The Blue Blood escrita por Mrs Granger
Depois de um instante de viajem silenciosa, Lara arriscou puxar o sobretudo e a camisola para verificar seu ferimento na coxa. Havia três furos profundos e inchados indicando os locais onde as garras da criatura haviam penetrado sua pele. O ferimento latejava cada vez mais, uma vez que a descarga de adrenalina tinha acabado e Lara estava mais calma e relaxada. Começou a sentir também o ardor dos arranhões que o vidro quebrado tinha feito em sua pele. O ferimento mais sério era o da coxa, os outros seriam facilmente curados. Já os seus pais estavam bem mais machucados...
– Vai demorar muito? – Lara olhou pela janela e mexeu os pés. Não fazia ideia de para onde estavam indo ou que caminho estavam seguindo.
– Um pouco – respondeu Janna – Seus pais estão bem?
_Mãe? – Lara segurou a mão de Anna.
_ Sim, eu estou bem. Só está... Ardendo um pouco. – ela declarou numa voz mais firme.
– Senhor John? – Lucas disse numa voz cautelosa – Está bem?
– Sim – Ele sussurrou. – A minha perna...
Lara ajudou sua mãe a se deslocar e as duas trocaram de lugar para que Lara pudesse dar uma olhada na perna de John.
_ Não tenho muita coisa aqui na minha bolsa – ela começou a vasculhar. Achou um pouco de gaze, esparadrapo e um vidrinho de álcool. – Isso vai ajudar. Consegue encostar suas costas na porta e por a perna aqui? – Lara deu tapinhas no seu colo. John assentiu devagar e começou a se virar. Lara ajudou-o com a perna e levantou a calça bem devagarzinho.
– Ahh – ele arquejou, se contraiu e apertou a perna com as mãos.
Anna desviou os olhos e Janna arriscou uma espiada para milésimos de segundo depois voltar seu olhar para frente.
– Está muito ruim? – Lucas perguntou, sem tirar os olhos da estrada.
Estava ruim, mas não muito. Como enfermeira, Lara já tinha visto ferimentos bem, mas bem piores. O caco de vidro não estava alojado próximo a nenhuma veia importante, e era relativamente pequeno. Nada que causasse pânico, exceto o fato de que ela não tinha nenhum equipamento para remover o vidro.
Pegou uma camiseta na mochila e começou a procurar a tesoura. O ferimento estava bem inchado, provavelmente sairia bastante sangue quando o vidro fosse removido. Anna olhou e soltou um arquejo. John também arriscou dar uma espiada.
– Não é tão ruim, dá para curar. – Lara tentou tranquilizá-los. – Mãe, você não precisa olhar.
Daquela parte, Lara entendia muito bem. Adorava seu ofício de enfermeira e conseguia manter a calma de uma forma extraordinária diante de um paciente machucado por pior que fosse o ferimento. Era hábil em cuidar dos ferimentos, fazer curativos e tranquilizar os pacientes.
– Vai doer um pouco – A sinceridade também era importante. Aquela conversa de “não vai doer nada” só deixava os feridos ainda mais nervosos, porque na maioria das vezes a pessoa já sabe que vai doer.
Lara pressionou a camiseta enrolada em torno do vidro, encaixou as lâminas da tesoura na ponta do caco e começou a puxá-lo para fora da carne.
_ Ai – John apertou um pouco mais a perna e puxou o ar com força.
– O que está acontecendo aí? – Lucas perguntou, nervoso.
– Lara está arrancando um caco de vidro da perna do pai dela – Janna disse em tom casual.
_ Ah, Meu Deus - Lucas pareceu um pouco enjoado.
_ Pois é – Janna pressionou as mãos contra o banco e John soltou mais um arquejo.
O caco estava bem mais enterrado na carne e era maior do que Lara imaginara. Demorou um pouco para que o vidro saísse e a camiseta que ela usou para estancar o ferimento ficou empapada de sangue.
_ Prontinho – Ela limpou o ferimento com algumas gazes e pegou o álcool – Isso vai arder – Avisou.
John fez uma careta e se contraiu quando Lara passou a gaze limpa e úmida em sua pele. Depois de limpar o machucado, ela terminou com um curativo e colocou esparadrapos nas bordas.
_ Pronto, vai ficar bem. – Lara sorriu. Não pôde deixar de reparar nos outros ferimentos e arranhões que seu pai tinha por todo corpo. Instantaneamente pensou em desinfetá-los e fazer um curativo ali mesmo, mas ela não tinha material suficiente para isso.
– Anna – John dirigiu-se a mulher – Como você está?
– Estou bem. – Ela sorriu.
Lara voltou para seu lugar e deixou os pais conversando baixinho um ao lado do outro. Depois de um tempo, deu outra olhada em seu ferimento e concluiu que estava piorando. A dor também piorava.
_ - Filha, não acha que sua mãe tem que cuidar desses arranhões? – John apontou para o rosto da mulher.
– Tudo bem – Lara virou o rosto da mãe com cuidado e começou a trabalhar em seus ferimentos. Primeiro tratou dos mais graves: um corte fundo na testa e um longo arranhão na nuca. Depois passou para os arranhões do rosto e tratou deles da melhor forma que pôde.
– O que... – Lara hesitou – O que eram aquelas coisas, Janna?
_ Não vai acreditar se eu te contar agora.
Lara percebeu seus pais ficando tensos no banco do carro.
– Então por que você não tenta, Janna? – Lara estava muito impaciente. Eles sabiam o que estava acontecendo mas se recusavam a contar, como se ela fosse um criancinha deixada fora do plano dos pais. – Detesto não saber das coisas, principalmente quando elas me envolvem.
– Você vai saber – Janna olhou para ela por cima do banco – Confie em mim e no Lucas, nós vamos contar tudo. – o olhar dela era tranquilizador, mas Lara nunca havia se sentido tão inquieta. “O que eram aquelas coisas e o que estavam fazendo na minha casa?” “Por que esses dois não me contaram antes que isso estava para acontecer?” “Como sabiam?” “O que aconteceu com a minha mãe antes de fugirmos?”
Então ela sentiu o celular vibrando na mochila. Mensagem de Alex.
“É meu.” – foram as palavras que apareceram na tela. Lara demorou um pouco para compreender e desceu a tela, lendo o restante:
“O resultado do teste saiu hoje. O bebê é meu, mas isso não importa. Allice vai marcar a data do aborto logo. Assim que puder, me ligue.”
“Ah, não”. Lara sentiu um aperto no peito e as lágrimas vieram aos seus olhos. “Não, não, não. Allice tem um filho do Alex na barriga...”
– Filha, você está bem? – Anna perguntou.
– Sim, tudo bem – Lara segurou as lágrimas e limpou as bochechas rapidamente. Queria ligar para Alex ali, naquele momento, mas resolveu esperar e absorver a notícia.
– Já estamos chegando – Declarou Janna em tom animado. – Queremos que conheçam um lugar especial, acho que vão adorar. Principalmente você, Lara.
Alguns minutos depois Lucas estacionou na frente de um barracão abandonado.
–Ok, é esse o lugar que querem que eu conheça? _ Lara sentia-se intrigada. O barracão era enorme, sujo e suas paredes estavam todas pichadas; não parecia ter nada de especial. Havia um grande portão de ferro amassado na entrada e, mais ao fundo do terreno, em meio ao matagal rebelde, a velha construção de tijolos se erguia contra o céu cheio de estrelas. Lara estremeceu só de imaginar nos tipos de bicho, gente ou criaturas que poderiam se esconder lá na calada da noite.
– Esse lugar é seguro? – Ela cutucou o braço de Janna. – Como vamos curar meus pais aqui?
– Calma, você vai ver. O lugar é incrível. – Janna tinha um brilho travesso nos olhos, como uma criança que esconde arte dos pais. Lucas também sorria e parecia bem animado quando desceu do carro. Lara ajudou seus pais a descerem e Anna apoiou o braço de John nas costas para ajudá-lo a andar. Os dois olhavam o barracão com a mesma desconfiança de Lara. Quando Lucas e Janna começaram a se aproximar da construção ela quase lhes perguntou se não era uma má ideia deixar o carro sozinho no meio da rua e num lugar praticamente abandonado, mas depois se lembrou de que os amigos já haviam planejado tudo e resolveu ficar calda.
Lucas pegou uma chave no bolso e pôs-se a abrir o portão de ferro. Parecia pesado, mas ele moveu-o para o lado com grande facilidade, como se já estivesse acostumado a fazer isso há anos.
– Vamos entrando – Ele tinha um sorriso radiante.
“Deve haver algo muito importante lá dentro, só pode” Lara refletiu enquanto mancava até a porta dupla do barracão, bem atrás dos amigos e ao lado dos pais. “Por dentro, o lugar deve ser até agradável” A ideia a fez sorrir. “Isso aqui é um esconderijo... E parece que dos bons.”
Lucas foi o primeiro a entrar no barracão, abraçando Janna pela cintura. Os dois sorriram um para o outro e Lara olhou de relance para os pais antes de dar de ombros e adentrar o recinto escuro...
E o barracão era totalmente normal. Não tinha nada de excitante ou surpreendente dentro dele. “Nenhum esconderijo secreto”, Lara pensou com uma pontada de decepção. A incompreensão também atingiu seus pais no memento em que entraram. Os dois franziram o cenho.
– Tem um cheiro ruim, está sujo e abandonado – O pai de Lara se remexeu. – Por que nos trouxeram para cá?
– Só continuem caminhado – Janna disse, com os olhos brilhando.
E eles continuaram. Seguiram até o fim do galpão, passando por sacos de areia, terra, montes de pedra, baús de madeira cheios de plásticos e metais, montanhas de tijolos cheios de umidade e mofo, apodrecendo na escuridão. O chão tinha uma camada de poeira espessa que subia e rodopiava sobre os pés deles a cada passo. Lara pensou ter visto com o canto do olho, uma ou duas vezes, baratas e ratazanas correndo a toda pelo chão. Estremeceu.
– Aonde vamos? – a ansiedade a consumia. Queria sair logo daquele galpão sujo e mal cheiroso.
Ninguém respondeu. Lara revirou os olhos e soltou o ar com força.
Na parede do fundo havia uma espécie de porta envolta por um batente de madeira e com um acabamento perfeito e luxuoso demais para o resto do armazém. Janna estendeu a mão para a maçaneta dourada e abriu a porta.
Do outro lado havia uma parede de concreto tão sólida e rústica quanto qualquer outra no recinto. A porta não levava a lugar nenhum.
– Mas o que... – Lara emudeceu no instante em que Janna tirou uma linda faca brilhante do bolso e contornou o batente da porta, murmurando palavras suaves:
– Em nome de Millions e de todos os Sete Seres Mágicos do Oitavo mundo, Nona era, Rainha Gueen e Rei Martin – ela olhou para a cara de espanto de Lara e de seus pais enquanto um brilho azul cada vez mais forte e mais intenso contornava a porta. Lucas sorriu.
– Eu peço passagem. - Janna continuou e murmurou algo numa língua estranha.
Então o concreto atrás da porta de dissolveu e revelou um incrível salão luxuoso e reluzente.
_Uau. – Lara piscou várias vezes, atônita. O salão do outro lado era enorme e tinha duas escadas ao fundo indicando a existência de um andar superior.
– Bem - vindos a Sede. – Janna dirigiu um sorriso caloroso e animado à Lara.
– Como... – Ela não conseguiu responder e continuou observando o salão cheio de gente. Pessoas se moviam por todos os lados, garçonetes carregavam bandejas cheias de drinques e petiscos coloridos que pareciam deliciosos, crianças corriam e brincavam no salão, homens jogavam cartas numa grande mesa de vidro...
_ Entrem, entrem – Lucas foi à frente com Janna em seus braços e, assim que os dois entraram, todo mundo se aquietou. O lugar que antes estivera num murmurinho de conversa e movimento agora estava silencioso e carregado de tensão.
– Relaxem, meus amigos, não são humanos. – Lucas apontou para Lara e para os pais dela – Estão feridos, vamos curá-los e mandá-los para casa.
Lentamente as pessoas voltaram as suas atividades, não sem pararem para observar, de vez em quando, enquanto Lara atravessava o salão. Sentia vários olhos postos nela, mas o lugar era tão incrível que conseguia deixá-la descontraída e radiante apesar da canseira e da dor a coxa. Sorriu ao ver uma criancinha com cabelos azuis brincando próximo a uma fonte de mármore com uma sereia esculpida no centro. Os homens eram todos altos, com cabelos coloridos e extravagantes, ternos longos e chiques; e as mulheres eram delicadas e lindas, todas enfeitadas com joias que pareciam gelo colorido e maquiagem brilhante. Os cabelos também eram coloridos, enrolados, e alguns chegavam até o chão.
_ Vamos até o fundo do salão – Disse Janna à Lara. – Primeiro cuidamos de seus pais no Salão da Cura, depois vamos conversar – Ela sorriu – Parece que você está bem encantada com o lugar, não, Lara?
– Huhum... – Ela apertou os olhos e viu uma mulher com asas nas costas. Viu outra com enormes orelhas pontudas e grandes. “Essas pessoas não são normais.” Pensou, com um arrepio na espinha. – Janna – Lara perguntou o mais suavemente que pôde – O que são... Quem são essas...?
– São seres mágicos, Lara – ela fez uma pausa desconfortável – Melhor conversarmos sobre isso quando estivermos a sós.
Uma pequena e gorducha criatura passou correndo pelo pé de Lara.
_ Desculpe, moça – a coisinha nem chegava ao seu joelho, era toda rosada e tinha um vestidinho brilhante.
– Tudo bem – Lara murmurou antes de Janna puxá-la pelo pulso.
– Ai! – Ela exclamou e virou-se para procurar a coisinha correndo no chão. – O que era aquilo?
– A mulher de um gnomo.
_ O quê? – Lara pensou que não tinha ouvido direito.
– Depois explico. Mas é um gnomo.
– Tipo... Tipo das histórias infantis? – Lara sentia-se cada vez mais confusa. – Gnomos não existem.
– Você acabou de ver uma, no entanto ainda não acredita. – Janna retrucou, um tanto impaciente.
– É que eu não entendo...
– O primeiro passo para se entender uma coisa é acreditar em sua existência. – Janna disse. – nesse momento você não acredita porque lhe parece chocante e meio impossível... Mas daqui a um tempo, a existência deles vai ser tão natural quanto o sol.
Lara duvidava que algo na sua vida voltasse a ser natural. Ficou quieta até chagarem as escadas no fundo do salão. Para surpresa deles – menos a de Lucas e Janna, é claro – a escada os levava para baixo, a um andar subterrâneo igualmente iluminado e bem decorado.
O lugar, as pessoas e o movimento pareciam fazer parte de um sonho enquanto Lara os observava boquiaberta, registrando cada detalhe. Todas as cores do salão eram suaves e claras – tanto a decoração quanto as roupas e os cabelos excêntricos. O chão era meio transparente e azulado, como se fosse um grande bloco de gelo. As paredes também eram do mesmo tom cálido, assim como o teto abobadado. Tudo aprecia frio, suave e encantador, como gelo.
Desceram as escadas transparentes e andaram pelo piso subterrâneo até um aposento maior e menos movimentado numa sala à direita.
_ Essa é a Sala da Cura – Lucas deu espaço para que os pais de Lara pudessem entrar. O quarto se assemelhava bastante a um quarto comum de hospital, todo em branco e quieto. Algumas mulheres altas flutuavam suavemente sobre o chão levando remédios, toalhas e copos de água para quem estava nos leitos. Havia cerca de vinte camas, dez à direita e dez à esquerda, com cortinas de seda em volta para dar privacidade aos doentes. Ao lado de cada cama havia uma mesinha transparente que também parecia de gelo. O teto do quarto era tão alto e o local estava tão iluminado que quase dava duvidar que a Sala da Cura estivesse no subsolo. Bem, depois de ver uma mini-pessoa andando pelo seu pé e ouvir a amiga dizendo que aquilo era um gnomo, Lara resolveu não questionar o fato. Teria tempo para perguntas depois, assim esperava.
Então um flash: ela se lembrou de que precisava falar com Alex. Enquanto seus pais eram acomodados nos leitos confortáveis e macios do quarto, Lara cutucou Janna no braço.
– Preciso fazer uma ligação. – E saiu pelo corredor sem esperar pela resposta da amiga.
Talvez Lara devesse ter esperado, porque Janna ia lhe dizer que sinais de celular não chegavam lá embaixo. Lara suspirou e revirou os olhos. “Que ótimo, além de tudo estou sem telefone.”
– Conseguiu telefonar? – Janna chegou de fininho pelo corredor. Sua roupa preta e lustrosa brilhava com os reflexos claros das paredes e do chão.
– Esse lugar... – Lara olhou em volta – O que, exatamente, é esse lugar?
_ É uma base.
_ Talvez sua resposta possa ser um pouco mais... Esclarecedora. – Lara ergueu as sobrancelhas – tenho certeza de que você consegue, faça uma forcinha.
– Ok, ok – Janna sorriu – Não quer cuidar dessa perna primeiro? – A amiga apontou para a coxa de Lara. A camisola estava suja de sangue e o local latejava bastante, mas Lara estava tão atônita com os últimos acontecimentos que nem dera importância ao ferimento.
– Isso vai demorar muito? – Lamentou – Preciso de respostas.
“E preciso falar com Alex, também”. Mas resolveu deixar essa parte de lado.
– Só uns minutos. – Janna sorriu – Você vai se sentir bem melhor depois que as fadas cuidarem de você.
– Fadas? - Lara piscou – Tipo... Aquelas moças com asas nas costas? - agora a voz dela tinha um tom de deboche – Não pode estar falando sério Janna, que tipo de brincadeira é essa?
– Poxa vida, Lara – a amiga parecia aborrecida. As duas começaram a andar pelo corredor – Depois daquelas coisas na sua casa, dos seus poderes enigmáticos, das visões e da abertura da porta lá atrás... Achei que fosse aceitar tudo com mais facilidade.
– Aceitar? Ah, Janna, isso é confuso. Confuso demais. Além do mais, as criaturas que me atacaram não têm nada a ver com isso aqui – Lara deu de ombros – Esse lugar parece bom, tranquilo e pacífico. Aquelas criaturas não tinham nada de pacíficas. E muito menos as minhas visões...
– Sim, está certa. Mas essas coisas estão mais ligadas do que você imagina. – Ela dirigiu um olhar caloroso à Lara, os olhos verdes brilhando intensamente. – Você não é normal, não é como as outras pessoas. Você é especial.
De repente, Lara sentiu um aperto na garganta. “Ora, estou num barracão abandonado que por dentro é um refúgio de fadas e gnomos e minha família acabou de ser atacada por monstros esquisitos. É claro que isso é cem por cento normal.”
Naquele momento ela não soube por que, mas as palavras subiram do fundo do peito e jorraram de sua boca, formando a frase mais aleatória possível:
– Allice tem um filho do Alex.
Janna fez uma expressão de pura confusão.
– Como assim? A pati? A riquinha? E o Alex... Aquele problemático? – Ela uniu as sobrancelhas e balançou a cabeça. – Agora sim você não está falando coisa com coisa.
Lara sabia que não devia ter contado à Janna, principalmente num momento como aquele, onde tantas coisas se faziam mais importantes e urgentes. A amiga de Lara parou no meio do corredor e fitou-a com olhos questionadores.
– Por que isso agora?
– Nada, só achei que devia saber – “Mentira. Sabia que não me entenderia.”
– Lara... – Janna mudou o tom de voz para censurá-la – Como você sabe disso? Quem contou?
– Fiquei sabendo – Lara apertou no passo na esperança de chegar mais rápido à Sala da Cura. “Não era bem essa coversa que eu queria ter, Janna” – Por que não focamos no que é importante? Coisas do tipo... Por que eu estou aqui? Por que minha casa foi atacada?
– Sim, vou explicar – Janna soltou um suspiro cansado. Ela fez uma pausa e sua mente começou a vagar – Ah, sabia que eu e Lucas estamos namorando? – Ela comentou, sonhadora.
– Ah, claro, vi você dois se beijando. E sabia que a Terra é redonda? Que o arroz cozinha bem mais rápido na panela de pressão? Que no Japão as pessoas colocam camas na cozinha por falta de espaço?
– Ok, ok. – Janna ergueu as mãos, vencida. Um sorriso cruzou seu rosto – Adoro essa sua curiosidade, sabe.
– Minha perna dói, será que podemos andar logo? – Lara retrucou e voltou seu olhar para a Sala da Cura, logo à frente.
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