Alvo Potter e o Segredo do Cristal escrita por T M Forte


Capítulo 2
II - Estrada tortuosa - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Oieee! (17/07/15)
Muito bem, vocês devem estar se perguntando (ou não) o porquê daquele "Parte 1" no título do capítulo, então vamos lá: Quando eu comecei a reescrever a história, tive muitas ideias sobre coisas que poderiam ser mudadas ou acrescentadas e, por conta disso, o capítulo ficou muito grande (cerca de treze mil palavras. TREZE MIL!), por isso, para não desgastar muito vocês, eu decidi dividi-lo em duas ou três partes. Isso pode acontecer nos demais capítulos.
Bem, era só isso mesmo.
Espero que gostem! Não se esqueçam de comentar/favoritar/recomendar a história porque isso me incentiva (e muito) a continuar!


*Atualizada 13/07/2018*



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O pequeno garoto se via em um espaço completamente vazio. Trajava roupas formais brancas e uma densa e gélida névoa brilhosa congelava sua alma, impedindo-o de seguir seu caminho. Estaria ele morto? Aquele seria o chamado “céu” que tanto ouvia falar, o lugar para onde pessoas boas iam assim que partiam? Ou seria completamente o oposto disso?

Um pedido de ajuda agoniante gritou-se no ar, vindo de todas as direções, assim não pode identificar se era um homem ou uma mulher o solicitando. O som se repetia, cada vez mais rápido e mais alto, despertando o desespero em seu coração.

Tombou no chão cobrindo as orelhas com as mãos, implorando internamente para que alguém o tirasse dali e que as lágrimas parassem de escorrer de seus olhos.

Instantes depois, tudo parou: as vozes, as lágrimas, o medo, tudo.

Permaneceu imóvel durante alguns segundos, prestando atenção para que seus ouvidos detectassem algum ruído. Nada. Estava sozinho. Respirou fundo, adquirindo a coragem que precisava para olhar para frente e arranjar um jeito de sair dali.

Distanciou as pálpebras e mirou a coisa mais tenebrosa que vira na vida: Sem pernas ou braços. Corpo ou cabeça. Nem ao menos rosto possuía. Um par de olhos azuis profundos e cintilantes, cílios pretos longuíssimos e uma boca perfeita pintada de vermelho vivo que flutuavam no ar em sua frente.

Ele abriu a boca para pedir por socorro, porém o ser fora mais rápido: uma luva branca cobrira sua boca e nariz, furtando-lhe oxigênio e impedindo sua voz de se soltar, e outra puxara sua nunca para mais perto de si, fazendo-o seus olhos ficarem penetrados com os dele.

— A estrela me matou, agora tu morrerás por isso... – sussurrou uma voz angelical, engolindo-o em uma escuridão profunda.

 

Os olhos verdes se arregalaram nas órbitas, como se fossem saltar do rosto do garoto de onze anos. Foi só um pesadelo... concluiu ele ao retirar as cobertas sobre seu corpo magro e pôr-se a sentar em sua cama, passando uma das mãos sobre a testa suada, ainda ofegante.

Aquele mesmo sonho o assombrara durante mais uma noite, a quarta seguida.

O jovem levantou-se de seu leito e foi em direção à janela, onde a cortina branca deixava passar um pouco da luz fraca e amarelada do amanhecer. Tocou o véu com a ponta dos dedos, o afastou e observou Godric's Hollow recebendo as primeiras luzes da manhã.

O Sol tentava escapar por entre nuvens cinzentas ao deixar que o vilarejo recebesse menos luz do que normalmente receberia aquele horário. A casa vizinha, que pertencia à simpática e pouco enrugada Sra. Jackson, começava a mostrar algum sinal de vida dentro dela como, por exemplo, a luz do quarto principal, que ficava na direção de onde o menino olhava, sendo acessa e, graças a pequena distância entre uma e outra residência, pôde ouvir o aparelho de som sendo ligado e a voz de um homem cantando no ar.

Pretty woman – cantarolou ele baixinho junto com o cantor, voltando a fechar a cortina.

Seu quarto tinha um tamanho relativamente grande apesar de sua cama ocupar uma boa parte dele, a escrivaninha de madeira clara, onde se encontrava um computador portátil branco, que ele quase nunca usava, e uma quantidade razoável de livros com títulos estranhos como “Guia da Magia para Bruxos Inexperientes” e “Como azarar e não ser azarado, seu tapado”, que ficava sob a janela e as portas duplas, também feitas de madeira, do armário embutido na parede, onde antes era alvo da maioria dos pesadelos daquele jovem. Episódios de “Pai, tem um monstro no meu armário!” nunca foram incomuns naquela casa.

O menino lançou o olhar em direção à cômoda que ficava ao lado de sua cama e visualizou seu relógio digital indicando às seis e vinte e quatro da manhã. Teria um pouco mais de meia hora de solidão e silêncio antes que os outros quatro indivíduos que moravam ali despertassem de seus tranquilos sonhos.

Pegou a caneta vermelha que estava sobre um de seus livros e riscou o dia doze de agosto no calendário pendurado na parede, dando um suspiro entristecido.

— Restam apenas vinte e três dias – sussurrou para si mesmo, colocando de volta a tampa em sua caneta e a jogando dentro da primeira gaveta do móvel.

Voltou a se sentar em sua cama, tampando os olhos verdes com as palmas das mãos, e permaneceu em silêncio enquanto ouvia as palavras que eram ditas por uma vozinha no fundo de sua mente, qual o menino pensava ser sua consciência.

Vinte e três dias. Apenas míseros vinte e três dias! Depois disso, pode dizer “tchauzinho” para seu sonho de ir para Hogwarts, meu amigo. A carta deveria ter chego no dia do seu aniversário e hoje, vinte e oito dias depois, ainda nenhuma coruja foi vista cruzando o céu do País de Gales. Sabe que há grandes chances de Tiago estar certo todas as vezes que insinuou que você fosse um aborto, não é? Lílian, que só tem nove anos, consegue fazer seus brinquedos saírem voando por aí, por causa da magia involuntária, e você nunca conseguiu fazer uma colher se mexer! Como pode esperar ser chamado para uma escola de magia se você não é um ser mágico?! Você não é um bruxo, Alvo Severo Potter!!

O ronco alto de seu pai, vindo do quarto no final do corredor, foi o que despertou o jovem de seus devaneios e fez com que ele se atirasse de volta em sua cama, arremessando o travesseiro no chão, irritadiço, logo em seguida.

Era filho de pessoas importantes do mundo mágico e não podia, simplesmente, se dar ao luxo de não ser uma criatura mágica. Não ser um bruxo estava completamente fora de cogitação. Como poderia? Afinal, toda sua família era bruxa.

Seu pai era um dos maiores heróis de todo mundo mágico, um ícone, uma fonte de inspiração para muitos. Com apenas dezessete anos de idade ele havia conseguido derrotar o bruxo mais temido de toda a Europa, o aclamado “Lorde das Trevas”, e, logo em seguida, lançou-se para o Ministério da Magia, onde iniciou sua carreira como auror, que também eram chamados de “Cães do Ministério”, e se dedicou a derrotar todos e quaisquer bruxos que ameaçassem a paz do Reino Unido.

Nove anos depois disto, foi nomeado como “O mais novo Chefe da Seção de Aurores da história”, posição na qual continuava a exercer até aquele dado momento.

Sua mãe ganhou inúmeros prêmios como artilheira do time de quadribol, o jogo mais famoso do mundo mágico, Harpias de Holyhead como, por exemplo, o de “Melhor jogador(a) do ano – Liga Europeia de Quadribol 2002”, que ficava junto à outras taças e medalhas em uma prateleira alta na sala de estar.

Há seis anos, ela havia colocado a carreira de jogadora um pouco de lado, sem nunca deixar em segundo plano seu amor pelo esporte, e se tornou correspondente esportiva no jornal mágico mais popular do Reino Unido, O Profeta Diário, apenas para poder ficar mais próxima de sua família, algo que seria completamente impossível se ainda liderasse uma equipe.

O menino cruzou as mãos por trás da cabeça e fechou os olhos ao tentar aquietar sua mente, que se arregalaram novamente (o que para ele foram) poucos instantes depois.

O som de leves batidas recuavam pelo ambiente. Alvo apoiou-se nos cotovelos e mirou em direção de onde o barulho parecia ter surgido: a janela. O ruído se propagou novamente, pequenas batidinhas no vidro. Levantou-se e, ao abrir completamente as cortinas, deparou-se com um par de olhos negros e atentos o observando, com a cabeça pendida um pouco para um dos lados.

Hércules, a coruja-das-torres de seu irmão mais velho, Tiago, entrou em disparada para dentro do quarto assim que o jovem abriu a janela. A ave deixou algo que carregava no bico cair sobre a cama do menino enquanto dava voltas e mais voltas pelo quarto, alegre por ter retornado ao lar.

Era como se acabara de engolido três grandes pedras de gelo quando analisou melhor a coisa branca sobre sua cama: uma carta. Hércules encerrou seu divertimento pousando na cabeceira da cama de Alvo ao o observar atentamente.

Não, não pode ser… pensava Alvo, incerto daquilo que via. Correu em direção ao envelope, com medo de que o mesmo, talvez, sumisse diante de seus olhos, e o observou em suas mãos com um enorme sorriso, que se desmanchou com a mesma facilidade com que surgiu. Na parte de trás da correspondência estava escrito para quem ela era endereçada. As palavras Tiago S. Potter, Godric's Hollow, 232 foram escritas em tinta preta por uma letra horrível, até parecia ser alguma outra língua.

Alvo bufou, sentando novamente na cama. Sabia que era muito emocionante para ser verdade.

Analisou com atenção o envelope em suas mãos, porém, a única coisa que se ressaltou foi o selo com que ele estava fechado: nem grande ou pequeno, destacava-se, principalmente, por causa de suas cores chamativas e brilhantes, vermelho e dourado, além do desenho em alto-relevo de um leão sobre suas duas patas traseiras e as siglas “G.G.” sob ele.

Grifinória… pensou ele, mordendo o lábio inferior.

O menino girava o pedaço de papel entre seus dedos, pensativo. As únicas pessoas que escreveriam para seu irmão seriam os dos amiguinhos encrenqueiros que ele havia feito em Hogwarts. Apesar de Tiago Sirius jamais ter sido tachado como “uma influência positiva” para quem quer que seja, ao decorrer do ano em que frequentou a escola de magia sozinho, Alvo notou que, assim que o irmão mais velho retornou para as férias de verão, o garoto ficara mais insuportável do que jamais fora.

Tiago divertia-se em ver o sofrimento e a angustia do mais novo no que dizia respeito a chegada da carta da escola, qual confirmaria que havia sangue mágico em suas veias, e insistia em enfatizar em como aquele local era incrível ou contar as aventuras realizadas durante o ano com os amiguinhos idiotas. Arrumar confusão com os garotos do quinto ano não é bravura e sim burrice pensou certa noite depois dele e o restante da família ter de ouvir mais de meia hora de ladainhas que saíam da boca do primogênito de seus pais.

Olhou para o relógio, sete e quarenta e seis da manhã. Havia pegado no sono antes de Hércules surgir em sua janela?

Provavelmente alguns integrantes de sua ainda estavam deitados e sonolentos, o que era perfeito para não ser pego com aquela carta em sua posse. Teria de ser rápido. Tiago o mataria se imaginasse que estava prestes a vê-la, apenas por um ato de vingança por todas as provocações feitas a ele

Descolou, delicadamente, uma das pontas do selo, tomando cuidado para não rasgar, tirou um pedaço amarelo de pergaminho e, depois de fazer o máximo de silêncio que conseguia enquanto desdobrava o papel, tentou entender o que aquela mesma letra torta do envelope dizia na extensa carta:

 

Obrigado, Tiago. Estou de castigo até a volta às aulas e você tem culpa nisso!

Zoe encontrou o envelope com a carta dentro do meu malão e foi perguntar para o meu pai porquê eu estava com aquilo. Droga, já tinha avisando para aquela garota que não era para entrar no meu quarto ou mexer nas minhas coisas!

Merlim, nunca tinha visto o papai tão bravo na vida e o idiota aqui teve que assumir toda a culpa por essa idiotice! Deveria ter dito que essa ideia estúpida tinha sido toda sua, mas não disse. Sou um ótimo amigo… E muito burro, também. Sério, se mamãe não estivesse ali para me proteger, eu ficaria sem sentar direito por uns bons dias. Sabe o que é mais triste? Eu não estou exagerando.

Ah, não te contei a melhor parte, vamos na casa dos teus avós hoje à noite, acho que a raiva o fez aceitar o convite. Ele disse “Você vai se desculpar por toda essa palhaçada ou então…” minha mãe mandou eu vir para o meu quarto depois disto e cá estou eu. Confinado sem videogame, celular, computador, vassoura, skate… Só faltou ele me proibir de comer, tomar banho ou respirar! Talvez eu parar de respirar ele mesmo ia fazer se ficasse na sala por mais tempo...

Sério, Potter, eu nunca senti tanto ódio de você quanto estou sentido agora. E não me venha com “Nossa, cara, estou te devendo uma” porque esta vai contar como cinco, seu desgraçado!

Aproveita que você, diferente de mim, pode sair do seu quatro e ensina alguns truques para essa galinha que você chama de coruja. Tive que prender ele dentro do armário para ver se calava o bico. Não deu muito certo, mas, pelo menos, o som ficou bem mais baixo. Nem quero imaginar o que o papai faria comigo se me pegasse escrevendo essa carta, principalmente para você.

 

Curta sua liberdade, Potter

Nos vemos à noite

Zachary Longbottom

 

Alvo dobrou rapidamente a carta, guardo-a de volta em seu envelope branco e colou o selo do leão da Grifinória. Reparou que o ronco vindo do final do corredor havia cessado, seu pai já estava acordado e provavelmente bateria em sua porta em poucos minutos.

Virou-se para Hércules e estendeu o pedaço de papel diante do bico do mesmo.

— Leve-a para o meu o irmão – mandou ele, balançando o objeto enfrente à ave, que apenas o encarava com cara de poucos amigos, como se dissesse “Você não deveria ter lido isto, garoto”. Ao notar sua expressão, Alvo continuou: – Ei, não me olhe assim, pássaro, eu não… – mas antes do menino continuar sua frase, Hércules já havia arrancado o envelope de suas mãos e voava pela janela, deixando o menino na mais plena solidão.

Deitou-se novamente com as mãos cruzadas sob a cabeça e analisou aquilo que acabara de ler: Zachary Longbottom era o filho mais velho de seu padrinho, atual vice-diretor e professor de herbologia da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Neville Longbottom. Zachary e Tiago tinham a mesma idade, por isso o laço de amizade entre os meninos se formou desde muito cedo e sabia que os mesmos dividiam o mesmo dormitório com outros três garotos da mesma Casa.

Alvo podia afirmar que o irmão havia aprontado algo e, pelo que dizia a carta extremamente mal escrita, não era nada pequeno para o padrinho, que sempre foi tão calmo e pacífico, ficar tão furioso. Talvez tenha escondido alguma mensagem da diretora para o pai de Alvo dizendo que seu filho mais velho tinha aprontado alguma coisa? OU fora expulso da escola? Ou, quem sabe…

De repente, fazendo o menino se esquecer de suas hipóteses não tão improváveis, a porta de seu quarto foi se abrindo lentamente e de lá surgiu um homem ainda usando sua roupa de dormir, regata branca – que deixava expostos seus braços repletos de cicatrizes – e calça de moletom azul, coçando um dos olhos sob os óculos de aro redondo com as pontas dos dedos.

Tinha os mesmos cabelos bagunçados – apesar dos seus serem negro, um tanto crisalhos, e os do garoto, castanhos – e os olhos cor de esmeraldas de Alvo, magro, porém, relativamente forte, alto e, apesar de não se destacar muito por causa do cabelo que a cobria, uma fina cicatriz em forma de raio em sua testa.

O pai ergueu uma das sobrancelhas ao notar que o filho já estava acordado e apoiou-se no batente da porta, ainda segurando a maçaneta prateada.

— Já acordado? – perguntou, o conhecendo suficientemente bem para saber que ele jamais acordaria antes das onze horas da manhã por vontade própria – Teve outro pesadelo? – As maçãs do rosto pálido do menino coraram.

— Não, eu… – tentou dizer assim que saltou da sua cama criando uma desculpa. Sob o olhar curioso de seu pai, apenas concluiu, dando de ombros: – Eu perdi o sono. Só isso.

Tinha onze anos, não poderia simplesmente ir para o quarto de seus pais cada vez que tivesse um pesadelo, apesar que os mesmos diziam não se importar com aquilo, sem contar que, se este ato chegasse aos ouvidos de Tiago, jamais seria perdoado. O irmão, apesar de ser apenas um ano e alguns meses mais velho que ele, insistia em afirmar que Alvo era o “bebê” da família e tudo que ele menos queria era comprovar aquela insinuação.

O pai deu um pequeno sorriso de canto de boca, caminhou até o filho e bagunçou, ainda mais, seus cabelos. Ele sempre fazia aquilo, era seu principal gesto de carinho.

— O café está pronto! – gritou uma voz feminina no andar inferior da casa.

— Com fome? – perguntou o homem, sem precisar de uma resposta verbal pois o ronco vindo da barriga do menino disse por si só. Deu uma bela risada, idêntica à do filho, ao se lançarem corredor afora.

Alvo, assim que atravessou o batente de seu quarto, notou que a porta logo enfrente a sua estava aberta. Os irmãos dormiam em quartos opostos ao corredor, onde no final dele, do lado esquerdo ao garoto, se encontrava o banheiro que os dois meninos tinham que dividir. Rolou os olhos para seu lado direito, onde no final do corredor iniciava-se outro, cujo dava para o quarto de seus pais e, enfrente a este, o da irmã caçula.

— Você vem? – perguntou o adulto, que já havia descido três degraus da escadaria ao olhá-lo por cima do ombro. Alvo apenas concordou com a cabeça, fazendo-o voltar ao seu caminho, e se dirigiu a abertura enfrente a sua.

A porta de madeira estava aberta e, ao se encostar no batente igualmente claro, observou o ambiente como se o estivesse vendo pela primeira vez em sua vida: o pé direito inclinado do teto, pintado de uma cor vermelha que beirava ao vinho, era a principal diferença entre os quartos dos dois irmãos, a cama, desarrumada, se encontrava sob a parede colorida, a janela grande estava aberta e, sobre o estofado que mais lembrava um pequeno sofá embutido na parede sob ela, encontrava-se a mochila vermelha e preta que o irmão usava para ir às aulas, o violão cor de marfim que antes pertencia ao afilhado de seu pai, Teddy, e a pasta preta na qual o garoto guardava as folhas com as cifras de suas músicas favoritas.

Alvo encarava as costas de um menino com cabelos castanhos um tanto cacheados e rebeldes que estava sentado na cadeira preta de rodinhas e escrevia algo com sua caneta de pena, apoiando-se na escrivaninha de madeira. Ao seu lado, encontrava-se Hércules já dentro de sua gaiola de ferro, admirando o dono com os imensos olhos negros, que o miraram com desprezo assim que o notaram ele ali. Alvo agradeceu em silêncio por aves não saberem se comunicar com humanos.

— Que tá fazendo, Ti? – perguntou uma voz fininha e cheia de sono, que mais lembrava um miado, ao lado de Alvo. O menino deveria ser quase dois palmos e meio mais alto que aquela criaturinha de cabelos ruivos, que chegavam até a altura de seus ombros, bagunçados e que trajava uma camisola comprida cor-de-rosa e pantufas em forma de vacas. Coçava um dos olhinhos castanhos com um dos punhos antes de ficar na ponta dos pés e depositar um beijo na bochecha de Alvo ao sussurrar um “Bom dia” para ele, que sorriu em resposta.

— Escrevendo – respondeu o garoto, sem ao menos se dar ao trabalho de virar para mirá-la.

— Pra quem? – perguntou a pequena, animada, entrando no aposento e se postando ao lado de Tiago. Segurou no tampo da escrivaninha e pôs-se sobre a ponta dos dedos dos pés novamente, para tentar enxergar algo.

— Não amola, Lílian – ralhou o mais velho dos três irmãos, dobrando o pedaço de pergaminho em que escrevia e, em seguida, o empurrou para debaixo da gaiola de sua coruja-das-torres, distante dos olhos curiosos da irmã.

Tiago virou-se na cadeira e parou em frente à pequena Lílian, que cruzou os braços sobre o desenho de uma flor amarela em seu pijama e estreitou tanto os lábios que eles se tornaram uma fina linha sob seu nariz sardento. Ele sorriu em sua direção, um sorriso galanteador, e beliscou levemente uma de suas bochechas antes de se levantar, fazendo ela deixar escapar um pequeno riso.

O mais velho não demonstrava ter apenas doze anos de idade por causa de sua altura, grande parte por culpa de seus cabelos cheios que o faziam ter mais sete centímetros do que realmente tinha. Usava um pijama composto por uma camisa cinza e calça xadrez vermelha e, ao finalmente virar em direção de onde Alvo estava parado, seus olhos castanho-esverdeados se estreitaram e uma das sobrancelhas se ergueu, deixando escapar um sorriso irônico nos lábios rosados.

— Teve outro pesadelo, Alvinho? – provocou ele ao passar pelo irmão mais novo, seguido de perto pela caçula – Gritou a noite inteira. Aposto que foi dormir no quarto do papai de novo, não é, neném?

Alvo bufou. Durante os onze anos de sua vida, teve de conviver com as inúmeras tentativas do irmão de irritá-lo, que, na maioria das vezes, funcionavam, mas, esta ele apenas decidiu ignorar.


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Notas finais do capítulo

— Olha eu aqui de novo!
— E aí? Gostaram do capítulo? Vamos, não tenha medo de deixar um comentário me dizendo o que achou. Eu não mordo. Juro!
— Não se esqueçam de comentar/favoritar/recomendar a história porque isso me incentiva (e muito) a continuar!
— Beijos da autora estranha ♥



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