A Canção Permanece A Mesma escrita por Bella P


Capítulo 4
Capítulo 3




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MEANWOOD, INGLATERRA – Agora

A porta do armário abriu bruscamente em meio a mais um resmungo de Ron, surpreendendo os dois aurores e, em uma reação instintiva, Harry sacou a varinha somente para guardá-la as pressas ao ver o homem do outro lado do batente. Ele era de estatura mediana, branco, de cabelos grisalhos e um enorme bigode no rosto. Lembrava Potter do tio Válter, mas com algumas centenas de quilos a menos e, por sobre o ombro dele, Harry viu corredores de estantes com produtos de limpeza, higiene, comida e etc arrumados no pequeno espaço do que parecia ser uma loja de conveniências.

Por isso da guarda abrupta das varinhas. Se estavam em um armário de zelador dentro do que parecia ser uma loja trouxa, seria complicado demais explicar não só a aparição repentina deles ali como também as varinhas. Embora o segundo caso fosse o menor dos problemas deles.

- Aurores? - o homem bigodudo perguntou com um leve sotaque escocês e Ron e Harry trocaram olhares, para logo em seguida assentirem na direção do sujeito que soltou um “hum” sob a respiração e deu um passo para o lado, cedendo passagem e possibilitando a saída da dupla de dentro do armário apertado.

- Senhor...? - Ron começou com o inquérito. Não mais preocupado em esconder o seu status, sacou a varinha rapidamente e encolheu a pasta com os arquivos do Caso Malfoy, a guardando no bolso interno do casaco.

- Averill. Arnie Averill. - disse o Sr. Averill, nem ao menos piscando mais do que o necessário ao ver a pequena demonstração de magia pela parte de Ron. Harry chegou a apenas uma conclusão em relação a Arnie: bruxo. - Eu que os chamei aqui. - disse isso e deu as costas para os aurores, seguindo caminho entre os corredores para o balcão com a caixa registradora na parte da frente da loja.

Ao segui-lo, Harry percebeu que tinha acertado em sua teoria de mais cedo. Aquilo era uma loja de conveniência absurdamente trouxa, se a ausência de produtos se mexendo nas prateleiras fosse alguma indicação, administrada por um bruxo. E, além da porta de vidro, ele viu que haviam três bombas de gasolina e uma estrada onde, no momento, não passada um carro.

- Eu os chamei aqui, sabe. - começou Arnie. - Como podem ter percebido pelo fato de eu não ter me surpreendido com o aparecimento de vocês em meu armário de limpeza, eu sou um bruxo. Cinco gerações mágicas da família. Estudei em Hogwarts, sabia? Bons tempos. Fui contador do Ministério. Trabalho ingrato, mas me ajudou a pagar a faculdade das minhas meninas. Bruxas extraordinárias, mas quiseram seguir áreas mais trouxas. - ele apontou para uma moldura sobre o balcão onde estavam duas mulheres sorrindo na foto imóvel. - Quando me aposentei voltei para a minha cidade natal com a minha Betsie. A família possui negócios aqui e a loja foi mais um adquirido sob o nome Averill.

Harry viu de rabo de olho Ron rolar os olhos e engolir um bufo.

- Sr. Averill. - o ruivo cortou o velho bruxo tagarela. Estavam em um caso que foi reaberto por causa do homem na frente deles, e ao invés de ir direto ao ponto ele ficava contando a história da família? Weasley não queria saber que as filhas dele tinham se formado em artes, ele queria saber onde estava o Malfoy. - O senhor contatou o Ministério dizendo ter avistado Draco Malfoy e nos forneceu uma foto das suas câmeras de segurança, certo? - Arnie fez que sim com a cabeça.

- Draco Malfoy. Não o conheci, mas conheci o pai dele e avô. Ambos arrogantes e intragáveis. - Harry não podia deixar de concordar.

Não conheceu o vovô Malfoy, mas Lucius era arrogante (antes da guerra tê-lo deixando extremamente humilde, senão um pouco insano) e Draco ia pelo mesmo caminho que o pai, antes da guerra também lhe causar estragos.

- E embora não tenha muito contato com o mundo mágico, as minhas meninas trazem notícias vez o outra de lá. A mulher e os filhos? - Arnie soltou um tsc. - Eu sempre achei que os Malfoy eram muita lábia e pouca ação. Aparentemente as aparências enganam. Vi as fotos de procurado de Draco, mas o homem que esteve em minha loja pouco lembrava ele, por isso só o reconheci depois que ele foi embora e revisei as gravações de segurança. Suponho que as fotos dos cartazes de procurado sejam antigas, mas Draco Malfoy hoje tem traços que lembram muito os de Lucius e eu achei que não seria uma má ideia alertar o Ministério.

E não foi, pensou Harry. O Departamento de Aurores recebeu informações em outras ocasiões do paradeiro de Malfoy, mas nenhuma delas tinha uma prova visual. E, apesar das diferenças que os anos causaram em Draco, as semelhanças também estavam lá. O homem da foto em preto e branco na pasta de arquivos dentro do casaco de Ron ainda lembrava muito o adolescente intragável que atormentou Potter durante anos em Hogwarts. E, ao mesmo tempo, era diferente.

- Ele por um acaso disse por que estava na cidade? O que veio fazer aqui? - Ron perguntou e Arnie deu uma negativa com a cabeça.

- Entrou mudo e saiu calado, comprou algumas coisas de comer e pagou em dinheiro. - Averill fez uma expressão pensativa. - E pagou a gasolina.

- Como é? - Potter piscou.

- Gasolina. Ele estava de carro. - Ron e Harry trocaram um olhar esperançoso. Carros não eram um modo de transporte comum aos bruxos, ainda mais bruxos sangue puro, mas eram a melhor maneira de se rastrear alguém. - Um carro antigo, o motor fazia um barulho irritante ao dar a primeira partida, parecia um Jeep, mas vi escrito na frente Land Rover. Infelizmente não anotei a placa. Mas era de uma cor azul escura.

Rapidamente Ron tirou de dentro do casaco o arquivo do caso Malfoy e com um girar de varinha o trouxe ao tamanho original.

- Astoria Malfoy possuía um Land Rover. - Weasley leu no arquivo e quis bater com a testa no balcão do caixa. Como o Ministério deixou escapar este detalhe? Acharam que por ser um sangue puro Malfoy não se rebaixaria a meios trouxas para viajar?

Bem, quando você é um fugitivo da justiça qualquer tipo de auxílio é válido.

- Ah! - Averill exclamou, tirando a atenção de Ron do arquivo e o fazendo voltar a mirar o outro bruxo. - Me enganei. Malfoy perguntou onde ficava a propriedade da Maribel.

- Maribel? - Harry indagou.

- Uma trouxa que vive nos limites da cidade. Diz ser vidente. - Arnie rolou os olhos, com certeza achando absurda a ideia de uma trouxa possuir qualquer poder mágico aparente, inclusive clarividência. - Na hora não dei muita importância, não é o primeiro a aparecer na região procurando por ela. Hippies adoram visitá-la. Acho que ela tem uma página na internet que vende bugigangas exotéricas. Eu particularmente...

- Sr. Averill. - Harry o cortou. Quanto mais tempo perdiam ouvindo o tagarelar de Arnie, para mais longe Draco ia.

- Subindo a estrada, uns treze quilômetros, a entrada fica depois da placa de boas vindas a Meanwood. É uma estrada de terra que termina na propriedade dela. - explicou Arnie e Ron mirou Harry com as sobrancelhas erguidas.

A desvantagem de aparatar era que se você não soubesse para onde estava indo, possuía grandes chances de deixar algum membro para trás e mesmo com as direções, ainda sim era arriscado demais utilizar esse método de viagem. E andar treze quilômetros era uma perda de tempo imensa. E tempo era o que eles não tinham sobrando. Essa era a primeira vez que o Departamento chegava perto de capturar Malfoy e tudo tinha que ser feito e resolvido para ontem.

- Se vocês quiserem – Arnie interrompeu a troca de olhares entre os dois aurores. Harry e Ron se conheciam há tanto tempo que poderiam ter conversas inteiras apenas com os gestos faciais, sem expressarem uma palavra. Por isso que, assim que se formaram na Academia de Aurores, foram imediatamente designados para serem parceiros. - posso emprestar o meu carro. - completou Averill, indo para trás do balcão e recolheu de sob o mesmo um molho de chaves, o estendendo à Harry, e logo em seguida apontou para um Ford Anglia estacionado perto da porta de entrada da loja.

Ron riu diante da ironia e recolheu as chaves antes que Harry estendesse a mão para pegá-las. Se era para relembrar os velhos tempos, ele queria estar no volante.

- Sr. Averill, agradecemos a ajuda. - Harry falou enquanto se virava para seguir Ron que já se encontrava ao lado do Anglia do lado de fora da loja.

- Ah! Só um aviso. - Arnie chamou quando Harry já estava cruzando o batente. - Maribel não é lá de dar respostas concretas. Ela acha que ser enigmática aumenta a procura pelos seus negócios. - Averill zombou e Potter riu, dando um aceno positivo de cabeça e saindo da loja. De pessoas enigmáticas ele estava mais do que acostumado. Frequentou a “escola Dumbledore de palavras de duplo sentido”. Não seria uma trouxa metida a médium que iria enrolá-lo.

- E então? - Ron falou quando Harry acomodou-se do banco do carona, retirando a pasta do caso Malfoy deste e a colocando no colo. - Pronto para relembrar o passado? - brincou e Potter rolou os olhos no momento em que o motor roncou e Ron engatou a ré e saiu do posto de gasolina.

- Eu não entendo como o Ministério deixou passar o carro. - Harry comentou enquanto folheava o arquivo em suas mãos. - Achou que Malfoy fosse sangue puro demais para recorrer a meios trouxas?

- Harry, convenhamos, você imagina Malfoy dirigindo um carro? Ou utilizando qualquer aparato trouxa que fosse? - Harry realmente não imaginava. Para alguém que não teve nenhum pudor de, aos doze anos, chamar uma colega de classe de sangue ruim, realmente era difícil imaginá-lo usando qualquer coisa trouxa.

- Os Greengrass são ricos. Família sangue puro de gerações. O casamento foi de interesse? Os Malfoy perderam uma boa grana com indenizações e multas no pós-guerra. - Ron deu um relance para Harry ao ouvir as especulações dele e logo depois voltou os olhos para a estrada.

- Não acredito. Phillip Greengrass tinha cortado relações com a família devido aos seus ideais e ao casar-se com uma trouxa. Associar-se a Astoria não traria nenhuma vantagem social ou financeira para Draco. - então por que Draco casou com Astoria era a pergunta que não queria calar na mente de Harry.

Malfoy era soberbo demais, narcisista demais para se importar com alguém além de si mesmo, mesmo que no sexto ano ele tenha mostrado um lado diferente à Harry: um garoto desesperado para salvar a família. Entretanto, Potter não se lembrava, durante a escola, de nenhum outro relacionamento de Draco que não fosse com os pais. O sonserino vivia rodeado de seus lacaios e seu fã-clube, presidido por Pansy Parkinson, mas até mesmo com Pansy ele não demonstrava nenhum interesse que não fosse apenas ter alguém para rir das suas piadas de mal gosto e lamber o chão por onde ele pisava.

Além do mais, em que momento o caminho de Draco e Astoria havia se cruzado? Ela era dois anos mais nova do que ele, uma Corvinal, e nem mesmo fisicamente parecia ser alguém que atrairia o interesse de Malfoy.

Havia uma foto dela no arquivo, algo da época de escola. Na imagem Astoria deveria ter dezessete anos e vestia jeans desbotados, uma t-shirt, jaqueta de couro e botas de escalada. Era de estatura mediana, tinha longos cabelos castanhos escuros até o meio das costas. O corpo era violão: cintura fina, quadris largos, seios pequenos, ombros estreitos e coxas grossas. Os traços do rosto simples. Nariz arrebitado, lábios levemente cheios, sardas e grandes olhos verde oliva, como os de um desenho animado. Era jeitosa, mas não a beleza aristocrata que Narcisa Malfoy possuía.

E, geralmente, dizem que os filhos escolhem pare desposar mulheres parecidas com a mãe.

- Astoria possuía algum seguro de vida em seu nome ou algo parecido? - Harry folheou mais o arquivo, esperando encontrar nele a resposta para a sua própria pergunta.

- Não. E a conta do banco dela após a explosão tinha exatamente cinco galeões, três nuques e um sicle. Sem saques ou transferências antes ou depois do incidente. - Ron explicou o que já tinha lido antes no arquivo, pois havia teorizado a mesma coisa que Harry. Portanto, o assassinato por causa de dinheiro estava descartado. - Os filhos também não possuíam seguros em seus nomes.

- Não faz sentido. - Potter murmurou. As informações eram consistentes, mas a razão não.

As avaliações do Ministério não apontavam conflitos entre o casal Malfoy. Draco estava prestes a ter a sua sentença reavaliada devido ao bom comportamento. Astoria tinha conseguido uma posição como advogada aprendiz no setor jurídico do Ministério, mesmo departamento em que Hermione trabalhava. Malfoy estava aos poucos reerguendo os negócios da família. Narcisa, que havia se mudado para uma casa de campo que herdara dos pais, visitava o filho na mansão em finais de semanas intercalados. Os dois filhos do casal eram saudáveis e bruxos. Mesmo que a guerra tenha impactado a vida de Draco, não a levou até o fundo do poço a ponto de ele surtar e cometer uma atrocidade dessas. Então por quê?

- “Malfoy demonstra uma estranha devoção a esposa. No começo achei suspeita, até perceber que a minhas ideias pré definidas de que esta família era incapaz de sentir não me fez perceber de imediato que dita devoção na verdade define-se em apenas uma palavra: amor.”

- O que é isso? - Ron perguntou enquanto via a dita placa que Avrill tinha mencionado surgir à distância.

- A cópia de um dos relatórios do Ministério.

- Harry, acho que o problema aqui não é se Malfoy amava a esposa. - Ron comentou e Harry fechou o arquivo no momento em que o carro atravessava a pista contrária para entrar na estrada de terra que Avrill tinha falado. - Talvez, seguir esse raciocínio que tenha feito os nossos colegas ficarem em becos sem saída.

- E o que você sugere?

- Que devemos fazer novas perguntas. - Ron se calou por alguns segundos quando uma casa de madeira com varanda surgiu ao final da estrada, e desacelerou o carro, o fazendo parar por completo logo em seguida. - Malfoy amava a família mas a matou. Por quê? Isto é o que todos querem saber. Não havia ganho por detrás da morte de Astoria e das crianças, não há razão para o que ele fez e indícios de que ele faria isto. Talvez ele não tenha feito isto por livre e espontânea vontade.

- Acha que ele foi obrigado? Está dando a Malfoy o benefício da dúvida? Você? - Harry perguntou incrédulo. A animosidade entre os Weasley e os Malfoy era antiga, antes mesmo de Harry entrar em Hogwarts, e ele sabia que parte do fato de Draco não ir com a cara dele era porque ele escolheu Ron ao invés do garoto sangue puro. A outra parte era porque Draco era um cretino invejoso e mimado e gostava de pisar nos outros só para se sentir melhor.

- Por mim Malfoy poderia apodrecer em Azkaban porque ele é um cretino. Mas, convenhamos, seguir a linha tradicional de raciocínio não está surtindo efeito, está? - o motor foi desligado e a chave tirada da ignição. Ambos abriram as portas ao mesmo tempo e saíram do carro no segundo em que a porta da casa se abriu e uma mulher de quarenta e poucos anos surgiu na varanda e disse:

- Harry Potter e Ronald Weasley. Estava esperando por vocês.


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