Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 4
Franklin D. Roosevelt State Park


Notas iniciais do capítulo

Desculpem pela demora! O que acharam da nova capa?
Gostaram do primeiro episódio da 4ª temporada? Só queremos deixar bem claro que não iremos seguir os acontecimentos dela!
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/423724/chapter/4

*Narrado por Gabriela Hopper

– Pode ligar o rádio? – ela falou depois de um tempo.

– Você acha que alguma estação vai pegar?

– Sei lá. É que você tem um monte de CDs legais – enquanto dizia isso,ela revirava o porta-luvas do meu carro.

– Pensei que adolescentes gostassem de “bandinhas”.

– Eu curto Queen! – falou toda metida a garota de 13 anos que gostava de uma banda antiga.

– Eram do meu pai. Nunca os ouvi.

– Seu pai foi mordido?

– Não. Ele morreu faz um ano. Eu não falava com ele há muito tempo. Depois disso trouxe minha mãe para morar comigo. Ela foi mordida.

– Onde você morava? Aqui perto?

– Sim, em Columbus.

– Sério? – ela quase gritou. – Eu era de lá. Como nunca nos vimos?

– Minha vida era muito monótona. Eu só passava pelos mesmos lugares. Nunca me preocupei em conhecer a cidade, as pessoas... Só conhecia o caminho da minha casa, do meu trabalho, do supermercado...

– Nossa! Desse jeito parece que sua vida era chata.

– Acho que era. Só notei isso há pouco tempo e acabei perdendo tudo – depois que falei isso, ficamos um bom tempo em silêncio.

– Minha mãe também foi mordida. E o meu pai. Eles não ligavam muito pra mim, principalmente o meu pai. Ele dizia que não era meu pai. Nunca entendi porque ele resolveu criar uma filha que não era dele. Minha mãe sempre defendia ele, tentava me fazer entender as coisas que ele me falava. Ela achava que devia algo a ele.

– Eu... Eu não posso dizer que te entendo, seria uma mentira. Meus pais gostavam muito de mim, mas eu pensei que não precisasse mais deles e me afastei. Mas eu sinto muito por você ter que passar por isso.

– Tudo bem. Ninguém me entende – ela abaixou a cabeça. – Ele foi chato comigo a vida toda, mas quando ele estava morrendo, falou que estava feliz por eu ter me salvado. Não entendo isso.

– Talvez ele gostasse de você, mas tivesse medo de admitir isso – depois disso, ela ficou em silêncio e de cabeça baixa.

Andamos por um bom tempo, talvez meia hora, até que ela resolveu voltar a falar.

– Ontem, na hora do jantar, meu pai passou umas instruções que o Exército estava dando.

– Seu pai era do Exército?

– Tenente Dickens – ela riu.

– O que ele falou? Algo importante?

– Muito! Os walkers são atraídos por som, se você fizer muito barulho eles te encontram, então evite usar armas de fogo, só em último caso. Eles conseguem te diferenciar de outro mordedor porque eles têm cheiro de cadáver, nós não. Você já deve ter visto na TV que tem que acertar o cérebro. E evite ficar sozinha.

– Realmente, isso é importante.

– Já aprendeu tudo que tinha para aprender comigo. Agora é a sua vez.

– Como assim?

– Você tem comida?

– Não o suficiente... – o que eu tinha não dava nem para um dia, como eu dividiria com outra pessoa?

– Talvez eu possa te ajudar... – ela abriu a mochila e eu pude ver um monte de barras de chocolate, de cereais, salgadinhos, e outras coisas que tinham naquelas máquinas de lanche.

– Como conseguiu isso?

– Quebrei uma máquina de lanches num posto de gasolina.

– Passei por uma dessas mais tarde, antes de te encontrar.

– Quer? – ela ofereceu e eu peguei uma barrinha.

– Meu relógio! – ela enfiou a mão no fundo da mochila e pegou um belo relógio de pulso. – Que bom que ainda está certo – ela deu corda nele e o colocou no pulso.

– O que acha de pararmos por hoje? Podemos continuar amanhã – mal terminei de falar, ouvi um barulho muito estranho e o carro tremeu. – Será que atropelei algo?

– Vamos olhar! – ela desceu do carro e eu fui atrás.

Fomos até a parte traseira e eu entendi o que estava acontecendo: o pneu do carro estourou.

– Você tem um reserva, não é? – ela perguntou.

– Não – fiz uma careta.

– Como não?

– Ele estourou há um tempo e eu me esqueci de comprar outro.

– Você é esquecida de mais!

– Eu estou fazendo um favor e você ainda reclama!

– Não precisa ser hostil! – ela falou com uma voz fofa e eu ri.

– Vamos passar a noite no carro e amanhã resolvemos isso.

– Não tem nada pra resolver, vamos a pé de manhã.

– Sério? – eu odiava andar.

– Como você espera chegar a Atlanta? Voando? – ela ironizou.

– Desde quando você toma as decisões?

– Você não precisa ir, posso muito bem andar sozinha.

– Mas seu pai te falou que é importante não ficar sozinha.

– Nesse caso, você vem comigo, ou nós duas ficaremos sozinhas.

– Tudo bem! – entrei no carro e ela entrou no banco de trás.

Eu inclinei meu banco e dormi meio sentada. Ela ficou com os três bancos de trás. Antes de dormirmos, notei que ela segurava um colar em formato de coração.

– E esse colar? – perguntei.

– Minha mãe me deu. É a única coisa que tenho dela agora.

– Parece ser especial.

– É. Ela me deu quando eu fugi de casa. Meu pai brigou comigo, então eu escrevi um bilhete e fui para uma pracinha. Ela conseguiu me encontrar e me deu isso para que eu me lembrasse o quanto era especial – a mãe dela estava certa, ela realmente era uma garota especial.

– Boa noite.

No dia seguinte, acordei com uma batida no vidro. Demorei um pouco para conseguir ver, mas eu tinha certeza que o que bateu no vidro era um walker (Avery conseguiu me passar essa mania).

– Avery, acorda! – sussurrei.

– O que foi? – ela perguntou toda sonolenta.

– Como mato ele? – indiquei o mordedor que batia a cabeça contra o vidro, manchando-o.

– Abre a porta nele.

– Não! Vai sujar o carro – pode parecer idiota, mas eu odiava ver meu carro sujo.

– Então sai pelo outro lado e corta a cabeça dele.

Resolvi seguir o conselho dela e consegui matá-lo, mas o vidro já havia sido danificado. Voltei para o carro e tomamos um café da manhã improvisado.

– Podemos ir? – ela falou toda animada.

– Já?

– Claro! – ela abriu a porta do carro.

– Espera me dá um tempo pra arrumar as malas. Não dá pra andar carregando isso tudo – apontei para as duas malas que eu havia trazido.

– Vou te ajudar.

Conseguimos separar o que era realmente necessário (isso incluía a blusa que minha mãe fez) do supérfluo.

– E essa blusa? Parece costurada à mão.

– Isso? – era aquela blusa.

– Falando assim parece que é feia!

– E você acha bonita?

– Se acha ela feia, por que a trouxe?

– Minha mãe costurou e me deu de presente. Odeio essa blusa, mas trouxe para poder me lembrar daquele dia que deixei meus pais, me lembrar dela – passei a mão pela blusa.

– É confortável. Você vai levar?

– Claro! – coloquei a blusa na mala.

– Você matou ela?

– O quê?

– A sua mãe. Você disse que ela foi mordida.

– Não! Quer dizer, sim. Depois que ela se transformou.

– Eu nem vi meus pais sendo mordidos... Minha mãe me mandou correr, e foi isso que eu fiz.

Conseguimos reduzir as minhas duas enormes malas para apenas uma, e o resto ficou no carro. Depois disso nós saímos.

– Não acredito que vou abandonar o meu carro.

– Sua vida mudou. Você precisa aceitar a mudança. Ou prefere empurrar o carro até lá?

– Pelo menos teríamos um lugar para dormir. Não dá para chegar lá hoje!

– Quem disse que podemos dormir? Um mínimo descuido e seremos devoradas! – ela tentou me apavorar. – Já são sete da manhã, você consegue calcular o tempo que vamos levar?

– Umas... Mais de trinta horas! – não dava pra fazer isso. Tive vontade de voltar, mas isso seria uma perda de tempo.

Avery segurava seu taco de beisebol e levava sua mochila nas costas. Eu segurava meu machado e a mala. De vez em quando comíamos um pouco.

Às vezes me pegava olhando para ela. De certa forma, me sentia responsável por ela. Por trás disso, havia um sentimento maior do que a culpa por quase atropelá-la, eu tinha que cuidar dela, garantir que Avery estivesse segura.

– Como você era na escola? – perguntei depois de um longo tempo de caminhada.

– Eu não era a aluna perfeita, mas minhas notas eram aceitáveis. Nunca fui reprovada, mas nunca gostei muito de estudar. Eu também não era popular, mas não era excluída. Fazia parte de um grupo de sete amigas, contando comigo.

– E seus pais? Tinham orgulho de você?

– Eu não mostrava meus boletins pro meu pai, ele não iria ligar. Quando eu mostrava para a minha mãe, ela parecia ficar feliz. E você, como era no trabalho?

– Trabalhava na área administrativa de uma empresa de eletrônicos. Poso dizer que era bem sucedida. Eu ganhava muito bem e morava sozinha. Fui afastada recentemente da empresa porque tive uma reação aguda ao estresse. O pior é pensar que trabalhei tanto para garantir a minha aposentadoria e agora isso não faz mais sentido. Você acha que isso pode acabar?

– Talvez sim. Pelo que meu pai falou, tem unidades do Exército protegendo as pessoas. Mas, por enquanto, temos que achar um lugar seguro. Só não sei como isso se espalhou tão rápido...

– Deve ter sido por causa da falta de aviso. Isso pode ter começado semana passada, mas só avisaram ontem.

– Ontem? Antes de ontem eu vi um general falando disso na televisão. Pediram para as pessoas irem para as escolas e hospitais, mas eles lotaram, e ontem pediram para que fossem até Atlanta...

– Antes de ontem?

– É.

– Minha mãe me proibiu de ver televisão por causa do problema que eu tive. Ela me isolou do mundo, não me deixava nem ler jornal!

Passamos mais um bom tempo andando (já eram quatro e poucas da tarde). Depois de um tempo, avistamos uma placa enorme dizendo: “Franklin D. Roosevelt State Park” e havia uma seta apontando para frente.

– Acha que falta muito para chegar lá? – ela falou um pouco animada.

– Quer dormir no parque? Deve estar tomado por mordedores!

– Sei lá. Já passei um verão nesse parque. Ele é legal. Poderíamos passar lá.

– E mudar a rota? Vamos perder mais tempo.

– Tudo bem – ela lamentou.

Depois de umas duas horas caminhando, encontramos outra placa.

“Franklin D. Roosevelt State Park” e uma seta para a direita.

– Vamos! Por favor, Gabriela! – ela insistiu. Acho que era a primeira vez que Avery falava o meu nome.

– É muito longe daqui?

– Rapidinho! Vamos! Já está escurecendo!

– E se não tiver nada lá? – eu não queria perder mais tempo.

– Tem uns chalés! Já estive lá!

– E se tiver walkers? Centenas deles?

– Nós voltamos.

– Como se isso não fosse nos prejudicar! – revirei os olhos e mudei de direção.

Eu já estava bem cansada e realmente estava escurecendo. Eu só tinha medo de chegar lá e dar de cara com aquelas aberrações. Seguimos pelo pequeno caminho de terra por algum tempo, e quando eu esperava uma cena horrenda, vi uma pessoa.

– Estão vivas? Infectadas? Têm armas? – levantei as mãos e Avery fez o mesmo.

– Estamos vivas! Não fomos mordidas! – quase gritei. O homem apontava uma arma na minha cabeça.

– Josh! – ele virou a cabeça para trás, mas ainda nos fitava com atenção.

De repente, algo cortou o ar próximo á minha cabeça, mas atingiu alguma coisa atrás de mim. Virei-me rapidamente e só pude ver um walker jogado no chão com uma estaca de madeira fincada na cabeça.

Voltei-me para frente e vi um homem alto e forte sorrindo. Logo atrás dele, chegou uma mulher loira (parecida com ele). Ela apoiou o cotovelo em seu ombro e também sorriu.

– Mano, sua mira está cada dia melhor!

– Obrigado! Elias, quem são as convidadas? – ele passou por nós e arrancou a estaca da cabeça do mordedor.

– Não sei. Parece que estão limpas, mas têm armas.

– Como se chamam? – o homem (Josh) se aproximou de nós.

– Eu sou Gabriela e esta é a Avery.

– O que fazem aqui? – ele girava a estaca nas mãos.

– Nós... Estávamos indo para Atlanta, mas meu carro quebrou e precisamos de um lugar para passar a noite.

– Atlanta?

– Sim.

– Tudo bem. Só me passem as armas.

– Por que mataríamos vocês? – Avery finalmente se pronunciou.

– Só por precaução. Não conhecemos vocês. Venham, vamos mostrar os chalés – ele se virou e o seguimos.

– O 3 ainda está aí? – ela perguntou.

– O chalé 3? – a mulher que andava ao lado de Josh falou.

– É. Eu já passei um verão aqui e fiquei no 3.

– Querem ficar com ele? Está meio bagunçado, mas dá para arrumar.

Paramos em frente a umas mesinhas de madeira, onde haviam outras pessoas.

– Desculpem, ainda não nos apresentamos. Eu sou Josh, essa aqui é a Kate, minha irmãzinha – ela falou abraçando (quase sufocando) a irmã, que tentava se soltar. – E esse é o meu pessoal. Não precisamos falar disso agora. Peguem suas coisas e podem entrar. Sabe onde fica o 3? – ele perguntou para Avery.

– Claro! – ela saiu correndo.

– Muito obrigada! De verdade! Boa noite! – fui atrás dela.

Quando entramos no chalé, ele realmente estava bagunçado. Era como se as pessoas tivessem saído e deixado tudo para trás. As gavetas estavam entreabertas e tinham algumas roupas. Além disso, os móveis estavam um pouco empoeirados.

– Temos um belo trabalho pela frente – falei soltando a mala no chão.

Passamos uma hora arrumando aquilo, até tornar o lugar habitável.

– Boa noite, Ave! – dei um beijo em sua testa e me deitei.

– Boa noite! - ela sussurrou.

Depois disso, tive uma das melhores noites de sono da minha vida, mesmo que num colchão fino.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

O que acharam do capí­tulo? Gostaram? Muito grande? Muito pequeno? O que acham do novo grupo?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Born to Die" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.