ANTROPÓFAGO - Diário de um Canibal escrita por Adélison Silva


Capítulo 7
Acerto de contas


Notas iniciais do capítulo

De volta a cidade, o que Max encontrará? E o que ele fará, depois de tanto tempo isolado? Vamos acompanhar pra descobrir.



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Saí da caverna eufórico, destinado a voltar para a cidade de Braço Forte. Eu não acreditava que finalmente eu poderia ver a minha Érica. ‘Como será que ela está? Aposto que continua linda!’ Eu não sabia onde estava por isso, não poderia saber para onde iria, comecei então andar pela a mata completamente sem rumo. Não demorou muito e a noite decaiu, eu já estava cansado, mas não poderia desanimar.

   Depois de muito andar encontro uma estrada de asfalto antigo e esburacada, ela não me parecia estranha. Ao ver uma barriguda (árvore que tem esse apelido por conta do seu tronco ser grosso dando o formato de uma barriga), tenho certeza. Era a estrada que anos antes havia passado na excursão que mudou completamente o sentido da minha vida. Eu já estava exausto de tanto andar, mas ao ver aquela estrada, me animei, sabia que ao percorrê-la eu poderia finalmente chegar a Braço Forte. E quem sabe, reencontrar a minha amada Érica?

  Já era madrugada quando ao longe avistei as luzes, apressei o passo, e corri em sua direção. Foi então que eu me lembrei de quem eu era, do monstro que havia me tornado. Seu Baltasar estava certo, o mundo não estava preparado para me ver. Enchi-me de remorso e aos poucos fui diminuindo os passos. Me sentia como um leproso da época de Cristo, descriminado pela a sociedade. Era cruel o que a vida me havia dado de presente. Todos do meu passado eram os culpados por eu estar assim, direto ou indiretamente contribuíram para o meu fracasso, inclusive a própria Érica.

  Ao entrar na cidade, encontro ruas desertas, era uma cidadezinha pacata de poucos habitantes, e por ser madrugada todos dormiam. Apenas ao longe um boteco aberto, com músicas brega de Júlio Nascimento. Os que ali estavam não conseguiam enxergar um palmo em sua frente de tão embriagados. O que era bom, assim eu não chamaria atenção, nem despertaria olhares assustados.

 

 

MULHER

(gritando em off) Volta aqui! Vai ter coragem de me largar aqui com o seu filho na barriga?

 

 

  Ouvi gritos ao longe. Desci por uma rua um pouco atrás da república da Dona Elizabeth, em destino a gritaria. Ao longe vi um casal discutindo violentamente, ela na frente do carro gritava e batia no capô, exigindo que o homem descesse. E ele dentro do carro ameaçava passar por cima se ela não saísse da frente.

 

 

HOMEM

Sai da minha frente!

 

MULHER

(grávida) Passa por cima, quero ver se tem coragem de matar, a mim e ao seu filho!

 

 

  Ela tinha mais ou menos um metro e sessenta, cabelos castanhos e longos jogados sobre os ombros. Grávida aparentemente de oito a nove meses, ela gritava e o advertia que sumiria no mundo e ele nunca conheceria o filho. O homem demonstrava estressado, e exigia passagem.

 

 

HOMEM

Sai da minha frente Dayse, se eu ficar serei capaz de fazer besteira!

 

DAYSE

Não vou sair! Eu já sei o que você quer. Você vai atrás dela, né? Da vagabunda da Érica?

 

 

  Nem todas as Marias são as mesmas, mas senti um aperto no peito ao ouvir aquele nome. Será que se tratava da minha Érica? Disfarçadamente vou me aproximando, para ouvir de perto a discussão.

 

DAYSE

Vamos Ricardo! Quero ver se tem coragem de passar por cima de mim!

 

 

[FLASHBACK ON]

 

 

Ricardo e dois de seus amigos vão passando e empurra Max contra os armários, derrubando os seus materiais no chão. Max olha tímido para eles, abaixa e começa a catar o seu material. Eles zombam de Max.

 

 

RICARDO

(zombando) Olhem só, é muito zé ruela!

 

 

Davi se aproxima ao ver Ricardo zombando de Max.

 

 

DAVI

— Qual é a graça, Ricardo?

 

RICARDO

Chegou o macho dele. Sei não, acho que está rolando alguma coisa aí.

 

 

***

 

 

Ricardo vai se aproximando acompanhado de seus amigos.

 

 

RICARDO

Olha só rapazes, como o menino está perfumado, bem ajeitado, cabelinho no gel. Está investindo hem garoto, nunca te vi assim! E cadê ela, a gostosa da Érica?

 

DAVI

(levantando e se colocando entre Ricardo e Max) Agora já chega Ricardo, respeita o garoto!

 

RICARDO

(empurrando Davi) Qual é maluco? Não estou fazendo nada contigo. Fica na sua. A Érica é linda, e gostosa sim. Se eu pegasse uma mulher daquela eu torava ela no meio.

 

 

***

 

 

Ricardo com o dedo polegar alisa o canto da boca de Érica, como se limpasse algo. Max fica nervoso diante daquela cena. Tomado pela a raiva Max se aproxima dos dois e dá um soco em Ricardo. Ricardo cambaleia para o lado, mas se mantém em pé. Érica, nervosa, solta um berro.

 

 

ÉRICA

Está louco, Max?

 

MAX

(se justificando) Esse cara estava te tocando!

 

ÉRICA

Você é um imbecil, a gente estava apenas conversando!

 

 

***

 

 

MAX

Não me enche o saco Ricardo. Não se toca? Érica também não quer nada contigo.

 

RICARDO

Olha isso meninos! Então, você não sabe?

 

MAX

Eu não sei o que?

 

RICARDO

Eu não acredito ninguém contou pra ele.

 

BETO

Conta aí, então. Ele precisa saber da novidade.

 

RICARDO

Entre Érica e eu rolou muito mais do que um simples beijo. Posso te garantir uma coisa, ela é quente. (provocando enquanto sai) Ela é quente!

 

 

[FLASHBACK OFF]

 

 

  Ricardo arrancou com o carro deixando a mulher para trás, xingando-o, e o amaldiçoando. Dayse, a mulher de Ricardo, entrou na casa batendo a porta com violência e discutindo sozinha.

 

 

DAYSE

(gritando) Eu te odeio Ricardo! Desgraçado! (chorando) Não acredito que ele fez isso comigo. Ele me paga! Ele me largou aqui! Ele nunca esqueceu aquela ordinária!

 

 

  A mulher desabafava sozinha. E pelo o que dava pra entender, Ricardo havia casado, mas nunca esquecido Érica. Talvez até a mantinha como amante. Muita coisa aconteceu na minha ausência.

  A porta ficou entreaberta, me atrevi a entrar. Era uma casa muito bonita, o canalha teve sorte. Enquanto eu passei esses últimos anos abrigado em uma caverna, comendo e bebendo o que me restavam, sendo obrigado a conviver com o meu corpo desfigurado, ele subia na vida. Casou, mora em uma bela casa, vai ter um filho, isso não era nada justo, e eu o odiava por isso.

  Dayse foi ate o quarto, abriu o guarda roupa e começou a retirar de lá todas as roupas de Ricardo, as jogavam no chão com violência, algumas ela rasgavam com as próprias mãos desabafando toda a raiva que tinha do marido.

 

 

DAYSE

Eu te odeio! (rasgando algumas roupas) Olha o que eu faço com isso aqui. Nessa casa você não entra mais, nem que eu tenha que colocar fogo em tudo aqui.

 

 

  Fiquei a observando atentamente. Distraído derrubei um porta-retrado que se encontrava sobre um criado mudo, despertando a sua atenção. A mulher se assustou e se desesperou ao olhar para o meu rosto monstruoso.

 

 

DAYSE

— Quem é você? Como entrou aqui?

 

 

  Fiquei parado, e atento a cada um de seus movimentos, não poderia permitir que fugisse. Mais do que depressa ela correu em direção ao banheiro, fui atrás. Ao entrar, agarrou a porta tentando fechar, eu a impedir colocando o pé na frente. Ela empurrou com toda sua força, mas a venci, derrubando-a no chão.

 

 

DAYSE

(gritando desesperada) Por favor, me solte! Não faz nada comigo!

 

 

 Agarrei-lhe pelos os cabelos e a levei pelos os cômodos da casa, ela gritava, pedia por misericórdia, suplicava pela a vida. Com uma mão segurei os seus cabelos, enquanto com a outra pressionei a sua boca, sufocando os seus gritos. Eu precisava achar alguma coisa para marrá-la.

  Desci a escada e fui até a cozinha, abrir todas as portas do armário, e na gaveta encontro uma fita resistente de alumínio, era perfeito. A levei até a sala, e com a fita amarrei-a no corrimão da escada e lacrei a sua boca sufocando o seus gritos acusadores.

 

 

DAYSE

(chorando) Por favor, moço não faz nada comigo! Você pode levar o que você quiser, eu nem vou chamar a polícia.

 

 

Ao terminar de amarrá-la, peguei a fita e lacrei a sua boca.

 

 

MAX

Você é linda! O que de interessante achou nele? Ele não passa de um babaca machista e imbecil. Porque você casou com o Ricardo? Você está grávida. Dará um filho a ele, uma família. E isso não é nada justo.  Eu odeio mulheres como você, que sempre procuram está com homens que não prestam. Tem tesão em está com paspalhão. Mulheres como você sempre humilham rapazes como eu.

 

 

Era possível ver em seus olhos o desespero. Voltei à cozinha e peguei um amolador de faca, precisava deixar o meu punhal bem afiado. Retornei a sala amolando o punhal, e com um ódio no olhar. Eu tinha medo de mim mesmo, sentia prazer em torturar aquela moça, é como se o desespero dela fosse o mesmo do Ricardo.

 

MAX

Já brincou de médico? Era o meu sonho de criança, eu queria ser cirurgião. Impressionante, uma pessoa poder abrir o corpo de outro, mexer em todos os seus órgãos e depois só costurar.

 

 

Desci até próximo a Dayse e falei com o olhar bem ficho ao dela.

 

 

MAX

Hoje vou realizar esse meu sonho. E você será a minha paciente. (com ironia) Uma pena que não temos anestesia.

 

 

Dayse gemia, chorava, esperneava, e isso só aumentava o meu prazer. Era como se nada mais importasse na minha vida, apenas aquele exato momento em que eu era supremo. Estava em minhas mãos à decisão de vida ou morte. Amarrei bem as suas pernas, com a mesma fita que havia amarrado as mãos e a boca, deixando-a completamente imóvel. Com a faca já bem afiada, limpei com álcool e me preparei para fazer uma incisão em seu abdome. Minha intenção era fazer uma cesariana e retirar a criança que estava em seu útero. Não poderia permitir que o bebê sofresse com a mãe.

 

 

MAX

Não se preocupe isso não vai doer. (com sarcasmo) Mentira, isso vai doer muito!

 

 

  Dayse estava usando um vestido estilo ladylike aberto na frente com uma fita transpassada na cintura e a saia em formato evasê. Encostei a faca no decote do vestido e fui cortando até chegar abaixo da cintura. Depois então, com as mãos fui puxando e rasgando o resto do vestido deixando-a completamente nua. Dayse tentava entrelaçar as pernas para esconder a sua nudez. Porém eu puxava as suas pernas afastando uma da outra. Calculadamente inseri a faca um pouco acima da virilha fazendo uma incisão.  Ela gemia de dor, queria gritar, mas era impossível por está com a boca amordaçada. Lágrimas escorriam pelo o seu rosto e molhavam todo o seu seio. E quanto mais sofrimento ela sentia mais prazer me dava. O sangue escorria pelo o chão molhando o carpete. Dayse não aguentando a dor amolece todo o corpo e desfalece sobre os degraus. Fui cortando por vez cada camada de seu abdome até chegar ao útero.

  Enfiei a mão pela a incisão que havia feito, e senti a criança ainda lá dentro envolvida na placenta. Com a ponta dos dedos, delicadamente perfuro a placenta e puxo a criança para fora. Incrível, a beleza da vida! Antes mesmo de sair por completo, já se abre em um berro mostrando ao mundo a sua vontade de viver. Era uma menina. E mesmo com a cara de joelho era possível ver traços do Ricardo nela, sem dúvidas era sim filha dele. Érica! Esse foi o nome que escolhi para a criança, dificilmente a mãe concordaria, mas no estado em que estava a sua opinião era impossível de se ouvir.

  Cortei o cordão umbilical e desfiz o elo entre mão e filha. Envolvi a menina em um lençol que forrava o sofá, e a levei até o quarto que os seus pais haviam preparado. Entrei no quarto com a menina em meus braços e fiquei encantado diante de todos os enfeites que encontrava ali.

  Ao ver ali suas pequenas roupas, decidi substitui os trapos dos vestidos de sua mãe por uma manta. Queria evitar qualquer tipo de contaminação na criança, o que tornava complicado pelas as condições em que nos encontrávamos, e pela a forma em que foi feito o parto. A pequena Érica não parava de chorar, pressionei-a sobre os meus peitos e com a outra mão tentei acalmá-la dano leves toques em suas costas. Nada a tranquilizava. Fome! Logo lembrei. Desci a escada apressadamente e a levei até a mãe, mas ao tocá-la percebo que estava morta.

 

 

MAX

(falando sozinho) Pobre mulher, deve ter tido uma hemorragia por perder tanto sangue. Se essa criança não se alimentar ela também não irá resistir.

 

 

  Mesmo assim, posiciono a menina sobre os seios do cadáver da mãe e a ajudo a sugar o colostro do leite para saciar a sua fome.

 

 

MAX

(segurando a menina sobre o peito do cadáver da mãe) Garotinha esperta, soube abocanhar direitinho o peito da sua mãe.

 

 

  Fome saciada. A pequena Érica dormiu sobre o peito da mãe morta. Peguei-a em meus braços e a coloquei no bebê conforto, e a deixei ali dormindo o sono dos anjos.  

  Eu entrava em um estado de melancolia ao ver aquela criança ali dormindo. Ainda existia algo humano em mim.

   Corri o olhar por toda a casa e sofri com as acusações da minha consciência. Que mal havia feito aquela mulher para ter um fim tão cruel? Pobre criança, que crescerá na vida sem a figura de sua mãe. Fui passeando pelos os cômodos da casa, e refletindo sobre tudo aquilo que havia feito. Parei diante de um espelho e fiquei ali, horrorizado com o monstro que se refletia. Queria trocar de lugar com a moça, talvez a morte fosse o meu único sossego. Mas não seria nada justo, antes eu precisava ver a cara do Ricardo diante de tudo aquilo.

  Ao olhar para o lado vi o celular de Dayse em cima da mesa. Peguei o celular e logo no inicio da agenda, vir o nome ‘Amor’, não pensei duas vezes e liguei.  

 

 

RICARDO

(no telefone) O que foi? Se arrependeu do que fez e resolveu me ligar? Pra sua informação eu não fui atrás de Érica coisíssima nenhuma. Simplesmente porque eu não tenho nada com ela.

 

MAX

Você é um péssimo marido!

 

RICARDO

(assustado) Quem está falando? Onde está a minha mulher?


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Notas finais do capítulo

Max faz mais uma vítima. Como ele agirá com a chegada do Ricardo? Deixe o seu comentário...



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