Charming escrita por Mirchoff


Capítulo 3
Capítulo II - Jasper


Notas iniciais do capítulo

Quem leu A Elite deve ter notado que mudei algumas coisinhas em relação à família do Gregory Illéa. Eu só quis "maquiar" um pouco para ficar mais fácil de escrever.
Aí está. Enjoy!



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Jasper gostaria de aproveitar seus últimos minutos de paz da melhor maneira possível, mas as palavras da rainha Ella fizeram seus planos irem por água abaixo. Ao se lembrar do olhar da mãe, não sabia se estava se sentindo irritado ou péssimo.

Da próxima vez que sair deste castelo – dissera ela. – terá, no mínimo, trinta anos. Ou talvez você nunca mais saia, mocinho.

– Eu sou maior de idade agora. – retrucou o príncipe, irritado. – posso sair quando quiser.

Mas eu sou sua mãe, portanto, irá me obedecer.

Ele bufou. Os raios de sol aqueciam seus braços desnudos e faziam cócegas em seu rosto. Os criados o haviam feito vestir um de seus melhores trajes a rigor. E ele, claro, não gostara nem um pouco. Bagunçou os cabelos (isso quase fez uma das criadas desmaiar de desgosto), arregaçou as mangas da camisa de linho e quase jogou os sapatos sociais longe mas, mesmo preferindo as botas de combate, sabia que teria de estar vestido apropriadamente.

Ao chegar aos estábulos, já se sentia sufocado. Afrouxou a gravata e desabotoou o terno. Era Jasper, afinal. Não queria se parecer com Aron, Deus o livre. O cabelo perfeitamente alinhado, as roupas impecavelmente passadas, os sapatos lustrosos, o sorriso cordial. Tudo no irmão mais velho o irritava profundamente. Aron era tudo o que o rei a rainha queriam que Jasper fosse.

– Eu ainda não entendi muito bem. – disse Quentin Ulter. Ele era filho de um duque em Altamar Leste, e conhecia Jasper desde a infância. – se Aron é o mais velho, por que a Seleção não é dele?

– Deus, Quentin. – Yan, o caçula dos Ulter. – quantas vezes nós teremos de repetir isso? Aron é prometido de Jolanda, princesa da Moldrássia.

– Depois da morte do rei – continuou Jasper. – como era mesmo o nome dele? Tanto faz. Depois da morte do cara, o povo precisa de um rei. E Illéa precisa de aliados fortes, como a Moldrássia.

– Ah, ela é uma coisinha linda, a princesa. – Quentin deu um sorriso torto. – Aron tem muita sorte.

– A única coisa boa desse casamento é que ele irá embora. – o príncipe se ajeitou no cavalo. Os três haviam decidido dar uma volta na floresta, mas a ideia estava deixando-o enjoado. – olha, que tal vocês irem sozinhos? Não estou me sentindo muito bem. Vou dar uma olhada no corcel.

Yan e Quentin deram de ombros, se afastando com os animais. Os irmãos eram extremamente parecidos, seriam dados como gêmeos se Quentin não fosse dois anos mais velho.

E duas vezes mais irresponsável. Jasper lembrava-se de ter se metido em muitos problemas na companhia do Ulter mais velho. Inúmeras fugas, noites viradas em bares de Angeles com nomes falsos, algumas costelas quebradas e olhos roxos. Aos dezoito anos, Yan era certamente mais maduro que os dois. Era sério e centrado, mas seu sorriso era do tipo que faz as pessoas sorrirem também.

Jasper deixou o alazão numa das baias vazias. O corcel branco que o aguardava no final do corredor merecia um pouco de atenção. Havia sido seu presente de vinte e um anos, uma semana antes da data. Era maior que a maioria dos cavalos do palácio, e tinha um ar majestoso.

A montaria digna de um rei. – dissera Theo, irmão da rainha. Jasper tinha uma boa relação com o tio, mas suas palavras o fizeram revirar os olhos. A ideia de se sentar no trono e comandar um país era aterrorizadora.

Não que fosse muito diferente do que ele estava acostumado a fazer. Desde os dezesseis, o rei Peter o fazia aprovar leis, montar tropas e lhe dera permissão para participar das reuniões do conselho. Mas, do mesmo jeito, o trono não lhe parecia uma ideia boa.

Diversas vezes, desejara ter nascido numa família normal. Queria trabalhar, conseguir seu próprio dinheiro e sustento. Queria uma vida normal.

Jasper envergonhava-se de não saber de onde vinha toda aquela comida do palácio. Nas rápidas vezes que visitava as outras províncias, ficava imaginando a vida de seu povo. Onde eles trabalhavam, onde moravam, por que viviam assim. Não queria viver no palácio para sempre, protegido por seus muros altos e guardas.

Queria, de alguma forma, fazer a diferença.

Perdido sem seus pensamentos, não havia notado a garota perto dos arbustos. Os olhos negros o observavam, com certo brilho de admiração. Se tivesse visto as fichas da Seleção, teria reconhecido-a, mas jogara as pastas no lixo assim que teve a chance.

– Com licença? – ele deixou o corcel de lado e se aproximou. – você… É da Seleção?

A beleza da garota o intrigava. Não parecia ter mais de quinze anos, e era teoricamente impossível que tivesse essa idade. Apenas garotas com mais de dezesseis podiam se inscrever. E ela tinha esse ar jovial que o fazia sentir as pontas dos dedos formigando, implorando para tocar seu rosto.

– E-eu me perdi. – dissera, num tom tão baixo que Jasper mal escutou. O rosto dela adquirira um leve tom de vermelho. Era de se esperar que desviasse o olhar, envergonhada. Mas, ao invés disso, o olhava de modo curioso. – me desculpe, não queria atrapalhá-lo.

Jasper riu.

– Ah, não tem problema. – disse. – se não tivesse aparecido, teria perdido completamente a noção do tempo. Sabe como é, também preciso me preparar para essa coisa. Quer dizer, qual a necessidade disso? Eu posso arrumar uma namorada sozinho.

Se arrependeu imediatamente de suas palavras. Ela provavelmente pensaria que ele era um completo idiota. E era, mesmo. Sempre falava demais.

– Sem querer ofender! – completou sorrindo, sem graça.

Ele não sabia se era efeito da luz, mas a garota parecia pálida.

Parabéns, pensou. Isso foi muito esperto, Jasper.

Ela era, no mínimo, dez centímetros mais baixa que ele. A julgar pelas roupas que vestia, devia se tratar de um Quatro. Embora detestasse o sistema de castas, Jasper sabia que da Quatro para baixo, as pessoas não vestiam tecidos assim.

– Mas, se todas forem bonitas como você, eu posso até ficar animado com essa competição idiota. – pensou alto, resistindo o impulso de tapar a boca com as mãos assim que terminara de falar.

Droga, Jasper!, ele se esforçou para não fazer uma careta. Imbecil, você não passa de um imbecil.

A garota ajeitou a postura, olhando-o de forma irritada. Foi quando simplesmente lhe deu as costas e seguiu rumo ao castelo.

É claro que ele a seguiu.

– Me desculpe! – Jasper não sabia se seria educado segurar seu braço, mas o fez. – eu… Não queria ofendê-la. Veja bem, foi um elogio. Seria formidável se a senhorita… ?

– Meu nome é Lily, Vossa Alteza. – ela deve ter percebido que ele não sabia como chamá-la.

– Lily! – repetiu, sorrindo. – bem, seria formidável se me deixasse acompanhá-la de volta ao palácio. Sabe, como forma de me redimir… ?

Deus, pelo visto as aulas de etiqueta estavam dando certo. Jasper se lembrava de ter ficado trancado na sala de jantar aprendendo como tratar uma garota. A Sra. Higgins o fizera prometer que sempre seria cordial e respeitoso, independente dos atos das selecionadas.

Lily o olhou, desconfiada. Ela colocou uma mecha do próprio cabelo atrás da orelha, e fez que sim com a cabeça.

–x–

O silencio era incômodo. Lily só conseguia ouvir o som de seus próprios passos, uma vez que Jasper era tão silencioso quanto uma sombra.

– Suponho que tenha que ir até o Salão das Mulheres. – a voz dele ecoou pelo castelo.

– Sim. – respondeu ela, num tom baixo. – sabe, teoricamente nós não poderíamos nos encontrar antes do jantar.

– Eu não sou do tipo que costuma seguir as regras. – o príncipe sorriu. – eu gostaria de saber por que a senhorita estava nos jardins.

Lily ajeitou o vestido. Ela parecia incomodada com a presença dele. Isso fez Jasper se sentir… Desapontado?

– Fiquei curiosa, só isso. – respondeu. – e não me chame de senhorita. Lily está bom… Vossa Alteza.

– Só a tratarei por Lily se parar com esse negócio de "Vossa Alteza". – Jasper sorriu, desafiador. A garota sorriu. – meu nome é Jasper, sabe?

– Está bem, Jasper.

No Salão das Mulheres, a entrada dos homens era proibida, a não ser que a rainha permitisse. Sempre foi assim. Jasper lembrava-se de que, aos cinco anos, ordenou que criassem o Salão dos Homens, mas isso apenas fez o rei Peter gargalhar no meio de uma reunião importantíssima com o conselho.

Os guardas na porta fizeram reverências e Jasper os cumprimentou com um aceno de cabeça. Apressaram-se para abrir as portas, mas o príncipe o fez primeiro.

Ele não esperava ser recebido com gritos.

– Vossa Alteza! – Clara Walter lhe lançou um olhar irritado, mas reverenciou-se. – é uma honra tê-lo aqui, mesmo que… Mesmo que fosse suposto que não aparecesse até o jantar.

– Tanto faz. – Jasper bufou, sorrindo em seguida. – de qualquer forma, eu estava caminhando por aí quando vi que a senhorita… Er, quando vi que Lily havia tropeçado e nenhum de vocês notou. Ajudei-a, é claro, e achei apropriado acompanhá-la até aqui.

Lily lhe lançou um olhar confuso, mas concordou. Jasper sabia que se dissesse que a garota havia ido até ele sem a permissão de Clara, ela estaria em problemas.

– Srta. Braus! – exclamou a Sra. Walter, como se só tivesse notado sua presença naquele momento. Jasper percorreu os olhos pelo salão.

As selecionadas o olhavam com curiosidade, ajeitando os cabelos e tentando parecer apresentáveis, mesmo que a maioria estivesse usando capas de cabeleireiro e descalças. O príncipe achou a cena adorável, afinal.

– Bem, moças – disse. – realmente não era suposto que eu estivesse aqui. As vejo no jantar.

E, tão rápido como entrou, saiu e fechou as portas. Ouviu risinhos e comentários sobre ele, e isso o fez sorrir para si mesmo. Ainda achava que a Seleção era a coisa mais idiota que já havia visto na vida, mas começara a achar aquela competição um pouco interessante.

Imediatamente arrependera-se de ter jogado as fichas no lixo. Dali pra frente, seria preciso saber o nome de todas as candidatas.

Além disso, parte dele queria saber mais sobre Lily. Mas ele nunca admitiria isso, é claro.

–x–

– Ah, fala sério! – foi o que Yan exclamou, rindo, quando lhe contou sobre isso. – mas já? O negócio mal começou direito, Jasper.

– Não estou dizendo que quero casar com ela e ter gêmeos, Yan. – o príncipe revirou os olhos. – eu só disse que quero saber mais sobre ela. Quero saber as coisas que ela gosta, que não gosta, qual sua casta, sua comida preferida.

O caçula dos Ulter sorriu para ele. A expressão de Jasper era de puro desconforto. Yan sabia que o príncipe preferia morrer a pedir ajuda para alguém. Quando um dos criados lhe transmitiu o recado de Jasper, ele sabia que estava envolvido em mais um de seus planos.

– Então, você quer que eu descubra mais sobre essa garota. – concluiu. – não seria mais fácil perguntar essas coisas diretamente para ela?

– Ela vai pensar que eu estou interessado! – bufou Jasper, cruzando os braços.

– E não está? – o outro riu, coçando a cabeça. – está bem. Mais alguma ordem?

– Não é uma ordem. – o príncipe revirou os olhos. – é só um pedido. É claro que, se você não me ajudar, eu te chuto para fora do palác...

– Mentiroso!

Jasper riu. O relógio badalou doze vezes, e isso o fez perceber que logo teria de comparecer ao almoço. Deus! Suou frio, e era como se houvesse milhares de borboletas em seu estômago.

– Cara, – murmurou. – tem trinta e cinco garotas lá embaixo. Me esperando. O que eu devo fazer?

– Seja você mesmo. – Yan sorriu. – só que sem a parte de mandar todo mundo ir se lascar a cada cinco minutos. E não faça cara de tédio. Mas também não seja Aron.

Jasper assentiu, levantando-se da poltrona. As criadas reviraram os olhos ao vê-lo bagunçar, novamente, os cabelos alinhados.

– Você não tem jeito, menino. – murmurou Azalea. Era uma das criadas mais antigas do palácio, uma das que conheciam o príncipe e seus irmãos desde infantes. – o que as selecionadas pensarão?

– Que pensem o que quiserem. – murmurou ele. – se elas querem se casar com um cara todo certinho, Aron está por aí.

Azalea riu, tocando-lhe o rosto. Vira o príncipe crescer diante de seus olhos. As primeiras palavras, os primeiros passos. E agora lá estava ele, prestes a conhecer a futura esposa. Jasper sorriu para ela em agradecimento, afrouxando a gravata e partindo em direção à porta.

–x–

Ao descer as escadas, Jasper percebera que estava completamente sozinho. O palácio silencioso de certa forma saudava-o. Era como se todos quisessem que ele desse aquele passo de sua vida sozinho, por conta própria.

Ele sabia que, ao passar pelas portas do salão de refeições, nada seria o mesmo.

Sentia o suor escorrer frio. Não sabia onde colocar as mãos. O que diria? O que faria? Como agiria? Passou as costas da mão pela testa, suspirando. Os passos ecoavam no chão de mármore liso, e isso o deixava enjoado.

– Muito bem, Jasper. – murmurou, para si mesmo. – você consegue. Sabe que consegue. Nasceu para isso. Ou não.

Trinta e cinco garotas o esperavam atrás daquelas portas. E no meio delas, o futuro de seu país. Uma amiga, uma confidente, alguém em que ele poderia confiar tudo. Na saúde e na doença, aqui ou ali, agora e para sempre. Aquela com quem iria se deitar toda noite, a mãe de seus filhos. Sua futura esposa.

E atrás daquelas portas, também, estava a misteriosa Lily. A que não gostava de ser tratada por "senhorita", aquela que quebrou as regras ao se aproximar dele. A garota por quem, por mais que não quisesse admitir, ele estava morrendo para conhecer.

Sem olhar para trás, ele entrou.


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Notas finais do capítulo

Mereço reviews? Eu aceitaria um pouco de Maxon, também.
AI MEU DEUS EU ESQUECI DE FALAR QUE falei com a Kiera, gente! Ela é fofa demais, foi tipo, por 3 segundos, mas ela é tããããão fofa que nossa senhora ♥
Quem aí conseguiu autógrafo? A fila do dia 29 tava dando voltas no Conjunto Nacional, nem tentei, mas valeu a pena.
Tá, vou parar de falar. Até a próxima, galera.



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