(Ib’s POV)

Corríamos, eu e Garry, as mãos dadas. Ele apertava minha mão, mas não olhava em minha direção. Sorri timidamente quando vi aquele largo quadro, o mesmo que eu vi na galeria quando tudo apagou.

Era ali. Poderíamos voltar para casa. Finalmente...

Sorri mais um pouco. A galeria estava exposta no quadro, do mesmo jeito que estava antes de tudo apagar e todos sumirem.

Mamãe, papai... Estou voltando!

Paramos em frente ao quadro, e Garry me olhou preocupado.

- É a galeria. – ele comentou lentamente – “Mundo Fabricado”... – então esse é o nome do quadro – Você... Está com medo? – lhe encarei, meus olhos se arregalando. Estava tão óbvio assim? – Não se preocupe, eu vou antes. Se estiver seguro, eu lhe puxo. Okay?

Acenei levemente e ele sorriu. Ele é sempre tão gentil.

- Mas... Como vamos voltar? – murmurei me aproximando do quadro, com a moldura na altura de minha cabeça.

- Bem... – Garry também não parecia saber. Toquei a borda da moldura e ela sumiu. Demos um pulo – Acho que está pedindo que suba...

Ouvi-o suspirar. Ele se aproximou e passou uma mão para o interior do quadro. Virou-se e sorriu antes de entrar completamente.

Sorri vendo Garry lá dentro, contra o mundo real.

Ele esticou uma mão para mim.

- Venha, Ib! – ele gritou

Eu estendi a mão...

E bati contra uma parede.

Não!

- Garry! – gritei, vendo atrás dele algo errado – Puxe a mão!

Ele se virou, assustado pelo meu grito.

E ele viu.

- Ib! – ela gritou. Mary. – Venha, Ib!

- M-Mary... – gemeu Garry tentando recuar, mas havia uma parede invisível entre o mundo real e o mundo de Guertena. A parede que me atrapalhara a subir e que agora impedia Garry de sair.

- Não... – murmurei, sentindo meus olhos arderem.

Garry se virou, mas já era tarde, eu sabia. Não tinha como eu voltar...

Não...

Senti lágrimas começarem a escorrer pelos meus olhos e minha visão ficou embaçada. Em parte pelo choro e em parte porque a parede já não ficava mais tão invisível. Era como vidro embaçado. O outro lado sumia, só via levemente os contornos da galeria.

Não...!

- IB! – os ouvi gritarem, ambos parecendo preocupados.

Mas não adiantava.

Eu estava presa. De novo.

... Sozinha.

O quadro desapareceu de vez, nem um rastro de já ter existido algo ali.

Nada que poderia me lembrar do Garry.

Nada.

Recuei até sentir minhas costas baterem contra a parede. Escorreguei, até me sentir sentar no chão.

As lágrimas corriam livremente por meu rosto.

Sozinha. Sem o Garry. Sem a Mary. Sozinha...

Solucei.

Não quero ficar sozinha.

Meu corpo tremia com o choro, e eu me sentia cada vez pior.

E-Estou com medo...!

Eu chorei e chorei. Gritei e solucei. Eu estava sozinha, sem ninguém para me ajudar. E dessa vez não havia volta.

Eu estava presa em Guertena.