- Não! Mas de jeito nenhum pai! – disse Davis incomodado.

- Mas Davis, por que não? – perguntou Alex.

- Por que é Mountain Village, a cidade dos problemas!

- Mas agora é diferente filho, agora nós podemos...

- Não! Eu disse que não! – disse Davis – E eu não quero mais falar sobre isso. Preciso ir para a escola. Tchau. – disse Davis se virando, pegando sua mochila e indo em direção à porta.

- Essa conversa não terminou não – disse Alex – quando você voltar da escola iremos terminá-la.

- Pra mim, essa conversa terminou aqui,e agora pai – disse Davis abrindo a porta da frente.

- Mas filho...

- Pai? Você lembra tudo o que nós passamos lá? – disse Davis segurando a maçaneta da porta – De tudo que eu passei? Por que foi aquele lugar que me custou anos de terapia – disse Davis com um suspiro. Alex estava em silêncio – Eu preciso ir, senão vou perder meu ônibus.

Davis se foi. Alex ficou ali, parado no meio da sala, digerindo cada palavra do seu filho. Algumas ele estava certo. Aquele lugar acabou com Davis. Mas Alex sentia que precisava voltar, não sabia exatamente por que, mas sabia que Mountain Village o chamava de volta.

Nova Iorque poderia ser uma cidade maravilhosa com suas facilidades para a vida, mas Alex sabia que a recusa de Davis não era a pequena cidadezinha de Mountain Village, mas sim, as pessoas que lá moravam. Algumas pessoas.

Alex não desistiria de falar com Davis. A noite conversaria com seu filho outra vez. Faria uma nova tentativa. Ele pegou suas coisas e foi para o trabalho.

Na escola, Davis estava tendo aula de literatura. Ele não conseguia prestar atenção no que o professor Calvin dizia. Sua mente estava vagando pela conversa que teve com seu pai pela manhã.

Voltar para Mountain Village?

Rever todos eles de novo?

Esse pensamento fez Davis se lembrar de Sarah. Como ela estaria hoje? Será que ela se lembrava dele? Mas o que isso importa se lembram dele, pensou Davis? Eles o odiavam, não o queriam por perto, e ainda mais, Sarah o traiu com Billy.

- Davis? – chamou alguém. Davis saindo de seus profundos pensamentos olhou para cima e viu o professor Calvin o observando.

- O que? – perguntou ele confuso.

- Eu perguntei se você leu o livro que eu indiquei – disse o professor Calvin.

- Err...não – disse Davis.

- Acho que você deveria ler, por que isso vale nota – disse o homem.

- Desculpe! Mas qual é o livro mesmo? – perguntou Davis. Todos na sala começaram a rir – Qual é a graça? – disse Davis incomodado.

- Percebo que você não anda prestando atenção nas minhas aulas, não é Davis? – disse o professor.

- Pois é! Eu só estou passando por umas... err...afinal, qual é o livro professor Calvin? – disse Davis mudando de assunto.

O professor deu um longo suspiro: - É O Conde de Monte Cristo, Davis.

- Está bem! Está anotado. E fala sobre o quê? – perguntou Davis.

- Este é o trabalho. É você ler o livro e dizer o que achou – disse o professor.

- Está bem – disse Davis.

Alex estava em seu escritório trabalhando incansavelmente na matéria que precisava terminar ainda para aquele dia, quando seu celular tocou. Ele pegou o aparelho e viu que era sua irmã Kate.

- Oi Kate! Está aonde? – disse Alex.

- Estou no intervalo de uma reunião da equipe do trabalho – disse ela.

- E como está a reunião? – perguntou Alex.

- Não chegaram a um acordo ainda, mas eu acho que todos vamos passar uma temporada na França – disse Kate.

- França? Nossa Kate, essa é uma ótima oportunidade! – disse Alex feliz por sua irmã.

- Pois é! A decisão está nas mãos dos nossos lideres – disse ela.

- Vai dar tudo certo – disse Alex.

- Obrigado Alex – disse Kate – mas na verdade liguei mesmo para saber se você conversou com o Davis sobre aquele assunto.

- Sim – disse Alex suspirando – conversei com ele, mas ele não quis me ouvir! Disse que não voltaria para lá.

- Eu já tinha imaginado.

- Kate, eu sei que eu preciso voltar, minha cabeça está parecendo uma bomba relógio, pronta para explodir. Não aguento mais este burburinho, esta cidade. Acho que eu nasci para morar no interior mesmo – disse Alex esfregando a testa.

- Calma irmão! Faça outra tentativa com ele mais tarde – disse Kate – talvez fosse por que ele recém tinha acordado, e estava mal humorado.

- Ele estava bem acordado Kate.

- Está bem Alex, você e seu filho se entendem – disse ela – agora preciso ir, acho que estão chamando para a sala outra vez. Até mais irmão?

- Até mais tarde Kate.

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Davis estava na biblioteca de sua escola tentando procurar o livro que seu professor disse. O Conde de Monte Cristo. Ele andou pelos corredores dos livros de literatura. Até enfim, achou. Davis analisou bem a capa e percebeu que o livro tinha muitas páginas.

Ele levou para uma mesa para ver se conseguiria começas a ler. Achou um lugar vazio, se sentou e começou a ler a sinopse da história.

O conde de Monte Cristo falava sobre um homem que foi traído por pessoas que ele jurava confiar, e acabou sendo mandado para a prisão injustamente. Ele ficou anos preso, achou um amigo na prisão, um ex-padre, que o ensinou a ler, escrever entre outras coisas. Mas ele conseguiu fugir de lá, e nesta fuga foi parar em uma ilha em busca de um tesouro escondido, onde o mapa foi dado pelo padre que acabou morrendo na prisão. Então o personagem principal pega todo este tesouro, se transforma em um conde poderoso e rico e volta para se vingar daqueles que o fizeram mal. Inclusive, da mulher que ele achava ter lhe amado.

Davis percebeu que o livro falava sobre vingança. Sobre fazer aqueles pagarem aos poucos por tudo o que fizeram no passado. Que os injustos e maus nunca iriam muito longe. Eles teriam que pagar. De repente Davis sentiu mais curiosidade em ler o livro. Sentiu que aquela história era para ele. Pegou o livro emprestado da biblioteca.

Depois de um dia exaustivo no trabalho, Alex chega em casa com sua típica e diária dor de cabeça. Ele pega suas coisas e vai em direção ao seu quarto. Ele para no corredor por que estava escutando uma música no quarto de Davis. Aos poucos, ele se aproxima da porta e olha em uma pequena abertura. Alex vê Davis deitado em sua cama completamente concentrado em um livro, que por sinal era enorme. Alex percebe que não é exatamente o que Davis leria. O livro parece sério. Ele só era acostumado a ler histórias como Jogos Vorazes ou Percy Jackson. Então Alex bate na porta antes de entrar.

- Olá filho? – disse Alex.

- Oi pai – disse Davis dando uma olhada por cima dos seus óculos, afinal, agora ele os usa só para ler.

- Como foi seu dia?

- Legal.

- Que livro é este? – pergunta Alex.

- É um livro que o professor Calvin fez a gente ler para fazer um trabalho de literatura – disse Davis.

- E como se chama?

- O Conde de Monte Cristo.

- Parece bem longo.

- E é. Mas eu tenho duas semanas para entregar o trabalho. Vai dar tempo – disse Davis folheando uma pagina.

- Que bom assim, pelo menos você está se esforçando nos estudos – disse Alex se sentando em uma cadeira.

- É.

- Davis? Precisamos terminar nossa conversa – disse Alex.

- Eu sei.

- Sabe?

- Você não disse que conversaria comigo mais tarde? – disse Davis largando o livro em cima da cama, que pelo visto já tinha lido um grande pedaço – Estou aqui! Estou esperando!

- Davis! Eu não quero discutir! Eu só quero que entenda! – disse Alex – Quando pensei em voltar para Mountain Village, não era para trazer todas aquelas coisas ruins de volta. Era para nós termos a chance de ter uma vida melhor, eu não digo que Nova Iorque não nos ajudou nestes anos. É claro que sim! É que eu acredito que está chegando um momento... em que temos que enfrentar algumas coisas.

- Enfrentar? – perguntou Davis.

- Quando saímos de lá, praticamente fugimos – disse Alex – nós dois não somos mais como antes filho, somos diferentes agora. Não temos mais medo.

- Eu mudei muito – disse Davis.

- E eu também – disse Alex se levantando e indo em direção à cama de Davis.

- Se voltarmos, será tudo diferente. Eu prometo – disse Alex.

Davis olhou Alex por alguns segundos, e então pegou seu livro e começou a ler de onde tinha parado. Alex percebeu que o filho não queria mais aquela conversa, aos poucos, ele foi indo em direção à porta.

- Lá eu posso andar com a minha moto sem você ficar colocando coisas na minha cabeça? – perguntou Davis. Alex se virou para olhar o filho, ele ainda estava olhando o livro.

- Err... é uma cidade tranquila, é bem difícil ter acidentes de trânsito – disse Alex entrando na conversa de Davis.

- Eu não vou ser abrigado a falar com eles, não é? – disse Davis ainda focado no livro.

- Não! A menos que você queira.

Davis ficou olhando para o livro em silêncio. Alex estava esperando alguma resposta. Ele pensou que provavelmente Davis o responderia depois, então se virou novamente para a porta.

- Pai – chamou Davis. Alex se virou e o olhou.

- Sim filho.

- Eu aceito voltar.