Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 52
Finalmente


Notas iniciais do capítulo

Mil perdões pelo atraso. Pretendíamos postar logo depois do almoço, mas acabamos recebendo um convite de última hora e tivemos que sair de casa. Apesar disso, conseguimos tempo para postar ainda hoje.
Os acontecimentos principais dessa nova fase ainda não ocorreram, por enquanto ainda estamos explicando um pouco os anos anteriores e introduzindo a parte atual. Esse capítulo é mais voltado para a Avery, mostrando como ela está, no que pensa. Nos próximos ela estará afastada do grupo, de forma que suas narrações não terão o mesmo foco das outras.
Boa leitura!



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*Narrado por Gabriela Hopper

Eu estava preparando o café enquanto Avery, Daryl e Sam ainda dormiam. Tínhamos poucos utensílios na cozinha, e não possuíamos encanamento. Havia apenas um armário, onde guardávamos coisas básicas, como garrafas com água, pó de café, xícaras, tigelas, cereais, pratos e talheres. Avery não tomava café, geralmente bebia água ou leite tirado das ovelhas que criávamos. Ela dizia que o café era mais amargo que uma maçã verde.

– Gabriela, você viu a minha jaqueta de couro? – Daryl perguntou aparecendo na cozinha. Sua expressão mudou quando ele percebeu que eu usava a jaqueta.

– Quer ela de volta? – ele não respondeu, apenas veio até mim e me pressionou contra o armário, me encurralando. Eu e ele possuíamos o mesmo brilho nos olhos, o mesmo sorriso malicioso nos lábios.

– Acho que você vai ter que me devolver.

– Eu tenho pena do meu irmão. Ele é tão novo e já tem que aturar essas cenas... – ouvi a voz de Avery.

– Acho que alguém acordou irritada hoje... – Daryl brincou, deixando a garota mais irritada.

Avery se sentou em uma cadeira na ponta da mesa, enquanto Daryl se sentava na lateral. Sam chegou na cozinha e se posicionou na cadeira de sempre: a que ficava na frente do pai. Antes que eu pudesse pensar no mau humor de minha filha, ou no fato de que possuía duas crianças em casa e que talvez eu não devesse estar “namorando” com Daryl na cozinha, servi o café e fiquei em pé observando eles se alimentarem. Avery esticou a mão para pegar a xícara verde, mas foi interrompida.

– É a minha xícara! – Sam protestou agarrando o objeto e ela revirou os olhos. Só havia quatro xícaras na casa: uma branca, uma vermelha e duas verdes. Sam usava a verde não pela cor, e sim para usar uma xícara semelhante à do pai. – Olha papai, é igualzinha! – Daryl sorriu, como sempre fazia, e a paciência de Avery pareceu se esgotar.

– Jura? – ela comentou num tom irritado e de deboche. Antes que Avery pudesse acrescentar mais algo, eu a repreendi com um olhar severo e ela soltou a colher sobre a tigela de cereais ainda cheia, emitindo um longo suspiro de irritação.

Era um café da manhã em família totalmente normal, apesar de o dia não ser normal, já que Avery faria a sua primeira patrulha. De repente, Grace e Hesh entraram na tenda, sorridentes como sempre.

– O Sam pode brincar agora? – Grace pediu.

– Ele pode ir se terminar o café – no mesmo momento em que eu respondi, meu filho virou a xícara de café e terminou a bebida num só gole e saiu com os amigos.

– Também tenho que ir para checar a gasolina do carro – Daryl disse terminando de tomar seu café e se levantando. Ele veio até mim e me beijou demoradamente.

– O que foi isso? – perguntei.

– Só estou traumatizando a sua filha – ele respondeu com um sorriso. Normalmente, Avery teria feito uma piada ou algo do tipo, mas apenas fez uma careta irritada que só ela sabia fazer, mostrando que não estava achando graça naquilo, o que não acontecia sempre.

Sentei-me na mesa e ficamos nos encarando por alguns minutos enquanto Avery terminava seus cereais e eu tomava café. Eu queria entender porque ela estava assim, afinal, Carl e ela contavam os dias para que a patrulha chegasse e, quando ela finalmente chegou, Avery não estava alegre como eu imaginava que estaria.

– O que foi? – finalmente falei cansada por esperar que ela tomasse a iniciativa.

– O que foi o quê? Você é quem está me olhando desse jeito!

– Por que você está irritada e respondendo todos como se alguém estivesse te ameaçando?

– Esperava que eu estivesse como? – eu já estava me irritando com as respostas em forma de perguntas que ela fazia.

– Feliz, ansiosa...

– Estou ansiosa, por isso estou irritada! Além de estar com dor de cabeça. Eu podia ter tido dor de cabeça ontem, anteontem, semana passada, a vida inteira, mas não hoje! Hoje tem que dar tudo certo. É a minha chance de mostrar que já sou adulta.

– Ave, você não precisa provar nada. Não são as patrulhas que vão fazer os outros confiarem em você. Sei que já é uma adulta, e que quer mais autonomia. Não deixavam que vocês saíssem antes para evitar que algo acontecesse. Tudo tem seu tempo, e agora vocês já devem ter 18 anos, estão preparados para arcar com maiores responsabilidades e são mais capazes, isso nos deixa despreocupados para deixá-los sair.

– Ai meu Deus! Você e o Daryl vivem falando de tempo. Parecem velhos! – pela primeira vez no dia ela deu uma resposta em tom de brincadeira, apesar de a irritação persistir. Eu não podia culpá-la por isso, afinal, jovens são ansiosos, querem tudo na mesma hora. Eu já havia passado por essa fase e compreendia isso.

– Agora vá na enfermaria e veja se a Sarah tem algum remédio para essa dor de cabeça! – mudei de assunto num tom mais humorado.

– Adoro plantas! – ela sorriu ironicamente e se levantou.

*Narrado por Sarah Grimes

Eu fazia uma trança nos cabelos de Grace enquanto Rick repassava as instruções para Carl e checava as armas e mantimentos para a missão pela terceira vez. A missão não tinha um líder definido, mas Carl era tratado como tal, já que Scott não quisera assumir a responsabilidade, alegando que Carl era mais preparado para isso.

– O Carl vai demorar muito? – Grace perguntou sem se mexer por causa da trança.

– Não sei – respondi. Não havia um prazo estipulado para a patrulha, mas deveria ser algo de três a sete dias. – Eles devem voltar logo.

– Vou sentir saudades dele – ela comentou quando eu terminei de arrumar seus cabelos. – Agora posso ir brincar?

– Sem se despedir do seu irmão? Pensei que fosse sentir saudades! – na mesma hora ela correu até o local onde Carl e Rick estavam e pulou no colo do irmão.

– Boa sorte! – ela beijou a bochecha dele e desceu. – Volta logo, viu?

– Tudo bem, bonequinha – Carl disse sorrindo. Grace se virou e correu até o local onde ela costumava brincar com Sam e Hesh.

O apelido “bonequinha” havia sido dado por Daryl, assim como a maioria dos apelidos. Todos acabaram aderindo, até Hesh costumava usá-los com frequência. Eu não tinha nada contra o apelido de minha filha, mas costumava chamá-la apenas pelo nome. Rick e Carl continuaram os preparativos para a missão e eu me levantei para ir à enfermaria e ler antes de começassem a fazer o almoço. No caminho encontrei Avery, que se dirigia para o mesmo local que eu.

– Precisa de alguma coisa? – perguntei enquanto entrávamos na tenda.

– Preciso de um remédio para dor de cabeça, mas não quero chás ou folhas.

– Certo, acho que tenho um ou dois comprimidos aqui – falei procurando nas várias gavetas. Enquanto isso, Avery se sentou na cadeira que ficava de frente para a minha, dando um suspiro. – Está tão ruim assim?

– Sim, e ainda tenho que ficar aturando o café da manhã divertidíssimo em família... Toda manhã é a mesma coisa. Eu nem preciso olhar debaixo da mesa para saber que o Sam está balançando as pernas de felicidade, ele sempre acaba me chutando. Todos os dias é a mesma coisa, a mesma caneca, a mesma comida, os mesmos assuntos! Ainda bem que eu tenho uma missão, mas quando ela finalmente chega a minha cabeça está explodindo! – ela disse com um pouco de irritação e sem fazer nenhuma pausa.

– Aqui está. Se não passar até a hora da missão, me avise que eu te entrego remédios para a viagem – entreguei um comprimido para ela.

– Obrigada pelo remédio e por escutar tudo. Sei que Sam é uma criança, mas a felicidade dele me irrita – Avery se levantou e saiu da tenda.

Em seguida, Abraham e Rosita entraram no local. Ele deveria ter uns 40 anos ou mais, era alto, forte, tinha cabelos ruivos, assim como o seu bigode em forma de uma ferradura, e possuía olhos azuis. Abraham era um homem centrado, que levava a sobrevivência a sério e fazia muito pelo grupo. Rosita tinha olhos castanhos, cabelos negros, aparência latina, tendo algo próximo de 25 anos. Sua personalidade havia mudado muito depois da gravidez, ela se tornara uma mulher mais séria.

Ela se sentou na cadeira e ele ficou de pé ao lado dela. Eu pensava em ir até a tenda deles no final da tarde para examiná-la, mas o fato de Rosita ter saído um pouco era ótimo. Como Gabriela costumava dizer durante a sua gestação, gravidez não é uma doença, apesar de as pessoas interpretarem assim.

– Vejo que você melhorou desde a última vez que te examinei – disse. Antes, ela não conseguia nem ficar de pé, mas já estava andando.

– Me sinto bem melhor – ela respondeu com um fraco sorriso. Apesar do aparente bem estar, Rosita estava muito abatida, com olheiras e muito pálida. – Mas Abraham insistiu que eu passasse aqui.

– Como já disse antes, as dores são normais, só apontam que o parto está próximo. Você precisa evitar esforço físico, mas não deve ficar o dia inteiro dentro da tenda. Pode andar um pouco, tomar Sol...

– Quantas semanas você acha que falta? – Rosita perguntou. Abraham não dizia nada, apenas permanecia ao lado dela com a mesma expressão séria e preocupada, prestando atenção em tudo que eu dizia.

– Se tudo correr bem, daqui a quatro semanas. Mas temos que ficar preparados para tudo, o parto pode vir antes desse período. Por isso vou passar algumas recomendações, tanto para você como para Abraham.

*Narrado por Avery Hopper

Estava quase tudo pronto para a missão. A caminhonete de cabine dupla já estava com o tanque cheio e abastecida de suprimentos. Nossas armas estavam carregadas e tínhamos munição extra. A dor de cabeça havia passado, mas a ansiedade não. Eu estava inquieta, e minhas mãos pareciam tremer um pouco.

Então chegou a hora das despedidas. Todos estavam aglomerados perto dos carros, e até mesmo Abraham e Rosita estavam lá. Fui até Sam para me despedir dele.

– Vai cuidar da mamãe pra mim? – perguntei me agachando para ficar da altura dele.

– Papai já pediu isso. Claro que eu vou cuidar dela.

– E eu posso ganhar um abraço? – ele me abraçou com força e depois me levantei, indo em direção à nossa mãe.

– Antes eu sempre saía, agora é a sua vez – ela falou. – Minha vez de ficar preocupada...

– Você sempre fica preocupada! – sorri e nos abraçamos, assim como fazíamos quando ela ia embora.

– Apenas tome cuidado – ela disse depois de dar um beijo na minha testa. – E boa sorte.

Daryl se aproximou e eu comecei a sentir que estava segurando vela. Minha mãe o beijou como se fosse a última vez e falou algumas coisas num tom preocupado. Sempre que Daryl saía ela ficava aflita, e ele permanecia confiante, afinal, Daryl já fazia isso havia muito tempo e todas as vezes acabava voltando. Fui saindo de fininho, uma vez que não havia mais nada para fazer ali além de ficar ao lado dos dois enquanto se despediam.

Fui até a caminhonete e encostei meu corpo na lateral do carro enquanto esperava que Tyreese, Scott e Daryl entrassem no carro. Carl estava ao meu lado com um olhar sério, mas a sua ansiedade também era visível. Scott e Mika estavam conversando perto da caminhonete. Novamente me senti segurando vela. Seria possível ter um momento de paz nessa base sem um casal por perto?

– Não se arrisque muito. Vou ficar preocupada – ela falou. Mika era uns trinta centímetros menor que Scott, e não alcançava nem o queixo dele. Isso o fazia parecer ser mais velho que ela, quando os dois tinham a mesma idade. Mesmo não gostando de segurar vela, eu torcia para que finalmente acontecesse alguma coisa entre eles. Mika arrumou a gola do casaco de Scott e depois ficou na ponta dos pés para abraçá-lo.

– Não precisa se preocupar. Eu volto logo.

Scott entrou no carro e isso soou como um alerta para que finalmente Daryl e Tyreese se juntassem a nós. Daryl assumiu a volante, Tyreese ficou no banco do passageiro e eu fiquei entre os dois garotos no banco de trás.

Finalmente havia parado para pensar na minha situação. A missão, que antes parecia algo tão distante, começava a acontecer. Tudo fora muito rápido, os preparativos e a despedida. Eu deveria estar muito apreensiva, mas, depois de tudo que havíamos passado, parecia que éramos invencíveis, e a preocupação parecia ser algo passado.

Talvez não fôssemos tão invencíveis assim. Mesmo depois de superarmos tantas coisas, ainda perdemos Patrick. O hotel, assim como a prisão, parecia ser algo para sempre, mas se foi e levou meu amigo junto. Patrick permanecia vivo em minha memória, eu até podia vê-lo. Enquanto seguíamos pela estrada eu podia jurar que havia um garoto alto de óculos redondos que corria ao lado do carro, fugindo desesperadamente de uma manada que o seguia.

Continuei olhando pela janela enquanto o carro seguia quase na velocidade máxima. Todos continuaram em silêncio, e raramente nos encarávamos, até que a fábrica abandonada finalmente apareceu no horizonte. Quando chegamos lá, Daryl parou o carro e desceu seguido por Tyreese, e eu fiz o mesmo, já que assumiria o volante.

– Agora vocês estão por conta própria – Daryl falou. – Lembrem-se dos preparativos e ensinamentos com manejo de armas que Abraham deu, e tenho certeza que vai correr tudo bem. Boa sorte.

– Acho que já me disseram isso várias vezes hoje – disse em um tom descontraído, como sempre me dirigia a ele.

– Algumas pessoas acreditam que, se você diz muito algo, isso acaba acontecendo – eu sabia que Daryl não era uma dessas pessoas, ele só estava, mais uma vez, brincando comigo.

– Nós vamos precisar mesmo de sorte, e vocês também. Como vocês pretendem voltar?

– A pé. Não vamos demorar muito, apenas ver se lá tem os materiais que Rick e Eugene precisam. Devemos voltar hoje mesmo.

– Está bem, boa sorte então – Daryl deu um tapinha no meu ombro e eu me dirigi para o banco do motorista.


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Notas finais do capítulo

Como vocês viram, não mudamos a aparência da Avery. Mas mudamos as de Scott e Mika, já que eles eram crianças bem pequenas e ocorrem muitas mudanças físicas nessa transição de fase, e Avery e Carl já haviam transgredido.
Scott: http://31.media.tumblr.com/tumblr_ma8qjcj3Ia1rf5j4io1_1280.jpg
Mika: http://images2.fanpop.com/images/photos/5700000/AnnaSophia-Photoshoot-annasophia-robb-5768499-296-400.jpg
Então o que acharam? Não se esqueçam de comentar e até o próximo!