Os flocos de neve dançavam no ar até parar em seu rosto pálido. Pude vê-la sorrir, aproveitando o frio que tomava conta de sua face. A tarde estava gelada, mostrando que o Natal estava chegando e Rylai gostava disso. Agradeci por estar usando meu elmo, que cobre meu rosto inteiro, quando sorri ao vê-la tirar seu capuz e deixar a neve cair em seus longos cabelos loiros. Seus olhos estavam mais azuis do que de costume, me dando a impressão de que tudo nela se esforçava para combinar com o cenário gelado que eu, ironicamente, tanto detestava.

— Eu gosto do seu tom de azul, Sven. — Rylai permanecia sentada no chão, com as pernas cruzadas, como se estivesse tomando banho de Sol na praia numa manhã quente de verão. Admirava o céu e os flocos de neve caindo por seu próprio corpo. Tudo nela era angelical, tudo nela emanava a inocência de uma donzela. Senti meu rosto quente e, como já havia sido percebido, resolvi me aproximar.

— Donzela, — Esfreguei minha mão em meu braço oposto, tentando me aquecer. — está frio aqui fora.

— Temperatura ideal. — Ela me encarou, com um largo sorriso em sua face. Mesmo sem poder ver meu rosto, ela parecia saber que eu estava sorrindo. Fazendo sinal para eu sentar ao seu lado, continuou — Aliás, o que o Cavaleiro Desonesto* faz aqui? Sempre achei que você odiasse o frio.

— Apenas quis pegar um ar. — Menti enquanto sentava no lugar sinalizado. — Você parece estar se divertindo aqui, huh?

— Sim, — Ela jogou sua cabeça para trás e deixou uma gargalhada verdadeira escapar. — Eu adoro esse clima. É véspera de Natal, Sven! É a melhor época do ano. — Rylai encostou sua cabeça em meu ombro e fechou os olhos.

— É. — Assenti com a cabeça e tentei não demonstrar a ela que algumas lembranças não muito boas passaram pela minha cabeça.

— Sinto muito, Sven. — Ela pareceu notar. — Sinto muito pelos seus pais.

— Como era o Natal na sua infância, Rylai? — Perguntei, tentando desviar do assunto que ela tocara. Após ouvir a pergunta, um leve sorriso se formou em seus lábios, logo sendo convertidos numa grande gargalhada.

— Era péssimo! — Rylai levantava seu queixo, o apoiando em meu ombro. — Eu e a Lina vivíamos brigando e estragando tudo. Até que fomos separadas... — Ela desviou o olhar, demonstrando um pouco de tristeza ao falar de sua irmã mais velha. — E o seu?

— Eu não lembro. — Menti, mais uma vez. — Mas agora você e a Lina estão juntas novamente, tenho certeza que os próximos Natais serão melhores.

— Espero que sim. — Ela me encarou e deu um sorriso travesso — Sven, que tal nós fazermos uma troca de presentes esse ano? — Fiquei em silêncio e Rylai continou — Vamos, por favor! Só eu e você.

— Ok. — Assenti. — Mas eu sou péssimo para escolher presentes. Você sabe, não sou bom com essas coisas.

— Eu sei, bobo. — Ela riu e eu não pude deixar de me divertir com a forma que ela me chamou — Por isso, eu mesma escolho o meu presente. E escolho o seu também!

— Ok. — Fiquei um pouco apreensivo com aquilo, mas aceitei. — O que você quer?

— Não é assim! — A garota me deu um tapa no ombro e se levantou, me olhando de cima enquanto ria — Temos que esperar até amanhã de manhã. É assim a tradição, certo? — Ela fez uma pausa. — Ok, não vou aguentar esperar. Vamos trocar presentes agora mesmo!

— Ainda não tenho certeza do que eu quero de presente, mas já sei o que eu vou te dar! — Ela sentou de frente para mim e coçou o queixo, decidindo o que ia pedir de Natal. Eu sorri pacientemente e esperei sua decisão — Decidi. Sven, eu quero que você deixe eu ver seu rosto como presente de Natal!

Meu rosto. Ela poderia pedir infinitas coisas e pede para ver meu rosto.

— Mulheres são realmente imprevisíveis. — Sorri e, calmamente, tirei meu elmo. — Feliz Natal, Rylai.

— Sven... — Ela se atirou em cima de mim, me abraçando forte. — Você realmente fez isso! Eu achei que nunca veria seu rosto...

— Você nunca pediu antes, Donzela. — Encolhi os ombros. — Agora, cadê o meu presente?

— Feliz Natal, Sven. — Falando isso, Rylai me beijou.

Foi o primeiro e melhor presente de Natal que eu já recebi.