão nenhum. Mas... O que Fernanda realmente sabia da vida privada de Pedro? Que ele era casado com uma socialite que não gostava, que tinha dois filhos homens, uma filha que estava na adolescência, que um deles, o mais velho, estudava na Europa. Fora isso não sabia de mais nada. Sondou sua mente o máximo que pôde para tentar lembrar de qualquer outro tipo de informação que pudesse ter.

Se virou para os três homens que não tiraram os olhos dela em nenhum momento desde que Caio perguntara o que ela poderia saber. Gostaria muito de ajudar, mas... Será que ela gostaria mesmo? O mês que passou presa naquela cabana, pensando que Caio estava morto, sendo estuprada diversas vezes por Pedro e tendo Ness como seu algoz deixara uma marca em sua mente. Daquelas que as pessoas insistem em tentar apagar. Ela se encostou na janela suspirando.

– Talvez... E vejam, eu estou falando TALVEZ, isso tudo seja verdade. – Ela falou por fim.

Caio que estava sentado levantou no mesmo instante sentindo seu corpo todo tremer. Em outros tempos socaria a cara deles dois, mesmo eles não tendo culpa de nada. Mas somente o fato de eles pronunciarem tão casualmente o nome daquele homem perto da sua mulher já era motivo para uma raiva incontrolável passar por todo seu corpo. Caio ficou andando de um lado para outro na sala. Vendo que seria difícil se acalmar, saiu o mais rápido possível indo para uma sala afastada cheia de equipamentos de ginástica.

A raiva estava agora tentando controlar não somente seu corpo, mas seu cérebro. Socou a primeira coisa que viu na frente. Por sorte era um saco de areia. Agradeceu por Rui ter insistido em colocar um desses naquela sala.

Enquanto socava, as imagens do que eles passaram há quatro anos vinham em sua cabeça como uma reprise, uma pena que as cenas que ele mais gostaria que fossem cortadas dessa reprise eram as que apareciam mais forte em sua memória. Ficou lá até se acalmar, o que não foi pouco tempo. Parou completamente exausto.

Se tudo aquilo fosse verdade, Aguiar estava lá para se vingar dele e de Fernanda. E não sabia o que poderia ser pior. A vingança é um poderoso elixir quando bem trabalhado. Sabia que Henrique era um idiota, mas daí a se juntar com Aguiar para... Então ele se lembrou do namoro com Fernanda, das conversas que tinham sobre Pedro. De ela contando sobre a família dele. Saiu depressa da sala de ginástica voltando correndo para o escritório.

– Você falou que ele tinha um filho que estudava na Europa? – Caio entrou brusco na sala assustando a todos.

– Falei, mas amor... – Fernanda estava tão preocupada quanto ele.

– Sim, já pensamos nisso também. – Mateus falou como se lesse os pensamentos de Caio. – E é por isso que estamos aqui. Depois do que aconteceu, precisamos avisar aos dois para terem cuidado.

– Eu não vou deixar que nada aconteça com ela. – Caio falou irritado.

– Amor, tudo bem. Tiago, qual o seu plano? E não me venha dizer que não tem um plano.

Tiago e Mateus olharam um pro outro. Fernanda notou que era um olhar cúmplice. Eles tinham um plano. E pelo que ela sentia, um ótimo plano. Mas temia o que estava por vir.

– Então... Eu e o Mateus estávamos pensando em criar uma emboscada para Aguiar.

– Que tipo de emboscada? – Caio perguntou desconfiado.

– Estávamos pensando em implantar uma isca na rede deles.

– Como assim? – Caio notou que Fernanda se remexeu na cadeira. Ele havia deixado passar alguma coisa.

– Estávamos pensando em uma espiã.

– Espiã? Mas isso pode não dar... Ei, calma lá cara pálida. Quem vocês estão pensando em mandar pra o abatedouro? – Antes mesmo de receber a resposta, Caio notou Mateus olhando para Fernanda confirmando suas suspeitas. – NEM PENSAR. – Ele esbravejou na sala. – A Fernanda NÃO vai fazer isso.

– Caio pense, por qual outro motivo eles estariam aqui? – Tiago tentou falar mais alto que Caio.

– A Fernanda NÃO vai fazer isso. Ela não vai. Simplesmente não vai.

– A Fernanda não é uma boneca de porcelana, sabia? Ela sabe se cuidar sozinha.

– Ela é a MINHA mulher e não sua.

– É porque a Fernanda sempre teve um dedo podre pros homens...

Fernanda e Mateus ficaram parados assustados demais com a reação dos dois homens a sua frente para fazer alguma coisa. Fernanda sabia que isso era resultado de anos de uma tensão velada entre os dois. Ela sabia que Caio jamais iria permitir que o plano de Tiago fosse para frente, mesmo que isso significasse se livrar de Aguiar e do fantasma do Pedro para sempre. De alguma forma Fernanda ficou incomodada com a falta de confiança que Caio tinha nela.

– Fernanda, você tem que resolver isso. Você sabe que é o único jeito. Pensamos em todas as nossas agentes, mas elas não têm o mais importante para chamar a atenção de Aguiar. Você é agora, a peça mais importante nesse quebra cabeças, querendo ou não.

– Chega. – Fernanda gritou para que os dois parassem a discussão. Ficou esperando que os ânimos se acalmassem olhando séria ora pra Tiago ora pra Caio. Os dois estavam nervosos demais. – Eu já não sou mais nenhuma criança e estou presente para ver meu nome numa discussão dessas. Vocês dois deveriam ME perguntar o que eu acho disso tudo.

– Fernanda... Você sabe o que esse cara está pedindo pra você fazer?

– Sei, e é por isso mesmo que a decisão tem que ser minha e não sua.

– Nanda, eu jamais pediria algo assim tão perigoso pra você se não soubesse...

– Ou se não tivesse uma opção melhor, não é?

– Fernanda pense bem...

– Tiago... A mim e somente a mim cabe essa decisão. – Fernanda estava com as duas mãos sob a mesa olhando dentro dos olhos do amigo. De alguma forma ela se irritou com o jeito como os dois estavam falando dela como se não estivesse presente.

Mateus, vendo a tensão no ar, puxou Tiago para fora da sala para que eles pudessem conversar melhor deixando Fernanda e Caio a sós para eles dois puderem ter mais privacidade.

Fernanda sabia que aquilo tudo era loucura, e que se aceitasse, estaria pondo sua vida em risco. Estar nas mãos de alguém imparcial como Ness era uma coisa, mas ela sabia que, quando havia emoções em jogo, tudo ficava muito mais perigoso. Saber, ou pelo menos ter a quase total certeza, de que estaria nas mãos do irmão e filho de Pedro era quase como assinar seu atestado de óbito. Ela precisava ponderar tudo que estava em jogo para não cometer nenhum erro.

Olhou para Caio. Ele estava amuado, sentado sozinho olhando para um ponto específico da sala. O semblante do marido não era de raiva. Ela já o vira com raiva e aquilo era diferente. Era novo. Também já o tinha visto com medo, assim que se conheceram, mas agora? Ele não estava com medo. Era muito mais profundo que isso.

– Antes que você comece a falar alguma coisa. Eu não quero que faça isso. – Ele não estava gritando, não estava com ira na voz. Ele falava calmo e baixo.

– Caio, eu sei que você está preocupado, mas...

– Mas nada, Fernanda. Você sabe o que você está me pedindo? Sabe onde está se metendo? Agora não é mais brincadeira Fernanda. Você não vai estar presa numa cabana no meio do nada. Você pode estar dentro de uma caixa com destino ao mais longínquo local do planeta. Para longe de mim.

– Caio, escute, você não quer que esse fantasma do Pedro suma de vez?

– Eu quero você comigo. – Ele gritou se levantando. – Segura. Em paz. Comigo e com a Cris.

– Eu também quero isso amor, mas eu também quero que esse fantasma suma de vez. Vamos lá... Eu não sou mais nenhuma indefesa. Voce me ensinou bem. Confie nisso. E tem mais, tenho certeza que não vou estar sozinha. Tiago e Mateus já devem ter um plano bem organizado.

Caio suspirou vencido. Ele sabia que Fernanda tinha razão e que precisava confiar mais nela. Deveria saber que ela jamais iria se meter em perigo em vão. Sem conseguir mais argumentar, chamou Tiago e Mateus para a sala. Durante as próximas duas horas, os quatro ficaram conversando sobre seu plano. Só pararam quando Julinho e Cristina chegaram na sala reclamando de fome.

O resto do dia Caio aproveitou para paparicar mais a filha e a mulher. Fernanda sempre que olhava para ele, sabia que havia um semblante de preocupação atrás das risadas e sorrisos que dava para ela. Ela havia prometido que voltaria para ele. E pretendia cumprir essa promessa.

O plano seria executado dali a uma semana. E não havia o que dar errado. Tiago e Mateus nos dias seguintes trataram de comentar tudo que estavam pensando e repassando para Fernanda, que havia retomado os treinos de luta com um dos rapazes e de tiro com Caio.

Eles estavam prontos.


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