A neve caia sem pudores, enquanto o vento agitava a copa das arvores desnudas. Um ouriço de pelagem azul se remexia inquieto em seu sono, em um sofá improvisado de cama que era o que podia usar para ficar perto de Shadow. Não conseguiu manter o sono por muito tempo, sabia que logo olheiras começariam a ser fazer presentes, não se importou, fora ao quarto ao lado para que com sorte, encontrasse algum cobertor para mais uma tentativa de sono.

A poucos passos daquela cena, no quarto, outro ouriço, dessa vez de pelagem negra se remexia na cama, soltava por vezes murmúrios inaudíveis.

Andava por uma cidade em total caos, uma arma em suas mãos, corria sem saber o porquê, não tinha propósito imposto em seus pensamentos e agia mecanicamente a tudo. Não demonstrou emoção ao ver uma mulher implorar por sua vida enquanto ele mesmo disparava o gatilho da arma que não sabia que possuía até aquele momento, ele era uma ameaça, um ser criado para dominação e destruição.

— Não, Shadow! — Ouviu um grito perto de si, não deu importância. Era uma voz doce e infantil, que acompanhava grandes cabelos louros e olhos de um azul profundo. — Dê uma chance a eles! Você prometeu, prometeu que daria uma chance a eles, que não usaria sua força para o mau! Shadow você prometeu!

A voz já estava o irritando e sem esperar mais nenhum segundo virou a arma e atirou, sem nem antes se dar conta de quem se tratava aquela voz.

— Não vou deixar você se destruir, Shadow! Destruir tudo o que conquistou com esforço! Destruir toda a confiança de depositaram em você! — Outra voz surgiu do mesmo lugar que a outra, essa diferente da anterior não expressava doçura, era raivosa e firme.

Uma mão surgiu em seu braço, arrancando aquela arma de suas mãos e a jogando longe, poderia ter lutado contra ele, mas algo dentro de si lhe impediu de se mexer.

— Acorde, Shadow! — Sonic o sacudiu. — Olhe ao seu redor, olhe tudo! Não, não feche os olhos. — Uma mão estava em seu queixo, movendo sua cabeça para todas as direções, até que ele a viu.

— Ma-maria? — Sim, era a Maria, o corpo ensanguentado perto de si, na mesma direção em que ele atirou pela ultima vez antes de sua arma ter sido lhe arrancada de si. Caiu de joelhos e olhou para suas mãos, também ensanguentadas. Ergueu seus olhos para a direção de Sonic e se surpreendeu ao vê-lo com sangue escorrendo pela boca e uma ferida no peito, causada pela mesma arma que estava em sua posse.

Suas forças já estavam no fim, sabia que era seu fim, mas estava feliz, pois levaria para sempre aqueles olhos rubros para sempre e como ultimo ato, tomou os lábios de Shadow em uma despedida.

— Sayonara, Shadow the Hedgehog. — E caiu em direção ao chão, sendo aparando por Shadow, seu coração deu uma ultima batida, para nunca mais voltar a bater. Um grito a altos pulmões rasgou caminho pela garganta seca do assassino, enquanto mostrava para o mundo toda sua dor.

.

Seus olhos se abriram num rompante e lágrimas ameaçaram escorrer por sua face, nunca se sentiu tão frágil, tão exposto, e esse sonho lhe foi muito perturbador.

— Teve um pesadelo? — Se assustou com a voz.

— ... — Não iria respondê-lo, baixou a cabeça e algumas lágrimas caíram de seu rosto.

Sonic se aproximou calmamente enquanto sua mão, delicadamente tocava o rosto molhando, carinhosamente limpando as lágrimas que insistiam em cair.

— Pode chorar Shadow, não vou e nem posso te julgar por chorar, não se preocupe. — Sorriu e o abraçou apertadamente, ouviu os soluços por fim sair de seus lábios e sorriu.

Ficaram por um tempo assim, Shadow estava mais calmo, porém Sonic ainda não desfazia o abraço enquanto sua mão continuava no rosto dele.

— Merry Christmas. — Sussurrou baixo. Shadow se afastou e o fitou.

— Natal...? — Se surpreendeu ao ver Sonic assentindo com um pequeno sorriso. Não tinha percebido que havia perdido a noção dos dias.

— Tails nos convidou para a ceia que terá na casa de Vanilla, mas se não quiser ir tudo bem. — Sorriu, e segurou as mãos de dele, apertando-as. — Não precisa se sentir pressionado a nada.

As mãos dele segurando as suas lhe dava uma sensação de segurança que jamais alguma vez tinha sentido antes, a única coisa que pode fazer foi olhar para ele e assentir.

— Tem certeza? Sei que insisto para que não fique só no quarto, mas não te obrigaria a sair. — Apertou levemente as mãos que segurava.

— Não posso viver sempre nas sombras... Não sei como irão reagir a minha presença... Eu... — Não conseguiu completar e virou o rosto para o lado fitando o céu escuro e cair dos flocos de neve que dançavam pela janela de vidro.

— Tem medo. — Disse e apertou mais forte as mãos dele. — Não se preocupe, estaremos entre amigos e ninguém criticara sua presença, confie em mim.

— Seus amigos... — Sussurrou enquanto ainda olhava para a janela.

— Nossos amigos. — Corrigiu com um sorriso. — Não precisa ir se não se sentir confortável.

“Nossos amigos...” Repetiu em sua mente. “Não tenho amigos, esse é um luxo que não me é permitido... Sonic... você não sabe o quanto é perigoso? Por que ainda está aqui? Saia de perto...” Apertou inconsciente a mão de Sonic.“Antes que...” Sentiu seus olhos irritados, e os fechou com força. “Eu te mate...” Uma lagrima escorreu por sua face sem permissão, enquanto imagens do seu pesadelo voltavam a sua mente. Sangue, mortes, tudo causado por um só ser, ele era perigoso, não devia ter permitido que houvesse aproximação entre ele e seu rival, mas a solidão é tão amarga...

— Quer me contar sobre seu pesadelo? — Perguntou a voz gentil, tentando de alguma forma tranquilizá-lo.

Shadow balançou a cabeça em um sinal negativo, não iria contar o que viu, não queria expressar em palavras o monstro que ele poderia ser e é. Ele é a forma de vida perfeita, uma maquina de destruição, alguém que no menor descuido poderia levar a destruição do que Sonic chama de lar. Ele não deveria ter sido desperto, ou melhor, não deveria ter sido criado por Gerald.

— Vem, vamos sair um pouco. — Se levantou soltando as mãos que segurava com cuidado e ofereceu ajuda para que o outro se erguesse da cama.

— Às 4 da manhã? — Virou o rosto surpreso para o ouriço esquecendo-se de que a pouco seus olhos estavam molhados, Sonic percebeu, mas nada comentou a respeito.

— Qual o problema? Não está tão frio assim. — Deu de ombros. — Quero te mostrar um lugar. — Esperou com a mão ainda estendida, Shadow ignorou a ‘ajuda’ e se levantou sozinho, acompanhando um pouco atordoado o ouriço azul que parecia animado com algo.

— Espere! — Correu para o quarto e voltou para a porta em segundos, carregando um cachecol de cor verde para o Shadow, enquanto ele estava com um vermelho, a escolha das cores fora algo inconsciente, mas não evitou um sorriso constrangido ao perceber que os cachecóis eram das cores dos olhos dos dois.

Shadow não percebeu ou fingiu não ter notado, pois não esboçou nenhuma reação quanto ao novo acessório.

— Aqui. — Colocou o cachecol ajeitando delicadamente sobre o pescoço. — Não está muito frio, mas prevenir não mata ninguém.

.

Andaram por um tempo longo, Sonic não parecia ter pressa, como normalmente tinha e nem muito menos se mostrava impaciente. Caminhava com um enorme sorriso no rosto enquanto Shadow o acompanhava de perto, não entendendo muito o que acontecia com o outro, apenas o acompanha, não sabia para onde mas confiava nele. “Estranho... eu não sinto desconfiança como normalmente... Não sei para onde vou, e nem o que o faker quer comigo, mas... Que se dane, se for alguma armadilha... Não, ele não faria algo assim, ou faria?”

— Quer parar de ser tão desconfiado? Até parece que estou te levando para ser julgado pela Santa Inquisição. — Riu alegre, a voz divertida. — Relaxa, é só um lugar que eu quero mostrar, nada demais. — Shadow sabia que em parte as palavras do outro era mentira, não era “nada demais”, até porque esse não era o Sonic que conheceu há 5 anos, estava de algum modo diferente. Só não sabia que fora ele mesmo o motivo dele ter mudado, mesmo que sutilmente, sua maneira de ser.

Demorou um pouco, mas Sonic conseguiu chegar onde queria, uma pequena abertura se mostrava quase encoberta pela neve, mas era visível, apontou para Shadow a direção e seguiu na frente, um pouco mais rápido.

Shadow tentava seguir um ritmo constante, para que não acabasse indo rápido demais ou lento demais, tentava manter seus olhos na figura sorridente a sua frente ao invés do chão e não percebeu quando tinha uma pedra em sua reta, acabando por tropeçar e só não caiu na neve gelada porque Sonic segurou seu braço antes que caísse. Olhou para cima, se deparando com os olhos verdes do outro, seus rostos estavam perto demais, Shadow abriu a boca para protestar pela proximidade indesejada, mas não conseguiu dizer nada, apenas ficou a fitar o outro.

Sonic agradeceu mentalmente por ter dado tempo de segurar o outro, mas não conseguia afastar seus olhos dos escarlates do outro, não sentia nada, estava perdido naquele mar de rubi que eram os olhos do outro. Demorou um tempo, mas Shadow conseguiu forças suficientes para puxar seu braço com brusquidão e desviar o olhar, embora não pode evitar ficar sem reação, uma cor rosada decorava a bochecha de ambos e um clima constrangedor se instaurou entre os dois.

— Bem... Vamos? — Chamou o ouriço azul, rindo em meio ao seu constrangimento. Voltou a andar com Shadow dessa vez ao seu lado, as mãos quase se tocando.

Entraram pela pequena entrada da gruta, e caminharam por mais alguns metros até chegarem onde Sonic queria, e Shadow não evitou olhar a tudo surpreso.

— Eu sei. Legal né? — Riu da reação do outro.

A sua frente tinha uma espécie de floresta secreta, onde as arvores tinha uma forte coloração de verde, alheias ao clima normal daquela estação, um cristalino córrego passava por elas enquanto pequenos Chao brincavam alheios aos visitantes. Por incrível que pareça, estava quente naquele pequeno paraíso verde.

Sonic puxou Shadow para se sentarem em uma grande pedra lisa, que era um banco bastante confortável para que os dois observassem ao redor sem que ficassem desconfortáveis.

— Eu encontrei esse lugar quando estava passando por aqui, acabei escorando e escorreguei, não consegui reprimir minha curiosidade, esse lugar é magnífico. — Disse sorrindo, e olhou para o outro ouriço, que ainda se mostrava surpreso. — E desde então venho aqui, é um lugar muito calmo para quando se procura paz. Você é o primeiro que trago aqui, nem Tails sabe sobre esse lugar.

Shadow se sentia deslocado, era uma sensação estranha, como se estivesse ainda dormindo e aquilo tudo fosse somente um sonho, descartou essa ideia ao se lembrar de seu recente pesadelo, em maioria seus sonhos eram resumidos em mortes e sangue e aquele lugar era tão lindo... Tão inacreditável...

Sorria abertamente, se sentia mais leve, e compartilhar aquele lugar lhe deixava feliz, não poderia ter escolhido pessoa melhor a seu ver para compartilhar algo tão mágico quanto aquele brilhante e majestoso Chao Garden. Tocou a mão de Shadow pela segunda vez naquele dia e a apertou delicadamente, Shadow ainda não esboçava nenhuma reação, parecia que ao menos piscava.

— Shadow? — Chamou delicadamente. — Shadow? — Chamou mais urgente apertando seus dedos sem muita força. Nada, nem um suspiro. Alarmado ele se levantou sem soltar a mão dele e passou a mão livre sobre as bochechas dele delicadamente, tentando chamar sua atenção.

“Sonic... por que fez isso? Mostrar logo para mim um lugar assim... Por que eu...? Não posso continuar permitindo que ele se aproxime mais... Não posso arriscar a vida de mais outra pessoa... Maria foi uma vitima do meu nascimento... Ela não tinha culpa e morreu para me proteger... Se mais alguém morrer...”. Conseguiu fechar os olhos e com isso lágrimas escorreram deles, ainda estava com as lembranças de seu pesadelo em mente, pela segunda vez no dia chorava na frente do seu rival declarado, mas que agora era o único amigo que estava consigo.

— Shadow... — Sonic abriu seus braços e com um sorriso ofereceu o conforto que Shadow tanto precisava naquele momento, num gesto bastante delicado acariciou seu rosto espalhando as lágrimas que escorriam. — Chore amigo... Guardou essas lágrimas por tempo demais. Ponha tudo para fora, chore e grite se for preciso, aqui ninguém vai atrapalhar e os Chao não se incomodam com nossa presença.

Ele nada falou, somente ficou quieto, derramando as lágrimas proibidas de serem derramadas, sentindo dores do passado quando tudo veio à mente, flashes claros de uma época que ele daria tudo para que fossem arrancados de sua memória, não queria que ninguém o visse assim, frágil e desequilibrado. Por um momento sentiu raiva de Sonic por aparecer em sua casa e se tornado sua babá, mas o que poderia fazer? Se não tivesse desmaiado quando iria beber água nada disso teria acontecido e voltaria a ficar sozinho, riu internamente desse pensamento, não iria acontecer exatamente isso e nada teria voltado ao normal.

Depois de minutos naquela posição um tanto constrangedora, Sonic se afastou lentamente e ofereceu a mão a ele, esse ato estava se tornando um costume e diferente da ultima vez, Shadow a aceitou.

— Vamos voltar. — Sorriu calmamente. — Ainda deseja ir à casa de Vanilla? — Apertou os dedos deles, tentando naquele simples gesto, mostrar que não precisava temer nada.

— Sim... — Sua voz saiu rouca e baixa, Sonic sorriu e guiou o outro para a saída. A volta não fora tão despreocupada como a ida e andavam com mais pressa, mas a mão confortadora nunca deixou de estar lá, apertando vez ou outra seus dedos, não machucava ou era desconfortante, era um gesto que fazia seu coração dar pulos em seu peito, se sentia aquecido andando de mãos dadas com ele. Era algo que parecia natural, normal como a neve no inverno e as flores na primavera e sempre nesse simples gesto, seu coração se aquecia.

.

Tails esperava pacientemente do lado de fora da casa, não sabia o motivo da casa estar trancada e nenhum dos residentes terem vindo recebê-lo, mas preferiu esperar, não faria mal algum, ele que havia aparecido cedo, talvez eles ainda estivessem dormindo. Apoiou-se na porta para se distrair e deixava sua mente vagar para pensamentos aleatórios, estava a alguns dias cogitando a possibilidade de se aperfeiçoar na medicina e estava em duvida em qual curso poderia ingressar talvez enfermagem ou talvez psicologia, riu da ultima ideia, mas era de todo ruim afinal...

— Hey, Tails! — Cumprimentou Sonic ao longe com Shadow ao seu lado de cabeça baixa, as mãos não estavam mais juntas e isso de certo modo deixava o ouriço inquieto, queria outra vez aquela mão confortadora apertando a sua, andava de cabeça baixa ao lado do outro, silencioso e pensativo. — Chegou cedo! — Sorriu ao amigo.

— Oi Sonic, olá Shadow! — Cumprimentou um pouco envergonhado. — Sem consulta hoje, só apareci para conversar com vocês. — Disse um pouco mais sério.

— Vamos entrar, é mais confortável. — Pegou a chave e destrancou a porta, abrindo passagem para que Shadow fosse o primeiro a entrar, este indo para o banheiro lavar o rosto. Tails entrou e Sonic trancou a porta para que não corressem risco da porta ser aberta pelo vento ou, seja lá o que poderia abrir a porta.

— Bem... Queria refazer o convite de Vanilla, se estende a você também, Shadow. — Começou a falar assim que viu o outro vindo se sentar em uma poltrona separada de Sonic, já que Tails e o ouriço em questão estavam no mesmo sofá. Shadow o fitou em emoção por alguns segundos e assentiu levemente com a cabeça.

— Qual o horário? — Sonic se inclinou no sofá e olhou para Tails esperando.

— Na verdade não tem horário específico. Vocês poderiam ir agora se quiserem. — Olhou para Shadow que ainda estava absorto em seus pensamentos.

— Não acha muito cedo? O jantar vai ser só a noite, não vai dar trabalho? — O ouriço azul esboçava preocupação.

— Também fiz essa mesma pergunta a ela... Parece que ela convidou todos os nossos amigos para um almoço e jantar de natal... — Olhou novamente para Shadow que ainda estava da mesma forma.

— Nós vamos? — Perguntou delicadamente para o ouriço que parecia distraído, esse o fitou em resposta, transparecendo em seu olhar que ainda iria. Tails não entendeu a troca de olhares entre aqueles dois. — Está decidido. Nós iremos, mas... Vanilla se importara caso Shadow for? — Olhou nervoso para a raposa que sorriu para ele.

— Não, ontem ela comentou que gostaria que ao menos uma vez pudesse conhecer você, Shadow. — Sorriu para o ouriço negro que o olhou surpreso. — Não se preocupe, não contei a ninguém sobre o que acontece aqui, prometi a Sonic que não faria isso.

Sonic se levantou sorrindo e foi em direção do ouriço surpreso na poltrona, se abaixou a altura dele e deu um sussurro doce quase perto de seu ouvido.

— Você nunca vai estar sozinho. É uma promessa. — Segurou as mãos dele.

— Vocês... Vocês estão... Juntos? — Tails exclamou alto pelo que viu, piscou varias vezes tentando entender, não acreditava no que via.

— Tails?! Nã-não é isso... É... Não é o que está pensando! Eu... Não! — Sonic não sabia o que responder, não era o que o amigo pensava, só estava sendo gentil com Shadow, não era uma declaração de amor.

— Então o que significa tudo isso? Parecem namorados! Nunca pensei que você fosse gay, Sonic! — Tails ainda gritava para o ouriço azul, enquanto Shadow fechava os olhos e tremia.

— Não vou ficar me justificando, você pensou errado e é isso que eu digo! Não somos um casal! Droga, Tails! De onde tirou essas bobagens?! — Apertou os dedos de Shadow quando sentiu as mãos do mesmo tremer. — Não vamos brigar por causa de um mal-entendido, não vê que isso está o prejudicando? — Sinalizou com a cabeça em direção a Shadow que não parecia estar muito bem com aquela discussão.

— Me desculpem... — A pequena raposa olhou para o chão constrangido e depois rumou a cozinha, voltando com um copo de água com açúcar em mãos, entregando para Shadow sem dizer nada, que pegou o copo e bebeu devagar. — Vou indo, nos vemos na casa de Vanilla. — E saiu sem olhar para trás.

Shadow o viu sair e olhou para baixo, confuso pela reação de Tails, Sonic e ele não eram nada assim, aliais nunca tiveram nada, mas não iria dizer em voz alta, sentia que precisava da companhia do ouriço azul e tinha certeza de que iria se arrepender depois... Mas o que importa? Se então era destinado ao inferno por que não fazer sua estadia lá valer a pena?

.

O tempo passava vagarosamente quando Sonic deduziu enfim a hora de ir, a pequena discussão que tivera com seu melhor amigo ainda permanecia em sua mente, não entendeu o motivo daquilo, só estava sendo gentil com Shadow! Suspirou internamente, ele não se importava com julgamentos, embora tenha quase certeza de que ficaria um pouco chateado, mas no todo não se importava. Sua maior preocupação era com o estado de Shadow, se houvesse alguma discussão tinha medo que o clima o deixasse nervoso, já que ele parecia estar com as emoções frágeis demais.

O caminho não era longo, sabia o caminho facilmente, mesmo com a estrada forrada de neve e os ventos que às vezes eram fortes ou frios demais, Shadow acompanhava de perto, não estavam muito longe da casa e andavam num ritmo constante, nem muito rápido nem muito lento. Sonic apresentava uma paciência grandiosa para com o companheiro que vez ou outra parava e depois continuava, parecia que nada poderia mudar aquele estado de humor, até chegar à porta...

— Sonic! — O grito estridente veio da posta e uma ouriça rosa se jogou aos seus braços, aquela reação era totalmente esperada, porém Amy Rose parecia contida em seus movimentos enquanto Espio estava logo atrás. — Sentimos sua falta. — Sorriu largamente, olhou um pouco para atrás e encontrou a figura que para ela era um tanto inesperada. — Shadow? Oh, Shadow é você mesmo? — Soltou Sonic e foi na direção dele, dando lhe um abraço carinhoso que surpreendeu a todos, percebendo com o tato o estado de magreza doentia do ouriço negro, preferiu não comentar.

Rouge apareceu na porta ao ouvir Amy e se surpreendeu ao ver quem tava a porta tento quase a mesma reação que Amy, mas receosa ao vê-lo tão magro.

— Meu deus, Shadow! — Rodeou-o surpresa, reprimindo lagrimas. — O que aconteceu com você, meu amigo? Foi algum agente? — Perguntou séria e suspirou ao vê-lo negar, puxou-o delicadamente para dentro, tendo um braço protetor em sua cintura, evitando fazer movimentos bruscos enquanto o guiava para a sala de estar de Vanilla onde um equidna de pelos vermelhos via a cena com um pouco de ciúmes. Iria à direção dos dois quando o braço de Tails aparece o retendo:

— Deixe-a, eram colegas de trabalho enfim. — Olhou para Knuckles com um mínimo sorriso, o equidna assentiu, mas foi em direção dos dois mesmo assim.

— Feliz natal, Shadow. — Tentou não soar grosseiro e ao olhar melhor o outro notou o mesmo que Rouge notou, e se sentia agora um idiota pela reação anterior. Sorriu para a namorada e ofereceu ajuda, ela negou e continuou puxando o ouriço, sem antes pegar a mão de Knuckles e o trazer junto. Sentaram no sofá, com Rouge no meio, conversando sobre seu trabalho com Shadow enquanto dava atenção para o namorado com carícias.

O dia passava rapidamente, todos haviam notado o estado de Shadow e alguns fingiram não notar, agindo com naturalidade enquanto tentavam não o deixar desconfortável não detestavam o ouriço negro e o tratavam como amigo, sem falsidade ou segundas intenções. Amy estava estranhamente contida enquanto conversava animadamente com Sonic, sobre assuntos que o ouriço fingia ouvir, o que fazia Espio revirar os olhos. Tails parecia bastante animado enquanto discutia animadamente a mecânica de motores aerodinâmicos com Marine que não parecia alheia ao assunto e mostrava um conhecimento que o deixava abismado. Vector abraçava a cintura de Vanilla enquanto contava piadas com sua voz grave e estridente. Charmy e Cream eram as únicas crianças nunca reunião entre amigos adolescentes e adultos e por vezes davam o ar da graça com algumas brincadeiras sendo em alguns momentos repreendidos pelos adultos. Silver e Blaze vieram a ser um acréscimo que não esperavam, e por fim o grupo estava completo.

Logo a ceia fora anunciada, já que Sonic e Shadow haviam preferido chegar ao período da tarde, ninguém comentou o fato de os dois terem chegados juntos e ou cogitou a possibilidade te terem vindo o caminho lado a lado. Somente Tails sabia a verdade e cumpria sua parte com perfeição, não deixando ninguém perceber que ele era o mais chegado de Shadow depois de Sonic, fato que poderia deixar Rouge ofendida, preferiu apenas ignorar alguns comentários que às vezes tinha vontade de fazer.

Shadow recebeu seu prato cheio demais, cortesia de Rouge. Sonic achava a atenção de Rouge um tanto cômica, iria rir quando se lembrou que ele tinha sido exatamente assim em sua tarefa de enfermeiro e Tails o olhou com ironia. Knuckles não parecia ciumento, mas se sentia desconfortável com aquela situação, era a primeira vez que admitia em público que estava junto de Rouge, apesar desta estar bastante atenta ao amigo que estava num estado um tanto horrível, pelo menos para ela. Sonic tinha visto e sentido a pior parte, comparado com há alguns dias ele estava muito melhor, mas era um pensamento que era preferível de guardar para si.

O clima da ceia era alegre, Charmy ainda brincava fazendo alguns dos adultos rirem, até mesmo Espio parecia feliz, tirando pela primeira vez sua mascara séria do rosto. Shadow não sorria, mas ninguém o podia culpar, era afinal sua maneira normal de agir e de se comportar e ninguém parecia se incomodar com esse fato, mesmo que a ocasião significasse alegria e fraternidade, estavam tão felizes com a presença dele que não importava se ele ficasse a noite toda sem esboçar um mínimo sorriso.

— Esse é seu primeiro natal entre família, não é? — Vanilla perguntou docemente para o ouriço que estava se sentindo desconfortável com toda a atenção e cuidado que era tratado por todos, conseguiu assentir minimamente. — Espero que goste da experiência, venha mais vezes. — Convidou timidamente. Shadow sentiu uma mão confortadora em seus joelho, sabia quem era e sorriu internamente, estava coincidentemente sentado ao lado de Sonic, enquanto Rouge ocupava o outro lado, esta estava distraída no momento colocando comida na boca de Knuckles e rindo do rosto constrangido do equidna. — Sempre quando quiser as portas de minha casa estarão abertas. — Sorriu e voltou para seu lugar junto de Vector e sua filha.

Após terem se saciado, foram em grupos de 3 a 5 para fora, contemplar o céu azul escuro, que estava incrivelmente limpo e bonito, todos olhavam admirados aquilo, inclusivo o ouriço negro que estava com os olhos brilhando, era a segunda vez naquele dia que vislumbrava algo que o deixava sem palavras, realmente a natureza daquele planeta era cheia de mistérios e beleza. Num sinal mudo, como que já fizessem isso sempre, o que não era de todo mentira, gritaram em alto e bom som.

— Feliz natal! — Pela primeira vez, Shadow se sentia parte de uma família, unidos somente pelos laços e amizade e forte fraternidade.