Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 19
De mãe para filha


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o capítulo, como prometemos. O próximo será muito importante e será postado depois de amanhã.
Boa leitura!



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*Narrado por Gabriela Hopper

Já estava escurecendo quando o carro começou a ficar cada vez mais lento até parar no meio da estrada. Ouve um breve minuto de silêncio, até que a mulher deu um soco na buzina do carro e logo em seguida o som característico de “sirene” ecoou pelo carro.

– Merda! – a mulher exclamou pressionando outra vez a buzina. – Droga Malcom! Quando foi a última vez que você abasteceu o carro?

– O posto não tinha mais gasolina! – o homem, ou melhor, Malcom disse e a mulher exaltada apertou a buzina com força pela terceira vez. – Quer parar de fazer isso Rose?

– Isso, fala meu nome para essas vadiazinhas!

– Como se ela não tivesse revelado o nome dele antes – Avery sussurrou para mim.

– Ave, temos que tomar cuidado – sussurrei e ela balançou a cabeça concordando. – Não sabemos o que eles querem e nem o que são capazes, além disso, não temos nossas armas.

– O que vamos fazer? – Rose perguntou saindo do carro confusa.

– Vamos continuar com o plano – Malcom respondeu indo até ela. – Saiam as duas do carro.

– Se isso fosse possível – Avery disse baixo.

– Bem, acho que isso não é possível, já que estamos amarradas – falei.

– “Acho que isso não é possível” – Rose disse com deboche. – Como você consegue manter a calma, sua vadia?

– Alguém tem que segurar os ânimos, não é mesmo? – disse num tom provocativo. Minha paciência estava por um fio.

– Agora já chega! – Malcom me puxou para fora do carro e depois fez o mesmo com Avery.

Eu caí com força no acostamento cheio de cascalho e com dificuldade me sentei da melhor maneira possível, ficando de costas para Avery. Malcom e Rose começaram a nos rodear com os olhos fixos em nós duas.

– Vocês queriam saber por que levamos vocês até aqui, não é mesmo? – Malcom perguntou.

– Claro – disse Avery na mesma hora.

– É o seguinte: queremos tudo que vocês têm. Armas, suprimentos – ele falou.

– Isso é tudo que temos – afirmei. – Só nos restam algumas barras de cereal, mais nada!

Rose abriu a minha bolsa na mesma hora e tirou todas as barras de cereias que tínhamos e a minha garrafa de água, em seguida faz o mesmo com a mochila da minha filha, tirando barras de chocolate que estavam quase que em estado líquido.

– Achou que ia esconder isso da gente? Achou que era mais esperta? – Rose disse visivelmente alterada.

– Fique com eles se quiser, já estão derretidas – falei. – Não servem mais para nada.

– É, os chocolates já devem estar estragados – Ave disse.

– Calem a boca as duas! – Rose exclamou irritada. – Não serve para vocês! Precisamos de comida! Necessitamos dela!

A mulher desabou no chão aos prantos, para mim foi algo estranho e inusitado, porém a expressão facial de Malcom dizia que o choro da mulher era algo normal. Por mais que aquele casal tivesse passado por acontecimentos mais duros do que eu e minha filha tivemos nesse novo mundo, não justificava o que eles estavam fazendo.

– Calma Rose! – o homem pediu tentando consolá-la, porém a mulher não deixou. Malcom se levantou e deu um suspiro. – Fazemos parte de um acampamento, um tanto longe daqui. Temos deveres nesse lugar. Temos que trazer comida, nosso prazo já esta se esgotando.

– Só falta mais um dia, eu sei disso porque contei – a mulher disse com voz chorosa.

– Se não trouxermos comida, não precisamos voltar – ele falou pausadamente. – Não sei se vocês dão importância para um lugar seguro, mas eu e a minha mulher damos. Quando essa merda começou tentamos viver por conta própria e nosso filho, Daniel morreu...

– O meu menino – Rose disse. – Ele só tinha 5 anos – tive uma vontade súbita de dizer “sinto muito” ou qualquer outra coisa que a consolasse. Deve ser muito difícil perder um filho. Eu mesma não queria nem pretendia passar por aquela situação, não queria perder minha Ave. – 5 anos!

– Então vocês vão dizer agora onde estão os suprimentos? – ele perguntou apontando a arma para minha cabeça.

– Não temos mais nada! – Avery disse um tanto desesperada quando viu que Malcom apontava a arma para mim.

– Tem sim! Tem que ter! – a mulher esperneou. – Tem que ter, essas vadias estão mentindo!

Eu queria gritar e berrar com aquela mulher, minha paciência já havia se esgotado com ela. Mas eu também estava chocada com aquela situação, a que ponto a humanidade havia chegado, um sobrevivente roubando os suprimentos do outro. As pessoas deveriam se unir contra os walkers, não facilitar o trabalho deles.

– Se acalma amor – o homem a segurou pelos ombros obrigando-a a olhá-lo nos olhos. – Vamos conseguir, eu prometo.

– Eu vou fumar um pouco – ela falou tirando um isqueiro vermelho e um cigarro do bolso da jaqueta preta. – Sabe, me ajuda a relaxar.

Tudo ficou silencioso por um tempo enquanto Rose fumava e Malcom parecia avaliar a situação. Por um tempo só foi possível escutar nossas respirações e Rose fumando. Estava uma noite estrelada e tranquila, porém mudou quando não só eu, mas Avery e Malcom escutamos um barulho de passos e galhos secos se quebrando.

– Você ouviu isso Rose? – ele perguntou.

– Ouvir o quê? – ela disse dando outra tragada. Aquele cheiro de cigarro era mais do que insuportável.

– Não é nada muito grave – Malcom falou. – Acho que são algumas bestas caminhantes. Você pode tomar conta delas para mim?

Rose o respondeu com um aceno de cabeça e Malcom adentrou na mata com um pé de cabra. Rose ficou nos rodeando e exalando aquela fumaça horrenda que ia parar no meu rosto e o de Ave, que deveria estar fazendo caretas.

– Não gosta disso? – Rose perguntou para Avery enquanto finalizava seu cigarro. – Vou pegar outro maço e você não pode fazer nada, loirinha!

Ela se afastou e foi até o carro. Avery se aproximou de mim, aproveitando que ela estava longe e não prestava atenção em nós.

– Tem alguma ideia para sairmos daqui? – ela perguntou.

– Primeiro precisamos soltar nossas mãos – falei. – Acha que consegue fazer isso?

Ela começou a soltar as cordas que prendiam as minhas mãos. Antes de qualquer coisa, quando tive minhas mãos livres, massageei meus pulsos um de cada vez. Logo em seguida soltei as cordas que amarravam os pulsos da minha filha.

– E agora? – ela perguntou.

– Não podemos sair correndo sem nossas armas e para isso temos que dar um jeito na Rose. Vamos apagá-la.

– Claro – Avery concordou com meu raciocínio. – Eu posso dar uma rasteira nela. Vai ser legal.

– Parem de cochichar! – Rose mandou se aproximando.

–Agora – falei.

No mesmo instante Ave me obedeceu dando uma rasteira que acertou em cheio as duas pernas de Rose, que caiu no chão de cascalho. Não dei chance para que ela se recuperasse e fiquei em cima dela. Segurei a cabeça de Rose, que parecia estar em transe, sem entender o que estava acontecendo por causa do choque. Bati a sua cabeça dela contra o chão três vezes. Isso não foi o suficiente para apagá-la, juntei todas as forças que tinha e bati mais uma vez, até que ela desmaiou.

– Vamos Ave – falei saindo de cima do corpo da mulher que estava inconsciente.

– Só tenho que pegar meu taco e o seu machado – ela disse entrando no carro e retirando nossas coisas.

Juntamos tudo que estava espalhado pelo chão, incluindo a comida e corremos o mais rápido que pudemos pela rodovia, sempre pela direção norte, já que não tínhamos noção da nossa localização. Sem olhar para trás corremos por mais de vinte minutos, até que o desgaste e o cansaço vieram.

*Narrado por Avery Dickens

Estávamos muito cansadas, mas era quase impossível parar. Era como se aqueles dois pudessem nos alcançar a qualquer momento, sem contar com os walkers.

– O que acha de pararmos? – minha mãe perguntou se sentando no pé de uma árvore.

– É seguro?

– Eu posso vigiar – ela respondeu e eu me sentei em seu colo, apoiando a cabeça no ombro dela.

– Temos que fazer turnos – sugeri.

– Tudo bem. Pode dormir, eu te acordo quando chegar a sua vez.

– Não sei se consigo dormir. Nós nos separamos do Josh e do Scott, fugimos de uma horda de mordedores e fomos sequestradas por um casal que precisava desesperadamente de comida! Não sabemos o que vai acontecer amanhã, nem depois. Estamos do lado de fora! Eu... Eu estou com medo – admiti.

– Podemos fazer alguma coisa para relaxar. O que te deixa calma? – ela perguntou.

– Música! Mas não acho que você conheça alguma...

– Eu conheço. E você? – ela provocou.

– Depende de qual música você está falando! Eu vou cantar uma, se você não conhecê-la pode me acompanhar no refrão.

Ela assentiu e eu comecei a cantar, quase sussurrando. Minha mãe não conhecia a música, ficou apenas me ouvindo e passando a mão em meus cabelos. Eu comecei a ficar com sono, mas consegui terminar de cantar. Aquela canção tinha muito a ver com a nossa situação.

Acordei com uma luz em meus olhos. Já estava de dia e eu pude ver minha mãe em pé um pouco longe, vigiando as redondezas.

– Por que não me acordou? – perguntei indo até ela.

– Não foi necessário – ela respondeu sem tirar os olhos do horizonte.

Fiquei em pé ao seu lado por um tempo. Coloquei as mãos na nuca e só então senti a falta de algo.

– Meu colar! Eu o deixei no parque! – exclamei me lembrando que o relógio também havia ficado lá.

– Eu sinto muito, esse colar era importante para você – ela pegou a minha mão.

– É. Era a única coisa que eu tinha da... Você sabe quem – tentei não falar da minha outra mãe.

– Filha, não tem problema você sentir a falta da sua mãe, eu entendo.

– É que... A minha mãe não era exatamente a melhor mãe do mundo, mas era a única pessoa que eu tinha. Não sei se você pensou nisso, mas eu te chamei de mãe naquele dia porque você é o mais próximo de mãe que eu já tive. Você cuidou de mim como seu eu fosse a sua filha de verdade.

– Falando nisso... – ela pareceu se lembrar de algo importante. – Na sua casa eu encontrei uma carta, do seu pai – falando isso, Gabriela tirou um papel do bolso do casaco. – Eu não li.

Peguei a carta. Eu não fazia a mínima ideia do que poderia estar escrito nela, nem mesmo o que meu pai poderia querer me dizer.

Avery,

O que eu tenho para te dizer é muito importante, nem sei como te dizer isso pessoalmente, por isso escrevi essa carta.

Começou há um tempo, eu e sua mãe estávamos casados há dois anos. Ela me traiu com outro homem, e eu descobri. Primeiro, eu tive vontade de nunca mais vê-la na vida, mas acabei a perdoando. Logo Rebecca me contou que estava grávida e ela me fez prometer que criaria essa criança como se fosse minha. Eu fiz tudo isso porque a amava.

Por todos esses anos eu joguei isso na sua cara e nunca tive dúvidas de que você não era minha filha, até que sua mãe me convenceu a fazer um teste de DNA. Para a nossa surpresa, eu realmente sou o seu pai, e me sinto muito envergonhado por ter te tratado mal.

Todos esses anos não fui o pai que você merecia, mas estou disposto a mudar se você me perdoar por isso. Filha, eu te amo e espero que você possa me entender um dia.

Ao ler isso, uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Não era uma lágrima de tristeza nem de alegria, era de indignação.

– O que foi? – minha mãe perguntou e eu lhe entreguei a carta para que ela lesse. – Como você está se sentindo? – foi a pergunta que ela me fez após a leitura.

– Eu... Eu estou com raiva dele. Eu passei por tanta coisa, ele me tratou tão mal por todo esse tempo e diz que me ama só porque descobriu que eu sou filha dele! As coisas não teriam sido mais fáceis se eles fizessem o exame de DNA antes? E ainda não tem coragem de me dizer isso pessoalmente! – eu estava com muita raiva dos dois, era como se a minha vida tivesse sido uma mentira. – Eu preferiria que ele não fosse o meu pai. Eu não quero mais falar sobre eles. Eu juro que nunca mais vou falar sobre eles – eu estava prometendo isso para mim mesma. – A partir de agora, eu sou Avery Hopper!

Minha mãe me abraçou com força. Ela sim cuidou de mim, ela era a minha mãe de verdade, a minha família. Ela não ligava se eu tinha o sangue dela.

– Ave, eu quero te dar uma coisa – dizendo isso, ela tirou um colar do pescoço. Eu nunca havia prestado atenção naquele objeto, ele era simples, porém bonito. – Esse colar está na minha família há muitas gerações, as mães o passavam para suas filhas. Eu dizia para a minha mãe que ele iria para o túmulo comigo porque eu não pretendia ter filhos, até aquele dia em que meu carro te encontrou. Eu quero que fique com ele porque quero que seja a minha filha.

Dizendo isso, minha mãe colocou o colar no meu pescoço. Uma lágrima escolheu pelo seu rosto. Eu a abracei.

– Eu te amo! – falei.

– Também te amo, filha – ela respondeu. – Mas agora precisamos andar.


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Notas finais do capítulo

Malcom Banner: http://img2.timeinc.net/people/i/2011/database/110214/christian-bale-300.jpg
Rose Banner: http://wpc.556e.edgecastcdn.net/80556E/img.news/NEhAymFyN8fFkp_1_3.jpg

Esperamos que tenham gostado. O que acharam do conteúdo da carta?
Até logo com o esperado capítulo da prisão!