Safe And Sound escrita por GarotaDoValdez


Capítulo 1
Capítulo 1 -Que a sorte esteja sempre ao seu favor


Notas iniciais do capítulo

espero que curtam a história.
boa leitura



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Acordo com as bochechas molhadas e os olhos inchados.

Outro pesadelo com os jogos.

Eu não vou ser escolhida. Não vou.

Não posso.

Levanto a cabeça só para descobrir uma poça de água no canto do meu travesseiro. Removo as cobertas e vou e direção a cozinha.

Mas eu não estou no meu quarto.

Dormi na sala secreta. De novo.

É o único cômodo com TV na casa. Eu sei, Distrito 5, poder, energia, etc. Mas queríamos evitar que as minhas irmãs de 7 e 8 anos assistissem aos Jogos Vorazes.

Além da Tv, há uma cama, um pequeno armário e uma escrivaninha. A cama estaria cheia de mofo se eu não adormecesse nela no dia antes da Colheita desde que fiz 12 anos. O armário guarda velhas cartas de amor de meu pai para minha mãe e muitas fotos. A escrivaninha tem um objeto estranho, caindo aos pedaços, algo resgatado do fundo do mar que minha mãe me disse que se chamava DVD. Passado, ugh.

Abro a portinhola no chão da sala sem emitir nenhum ruído e salto para o chão como uma ninja. A partir daí, sigo meu caminho até a cozinha.

Não fico surpresa ao ver minha mãe sentada à mesa com uma xícara de café na mão e uma foto na outra.

– Mãe? - chamo.

Ela se vira, larga o café e a foto na mesa e caminha até mim para me dar um abraço.

– Bom dia, raio de sol. - ela diz. Sua voz é macia como seda, algo que eu simplesmente adoro nela.

Ela me solta e me dá um beijo no rosto.

– Você dormiu na sala secreta de novo. Posso saber detalhes?

Sento-me à mesa e respiro fundo, para começar a contar meu sonho.

Depois de terminar, minha mãe passa o dedão sob meus olhos marejados.

Era tão real. O jeito que chamavam meu nome na Colheita. A minha nota baixa nos testes finais já na Capital. Alguém sem rosto enfiando uma faca no meu coração ainda no começo dos Jogos.

Não tinha percebido a foto que minha mãe estava segurando, mas eu não preciso olhar para saber quem é.

Ela perdera a melhor amiga nos Jogos Vorazes há muito tempo. Até eu completar a idade própria para colocar meu nome na Colheita, minha mãe lidava bem com a perda.

Ultimamente, ela chora todas as noites.

– Diana acabou de aparecer aqui. - Minha mãe muda repentinamente de assunto - Disse para ela que você iria se trocar e pedi para ela esperar lá fora.

Já sei que isso é uma estratégia para minha mãe arrumar o que eu vou vestir no grande evento de hoje, mas não digo nada. Apenas sigo para o meu quarto e visto uma calça jeans, uma blusa azul lisa e um fino casaco branco.

Penteio os cabelos e os arrumo num coque. Calço os sapatos obrigatórios do nosso distrito, que até seriam bonitos se não fossem vermelho-berrante.

Volta a cozinha, pego uma fatia de bolo que minha mãe fez e vou até a porta.

Bate um vento frio quando a abro. Não deveria ser tão fresco assim nos outros distritos, mas prefiro assim do que um sol das duas da tarde o dia inteiro.

Logo vejo Diana. Ela usa calças jeans como eu, mas sua blusa é branca com detalhes em verde e cor-de-rosa. O sobre-tudo preto bate na metade da sua coxa.

– Fay! - ela se aproxima e me dá um abraço rápido. - Dormiu bem?

– Definitivamente melhor do que o ano passado e o ano retrasado. - Digo entrelaçando meu braço no dela e saímos andando - E você?

– Será que a cada ano nós nos sentimos piores? - minha amiga me responde com outra pergunta - É só nosso terceiro ano, mas eu já espero que acabe logo.

Continuamos andando em silêncio até chegar ao nosso local favorito.

É um pequeno parque, quase nos limites do Distrito, do lado oposto de onde acontece a Colheita.

Escolhemos o banco vazio mais perto e conversamos sobre os Jogos, sobre a escola e sobre outras coisas que são assunto para duas meninas de 14 anos que estão prestes a entrar em uma situação de vida ou morte pela terceira vez.

Perto do parque há uma torre construída há muito tempo atrás, na época da primeira edição dos Jogos, há exatos 72 anos atrás. Nessa torre há um relógio antigo que eu julgo ter bateria infinita, pois funciona até hoje.

Quando marca meio-dia em ponto, eu e Diana vamos cada uma para sua casa para nos arrumarmos.

Demoro um bom tempo no banho. Quando saio do chuveiro, vejo o vestido que minha mãe escolheu mim jogado na cama.

É um vestido que fica para cima dos joelhos, tem alças finas e é branco. Ao lado dele há um casaco vermelho-sangue e o meu par de sapatos típicos vermelho-berrante.

Visto-me e chamo minha mãe para arrumar meus cabelos. Ela chega, e enquanto mexe na minha cabeça, conversamos.

– Hope e Layla já acordaram? - pergunto sobre minhas irmãs.

– Já. Seu pai está arrumando-as para ir até os limites do distrito. - minha mãe responde com a voz trêmula.

– Lá não é perigoso? Por causa das bombas e dos armamentos? E as antenas?

– Faith, vão fazer um show de fogos de artifício para as crianças não ouvirem a Colheita. - ouço a voz da minha mãe com mais força dessa vez.

As crianças do nosso distrito só tem conhecimento dos Jogos a partir dos 11 anos. Já que Hope tem 8 e Layla tem 7, isso pode demorar. Que sorte a delas. Eu queria tanto ser mais nova.

– Cabelos prontos, Fay? - ouço a voz grossa e melodiosa do meu pai vinda da porta.

– Não sei, pergunta para a mamãe! - respondo, rindo pela primeira vez hoje enquanto ele caminha em minha direção para fazer cócegas em mim.

– Ta prontinha. - minha mãe e dá um beijo na testa e depois sai do quarto, me deixando sozinha com o meu pai.

Levanto-me da cama e pulo nos braços do homem na minha frente, parecendo uma criança indefesa. Ele passa uma mãos nas minhas costas carinhosamente.

– Não quero ir, pai! - eu digo como uma criança de 4 anos.

– Calma, filha. - ele me solta e passa as mãos nas minhas bochechas. - Você está sendo pessimista. Quer uma piada? Daquelas que te fazem chorar de rir?

– Não, pai. - olho fundo nos olhos verdes dele - Acho que estou bem.

Como se um furacão aparecesse, minhas irmãs chegam no meu quarto.

Hope, com os cabelos loiros presos em um rabo-de-cavalo e os olhos verdes como os do meu pai brilhando, e Layla, os cabelos castanho-escuros soltos com cachos , caídos em cima dos olhos quase pretos, iguais os da minha mãe.

– Oi, Fay! - diz Hope pulando. - Você vai ver os fogos com a gente?

– Hoje não. - digo com indiferença.

– Porque?! - Layla puxa o meu braço.

– Vou sair com a mamãe, meu bem. - passo a mão nos cabelos da mais nova.

– Tudo bem, então! - as duas dizem juntas e saem do cômodo do mesmo jeito que entraram,

– Estou indo com elas agora, Faith. - meu pai me beia no rosto. - Feliz Jogos Vorazes, e que a sorte esteja sempre ao seu favor, pequena.

Ele sai e minha mãe aparece na porta.

– Vamos, raio de sol! - Ela me conduz até a porta de casa - Os aerodeslizadores já passara por aqui e Shawny já passou pela nossa vizinhança.

Estremeço ao lembrar da representante do meu distrito. A capital a deixou mudada. Todas as roupas, maquiagens... Ew.

No caminho para o centro da cidade, me junto a Diana e a seu irmão mais velho, Aiden. Exceto pela idade e pela altura, os dois estavam idênticos. Usavam blusas largas brancas e a parte de baixo vermelha (Aiden usava uma calça e Diana usava uma saia), além dos sapatos iguais aos meus.

Juntamo-nos a massa de pessoas com pelo menos uma parte da roupa vermelha e chegamos na área de inscrições sem dizer nada. Minha mãe vai para a área onde os adultos costumam ficar, enquanto o irmão de minha amiga segue para o grupo de adolescentes de 16 anos e nós duas nos encaminhamos para o grande grupo de pessoas de 14 anos de idade.

Minha melhor amiga entrelaça os dedos nos meus e eu começo a tremer.

No 'palco' que se estende a nossa frente aparecem três pessoas:

Shawny, com seus cabelos vermelho-fogo cortados bem curtos, em estilo militar, o prefeito Cootch em seu tradicional terno bordô e Terie Stone, um homem de 22 anos com olheiras.

Eles se apresentam rapidamente e o prefeito começa um discurso sobre os Jogos Vorazes, mas não presto atenção, pois começo a ouvir os fogos ao longe. Imediatamente imagino meu nome sendo chamado por Shawny, minha mãe correndo até os limites da cidade, tentando não falar sobre os Jogos para as minhas irmãs...

Diana aperta minha mão e põe a cabeça no meu ombro, me acordando para a realidade, ao tempo de ouvir um "primeiro as damas" na voz cantada e fina da representante.

Vejo a mulher ruiva no palco colocando a mão em uma urno cheia de papéis.

Meu nome está em três deles.

Ela pega um papel do fundo da urna e o mundo parece congelar. Não há mais som de fogos ao longe, nenhum som saindo da boca de Shawny.

Mas ainda consigo identificar as duas curtas palavras saindo dos lábios dela:

– Faith Meinerz.


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Notas finais do capítulo

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