Isto não é mais um romance água-com-açúcar escrita por Vanessa Sakata


Capítulo 44
Proposta e aposta




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/424498/chapter/44

Um novo dia amanheceu e ele abriu seus olhos. Aquele dia prometia ser bem entediante. Uma coisa era curtir a preguiça que era arraigada em seu ser, fazendo vários nadas em casa, outra completamente diferente era ficar de molho num hospital, recebendo um monte de medicamentos sem poder sair do lugar por conta de um ferimento grave, mesmo em recuperação. Tudo o que podia fazer naquele momento era olhar para o teto, enquanto ouvia o apitar insistente do aparelho que monitorava seus batimentos cardíacos através de eletrodos colados em seu peito.

Embora fosse muito resistente em uma batalha, sabia que aquele golpe que recebera três dias atrás havia feito nele um estrago e tanto. O que o consolava um pouco era receber a notícia de que estava praticamente fora de perigo.

Não saía de sua cabeça a imagem de Shinpachi, Kagura e Tsukuyo vindo o visitar após uma luta. Haviam enfrentado mais um braço – ou melhor, tentáculo – do Harusame e, com isso, corrido um grande perigo. Nem queria imaginar se algo ruim houvesse acontecido a algum deles.

Shinpachi e Kagura eram sua família. Não conseguia mais imaginar sua vida sem aqueles dois. O Quatro-Olhos era o mais responsável do trio. Era determinado e buscava aprender sobre o caminho de um samurai. Na verdade, aquele moleque também lhe ensinava. Ensinava a ser alguém melhor, a ser determinado, a sempre ter um sonho, um objetivo em sua vida. O Shimura era como seu irmão mais novo e ele, apesar de ser um tanto irresponsável, era considerado como um irmão mais velho. Kagura era um meio-termo entre irmãzinha caçula e filha para ele. Sempre quis ajudar as outras pessoas, usando sua força característica do Clã Yato. Enfrentava a cada dia seu monstro interior, tal como ele fazia. Mesmo assim, sempre tinha um sorriso radiante no rosto por cada momento de felicidade. E o sorriso da pirralha era contagiante.

E o topo da lista de pessoas importantes para sua vida ganhava mais uma pessoa. Tsukuyo ganhava cada vez mais importância em sua vida. Ambos se identificavam em várias situações. Tinham muita coisa em comum, embora tivessem diferenças. Ela o entendia, assim como ele a entendia. Sentia-se mais à vontade com ela para falar de tudo. Confiava nela, assim como ela confiava nele. Ambos tinham suas almas marcadas por tragédias, por dores e por tristezas e isso fazia com que um compreendesse o outro como poucos compreendiam.

Por trás do temperamento explosivo dele e da frieza dela, havia um homem e uma mulher que continuavam apaixonados. Tsuki – como ele começara a gostar de chamá-la – brilhava para ele como uma bela lua cheia em uma noite com céu estrelado. Sentia-se privilegiado, pois a sisuda guardiã de Yoshiwara pouco sorria em público, deixando a maioria dos sorrisos para as pessoas que amava. E ele era um dos felizardos.

Ao pensar nisso, sorriu. Apesar da atual situação, considerava-se sortudo. Tinha a família Yorozuya, uma mulher que o amava e até um filho ou filha a caminho.

Ainda lhe era um tanto estranha a ideia de paternidade, mas não devia ser tããããão difícil assim. Considerando que era um “quase-pai” de Kagura, talvez isso contasse como experiência. Se bem que... Uma coisa era cuidar de uma garota de catorze anos e outra era cuidar de um bebê.

Momentaneamente, afastou de sua mente os pensamentos sobre paternidade. Ainda era meio cedo para isso. Tsukuyo estava apenas no terceiro mês de gestação, mal dava para ver a barriga.

Fechou os olhos para relaxar. Quando não havia nada a se fazer, tentar tirar um cochilo costumava ajudar. Ainda não era hora de Shinpachi e Kagura o visitarem, e aguardava ansiosamente pela visita deles. Pedira para lhe trazerem o recém-lançado volume da Jump e tentarem “contrabandear” para dentro do hospital alguns doces. O hospital se recusava a lhe dar qualquer refeição com açúcar, sob o pretexto de que ele estava na iminência de se tornar um diabético. Então, para não passar fome, era obrigado a comer comida que considerava sem gosto.

Cara, comida de hospital sempre era tão ruim...

O estômago roncou com vontade, e não demorou muito para que lhe trouxessem a refeição. Recebeu uma tigela de mingau e, por conta da fome, enfiou uma colher na boca e fez uma careta. Como esperava, estava sem açúcar algum.

Como esperavam que um paciente se recuperasse, se lhe eram negados os carboidratos que ele sempre ingeria e que lhe davam energia para seu corpo funcionar?

Ele tomou o mingau fazendo todo o possível para não sentir a falta da costumeira quantidade absurda de açúcar que normalmente ingeria. Odiava isso, mas como ainda não era horário de visita para saber se o “contrabando” de doces daria certo, o jeito era manter seu estômago forrado.

Alguns minutos se passaram após a refeição e, após um breve cochilo, ele acordou e viu chegar uma enfermeira, provavelmente encarregada de fazer a troca de curativo do seu ferimento. Com cuidado, abriu o pijama do Yorozuya e, em vez de começar a fazer o procedimento propriamente dito, a tal enfermeira começou a passar uma das mãos pela sua barriga, passando pelos músculos abdominais.

Foi quando acordou para valer e viu que a tal mulher tinha cabelos cor lavanda e usava óculos. Fechou rapidamente o pijama e gritou:

― TIRA A MÃO DE MIM, SUA MALUCA!! SERÁ QUE NÃO PODE LARGAR DO MEU PÉ NEM AQUI?!

Sacchan estava corada e sorria de forma maliciosa:

― Eu só quero cuidar de você, Gin-san, seu bobinho!

― De você eu não quero cuidado nenhum! Agradeço por ajudar a Tsukuyo, o Shinpachi e a Kagura por derrotarem aquele pessoal, mas não quero cuidado seu!

Quando Sacchan ia tentar novamente abrir seu pijama, uma kunai se cravou na testa dela, que caiu para trás. Aquela kunai só poderia ter sido arremessada por uma única pessoa!

― Eu já disse que te agradecia por ter me ajudado a enfrentar Aomame – era a voz de Tsukuyo, que fez com que Gintoki respirasse aliviado. – Mas não vou dividir o Gintoki com você.

Sacchan se levantou e tirou a kunai da testa:

― Ora, Tsuki, por que não podemos dividir o Gin-san? Você continua sendo a namorada oficial e eu o pego emprestado de vez em quando! O que acha da proposta?

“Espera aí, ela tá tentando me barganhar com a Tsukuyo?”, ele pensou.

A loira nada respondeu, mas ele disse:

― Eu não curto esse papo de “trisal” não, viu?

― E então, Tsuki? – a kunoichi de óculos insistiu. – Que tal a proposta?

Outra kunai na testa da Sarutobi e a resposta da Cortesã da Morte:

― Eu não vou dividir o meu namorado com ninguém. Ele é só meu.

O Yorozuya ficou vermelho. Era estranho ser disputado por duas mulheres. Era realmente estranho e constrangedor. E para quebrar o clima esquisito, outra esquisitice: Kagura invadiu o quarto e trombou com Sacchan que, com o impacto, foi jogada janela afora. Logo atrás, Shinpachi chegava esbaforido com o último volume da Jump nas mãos.

― TROUXE A NOVA JUMP, GIN-SAN!! – o garoto de óculos jogou a grossa revista, que Gintoki pegou com facilidade.

Nisso, um dos seguranças do hospital surgiu à porta:

― Vocês não viram uma menina ruiva, vestindo roupa chinesa e com as mãos cheias de doces?

Gintoki, Tsukuyo e Shinpachi se entreolharam e menearam as cabeças em sinal negativo. O tal segurança assentiu e agradeceu, para depois prosseguir em sua procura. O albino olhou para os lados, procurando Kagura. Ele a viu entrando, mas ela não estava lá.

Foi quando, de debaixo da cama, surgiu uma mão pálida com um braço vestindo uma manga longa vermelha. Segurava uma barra de chocolate e deixou-a ao lado do Yorozuya. Logo em seguida, surgiu a cabeça ruiva da Yato, que sorria após cumprir sua missão de contrabandear doces para ele.

Gintoki sorriu enquanto abria a embalagem do chocolate para começar a comer. Não havia nada melhor do que sentir novamente o doce sabor do açúcar invadindo seu corpo através do paladar. Começaram a conversar sobre algumas coisas, até que Tsukuyo anunciou:

― Eu avisei para as meninas da Hyakka que vou me afastar das rondas em Yoshiwara. Vou seguir liderando, mas vou diminuir as rondas. Corri muitos riscos ontem.

― Ainda bem. – ele disse em tom de bronca. – Vocês três me deram um susto ontem. E se eu fosse cardíaco, hein? Vocês me fariam enfartar!

Tsukuyo, Shinpachi e Kagura começaram a rir com a cara de emburrado de Gintoki. Obviamente, ele estava entediado por estar de molho, mas acabou sorrindo. Aqueles três eram realmente muito importantes para ele.

Como se lembrasse algo naquele momento, a loira disse:

― Daqui estou indo fazer uns exames para ver como está o bebê. E estava pensando já que poderíamos pensar em um nome, caso seja menino ou menina. Estava pensando que, se for uma menina e tiver o seu cabelo, ela poderia se chamar Paako.

Gintoki enfiou o dedo mindinho no nariz.

― Eu só espero que ela não nasça com o cabelo igual o meu. Não quero que uma filha ou um filho meu sofra o que eu sofro com esta permanente natural. Se for uma menina, acho que Ginko é uma boa.

― Gin-chan, se for um menino com o cabelo da cor do cabelo da Tsukky, ele pode ser um Kin-chan?

― O nome “Kintoki” está vetado, Kagura! – o albino se incomodou com aquele nome.

―  Kintarou, talvez? – Shinpachi sugeriu.

― Pode ser. – olhou para Tsukuyo. – E por que justamente Paako?

Um sorriso divertido se desenhou em seus lábios:

―  Porque sempre vou me lembrar do seu disfarce quando a gente se infiltrou naquele harém.

― Eu espero que seja um menino de cabelo liso. – Gintoki declarou enquanto mordia o último pedaço de chocolate.

― Que tal fazermos uma aposta? – a kunoichi propôs. – Se for uma menina, dou a ela o nome que eu quiser. Se for um menino, você dá o nome.

― E se a gente souber o que o bebê é só quando nascer? – o Yorozuya sorriu em tom desafiador. – Só pra dar um pouquinho mais de emoção.

― Perfeito! Fechado!

― Fechado!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Isto não é mais um romance água-com-açúcar" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.