Enquanto arrumava minhas malas o telefone toca.

- Alô? – Atendo desesperada, era meu pai.

- Filinha que saudades. E aí, pronta pra vir morar com o papai?

- Ah oi pai, é você? – Ele estranha.

- Nossa que animação é essa? Tá tudo bem minha princesinha? – Bem que ele não podia perceber nada, penso comigo.

- Nada pai, só estou um pouco enjoada.

- Tem certeza, precisa que eu te leve no médico? Vamos aproveitar e passar no hospital antes de irmos para o aeroporto. – Meu pai é desesperado assim como eu.

- Não pai, não precisa. Juro que estou bem, já tomei um comprimido e já está passando. – Tento tranquilizá-lo, já que não queria passar duas horas dentro de um hospital com gente doente e aquele monte de bactérias querendo infectar o seu corpo. – É sério paizinho, não precisa. – Acho que quanto mais rápido eu for pra Los Angeles melhor pra superar isso.

- Bom tudo bem minha linda. Daqui uma hora passo aí para eu te pegar e irmos para o aeroporto. – Concordo e desligamos ao mesmo tempo.

Eu só queria ter uma vida normal como todo mundo. Bom, antes de mais nada vou me apresentar. Meu nome é Alice, tenho 17 anos e moro com meu pai no Brasil, bom, morava. Minha mãe faleceu quando eu tinha 6 anos e desde então eu venho me mudando de cidade em cidade, país em país com meu pai que trabalha como empresário. Já morei na Espanha, México, Austrália, Canadá, França, Brasil e agora estou me mudando para Los Angeles. No começo era o máximo, sabe, viajar de lugar em lugar e conhecer novas pessoas, culturas e línguas, mas isso acaba se tornando cansativo com o tempo. Tenho que deixar meus amigos, minha casa, a escola, quando eu estava finalmente me adaptando nós tínhamos que nos mudar para um lugar novo, fazer novos amigos, uma nova casa, uma nova escola, tudo novo.

O maior tempo que eu passei em um lugar só foi no Brasil, 5 anos. Por isso estou triste. Fiz amigos incríveis aqui, meus parentes moram aqui e não quero ir embora, mais uma vez. Mas por enquanto não posso trilhar os meus próprios caminhos e conhecendo meu pai não vou poder fazer isso por muito tempo. Bom, vamos para Los Angeles.

Meu pai buzina e arrasto as minhas malas escada abaixo na nossa casa vazia. Dou uma última olhada em volta antes de abrir a porta e relembro alguns momentos que jamais vou me esquecer. Eu e meu pai assistindo um filme de terror, e por incrível que pareça não era eu que estava sentindo medo. Minhas amigas e eu fazendo brownies na cozinha e nos lambuzando inteiras. Todos esses momentos ficando para traz, mais uma vez. Preciso me acostumar. Meu pai buzina mais uma vez e me dou conta de que estou parada no meio da casa chorando, enxugo as lágrimas, arrasto minha mala e saio da casa. Entro no carro, dou um abraço no meu pai que percebe a minha tristeza.

- Vai ficar tudo bem filha. Você vai gostar de lá. – Apenas balanço a cabeça em concordância e ele dirige até o aeroporto. Chegando lá, não demora muito e nosso voou é anunciado, nos dirigimos para o portão de embarque e subimos no avião. Fomos de primeira classe, pelo menos posso dizer que passar a vida morando em vários lugares nos dá uma vida de alguns luxos, mas pra ser sincera isso não me interessa muito. Meu pai passa a viagem inteira lendo seu livro e dormindo e eu com meu fone de ouvido ligado no último volume.

Abro meu olho e estamos pousando.

- Olá princesinha. – Diz meu pai com um sorriso e beija minha testa.

- Oi papai. – Levanto a poltrona e percebo que meu pai havia tirado meu iPad e meu fone de ouvido e me embrulhado com uma mantinha. Ah meu pai, ele se chama Anthony. Ele é um pai muito amoroso e presente, jamais permitiu que acontecesse algo de ruim comigo e sempre faz parte dos meus melhores momentos, gosto disso. – Chegamos.

- Sim, chegamos. Animada? – A cara que eu fiz já deu uma resposta bem compreensível para ele que apenas soltou uma risadinha e não disse mais nada.

- Pai? – Ele olha fixamente para mim. – Em qual lugar de Los Angeles vamos morar? – Pergunto curiosa torcendo para que seja Hollywood.

- Vamos morar na Hollywood Boulevard. – Arregalo os olhos.

- Tá brincando, né? – Falo com um ar de total desconfiança.

- Não. – Diz ele friamente.

- Pai essa é a rua mais conhecida do mundo, onde tem a calçada da fama. – Digo surpresa.

- Pois é lá mesmo que nós vamos morar. Em dos condomínios da avenida. – Fico com cara de assustada e não falo mais nada. Pelo menos uma coisa boa nessa viagem. Quando pensei em Hollywood, pensei nos subúrbios e coisa do tipo, não na Hollywood Boulevard.

Descemos do avião, fizemos nosso check-in e pegamos um táxi para irmos para nosso apartamento novo. Por mais que eu não queria estar ali, estava animada para conhecer o apartamento. Isso soa meio estranho porque pessoas sonham vir morar nesse lugar e eu quero apenas o Brasil de volta, acho que tenho algum problema, não é possível. Em fim, partimos e quanto mais eu olhava em volta, todas aquelas ruas e prédios muito bem arquitetados, mais eu me encantava com aquele lugar e ainda mais ansiosa eu ficava. Quando chegamos e eu olhei a entrada do condomínio, fiquei de boca aberta. Mais ainda quando entramos no apartamento. (Veja fotos do apartamento no twitter @username)

Tudo bem, me rendo, quero ficar aqui pra sempre. Me encantei com tudo, principalmente meu quarto. (Veja foto no twitter @username). Bom, colocamos nossas coisas nos quartos, tomei um banho e fui logo pra cozinha procurar alguma coisa pra comer, já que não tinha comido nada no avião e estava morrendo de fome.

- Filha, acho que você não vai encontrar nada aí, vamos ter que comer fora essa noite. – Diz meu pai todo arrumado depois que saiu do banho. – Vai se arrumar que eu te esparo. – Concordei e subi correndo pro meu quarto me arrumar. Escolhi um look mais sério, afinal estamos em Los Angeles e a noite pede. Coloquei uma camisa branca, um shortinho amarelo, um blazer preto e uma sandália branca. Quando desci meu pai ficou olhando para mim.

- Que foi? – Perguntei inocente.

- Nada... é que você está linda. – Disse ele impressionado. Termino de descer as escadas sorrindo com o elogio.

- Ah é claro, eu tenho um pai lindo do qual puxei as melhores características. –Disse beijando seu rosto e ele sorri para mim.

- Então podemos ir princesinha? – Ele ama me chamar de princesinha, desde pequena e posso ser sincera, eu amo que ele me chame assim também. Ele estende o braço para acompanhá-lo e estendo o meu e saímos. Jantamos ali perto mesmo, já que estávamos de táxi. – E então filha, gostou do jantar?

- Estava ótimo pai. Nunca comi tão bem. E olha que na França eles têm os melhores pratos. – Brinquei com meu pai que entendeu o que eu quis dizer e dá uma risadinha.

- Realmente. Mas, vamos aproveitar que amanhã eu ainda não trabalho e vamos dar um giro pela cidade para que você possa conhecer Los Angeles.

- Só eu conhecer, e você? – Pergunto estranhando.

- Bom, eu já conheço. Antes de você nascer eu morei aqui com a sua mãe por 5 anos. – Não sei o que meu deu, mas eu fiquei triste na hora. Não sei porque, mas quando meu pai fala alguma coisa da minha mãe, seja qual lembrança for eu fico muito triste, não sei se é por que eu não a conheci direito, mas meu pai percebeu na hora. – Me desculpa filha, não queria que você ficasse triste. – Diz ele com arrependimento.

- Não pai não se preocupa. Acho que eu preciso me acostumar em falar da mamãe. Não sei por que isso ainda me machuca. – Ele olha com um olhar compreensivo.

- Te entendo minha princesinha. Eu fiquei assim também por muito tempo. Mas uma hora vai passar. – Quebrei o clima e disse:

- Bom, Nós já podiamos dar uma volta hoje, o que você acha? – Ele apenas sorri e concorda. Meu pai paga a conta e saímos para dar uma volta por Los Angeles.