Minha escrita por danaandme


Capítulo 21
Tudo é uma questão de Tempo


Notas iniciais do capítulo

Eu me pergunto se ainda existe alguém interessado em acompanhar essa história... De qualquer maneira, depois de anos, Minha finalmente resolveu voltar a fluir na minha mente. Então a quem interessar possa, eu dedico esse novo capitulo. ;)


Atenção *referência a pensamento suicida*



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Cap 21 - Tudo é uma questão de Tempo

“Fico feliz em ver você bem, Quinnie.”

“Não me chame de Quinnie. Não se engane, mamãe, sua conversa será com a minha advogada. Estou aqui exclusivamente para aprovar ou não os termos do contrato e resolver esse problema mais rápido possível.”

“Hey, Quinn, tudo bem que você tem todos os motivos do mundo para não confiar em nós, mas por favor não destrate a mamãe, não quando ela...”

Judy Fabray tocou levemente o braço de Francine, silenciando sua filha mais velha.

Após Santana ter literalmente invadido o quarto delas no hotel, Rachel e Quinn acompanharam a advogada até a casa de Francine, onde ocorreria o encontro entre Quinn e sua mãe. Aparentemente, Judy Fabray agora vivia temporariamente com sua filha mais velha e o marido.

Quinn desviou o olhar das duas mulheres sentadas no sofá à sua frente. Elas deveriam ser pessoas importantes em sua vida, não é? Sua irmã e mãe. Aqueles rostos deveriam ser capazes de consola-la, de oferecer paz de espirito, mas só lhe causavam angustia, rancor.

Quinn travou o queixo. Por que mesmo ela havia vindo? Obviamente percebendo sua aflição, Rachel tomou sua mão junto a sua, entrelaçando seus dedos.

Santana limpou a garganta sonoramente.

“O que minha cliente quer saber, senhora Fabray, é que tendo em vista o tipo de material que a senhora tem em mãos, e baseado em experiências anteriores, seria mais produtivo para ambas as partes entrarmos logo em acordo sobre quais seriam os termos para embargar a publicação desse livro.”

“Não existem termos.” Judy responde calmamente.

Quinn não consegue segurar uma risada irônica.

“E você quer que eu acredite nisso? Sério?”

Francine franze o cenho, visivelmente irritada, mas se cala novamente quando sua mãe volta a tocar seu ombro.

“O arquivo original está todo no pen drive. Ou pelo menos espero que esteja. Não posso garantir que seu pai tenha alguma cópia em outro lugar.” Judy continua sem muitas delongas. “É pouco provável, no entanto, passei a não duvidar da capacidade dele para arquitetar surpresas... desagradáveis.”

Santana suspirou. Legalmente, nada impedia Russel Fabray de escrever algo sobre a filha. O problema era que certas declarações no livro distorciam completamente o que havia ocorrido, e isso era algo que poderia render muitas publicações negativas para a atriz, além de fazer com que Quinn revivesse da pior forma possível todos os traumas de sua adolescência, na tentativa de esclarecer os absurdos afirmados pelo próprio pai.

‘Drogas. Aborto planejado. Promiscuidade. Vandalismo.’ Russel Fabray não poupou esforços para sujar a imagem da filha caçula. Incluindo em uma das suas teorias, que Quinn havia saído de Lima por causa de um caso amoroso com seu atual empresário.

Os tabloides teriam chamadas para meses de especulações e publicações hediondas. 

 “Eu também gostaria de prestar um depoimento em vídeo, expondo toda a verdade ao público.”

Santana franziu o cenho. Por sua vez, Quinn passou a contemplar os brinquedos de plástico espalhados dentro de um cercadinho no canto da sala. Ao lado dela, Rachel mordeu o lábio inferior ao perceber a forma que Francine seguia o olhar da irmã caçula.

“Você quer se expor voluntariamente? Destruir a imagem da família perfeita? Uau...isso é novo.” Quinn comentou inexpressivamente sem tirar os olhos do chocalho azul no formato de um coelhinho de borrada, jogado em um dos cantos do cercadinho.

“Talvez assim, seja possível minimizar os danos, caso seu pai resolva se pronunciar...” Contra-argumentou a senhora Fabray.

Santana ponderou um pouco antes de responder.

“Preciso firmar um contrato, e saber exatamente o que você pretende dizer. Até mesmo porque se houverem acusações sem provas, não posso permitir...”

“Temos os laudos médicos que comprovam as agressões físicas e os depoimentos dos vizinhos...” Francine interviu.

Isso fez Quinn encara-la pela primeira vez desde que ela entrou na casa e Francine ao perceber continuou.

“Você não foi a única a sofrer com os abusos dele. De certa forma, você devia agradecer por ele ter feito o que fez naquela época.” Os olhos da primogênita da família Fabray, brilhavam como se ela estivesse segurando para não chorar. Ao lado dela, Judy ficou tensa, obviamente a filha havia falado demais.

Quinn travou o queixo. Seu corpo todo tremia de raiva.

 “Eu devia ser grata? É o que você acha?” Quinn praticamente cuspiu as palavras. “Frio. Fome. Sem-teto. Dependendo da boa vontade dos outros para ter onde dormir, ter o que comer, ter o que vestir. Jogada no mundo, sozinha, apavorada, destruída, totalmente perdida e sem noção de como sobreviver! Abandonada pela família? Pelas únicas pessoas na face da terra que deveriam me amar incondicionalmente? É isso que você chama de sorte, Francine?”

Nesse ponto, Quinn já estava de pé, gritando furiosa. Seu rosto vermelho, olhos cheios de lágrimas.

“A minha mãe! Minha mãe permitiu que ele me jogasse na rua! Sem nenhuma hesitação, sem nenhum arrependimento. E enquanto isso, você estava aonde? Ein? Ah, eu lembro bem... Em um dormitório na Universidade! Você ia para uma festa em uma irmandade, não é mesmo? Na noite que eu liguei, chorando, desesperada, pedindo sua ajuda, o que você disse? Meu problema. Minha culpa. Meu castigo! Que eu deveria ter me esforçado mais para agradá-lo! Não foi isso, Francine?”

“Eu errei também, okay?” Francine também estava de pé encarando a irmã. Judy agarrou na barra da saia da filha mais velha, em uma tentativa inútil de controlar os ânimos da jovem mulher. “Eu estava com medo! Medo de perder tudo também! Ele mandava em toda minha vida, Quinn! Eu não queria acabar como você! Eu fui covarde, eu te abandonei e me arrependo por isso, e sei que não há como voltar atrás, mas vendo você hoje, vendo como você sobreviveu, eu realmente acredito que o que aconteceu com você foi um livramento!”

Quinn riu. Um riso debochado, desesperado. Rachel sabia que a dor maior ainda estava por vir, ela sabia exatamente o que Quinn diria a seguir, e por isso, se levantou segurando sua namorada pelos ombros.

“Livramento...Você sabe o quão perto eu estive de desistir de tudo? Um caco de vidro. Um corte profundo no pulso, na jugular. Eu apertei aquele vidro com tanta forma na palma da mão vendo o sangue escorrer, tentando ter coragem de dar um fim em tudo! Não ouse falar sobre como o meu caminho foi o melhor, ou o mais fácil. Nem mesmo ouse engrandecer minha resiliência, ou coisa parecida. A verdade é que ninguém nessa família se importou algum dia da vida com ninguém além de si mesmo.”

 Quinn passou as mãos no rosto com força, limpando as lágrimas.

“Foi um erro vir aqui. Santana, cuide dos detalhes. Eu vou embora.” Ela gira nos calcanhares em direção a saída. “Não me procurem novamente.”

Rachel lançou um olhar preocupado para as figuras de Judy Fabray e sua filha mais velha, antes de seguir Quinn e deixar a bela casa suburbana de dois andares, cerca branca e jardim florido para trás.

Quinn passou o resto do dia no quarto, com Rachel ao seu lado, enquanto a jovem atriz chorava aconchegada junto a ela, tentando expurgar mais uma vez a magoa daquelas lembranças de seu coração.

...

NAQUELA NOITE

“Eu trouxe pudim.”

Elise levantou um saco transparente com duas embalagens de plástico de tamanho médio dentro.

Rachel suspirou, se encostando na porta do quarto.

“Obrigada, Elise.”

“Como ela está?” A ruiva perguntou entregando a sacola a Rachel. A pequena morena olhou por cima do ombro para a sua namorada, deitada na cama.

“Dormindo. Finalmente. Por enquanto eu e Nigel estamos gerenciando a situação pelo intermédio da Santana. Não acredito que forçar Quinn a um outro contato com a mãe ou a irmã seria o ideal nesse momento.”

Elise cruzou os braços, mordendo o lábio inferior. “Talvez seja a melhor opção agora.”

Rachel ergueu a sobrancelha, e pela primeira vez no dia, sorriu.

“Ora, ora. Tão preocupada...”

Elise fechou a cara.

“Cala a boca, Berry. Não é preocupação. É camaradagem entre rivais. Só não quero ficar com dor na consciência na próxima vez que mandar ela ir contar as celulites daquela bunda enorme.”

“Essa sua obsessão com a bunda da minha namorada está começando a me incomodar.”

O rosto de Elise já estava completamente vermelho, e ela bufou irritada.

“Quer saber? Você é ridícula! Eu devia ter colocado laxante nesse pudim!” Resmungou a ruiva, já dando as costas para Rachel, decidida a voltar para seu quarto quando sentiu um puxão na gola da camiseta. Respirando profundamente, Elise virou-se para a pequena morena. “O que foi?”

“Você vai mesmo retornar à New York amanhã à noite?” Rachel perguntou, deixando de lado as brincadeiras. A pequena morena não pode deixar de notar a tristeza no olhar de sua amiga quando ela e Quinn retornaram ao hotel mais cedo. Elise estava sozinha, sentada em uma poltrona pavorosa com forro cheio de babados, no lobby de entrada junto a recepção. Os olhos esverdeados fitavam um ponto qualquer, perdidos no tempo. Rachel podia até imaginar o motivo pelo qual sua amiga parecia tão desolada, mas por experiência, seria melhor que Elise resolvesse primeiro a confusão em sua cabeça do que obrigá-la a confrontar suas emoções assim de repente. 

Elise deu de ombros.

“Não tenho mais o que fazer por aqui. Só vim atender a um pedido de sua mãe. Já fiquei presa nesse fim de mundo por tempo demais.”

“Entendo.” Rachel ofereceu a sua amiga um meio sorriso. “Se quiser conversar, podemos tomar um café quando eu voltar a New York.”

Por instantes, Rachel pode ver uma enorme tristeza refletida no olhar dela, mas no segundo seguinte Elise havia reerguido seus muros.

“Acho que você já tem muito com que se preocupar, huh? Vamos deixar para refirmar os laços da pura e terna amizade que nos uni quando você realmente estiver podendo me dar atenção.” E suspirando teatralmente, ela continuou com toda a ironia que conseguiu reunir na voz. “Seria um escândalo ter fotos nossas nas capas dos tabloides, trocando abraços semi-platónicos com uma loira de olhar homicida preparando o bote no plano de fundo.”

“Nada me tira da cabeça que você secretamente tem um crush pela Quinn.” Rachel finge irritação cruzando os braços fazendo biquinho.

Elise quase engasga com a própria saliva. E com o rosto da cor de um pimentão, os olhos arregalados e praticamente espumando pela boca, rosna de volta para sua amiga.

“Eu caio morta e linda no meio da quinta avenida, se uma maldição dessas comprometer minha sanidade mental, Rachel Barbra Berry! E quer saber? Cadê o pudim? Eu vou jogar essa geleca horrenda de marca sem procedência na sua cara!”

Rachel deu um passo para trás, atirando a sacola para dentro do quarto, desviando dos braços de Elise e puxando a porta de uma vez.

“Vou entregar seu mimo com seus votos de carinho, Lise!” A morena provocou antes de fechar a porta na cara dela.

“É muita ousadia para alguém do seu tamanho, Berry! Vai ter retorno, sua salva-vidas de aquário!”

Elise continuou distribuindo palavrões e ofensas até alcançar o elevador no meio do corredor.

“Eu não tenho sossego nem quando tento exercitar empatia! Essa é minha recompensa por ter um bom coração. Irritantes! As duas!”

Ela passou pela recepção em direção a saída do hotel, decidida a espairecer as ideias caminhando pelas ruas de Lima até ser reconhecida por algum fã, cuja devoção a sua pessoa curasse seu mal humor com elogios, fotos e declarações de amor platônico, quando trombou de frente com alguém.

Ela sentiu a massa gélida escorrer pelo tecido fino da sua Burberry azul, manchando toda a extensão da camisa de seu busto até o umbigo com sorvete de chocolate e cookies. MA-RA-VI-LHA.

Furiosa, e bastante intencionada a enviar a tal alma profana direto para as profundezas do inferno, Elise ergueu o olhar do estrago na sua blusa para fulminar a infeliz criatura diante de si.

Só para afundar no mais profundo poço da depressão.     

Parada diante dela, o objeto de suas aflições, sua bela morena de olhos cor de mel (levemente inchados por sinal), a encarava pasma, ainda segurando os restos da casquinha que antes abrigava uma quantidade absurda de sorvete de chocolate e cookies.

“Eu- Desculpe.” Murmurou Michele, desviando o olhar. “Parece que você sempre está no meu caminho quando resolvo tomar sorvete de casquinha.”

Sorvete de casquinha.  Elise sentiu uma pontada no peito. Era verdade, na primeira vez também foi assim. Em uma tarde de verão, em New York, elas se esbarraram e Michele acidentalmente estragou uma de suas blusas com sorvete.

Elise sacudiu a cabeça, apertando os olhos por um instante para conter as lágrimas.

“Prometo ser mais cuidadosa de agora em diante.” Ela respondeu com a voz tremula, frustrada por não conseguir controlar o caos corroendo seus pensamentos. “Com licença.”

A ruiva voltou para o hotel com passadas apressadas, desejando mais que tudo não ouvir a voz dela novamente. Ela atravessou a recepção como um borrão, invadindo o acesso as escadarias, ao invés de esperar pelo elevador. O cartão-chave do seu quarto escorregava dentre seus dedos, se estatelando no chão a cada três passos, até que exausta, Elise deixou-se vencer pela angustia, e caiu sentada nos degraus da escada entre o segundo e o terceiro andar, soluçando entre lágrimas até a luz automática apagar.

 “Acho que fiz por merece essa ironia, não é mesmo?” Sussurrou, encostando a cabeça na parede, fechando os olhos com força.

Foda-se Lima, ela jogaria todas suas coisas na mala, pegaria um taxi até a locadora de veículos mais próxima e dirigiria por toda noite e madrugada até papocar o carro em algum poste, lago, ou abismo... ou até chegar em New York. O que viesse primeiro.

...

As sete horas da manhã seguinte, Rachel atravessava o hall de entrada do lobby do hotel a passos largos em direção ao restaurante. Em uma das mesas do salão, Santana aguardava com uma generosa xicara de café preto em uma das mãos.

Rachel nem ao menos disse bom dia, e Santana baixou a xicara, já anunciando.

“Se nós vamos fazer isso, Rachel. Precisamos fazer agora. Há anos eu espero uma oportunidade de tirar a máscara daquele maldito, e esses documentos que Judy Fabray resolveu liberar ontem são a minha mina de ouro particular. São pelo menos trinta denúncias arquivadas, envolvendo assédio sexual, violência doméstica, assédio moral e um caso de agressão contra um jovem LGBTQ, em Dalton. Todos abafados pelo meu querido juiz Jordan Maverick, um conhecido amigo de infância daquele criminoso. Jordan já foi investigado pelo Estado por suspeita de corrupção, e pelo que sei, os negócios de Russel Fabray também podem estar sonegando impostos há anos. Se Judy gravar esse depoimento, vai ser um escândalo, obvio, mas atrelado a essas acusações, com certeza vai invalidar qualquer legitimidade que aquele cretino queira jogar nela.”

Rachel sentiu seu coração acelerar.

“Isso tudo é bastante conveniente, Santana, mas pelo pouco que conheço você, se fosse somente para me dizer essas coisas, você não estaria aqui a essa hora da manhã. Qual é o problema?”

Santana respirou fundo.

“Judy Fabray está com câncer.”

Rachel fechou os olhos.

“O corpo dela não responde mais ao tratamento e ela decidiu passar o resto dos dias com Francine, o cunhado e o neto...Ela já estava separada de Russel há quase um ano, mas com o agravamento de sua saúde, ela entregou o apartamento onde morava e mudou-se para casa da filha.”

A morena suspirou, escondendo o rosto entre as mãos.

“Eu já chequei todas as informações e elas batem, Rachel.” Continuou a advogada. “Acho que ela só quer fazer algo certo para Quinn antes de ir...Não sei se para se redimir como mãe, mas talvez como uma tentativa de impedir o ex-marido de voltar a faze-la sofrer.”    

“Santana, isso vai...Quinn.”

“Ela vai precisar lidar com isso, Rachel. Por mais que doa, é a mãe dela. E é a única oportunidade que ela terá de resolver os problemas entre elas. Ela vai se arrepender profundamente se não o fizer.”

 “Eu sei.”

 Elas permaneceram em silêncio por alguns minutos, até Rachel perguntar baixinho se Nigel estava ciente de toda aquela conversa.

“Sim. Falei com ele ontem. Já recebi a confirmação de Luc sobre uma emissora local que ficará responsável por captar o depoimento dela para a emissora de Los Angeles. Eles estão cogitando exibir a material pela a BBC e, talvez o E!. A ideia é liberar o depoimento logo após que as denúncias sobre Russel vierem à tona. Estou em contato com alguns colegas na corte estadual e federal. Terei as confirmações até o final do dia.”  

“Vou conversar com a Quinn.”

Nesse instante, Michele se aproximou devagar da mesa, obviamente hesitando em interromper a conversa. Até não poder mais controlar a ansiedade.

“Desculpem. Mas, vocês sabem aonde Elise está?

Santana deu de ombros, enquanto Rachel mordeu o lábio, notando os olhos levemente inchados da garota.

“Ela voltou para New York. Ontem de madrugada recebi uma mensagem dela dizendo que estava em Columbus e que agora pela manhã pegaria o primeiro avião para seguir viagem.”

“Ela foi embora?” Michele pareceu atordoada pela notícia, inconscientemente erguendo as mãos junto ao peito.

Rachel inclinou a cabeça levemente para o lado.

 “Independente do que tenha acontecido, Michele, você só deve dar esse passo se for por você também. Entendeu?” A voz de Rachel era séria e ela encarou a garota por alguns instantes antes adotar um tom de voz mais ameno. “Deixe o drama para os palcos da Broadway, ok?”

A jovem atriz fez que sim com a cabeça, se retirando após murmurar um singelo obrigada.

“Uau, Berry. Também não precisava destruir a garota desse jeito.” Disse Santana, voltando a tomar seu café.

“Alguém precisava dar o sacode em uma dessas duas, só aconteceu de ser eu.” A morena rebateu revirando os olhos. “Há dias estou querendo amarrar ela e a Elise, jogar dentro de um armário e acabar logo com esse lenga-lenga.” E olhando de relance para o seu relógio de pulso, a morena deu um pulo da cadeira. “Já está quase na hora da Quinn acordar. Não quero que ela esteja sozinha.”

Santana gesticulou brevemente com a mão, sinalizando que a outra ficasse à vontade e Rachel desapareceu do salão no segundo seguinte.

...

Michele sentou-se na cama, no seu quarto do hotel.

Sua cabeça latejava. Ela estava com raiva, tanta raiva que era difícil controlar a vontade de ligar para Elise e gritar a plenos pulmões um milhão de insultos sem sentido, na tentativa de verbalizar esses sentimentos confusos dentro dela.

Irritada. Frustrada. Furiosa. Por que ela simplesmente sumiu sem dizer nada? Quer dizer, logo depois de dar a entender que ia se esforçar para não estar mais no seu caminho! Foi isso que ela quis dizer, não é mesmo?

“Por que por ela você deu a volta no mundo e por mim você é incapaz de atravessar um simples corredor, sua idiota?” A garota levanta a voz, atirando uma xicara contra a parede antes de afundar no chão chorando.

...

NA MANHÃ SEGUINTE

“É uma pena que vocês não possam ficar até o final da semana.” O professor Schuester lamentou-se com um muxoxo.

Ao lado de Quinn, Rachel tentou não comparar o olhar do homem a de um cachorrinho.

“Infelizmente, dessa vez não vai ser possível, professor Schue.” Quinn tentou consolar seu professor. “Mas quando estiver em New York, entre em contato, Rachel pode tentar arranjar algumas cortesias para a Broadway de repente.”

Rachel apressou-se a concordar. Tudo para que o homem parasse de olha-las daquele jeito.

“Okay, então.” Ele pareceu menos inconsolável, apesar da imagem de cachorrinho chutado não ter abandonado as feições dele. Rachel quase estendeu a mão para alisar a cabeleira do professor antes de entrar na minivan que Noah tinha arranjado para leva-las até o aeroporto em Columbus.

No dia anterior, após o café com Santana, Rachel acordou Quinn, e prontamente deixou sua namorada a par de tudo que havia conversado com a advogada, e como esperado, Quinn desmoronou. Era obvio que mesmo tendo magoas profundas em relação a mãe, Quinn ainda a amava. A notícia de que não teria muito tempo para consertar a relação entre eles abalou totalmente seu emocional. Mas, apesar disso, ela ainda não se sentia confortável para estar com a mãe naquele momento.

‘Eu sou uma pessoa horrível, por não conseguir perdoa-la mesmo assim?’ Ela havia perguntado a Rachel.

‘Não, meu amor. Só demostra que você é humana. Certas feridas precisam de tempo para fechar, infelizmente, nesse caso, tempo é algo que não temos.’

Evidentemente, após esses acontecimentos, permanecer em Lima para as festividades do Glee Club eram impossíveis.

Rachel conseguiu falar com Noah sobre uma carona até o aeroporto, e elas seguiram para o colégio na manhã seguinte, para se despedirem do professor e seus amigos.

Santana ficaria para trás. Ela esperaria por Nigel para conduzir a produção da entrevista de Judy Fabray, assim como para dar entrada nos papeis dos processos na corte de Ohio. Aparentemente, alguns agentes federais ficaram bastante interessados nos documentos que conectavam o juiz Maverick a Russel Fabray, e haviam marcado várias reuniões com Santana para o decorrer da semana.

Por isso, nesse momento, Rachel, Quinn, Michele e Brittany afivelavam os cintos em poltronas da classe executiva, nos únicos lugares disponíveis do voo 4053 com destino à New York.

Quinn estava de óculos escuros, que cobria boa parte do seu rosto, e se aninhava junto ao ombro de Rachel, buscando conforto. Ela não havia falado muito desde que elas deixaram Lima, e Rachel se esforçava para dar o espaço mental que sua namorada precisava, mas sem lhe poupar abraços e atenção. 

Michele era outra que não havia proferido muitas palavras. A jovem atriz estava estranhamente calada desde o dia anterior, e evitava conversas desnecessárias, se contentando a responder perguntas simples. Algo que certamente era a causa da agitação de Brittany. A jovem dançarina parecia quicar na poltrona de impaciência, observando a pequena morena de aparência tristonha ao seu lado.

Rachel até pensou que Brittany fosse explodir perante o silêncio da usualmente falante Michele, e realmente se surpreendeu quando a garota decidiu simplesmente puxar a pequena para seu abraço, literalmente aninhando Michele junto a ela, murmurando algo como “San diz que meus abraços podem curar tudo.”

Michele escondeu o rosto junto a Brittany durante todo o voo.

Duas horas depois, o avião aterrissava no Aeroporto Internacional JFK, e as garotas se despediram rapidamente na área do desembarque. Michele embarcou logo em seguida em um taxi, e Brittany preferindo pegar um Uber, mesmo depois de Rachel insistir em leva-la para casa.

Um dos guarda-costas de Quinn, esperava na entrada pronto para escoltar o casal até o carro que as aguardava.

E diante do Audi A8 Security, estava Tony. Rachel suspirou aliviada ao vê-lo.

“Olá Rachel.” Ele cumprimentou brevemente, ao passo que Rachel o puxou para um abraço.

“Meu Tony.” Disse a morena. “Obrigada por voltar imediatamente.”

“Eu que deveria agradecer. Acredite, por favor.” Tony sussurrou devolvendo o abraço.

Rachel sacudiu a cabeça. Ele havia lhe confessado que sua mãe estava arranjando inúmeros encontros e jantares no intuito de arrumar uma nora. Tony, que estava muito satisfeito com sua vida de solteiro, não estava muito feliz com a determinação de sua mãe de arrumar-lhe uma esposa e quase gritou de felicidade ao receber a ligação de Rachel há dois dias, perguntando se seria muito inconveniente para ele encurtar as férias.

Quinn sorriu, cumprimentando o rapaz. Tony sorriu de volta, abrindo a porta do carro para Quinn, que deslizou para dentro, seguida de Rachel.

 “É bom vê-lo novamente, Tony. Rachel não funciona muito bem sem você.” Quinn tentou brincar, ainda com a voz um tanto abatida.

Tony sorriu encabulado.

“E por causa disso agora eu preciso aprender mandarim.”

“É lógico!” Retorquiu Rachel. “Quem vai me ajudar a revisar todos aqueles documentos, senão meu Tony?”

“Os documentos estão em inglês, Rachel.”

“Mas as conferencias que originam os documentos são em mandarim! E eu fico tonta, tentando me concentrar no interprete ao mesmo tempo que dez empresários aparecem do nada dizendo ‘Huìyì hòu chī gè fǎn mǎ que provavelmente não quer dizer ‘volte em breve’ a julgar pelas reações a minha resposta.”

Tony revirou os olhos.

Vamos jantar após a reunião. É a tradução correta, e um costume durante as negociações na China.”

“Eu não disse? Ninguém melhor que o meu Tony para cuidar desses detalhes!” E com isso Rachel encerrou o caso e seguiu perguntando sobre como iam as coisas na Índia. Tony dividiu algumas das peripécias de seus sobrinhos por parte de irmã, e outras histórias sobre as candidatas a esposa, e como sua mãe continuava a enviar as fotos delas pelo LINE.

Quinn pareceu relaxar mais a cada história, e deu até alguns palpites sobre algumas candidatas, vendo Tony e Rachel torcerem os narizes para algumas das fotos e currículos selecionados pela mãe do rapaz.

“Nesse passo você vai acabar casando com o St. James!” Rachel disparou rindo.

Tony arregalou os olhos para sua patroa, absolutamente perplexo. Quinn tapou a boca para não explodir de rir. Depois de alguns segundos o rapaz cruzou os braços, fingindo irritação.

“Dentre todos os bons partidos disponíveis, e rapazes de boa aparência que você conhece, você quer me comprometer logo com o mais dramático, Rachel?”

Rachel quase engasgou rindo.

“Desculpe, mas tendo isso em vista, prefiro deixar minha mãe encarregada de procura por uma boa moça de família. Parece a perspectiva mais segura agora!” Continuou o rapaz de bom humor.

Quinn sorria, a presença familiar de Tony e Rachel, os bate-bocas amigáveis, o clima descontraído fazia o peso dos acontecimentos de Lima desaparecerem de seus ombros. Sentindo-se bem melhor consigo mesma, ela desviou o olhar para a paisagem urbana que se desenrolava através da janela. Eles estavam quase no cruzamento da 58th com a Lexington quase Quinn avistou o pequeno vulto correndo para o meio da pista.

“JAKE! FREIA!” Ela gritou, no mesmo minuto que Jake freiou o carro de uma vez.

Quinn não esperou por ninguém, ela abriu a porta do carro de uma vez correndo para frente do veículo, tomando em seus braços o pequeno menino com não mais de dois anos de idade, que chorava sentado no chão.

Rachel e Tony apareceram ao seu lado logo em seguida. Jake e outro guarda-costas desceram do carro esquadrilhando a área atentos, e do carro que vinha logo atrás deles, desceram mais alguns guarda-costas, que se dividiram em desviar o trânsito e circular a área.

Quinn examinava o menino angustiada. Ele não havia sofrido nenhum arranhão, mas o susto parecia tê-lo apavorado e agora o pequeno se segurava a loira com todas as suas forças. Rachel encarava a cena sem saber o que fazer.

“De onde ele veio?” Tony tomou a frente da situação, percorrendo a rua com os olhos, esperando ver algum pai desesperado atrás do filho. Porém, não havia nada além de alguns motoristas mal-humorados e uns poucos pedestres curiosos.

Rachel se aproximou de sua namorada, que ainda se agitava passando as mãos pelo rosto do menino, e percebeu que a criança tinha um aspecto sujo, com roupas rasgadas e gastas. Ele também tinha algumas marcas de cortes e queimaduras nos braços que não pareciam ser recentes.

“Quinn, amor, nós precisamos desobstruir a avenida.” Rachel argumentou. “Venha, vamos leva-lo ao hospital.”

Tony se aproximou das duas.

“Ninguém sabe de onde veio ele. Um dos lojistas disse que o viu sair correndo de um dos lixeiros antes de atravessar a rua.”  

Quinn apertou o menino junto ao corpo, olhando apavorada para Rachel.

“Rach...ele está sozinho?”

Rachel ajudou sua namorada a se levantar, o pequeno já mais calmo ainda estava agarrado a ela, escondendo o rosto junto ao busto de Quinn.

“Vamos, amor. Nós vamos achar um jeito de ajudar a encontrar os pais dele.”

Quinn assentiu, ainda nervosa, voltando a segurança do carro com Rachel entrando logo em seguida. Tony imediatamente pediu para que Jake se dirigisse ao hospital mais próximo, enquanto já ligava para uma das assistentes sociais da Fundação.

Ao lado de Rachel, Quinn se desdobrava para acalentar o pequeno em seus braços.

“Vai ficar tudo bem.” Ela sussurrava com a voz doce, afagando os cabelos loiros claros do garotinho, enquanto sentia as mãozinhas dele se fecharem ainda com mais força contra o tecido de seu cardigan.

...

Michele respirou fundo ao descer do taxi e atravessar todo o lobby até a recepção do Raven Hills.

“Por favor, quarto 809, para senhorita Scott.” Ela solicitou a atendente.

A jovem prontamente digitou algo no computador, e voltou-se para Michele.

“Desculpe, senhorita. Mas essa suíte foi desocupada ontem.”

Michele arregalou os olhos, sentindo o estômago revirar.

“Isso é impossível. Por favor, você pode checar novamente? Eu procuro Elise Scott, a estadia dela foi prolongada há algumas semanas, eu estava presente quando...”

A atendente assentiu com um olhar compreensivo. Ela já estava familiarizada com a jovem atriz, e sabia que a hospede da suíte indicada e a garota a sua frente eram amigas.

“Eu entendo, senhorita, mas a senhorita Scott solicitou o check-out ontem no começo da tarde. Ela deixou o hotel por volta das 14 horas.”

Michele apertou os punhos contra o peito, agradecendo a recepcionista. Atordoada, ela puxou o celular de dentro da bolsa, buscando pelo contato de Elise em sua agenda antes de apertar a tela para efetuar a chamada.

Ela aguardou, aguardou e aguardou, até ouvir o sinal da caixa de mensagens.

“Senhorita Bergman?” O concierge do hotel a chamou baixinho. Michele seguiu o som da voz dele, sem realmente prestar atenção no que ele dizia. Até que ele repetir novamente. “ A senhorita está bem? Precisa que arranjemos acomodações para a noite?”

“Quarto 809, por favor.” A pequena morena balbuciou.

O homem consentiu, tomando gentilmente das mãos dela a mala de tamanho médio que a jovem atriz estava segurando, e a conduziu com cuidado de volta ao lobby.

“Não se preocupe, senhorita. Podemos realizar seu check-in depois. Vou acompanha-la até o quarto agora mesmo.”

“Okay.” Ela respondeu baixinho, o seguindo até os elevadores.

...

6 RUE DE PONTHIEU, PARIS, FRANCE

“Bonsoir, bienvenue à Origines, Mademoiselle.”

“Merci.” Elise respondeu com um sorriso, aceitando a ajuda do rapaz para retirar seu casaco e informou. “Tableau 4, réservation pour Lana Mills.”

“Ah, par ici s'il vous plaît.” Ele indicou o caminho, depois de uma breve cortesia.

Elise logo avistou a mulher que procurava, sentada à mesa com uma postura imponente e sorriso malicioso.

“Voudrais-tu un verre de vin, Mademoiselle?” O rapaz perguntou, ao mesmo tempo que puxava a cadeira para Elise acomodar-se.

“Côte de Beaune 2015, s'il vous plaît.”

 Sorrindo o rapaz se retirou para providenciar o pedido. Elise encarou Lana, que pousou o rosto sobre a palma de sua mão direita, enquanto contornava com o indicador esquerdo as bordas da taça de vinho tinto diante dela.

“Escapar para Paris é dramático demais, até mesmo para você, minha querida. Ela realmente mexeu com você, huh?” Lana cantarolou divertida, vendo Elise fechar a cara.

Oh, L'amour a ses raisons que la raison n'explique pas, spécialement quand l’un part l’autre a mal.” Lana continuou, ignorando a irritação aflorando cada vez mais nas irises esverdeadas da ruiva à sua frente.

“De qualquer maneira, você está pensando em se esconder aqui até quando? O musical teve data remarcada para estreia daqui há três semanas, lembra?”

Elise travou o queixo.

“Eu tenho mais alguns dias de folga.”   

“Entendo.” Lana levou a taça até os lábios cuidadosamente delineados por seu batom vermelho. “Acho que sei o que você precisa.”

Elise estreitou os olhos e Lana não perdeu a oportunidade de provoca-la ainda mais, exibindo um sorriso digno de uma daquelas vilãs inigualavelmente poderosas.

“De um escândalo.” Lana concluiu no exato momento que o garçom retornou para servir a taça de vinho a Elise.

“Profitez de votre soirée, Mademoiselle.”


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