Isto não é mais um romance água-com-açúcar escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 50
Olhos rubros como sangue e fogo




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Shinpachi e Kagura, montados em Sadaharu, iam invadir a tal casa abandonada, mas foram impedidos pelos dois companheiros de Namino Koji, que se posicionaram com as katanas para contra-atacar. Aparentemente, eles pareciam saber também a respeito da dupla e do inugami, que rosnava para os dois homens.

Tirar Tsukuyo daquela velha casa que começava a ficar em chamas não seria nada fácil. Precisariam de um plano.

Enquanto isso, Namino conseguiu se livrar da bokutou de Gintoki, embora este usasse sua força para travar a katana adversária. Queria tornar aquele combate mais divertido, por isso o fogo naquela casa. Sabia que, por mais que o albino fosse um ex-combatente, ele tentaria de tudo para evitar o pior à pessoa que estava correndo perigo. O pirralho crescera e se tornara um poderoso samurai.

Gintoki não tinha tempo a perder, precisava ser rápido para evitar que o pior acontecesse a Tsukuyo. Atacou novamente seu adversário, que se esquivou e contra-atacou, quase acertando seu rosto com a lâmina, se não tivesse escapado em uma fração de segundos. Esse contra-ataque custou-lhe alguns fios de cabelo, mas poderia ter levado um dos seus olhos ou, no mínimo, ter lhe deixado uma generosa cicatriz na face.

― Você é realmente incrível, Sakata-kun... Mas devo terminar minha missão de eliminar sua família do mundo dos vivos!

― Eu é que vou eliminar você do mundo dos vivos... Se sabe tanto a meu respeito, nem deveria mexer comigo!

Outra vez as duas espadas se chocaram e se travaram, com os dois homens ficando cara a cara. Koji via nos olhos rubros de Gintoki que pouco restava daquele garotinho aterrorizado de vinte anos atrás, mas ainda existia muito do lendário Shiroyasha do final da guerra. Mesmo assim, não o temia.

Tinha um trabalho a finalizar, e ele o faria!

― Normalmente, eu não costumo deixar um serviço incompleto... – Koji disse enquanto seus olhos negros encaravam os olhos avermelhados do Yorozuya e as espadas continuavam travando uma à outra. – Originalmente, eu deveria eliminar todos os Sakata e seus aliados a mando de um rival da família. Já nem lembro as motivações, mas receberíamos um pagamento bem gordo! Sim, garoto... Você também iria morrer naquele dia!

Ele se livrou novamente da bokutou do albino, que foi outra vez ao ataque e, usando sua força física, golpeou a katana e a fez cair da mão de Namino. Gintoki percebeu que ele estava desarmado e acertou mais um golpe com a espada de madeira no rosto do homem, derrubando-o no chão.

― Está esperando que eu te agradeça por você ter poupado a minha vida?! – Gintoki tentou perfurá-lo, mas ele rolou para o lado e pegou a katana para bloquear uma nova investida. – Eu não tenho nada a te agradecer!

― Não fosse por mim, você seria carbonizado com os seus pais, Sakata-kun. O Shiroyasha jamais existiria para se tornar uma lenda viva!

Koji conseguiu ver uma abertura na defesa do Yorozuya e aplicou um poderoso chute na altura do estômago. Quando ele se curvou pela força e pela dor do golpe recebido, o assassino deu um potente gancho de direita, fazendo-o sair do chão. Em seguida, golpeou seu rosto com a katana, mas pelo lado sem corte. O golpe recebido o jogou a alguns passos de distância e, quando alcançou a bokutou para contra-atacar, sentiu a ponta da lâmina da espada adversária tocando seu pescoço enquanto limpava o sangue que escorria do canto da boca devido à pancada.

― Foi divertido poupar sua vida por vinte anos, garoto... Mas preciso terminar mesmo o meu trabalho!

 

*

 

Kagura disparou uma grande rajada de tiros com a metralhadora embutida em seu guarda-chuva roxo, enquanto Sadaharu corria alucinadamente de encontro aos homens que tentavam detê-los. Um deles deixou cair a katana, a qual Shinpachi empunhou sem perder tempo e já o atacou, dando cobertura para a Yato e o inugami invadirem a casa.

O garoto de óculos ficou duelando contra o outro homem, que demonstrava ter grande habilidade e experiência com a katana. Mesmo assim, não tinha medo de lutar. Iria usar aquela katana como Gin-san usava sua bokutou para proteger quem lhe era querido.

E o ajudaria a proteger Tsukuyo-san com todas as suas forças, ganhando tempo para que Kagura-chan a encontrasse e a tirasse de lá!

O jovem Shimura correu novamente ao ataque chocando a katana contra a espada de seu adversário. Não iria deixar ninguém atrapalhar a execução do plano combinado pelos dois adolescentes. O homem tinha um bloqueio bastante eficiente, além de perceber que o garoto aparentava ainda um pouco de inexperiência apesar do bom domínio de uma lâmina afiada.

Ele era habilidoso, mas ainda assim era apenas um garoto de dezesseis anos.

Mas o garoto não se deixava ser subestimado. Conseguiu travar a espada de seu adversário com eficácia e, enquanto encarava o homem, as lentes de seus óculos deixavam transparecer um brilho de determinação naqueles jovens olhos castanhos apesar da preocupação por ver Gin-san caído após um forte golpe de katana.

Mesmo assim, sabia que o Yorozuya não seria derrotado por um golpe desses. Conhecia-o o bastante para saber que nada o deteria se fosse para proteger as pessoas que amava. E ele também lutaria com todas as forças sem se importar com as consequências.

 

*

 

À medida que o tempo passava, aquele lugar ficava cada vez mais quente. Sentira o cheiro de gasolina e ouvira vozes chegando nos arredores. Conseguira reconhecer a voz de Gintoki e o som de uma luta. Também ouvira outros sons, dando a entender que ele não viera sozinho. E sentia um forte cheiro de madeira queimando e a fumaça começando a tomar conta de tudo.

A sua sorte – se é que poderia chamar assim – era que estava jogada no chão e a fumaça não chegava até ela, o que permitia que pudesse respirar sem muita dificuldade. Mesmo assim o calor pouco a pouco aumentava, fazendo com que sentisse seu corpo começando a suar.

Ouviu uma voz de garota a chamando, enquanto o calor começava a ficar ainda mais forte. As chamas estavam chegando ao cômodo onde estava. Olhou para cima e percebeu uma das vigas sendo lambida por uma grande labareda. Ela iria cair a qualquer momento sobre si! Queria gritar para chamar a atenção daquela voz que ouvira e reconhecera como sendo de Kagura, mas estava amordaçada e não conseguia fazê-lo.

Não demorou muito para que a viga caísse e tudo o que Tsukuyo podia fazer era olhar para aquilo com seus olhos arregalados de terror.

 

*

 

― Minha intenção não era poupar ninguém, Sakata-kun... – Namino pressionou a ponta da katana contra o pescoço de Gintoki. – Mas queria ver o quanto uma criança poderia sobreviver após perder tudo. Quando aceitei o trabalho de eliminar sua família, aceitei não apenas pelo dinheiro, mas para ter um gostinho de vingança. A sua família foi a responsável pela derrocada da minha família naquele vilarejo após ser expulsa. E me tornei um assassino para conseguir minha vingança. A vingança é um prato que se come frio, então optei por terminar meu trabalho vinte anos depois. Por trás desse favor de ter lhe poupado a vida, há uma razão bastante egoísta, como pode perceber. E aqui termino meu trabalho!

Quando ele ia perfurar a garganta do Yorozuya, a espada nem chegou a ir adiante. Gintoki segurava com força a lâmina da katana, sem se importar com o sangue que escorria da palma da mão cortada pela espada. Não tinha qualquer intenção de facilitar as coisas para aquele cara.

― Então... – ele sorriu de forma sinistra. – Você desgraçou com a minha vida e me poupou da morte para brincar comigo de vingança...? Saiba que mexeu com o cara errado! Não vou deixar você ferrar com a minha vida de novo! A sua brincadeira comigo acabou!

Com um rápido movimento, Gintoki soltou a espada de Namino e rolou para o lado, se livrando do perigo. Em seguida, saltou para acertar sua bokutou na cabeça de seu adversário, com o claro intuito de rachar-lhe o crânio, que foi parcialmente frustrado, pois ele se desviara de tal modo que seu ombro esquerdo fora atingido pelo poderoso golpe. Com a força da pancada, Koji sentiu a pele no local atingido se rasgar num corte que sujou seu quimono bege com sangue ao mesmo tempo em que sentia uma dor atroz.

― Você brincou durante vinte anos com o cara errado, seu maldito! – as feições de Gintoki voltavam a se assemelhar às do antigo Shiroyasha, que fizera seu nome na parte final da guerra encerrada uma década atrás. – Deveria ter me matado quando teve a chance! Se realmente sabe o que sou, deveria saber que eu não tenho medo de proteger tudo aquilo que é importante para mim... E que para isso não me importo em agir como o monstro que sempre fui!

As írises avermelhadas do albino deixavam de ter o característico tom próximo ao vinho para assumir um tom entre o vermelho-sangue e o vermelho-fogo. Estavam injetados de fúria, mas não era como dez anos atrás. Ele não era mais um jovem combatente que retalhava inimigos, cujo sangue tingia de vermelho suas roupas brancas.

Ele agora era um homem que buscava viver sua vida de modo a preservar e proteger tudo aquilo que o motivava a continuar a viver, sem se importar com as consequências de seus atos. Aprendera que só poderia empunhar uma espada se fosse para proteger tudo aquilo que acreditava e todos aqueles que amava. Se aquele sujeito queria provocá-lo e brincar com ele, se valendo de atingir alguém que lhe era querido, certamente estava disposto a enfrentar o monstro que despertava dentro daquele homem, cuja força e habilidade transformavam uma simples espada de madeira em uma arma letal.

Teria que tentar sobreviver ao homem chamado Sakata Gintoki, o lendário Shiroyasha dos campos de batalha, onde lutara como um verdadeiro demônio. E fora deles era igualmente terrível.

Seria uma conclusão de missão em alto estilo!

Fez uma nova investida contra o albino, que bloqueou o ataque com sua bokutou. Entretanto, Gintoki acertou um potente chute contra Namino, que foi jogado contra uma das paredes em chamas. Koji se levantou, se refez do golpe e avançou novamente contra o Yorozuya, que travou a katana dele com sua espada de madeira. Mesmo assim, ele não se deixou abater e sorriu quando ouviu o som de um início de desabamento:

― Foi muito bom brincar com você, Sakata-kun... Foi divertido enquanto durou. E acho que, como você diz, desgracei a sua vida de novo!

Koji conseguiu se desvencilhar do albino e avançou com vários golpes de sua katana contra a bokutou de Gintoki, que foi obrigado a ficar na defensiva. Ele também havia visto a casa começar a desabar e não pensava em outra coisa a não ser acabar com aquela luta o quanto antes para tirar Tsukuyo de lá. Ele não permitiria que acontecesse uma tragédia, não importava como! Tudo o que ele precisava naquele momento era de uma boa oportunidade para dar fim àquela luta, salvar a própria pele e salvar Tsuki e a criança que ela esperava!

Quando Namino investiu novamente contra Gintoki, ele conseguiu se esquivar e, empregando toda a sua força no braço direito, desarmou seu adversário com um golpe poderoso e veloz usando sua bokutou.

― Você já trouxe desgraça demais para a minha vida... Não preciso que você me ferre mais do que eu já sou ferrado!

Com mais um golpe potente e veloz, Gintoki acertou a bokutou no queixo de Namino, que novamente foi arremessado contra a parede, que cedeu por conta do fogo e, por consequência, fez com que parte do teto e do telhado também cedesse sobre ele. O Yorozuya, vendo que ele era tomado pelo fogo, nada fez para tirá-lo de lá. As chamas começaram a consumi-lo rapidamente, não havia mais o que fazer.

Nesse mesmo momento, Shinpachi derrotava seu adversário e jogava a katana no chão, enquanto Sadaharu saía, seguido por Kagura, que amparava Tsukuyo. Ambas tossiam por conta da fumaça inalada. Todos se afastaram alguns metros para ficarem em segurança e não demorou muito para que aquela casa desabasse por completo devido ao incêndio.

― Tsukuyo-san, Kagura-chan – Shinpachi corria para ver as duas, que se sentaram no chão. – Vocês estão bem?

A loira e a ruiva tossiram mais um pouco, até que conseguiram voltar a respirar normalmente. Elas perceberam, assim como Shinpachi, que Gintoki continuava olhando para aquela velha casa sendo consumida pelas chamas.

Tsukuyo se levantou e foi até ele, que estava alguns passos afastado. Aproximou-se de tal modo que viu seu rosto de perfil, o que permitiu perceber que ele tinha um olhar distante, como se olhasse para alguma lembrança longínqua de seu passsado... E seus ombros, que deveriam estar mais relaxados, pareciam um pouco mais caídos.

Ele estava triste.


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