Born to Die escrita por Agatha, Amélia


Capítulo 17
Dias passados


Notas iniciais do capítulo

Bem agora já estamos oficialmente em 2014!!!
O título foi uma homenagem as HQs de The Walking Dead e é um bom título para esse capítulo, já que se passou muito tempo depois da saída do parque.
Boa leitura!



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*Narrado por Gabriela Hopper

A pergunta que Scott havia feito no carro, na noite da invasão do parque foi respondida ao longo dos dias. Para onde nós iríamos? Para lugar nenhum.

Dias se passaram, muitos e muitos dias, ninguém sabia ao certo. Todos perderam a noção do tempo e, para falar a verdade, nada importava mais do que sobreviver. O tempo não importava mais.

Havia se passado muito tempo desde aquela noite, mas tudo ainda estava fresco em nossas memórias, todos tinham uma lembrança e eu tinha uma no meu rosto. Depois daquele tombo provocado por um walker, fiquei com uma cicatriz acima do lábio, no lado direito.

Agora, nós já confiávamos uns nos outros mais do que tudo e aquele tempo sem proteção foi bom para desenvolver as habilidades de Scott, que matara seu primeiro mordedor. O mundo do lado de fora era horrível e eu desejava com todas as minhas forças poder continuar no parque. Não havia vestígio humano por onde passamos, e todos sabiam que não dava para ficar no carro pra sempre.

A gasolina acabou e nós estávamos no meio do nada e sem saber para onde ir. Já havia anoitecido e Josh estava do lado de fora no seu turno de vigia, logo depois seria o meu.

Scott e Avery dormiram rapidamente, porém eu não estava com sono. Decidi acompanhar meu namorado em sua vigia solitária, havia tempos em que não tínhamos um momento a sós. Para falar a verdade, as conversas eram quase sempre raras naquele carro desde a noite da fuga.

Sentei ao seu lado e ficamos alguns minutos em silêncio apreciando o céu límpido e cheio de estrelas. O apocalipse fez ao menos um bem, fazendo com que o céu ficasse mais limpo, já que quase não havia mais poluição.

– Não está com sono? – ele perguntou.

– Não – respondi. – Já faz muito tempo desde nós tivemos uma conversa normal.

– E faz muito mais tempo desde a última vez que namoramos – ele falou dando um sorriso malicioso e me puxando para mais perto dele.

– É, faz sim – falei inclinando ligeiramente a cabeça.

Encostei a cabeça em seu ombro e ficamos assim por alguns minutos, apenas aproveitando a presença um do outro.

– Mudamos bastante desde aquele dia – ele falou. – Mentalmente, psicologicamente...

– E fisicamente também – falei interrompendo ele.

– De novo essa implicância com a cicatriz? – ele riu. Eu já havia manifestado “implicância” com a cicatriz algumas vezes.

– Não vá me dizer que você gostou! – falei irritada.

– Está horrível que nem você – Josh falou mostrando que seu sendo de humor estava voltando.

– É, mas eu não sou eu com essa cicatriz. Nunca vou me acostumar.

– Todos temos algo para lembrar das coisas ruins que passamos, cicatrizes. Às vezes elas são internas, mas também podem ser externas. Isso te ajuda a lembrar quem você é – ele disse.

– Por favor, não me fale mais dessa coisa! – pedi irritada, aquela cicatriz era horrível.

– Tudo bem, já que não gosta dela. Eles já dormiram? – Josh mudou de assunto.

– Sim. Não sei o porquê, mas eu sinto que o Scott está mais distante.

– O garoto perdeu o pai, e quando começou a se acostumar com isso perdeu a Molly e o Elias. Está sendo difícil pra ele. Você é mais ligada a Avery, ela te chamou de mãe naquela noite, não foi?

– É, foi só uma vez. Ainda não falamos sobre isso, estou dando um tempo a ela – falei. – Mas ela é como uma filha para mim e eu daria tudo, até minha vida, para que ela esteja a salvo e feliz.

– Seu olhar brilha e você dá o seu maior sorriso quando fala dela.

– Mas e ela? - perguntei

– Consigo ver a mesma coisa – ele respondeu. – Assim como você se sente mãe dela, a Avery sente que é sua filha. Interprete com uma adoção em circunstâncias adversas.

– Circunstâncias adversas? - disse rindo. – Você não muda mesmo!

– Gostaria que eu mudasse?

– Não – respondi. – Gosto de você do jeito que é.

Ele se aproximou e beijou.

– Senti saudades – consegui dizer em meio aos beijos.

*Narrado por Avery Dickins

Eu acordei com o sol no meu rosto. Dei um salto. Eu deveria ter acordado para o meu turno de vigia.

Ao meu lado, Scott dormia tranquilamente. O garoto havia crescido, agora aparentava ter uns onze anos de idade. Além de ter crescido fisicamente, ele havia amadurecido mentalmente. Scott agora não se sentia tão mal em matar um walker, talvez isso não fosse bem amadurecimento e sim o extinto de sobrevivência que estava se manifestado nele.

Olhei meu reflexo no pequeno retrovisor, meu cabelo estava pavoroso. Peguei um pente que havíamos pegado de uma farmácia há alguns meses, eu não sabia ao certo quanto tempo, e saí do carro. Lá fora eu teria mais espaço para tentar pentear o ninho pássaros que estava meu cabelo e esticar as pernas.

– Bom dia! – Gabriela e Josh saldaram ao mesmo tempo.

– Bom dia também – falei desanimada. – Posso saber o porquê de tanta alegria?

– E por que tanto desânimo? – Gabriela perguntou e eu fechei a cara e cruzei os braços.

– Muito simples, estamos no meio do nada, sem gasolina e no meio de um apocalipse – respondi – Claro eu poderia citar que não sabemos nem onde estamos, meu cabelo está um ninho de pássaros, não comemos algo decente há muito tempo e...

– Avery, chega de ser dramática! – ela exclamou.

Sentei-me no asfalto ao lado dos dois e tentei pentear meu cabelo, o que acabou se tornando uma missão quase que impossível, pelo menos para mim. Josh e Gabriela estavam mexendo em suas mochilas e retirando a pouca comida que ainda nos restava para compartilharmos quando Scott acordasse.

– Posso pentear para você se quiser – ela sugeriu.

– Vá em frente isso é quase impossível – falei me sentando no seu colo.

– Pode ser, mas eu tenho um truque – ela pegou o pente e começou a pentear meu cabelo.

– E qual truque mágico seria esse? – perguntei.

– Quando eu era mais nova, tinha mais o menos a sua idade, eu tinha um cabelo maior que o seu, abaixo da cintura – ela disse sem tirar a atenção do meu cabelo. – Sempre tive problemas com ele, até que minha mãe me ensinou esse truque. Penteei o cabelo sempre de baixo para cima, assim fica mais fácil – depois de alguns minutos ela completou. – Pronto, já acabei.

– Já? – perguntei surpresa e ela balançou a cabeça positivamente, logo depois eu a abracei. – Obrigada, mãe!

Ficamos assim por alguns segundos, até que eu decidi perguntar uma coisa que me incomodava há muito tempo. Eu não sabia ao certo como Gabriela havia reagido quando eu a chamei de mãe pela primeira vez.

– Tudo bem se eu te chamar de mãe? – perguntei e ela deu um largo sorriso.

– Claro Ave, vou ser o que você quiser e o que você precisar – ela disse me abraçando novamente. – Mas você sempre será minha filha.

– Não é estranho para você ganhar uma filha da minha idade?

– Não, isso é como... Meu deus, não sei por que vou dizer isso! Interprete como uma adoção em situação adversa.

– Então posso mudar meu sobrenome para Hopper? – perguntei. Avery Hopper, até que não soava mal.

–Acho melhor você mudar para Harris logo de uma vez – Josh falou e Gabriela fez uma careta.

Logo depois Scott acordou e tomamos, ou melhor, dizendo devoramos o café da manhã. A comida estava ficando escassa e não fazíamos ideia de como encontrar mais. Creio que Josh já tivesse um plano, já que ele estava bastante pensativo.

– Josh, tem algo em mente? – Gabriela perguntou notando que o namorado estava pensativo.

– Sim – ele respondeu. – Precisamos de comida e gasolina para continuar rodando – ele suspirou e pensou mais um pouco. – Eu tenho um plano, mas é loucura... Nunca daria certo.

– Pode ser loucura, mas pode ser a nossa única chance – Gabriela disse.

– Precisamos arriscar – Scott afirmou. Não tinha como discordar.

– Se todos vocês concordam... Estava pensando em nos separarmos em dois grupos. Um fica no carro e o outro sai pra achar alguma coisa. Eu vou sair. Scott dá pra vir comigo?

– Claro! – ele respondeu rapidamente.

– Então vocês duas ficam aqui e vigiam o carro – Josh concluiu.

– Muito legal, vigiar o carro! – falei frustrada.

– Vamos arrumar nossas coisas, temos que ir enquanto é cedo. Não dá pra ficar lá fora no escuro – ele falou e Scott foi pegar suas coisas no carro. – Vocês duas, não saiam daqui – Josh direcionou o olhar pra mim.

Quando tudo ficou pronto, eles foram se despedir. O sol ainda brilhava com a tradicional força matinal.

– Não vai me pedir pra matar alguns? – Scott perguntou.

– Não dessa vez. Por mais que eu goste de fazer isso, goste de matá-los, eu sei que isso é coisa séria, não é brincadeira – respondi seriamente e ele sorriu.

– É bom saber que você cresceu.

– Enquanto uns ficam mais altos, outros crescem mentalmente – brinquei.

– Toma cuidado e volta logo! – ela falou abraçando Josh. – Te amo.

– Também te amo. Vamos voltar antes que percebam.

Josh e Scott saíram levando a bolsa de armas e um pouco de comida. Deixaram apenas uma arma com minha mãe, o que era meio inútil, já que não sabíamos nem queríamos usá-las. Fiquei sentada na parte de cima do carro observando os dois saírem. Josh carregava uma mochila e a bolsa de armas. Scott segurava um enorme rifle com segurança.

Minha mãe foi dormir na hora do por do sol e eu fiquei sentada em cima do carro olhando para o horizonte. Eu tinha que me virar de vez em quando para poder olhar todos os lados. O clima estava bom, mas um vento gelado insistia em permanecer. De repente, algo me chamou a atenção quase fora do alcance da minha visão. Parecia um monte de pessoas se arrastando na nossa direção.

Era uma manada. Pulei do carro e abri a porta.

– Uma manada! – falei e ela acordou bruscamente.

– Manada? – minha mãe perguntou pegando a arma.

– É! Temos que sair daqui! Estão vindo pra cá! São muitos deles – despejei tudo de uma vez.

– Mas o Josh e Scott, eles vão voltar – ela falou e só agora parei para pensar neles. Ficamos alguns segundos uma olhando para o rosto da outra em busca de respostas. – Vamos embora.

– Mas e eles... – comecei a dizer depois de sair apresada do carro com a minha mochila.

– Temos que ir – ela se virou para mim e eu pode ver como ela estava arrasada por ter que fazer isso. – É necessário – ela disse engolindo o seco, ela não queria perder Josh, mas ela precisava fazer isso.

–Então vamos – falei por fim, tentando passar confiança para ela.

Andamos na mesma direção que Josh e Scott estavam indo a procura de comida e gasolina. Não tínhamos muita coisa para levar, apenas minha mochila a pequena mala de mão de Gabriela e nossas três armas. Era tudo que tínhamos, mas na situação em que estávamos, em um mundo cercado de mordedores, era até muito.

A caminhada noturna continuou silenciosa. O vento gelado persistia, só que agora um pouco mais fraco. Gabriela permanecia o tempo todo fitando o chão e eu comecei a ficar preocupada com ela.

– Estamos indo na direção deles – disse quebrando o silêncio. – Podemos achá-los, é só não perder a esperança – afirmei com confiança e ela sorriu para mim. – Afinal a esperança é a última que morre e precisamos dela em tempos difíceis com esses.

– Eu vou ter esperança – ela disse. – Vamos encontrá-los, filha.


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Notas finais do capítulo

Para quem não sabe a atriz que "faz" a Gabriela possuí sim uma cicatriz no lábio superior, exatamente onde descrevemos. Então nós aproveitamos desse fato e estamos usando ele na fic.
Temos exatamente 209 visualizações até agora, muito obrigada! Continuem comentando.



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