De algum jeito, meu dia estava sendo mais estranho que o comum. Quando entrei no ônibus para alunos de alta classe, algumas pessoas me olharam como se soubessem de algo que eu não sabia, algo sobre mim. Quando entrei na escola me deparei com a diretora e ela estava falando alguma coisa sobre eu conseguir uma licença para poder usar a sala de música ou algo assim. Assim que me livrei da diretora, fui até meu lugar preferido na escola: a sala de música. Naquele dia eu não estava com muita vontade de cantar então comecei a colocar algumas músicas da banda The Kira Justice para tocar no rádio que tinha ali.

Sabe, minha vida é um tédio. Sempre a mesma coisa, eu acordo de manhã e converso um pouco com Paulo, meu irmão gêmeo, logo depois me visto e vou tomar café da manhã, entro no ônibus, vou até a última fileira de bancos e me sento no assento perto da janela a esquerda. Meu irmão é meu único amigo que eu sei que posso realmente confiar, eu não gosto muito de me enturmar. Não sei como ele consegue, mas ele conhece todo mundo e as pessoas gostam dele. Enquanto eu estou isolado do mundo, ele está fazendo amizades por mim e por ele.

Como de costume eu estava na sala de música escutando a música A hora chegou, quando escutei um barulho na porta. Quando me virei, uma menina que eu já vira, que estava usando um moletom preto com orelhas de gatinho, entrou e ficou parada por um tempo, notei que ela estava com o canto do olho cheio de lágrimas. Não demorou muito e ela se ajoelhou, colocou a mão sobre o rosto e começou a chorar.
- Marina?! - As palavras sairam da minha boca, como eu sabia o nome dela?
- C-como você sabe meu nome? - ela perguntou olhando para mim. Seus lindos olhos castanho-claros estavam cheios de lagrimas.
- Ahn chamada? - Eu falei tentando parecer convincente o bastante. Eu me lembrei de que estávamos no mesmo ônibus e na mesma classe. - Isso não importa! Você está bem?
- Para falar a verdade não! - Ela abaixou a cabeça novamente, mais dessa vez não colocou as mãos sobre o rosto, ela só cobria o rosto com a franja dos cabelos negros. De repente ela começou a chorar mais ainda.
- O-o que aconteceu? - Eu já não era bom ao falar com as pessoas, ainda mais quando elas estavam chorando.
- Eu não aguento mais! Meus pais mudaram de cidade por causa do trabalho e me arrastaram junto. Todo dia tenho que ver grupos de amigos rindo e fazendo brincadeiras idiotas, enquanto eu estou sozinha porque meus amigos estão em uma cidade a sete horas daqui de avião. E ainda por cima tenho que ler as mensagens deles falando que estão com saudades sem chorar. Eu não quero ter que esperar até as férias de julho para poder vê-los! Eu quero vê-los agora! - Agora ela estava chorando como uma criancinha que tinha acabado de quebrar seu brinquedo favorito. Eu meio que entendia o que ela estava sentindo, quando fui para um acampamento de verão a dois anos atrás, eu estava sem meu irmão e não conhecia ninguém, o sentimento é realmente péssimo, mas eu tinha plena certeza de que o veria novamente, ela já não tinha essa certeza.
- Ei calma! Me diz, o que você está sentindo agora? - Apesar de eu estar com o coração partido de vê-la chorando daquele jeito, eu consegui forçar um sorriso não sei se isso a fez se sentir melhor, mais el parou de chorar um pouco. Ela juntou as pernas com as mãos, abaixou a cabeça, se recostou na parede e disse bem baixinho:
- Medo! - na mesma hora eu me senti a pior pessoa do mundo. Ela estva tão encantadoramente fofa daquele jeito. - Estou sentindo medo! Medo de que meus amigos me esqueçam, medo de nunca mais vê-los, medo de fazer novos amigos, medo de que ninguém goste de mim, medo de tudo.
- Ahn eu gosto de você! E tenho certeza de que meu irmão também vai gostar! - Eu falei forçando outro sorriso. - E não se preocupe se os amigos forem de verdade eles não te esquecerão!
- V-você tem certeza? - Ela secou uma lágrima com a manga da blusa - Quer dizer, você gosta de mim?
- Claro! Sabe eu não falo muito com as pessoas mais acho que você é uma das melhores pessoas que já falei! - Eu acho que parecia que eu estava mentindo, mas não, eu realmente achava que ela era legal.
- Desculpe! - Ela se acomodou um pouco
- Pelo que? - eu estava espantado com a palavra que ela disse. Não acho que ela tenha feito nada para mim.
- Eu comecei a chorar do nada! É que sua aparência me faz lembrar meu amigo...
- Não se preocupe com isso! - Eu falei esticando a mão para ela se levantar - Vamos?
- Sim!

Naquele dia nossa sala teria uma excursão, e já estava quase na hora de ir para o ônibus. Enquanto estávamos indo para o corredor percebi que ela estava um pouco desconfortável, então perguntei:
- Ahn quer segurar minha mão? - Ela corou um pouco. - Digo, eu meio que já passei por isso, e naquela hora tudo que eu queria era que alguém me guiasse.
- Ah, pode ser! - Ela me deu a mão e foi atrás de mim.

Quando estávamos entrando no ônibus passamos pelo meu irmão e percebi que ele se espantou ao ver uma garota de cabelos lisos pretos com franja que cobriam os olhos, usando um moletom com orelhas de gatinho e chupando a manga da blusa de mãos dadas comigo. Ele arregalou o olho enquanto eu passava, mas eu estava tão preocupado com ela, que nem parei para explicar. Entramos no ônibus, e, como sempre fazíamos, sentamos na última fileira, mas eu a deixei sentar do lado da janela e sentei ao seu lado.
- Quer ouvir? - ela perguntou me mostrando um lado do fone de ouvido dela - É The Kira Justice, eu percebi que você gosta. - Não sei muito bem como ela reparou nisso, eu acho que foi por causa da música que tocará mais cedo no rádio na sala de música.
- Ahn Claro! - Eu estava perplexo. Encontrei uma garota que gostava da mesma banda que eu, e que, de alguma forma, reparou em mim.