Gossip St. Jude- 1ª temporada escrita por Salada


Capítulo 63
Uma segunda não tão comum




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/424882/chapter/63

Na segunda feira, após um fim de semana de mais preparações no apartamento da Quinta Avenida dos Johnson, outro dia na escola St. Jude teve início. A maioria dos alunos da escola usava seus uniformes embaixo de casacos grossos da North Face ou chiques da Chanel. A aluna fazia parte da última categoria, pois usava um lindo e vintage casaquinho Chanel, de cor creme, enquanto andava ao lado de sua amiga CeCe e seu amigo Matt, em direção aos corredores da escola.

Eles passaram pelo antigo grupinho de amigas de Jill, que agora eram comandadas por Jéssica, a irmã do Dylan. A garota usava uma faixa de cabelo vermelha, igualzinha àquelas que Jill usava quando era a rainha. Quando eles passaram por elas, as ignoraram, mas a antiga rainha não pôde deixar de sentir um resquício de raiva no peito. Traidoras.

Só porque não fazia mais parte do grupo, ela não podia mais usar faixas no cabelo, o que deixava o look com a saia florida Manoush Anthropologie, as meias cinza que cobriam as pernas inteiras do frio e os saltinhos creme vintage encrustado por pérolas da mesma cor incompleto. E, apesar de estar feliz nessa nova fase da vida em que não precisava ser popular, ela ao mesmo tempo também sentia falta da sensação de ser importante.

–Foi pro melhor- CeCe, ao perceber o ódio no coração de Jill e sua cara amarga ao passar pelas garotas, apareceu pelo cangote dela e disse tais palavras em seu ouvido esquerdo. J sorriu e virou o rosto, mas isso não mudou muito o jeito que sentia; um misto de inveja e raiva pura. Logo depois, percebeu que sentir aquilo não era saudável, e pensou nas vantagens de toda aquela situação. Ela não seria mais (tão) perseguida e observada, e não teria que se preocupar se estivesse impecável ou não.

Até parece que isso vai parar de acontecer.

Eles caminharam até os seus armários, onde pegaram seus livros. “Trim!” o sinal da 1ª aula tocou, e eles se separaram. Jill e Dylan foram para a aula de História e Matt e CeCe para a aula de Álgebra. Ao entrar na sala, o idoso professor Kanuh já começava a fazer anotações no quadro negro, enquanto os alunos ricos se sentavam nas cadeiras de carvalho. Em uma cadeira no fundo da sala, perto dos amigos Thomas Packington e Daniel Lavine, estava sentado Marco Thompson, jogando bolinhas de papel com os mesmos em Nikki Wayne, aquela nerd com pernas peludas, que ignorava os garotos revirando os olhos, como se fosse superior. No momento que CeCe viu a cena, bateu no braço de Matt e apontou pra ele. Os dois sentaram no fundo também, ao lado deles.

–Qual é- disse CeCe casualmente para os 3, largando os materiais na mesa.

Ela se sentou e Marco fez um sinal com a cabeça quadrada, levantando o queixo, cumprimentando-a. Thomas e Daniel o imitaram. Matt sorriu para eles e se sentou ao lado de CeCe, que no mesmo minuto virou a cabeça para ele, o cabelo vermelho se movendo com ela, fazendo um olhar ameaçador, que dizia “Fale logo com ele”.

Matt suspirou, enrugou a testa e coçou a parte detrás da cabeça, enquanto CeCe se virava para frente. Ele esfregou as mãos nos jeans Calvin Klein escuros e se virou para Marco. O garoto, de 17 anos, possuía um rosto quadrado e branco, livre de espinhas. Exibia um cabelo preto extremamente curto, com alguns cachos aqui e ali, e seus olhos eram azuis e esbugalhados, mas não deixavam de ser sexy de uma forma. Seu queixo era de bunda e ele parecia, em geral, uma escultura do século XVI, muito bem feita.

–Ei, Marco- sussurrou Matt, com cuidado para não atrapalhar a aula, mesmo o professor tendo tipo, uns 200 anos e ter uma audição terrível. O garoto virou para o outro- Qual é a boa?- Matt tentou ser casual que nem CeCe. Falhou.

–Nada demais- Marco bufou, os olhos entediados quase fechando. Ele tinha cheiro de maconha. Que novidade!

Os dois ficaram em silêncio, e a aula continuou, e Matt percebeu que precisava continuar o papo e ir logo direto ao assunto. Foco!

–A Jill é uma gata né?- tentou Matt. Marco olhou para ele com seus olhos claros e deu um sorriso irônico.

–Por que você ta falando isso?- ele perguntou- Mas eu to ligado- ele riu, e coçou o olhou- É verdade que você ta pegando ela?

–Não!- Matt exclamou, instantaneamente, e depois percebeu que poderia ter parecido rude, e riu- Quem te falou isso?- ele questionou, realmente interessado pela resposta.

Marco deu de ombros.

–É o que estão falando- ele falou- Então é mentira?

–Completamente- jurou Matt, ainda em choque pela notícia. A fofoca que ele e Jill tinham transado era notícia antiga; ele não sabia que as pessoas ainda falavam sobre aquilo e acreditavam que eles eram um casal- Mas enfim,- ele continuou- você... estaria interessado nela?

Marco riu, de uma maneira convincente. Covinhas se formaram nas extremidades da boca, e ele batia o braço na mesa.

–Ta falando sério?

–To- disse Matt, meio nervoso, a voz falhando um pouco. O plano dele e de CeCe parecia estar indo por água abaixo.

–Ah, bem- de repente o tom de voz e o rosto de Marco ficaram mais sérios, e ele olhou para cima, pensativo- Eu não sei...- ele parecia receoso- Eu acho ela bem gatinha, mas eu terminei agora com Rain e ela é a ex do meu melhor amigo... Não sei não.

–Vamos lá!- exclamou Matt- Ela me disse que te achava um gato, e Dylan e Jill já seguiram em frente faz séculos.

–Tem certeza?-Marco parecia interessado, mas ao mesmo tempo preocupado.

–100%- Matt falou, olhando com esperança para o adolescente. Ele pensou, e pensou, até que se decidiu.

–Quando a gente pode sair?

Assim, Matt explicou sobre como eles poderiam leva-lo para a festa de natal dos Johnson e fazer com que eles ficassem la mesmo, num canto da casa longe dos parentes, e que poderia ser no quarto dela ou na varanda mesmo. Marco concordou com tudo, apesar de parecer meio receoso em relação a Dylan, que era o ex da garota. Matt estava terminando s longa explicação quando o barulho irritante que o auto falante faz antes de ser usado ecoou pela grande sala, fazendo com que todos fizessem caretas, e logo em seguida a voz grossa da vice-diretora, a sra. Pepper tomou conta da escola inteira.

“Bom dia à todos. Convocamos os alunos: Jillian Johhnson, Cecília Cooper, Matthew Ohio, Dylan St. Jude, Bárbara Johnson, Jéssica St. Jude e Theodore Winslet para a sala da vice diretora imediatamente. Obrigada.”

A voz da vice diretora, que normalmente tinha um tom desafinado e nervoso, estava diferente; mais grossa e séria, e Matt e CeCe, sentados em suas cadeiras, estremeceram ao perceber isso. Enquanto a turma inteira os encaravam, eles pensavam no que podiam ter feito de errado. CeCe tinha uma lista mental com diversos itens, mas Matt não conseguia pensar em nada. O Sr. Kanuh olhou para os dois alunos com os olhos asiáticos puxados e falou:

–Estão liberados- os dois adolescentes se levantaram e se entreolharam, um segundo antes de caminhar nervosamente até a porta da sala e sair. Quando eles saíram, deram de cara com os outros adolescentes convocados; Jill, Dylan, Bárbara, Jéssica e Tod, e eles se encararam, constrangidos, e começaram a andar, em silêncio, em direção à sala da Sra. Pepper. CeCe coçou o braço, com frio, e olhou para o rosto dos colegas. Jill parecia em choque, Matt estava pálido, e Dylan tinha uma expressão esquisita costurada no rosto, e a razão para isso era óbvia: todas as pessoas do universo sabiam que os alunos da escola St. Jude só eram chamados à sala do diretor e da vice diretora por assuntos sérios, e que a maioria das pessoas que iam para lá eram suspensos ou até expulsos do colégio.

Os corredores do colégio pareciam frios enquanto caminhavam juntos, um ao lado do outro, e quando chegaram à porta da vice diretora, que tinha uma janela em cima da maçaneta com uma persiana do lado de dentro, Dylan se posicionou e bateu na porta. Acima da janela, havia uma placa de metal que parecia gélida com a escrita “Vice-diretora Pepper”.

Eles não demoraram muito para serem atendidos; em menos de 1minuto a Sra. Pepper abriu a porta, e eles entraram, ainda no completo silêncio que estavam desde que saíram de suas respectivas salas. Um calafrio percorreu no corpo deles ao se posicionarem na frente da gigantesca escrivaninha da mulher magricela, com as pernas pressionadas contra a mesma. A mulher usava óculos pequenos com aros castanhos quase caindo pelo nariz fino. Ela o ajeitou e olhou para os alunos, com seus olhos os desafiando. Ela cruzou as pernas e ajeitou a saia castanho escuro de camurça na altura do joelho no colo, e finalmente, começou a falar.

–Já havia chegado ao conhecimento da diretoria a existência do site- ela virou a tela preta do computador e os alunos notaram que o site que estava estampado no aparelho era o “Gossip St. Jude”- “Gossip St. Jude”- ela pronunciou, fazendo um movimento esquisito com a boca- Porém, como nenhum aluno ou pai havia reclamado, não fizemos nada a respeito. Porém- ela mudou o tom de voz, o que fez com que os alunos na frente dela se arrepiassem-, quando uma fofoca atingiu o diretor do colégio, no mês passado, percebemos que precisávamos tomar uma atitude a respeito. No último mês, vínhamos vasculhando as postagens desse site e notamos que havia um certo padrão nas pessoas que eram alvo das fofocas...- ela olhou profundamente para cada um ali, penetrando seus interiores- e é aí que vocês entram.

Jill ajeitou o casquinho, desconfortável. Não estava gostando da onde aquilo estava indo.

–Isso é uma acusação?- ela cuspiu, e todos na sala olharam para ela, em choque. Ela se arrependeu das palavras que disse no instante após dizê-la, e seus olhos se arregalaram. Porém, a vice diretora Pepper continuou com a postura calma e séria e a respondeu.

–De forma alguma- ela pronunciou com calma. Seu cabelo ondulado cor de palha estava mais oleoso que nunca, e caia de forma desorganizada pelas costas e pelos ombros- Nós, da diretoria, percebemos tal padrão e, logicamente- ela sorriu, provavelmente orgulhosa por sua percepção óbvia-, deduzimos que o escritor desse blog– ela levantou o queixo fino e espinhento, e passou o olhar rapidamente por cada um deles-, é um de vocês.

Todos na sala ficaram em silêncio por um momento, meio em choque e meio felizes por não ser algo tão sério assim. Não, imagina! Os adolescentes esperavam a mulher continuar a falar e vice versa, e por isso o silêncio dominou a sala rapidamente. Que clima desconfortável.

–Sendo assim- a mulher de cabelos oleosos continuou finalmente, após o que parecia ser uma eternidade-, eu obrigo o dono desse site patético se apresentar nesse segundo para ser suspenso e fechar o mesmo.

Wow. De repente, as coisas ficaram meio... extremas. A vice continuou a encarar os adolescentes, dessa vez sem dizer uma palavra. Porém, seus olhos, que normalmente causavam impacto mínimo nos alunos, mantinham sua ameaça, ao encarar friamente os garotos.

Jill tremeu levemente. Olhou para baixo, onde ficavam as gavetas que todo mundo dizia ter coisas absurdas como viagra e drogas, se perguntou o que deveria fazer ou dizer. A Sra. Pepper havia mentido; aquilo era sim uma acusação, mas talvez ela não soubesse disso. No final, decidiu ficar quieta e esperar algo acontecer; era melhor que fazer ou falar algo que se arrependeria.

Todos ficaram em silêncio por certo tempo, e depois desse tempo os alunos começaram a se olhar, como se esperassem alguém admitir cinematograficamente que era o autor de todas aquelas postagens maldosas. Isso não aconteceu.

–Devo acrescentar- a voz da vice diretora atrapalhou o silêncio-, que se ninguém admitir ser a tal blogueira, todos vocês serão suspensos até alguém se apresentar.

–Isso não é justo- exclamou CeCe, com as sobrancelhas arqueadas de raiva- Como você pode assumir que é um de nós?- ela disse- Não pode ser qualquer outro aluno?

–Não faria sentido- a Sra. Pepper a cortou friamente- Ela só fala de vocês.

–Isso é babaquice!- exclamou CeCe estressada, e se virou, pronta para sair da sala, quando a vice diretora se levantou.

–Se você sair pela porta, será expulsa- ela falou, olhando para as costas da garota através do óculos pequeninos. A garota ruiva suspirou, resistiu a tentação, e deu a volta, voltando ao lugar que estava antes de seu pequeno ataque de fúria. Ela tinha acabado de voltar à escola, e não ia desperdiçar o trabalho que seu pai havia investido nela por causa disso- E vai ganhar uma advertência pelo linguajar.

CeCe não pôde conter a risada quando a última palavra foi pronunciada. Estamos o que, no século XVIII?

–Sra Pepper, com todo o respeito, mas isso não é justo- concordou Jill- Você não tem provas que um de nós é o responsável pelo site, então não pode nos prejudicar por isso. Nós somos as vítimas, nada mais que isso.

–Não preciso de provas- respondeu a mulher mais velha. – E não adianta discutir. A decisão foi tomada. Vocês podem não dizer nada hoje, e eu irei libera-los, mas se ninguém vir até mim, admitir que é a tal “Gossip St. Jude”, até o dia 30, todos estarão encrencados, e sua candidatura, Srta. Johnson, será desconsiderada.

Os olhos da garota se arregalaram, e CeCe olhou para ela. Ela sabia o quanto a presidência da escola era importante para ela; presidente da escola, presidente do país, dizia Jill.

–Mas...-Jill tentou dizer algo, mas desistiu. A sala voltou ao silêncio penetrante de antes, até que a vice diretora falou algo.

–Estão liberados- ela os liberou, e eles saíram pela porta direto para a multidão de alunos no intervalo. Entretanto, se havia uma sensação que eles não sentiam no momento era liberdade.

Mas que ótima maneira de começar a semana!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Gossip St. Jude- 1ª temporada" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.