Aquele era um dos momentos que nunca passam pela sua cabeça e quando acontece são nebulosos e não ficam tão claros na memória como se uma cegueira amigável se abatesse temporariamente, dizendo, “Não, você, não é obrigado a ver isso”. Como se até mesmo seus olhos pedissem desculpas pela maldade do mundo. As coisas ficaram assim para Hinata. A menina dos olhos de peróla, apenas uma menina indefesa naquele momento, estava impotente e cega. Não sabia ao certo o que acontecia ali na sua frente. Naruto beijava Sakura ou Sakura beijava Naruto? Para ela, obviamente, eram sinônimos, sinônimos que acabavam com um adjetivo: traída. Hinata fora traída e não entendia porque.

Tantos pensamentos passaram tão rapidamente pela sua cabeça que não conseguia processar. Ela se culpava pelo que acontecia, talvez Naruto desistia dela pois brigaram por coisas bobas da família. Talvez... uma raiva cresceu dentro dela, subitamente. Tão inesperada que ela admitiu pela primeira vez na vida que ela não era a culpada. Ela não tinha feito nada de errado, admitiu que ela, presa no lapso temporal de seus próprios sofrimentos, era mais que suficiente para agradar Naruto e talvez mais do que ele merecia.

Podia ter qualquer reação no momento, explodir, gritar, bater nos dois, mas ela apenas chorava lágrimas lentas que escorriam pelo rosto sem apertar o peito, apenas deixavam um rastro de um coração que tinha dificuldade em acreditar que estava partido. Sakura ainda se debruçava sobre Naruto prolongando o beijo, mas ele, alarmado, tinha visto a morena e tentava meio sem forças afastar Sakura de si. Os olhos ardiam. E ela fez algo que Hinata faria, tipicamente. Ela deu as costas correndo e deixou as lágrimas e soluços saírem saindo rapidamente de vista.

A última coisa que ouviu foi o eco de seu nome em um grito desesperado.

...

—Kakashi, a situação na Folha é grave.

A reunião com a Hokage acabara de começar e ele já sentia o peso da atmosfera local. Realmente seus últimos dias e meses caçando a Akatsuki, desde que Pain atacara a vila em busca de Naruto. Ninguém sabia ao certo quem eram, o que queriam, mas seus rastros indicavam a caça de Jinchurikii, não podiam ser meros colecionadores de bestas. Na viagem descobrira coisas interessantes, mas sem resultados efetivos.

—Não temos uma força realmente poderosa para lutar, na última invasão de Pain percebemos que depois que eu cai quem teve de nos defender foram adoloescentes. Os mais talentosos que temos aqui são realmente os jovens, mas os ninjas mais avançados estão realmente mal treinados e nossa hierarquia está um caos, precisamos tornar mais eficiente nossa visibilidade e sistema de defesa. Além disso, a Akatsuki está cada vez mais ativa apesar de seu líder ter caído, quem é o novo líder e quais as novas propostas, precisamos fortalecer as alianças com as grandes vilas para uma possível movimentação, Kakashi, são as estratégias mais convincentes. Não temos perspectiva do que pode acontecer.

—Sobre a Akatsuki, tenho algumas informações relevantes do País da Chuva e a lista, um pouco mais completa de membros, não sabemos ainda qual o objetivo.

—Certo, me passe um relatório sobre... Kakashi, ademais, te encarregarei de uma nova missão. Proteger a família Hyuuga. Você não ficará sozinho, mobilizarei um pequeno grupo Anbu nos próximos dias a missão será liberada, mas até lá peço que esteja atento a seus movimentos.

—Posso perguntar do que os estou protegendo?

Um silêncio mortífero se fez na sala e a Hokage, cansada pareceu mais velha e sombria. Suspirou fundo.

—Não sabemos ao certo também. Recebemos informações da Vila da Névoa que existia um novo grupo sem identidade definida que estava caçando byakugan, foram atacados durante uma missão e quase perderam o garoto com byakugan, qual o nome dele mesmo... Ah, sabemos que essa busca envolve a utilização do possuidor em algumas missões e que existem presos em cativeiro. Não será difícil ao grupo, se é que seja verdade, atingir a vila da Folha em busca dos Hyuuga. Por isso, é fundamental sua proteção.

—A senhora não acha que é uma invenção da Vila da Névoa.

—Acredito que não devemos contar com isso a segurança da nossa vila.

—Certo, buscarei mais informações com uma correspondente – kakashi ficou vermelho por baixo da máscara quando Tsunade jogou aquele olhar safado sobre a ninja da vila da Névoa, eram tantas histórias... – e... cuidarei o máximo possível da segurança deles. Eles sabem do perigo?

—Ainda não, serão comunicados amanhã, quando o grupo Anbu estiver em posição.

...

A chegada de Shikamaru à Vila da Areia foi um completo espanto.

Não se sentia muito confortável ali, tinha medo dos irmãos de Temari. Um deles, Kankuro, era carrancudo e enorme como uma porta. O outro, o próprio Kazekage, Gaara, um ex- jinchurikii, extremamente poderoso, que podia mata-lo se fizesse apenas uma brincadeira sem graça ou olhasse para Temari de um jeito diferente. Apesar disso, as negociações corriam bem, os conselheiros e Gaara compreendiam as necessidades e atitudes que afetavam a paz mundial e nada melhor que um pacto de Aliança, inicialmente oculto, para prevenir do que estava por vir. E Shikamaru não poupava de sua oratória para atingir seus objetivos como diplomata da Vila da Folha, algo que executava com prestreza.

Impressionou-se muito com aquele lugar, era tudo tão diferente da Vila da Folha, onde crescera, a atmosfera era carregada de uma seriedade exaustiva para crianças pequenas, devia ser realmente um saco ficar ali, num lugar como aquele, enquanto brincava. Não via a magia do lugar, até o dia em que Temari o arrastara até o solar do edifício mais alto.

Shikamaru, que sempre foi tão indiferente à tudo, arregalou os olhos e ficou sem folêgo, o por do sol fazia com que a areia cintilasse magicamente formando um paraíso no deserto, o vento suave formava redemoinhos e as crianças brincavam de correr atrás do que quer que fosse levado pelo vento, era uma felicidade tão pura e simples, aquele lugar era espantoso, estranho, mas um bom lugar depois de se acostumar.

Olhou para o lado e esse foi o momento de perdição. Temari sob o sol também cintilava seus cabelos agiam como a areia em casa, e seu sorriso esquentava o coração de Shika. Era aquele mulher, menina, inteligente pela qual ele se apaixonou um tempo antes e odiou um tempo ainda mais anterior. Ali, lembrou de todo relacionamento deles, tão conturbado, mas tão exótico. A menina loira olhava para o sol sorrindo, mas Shikamaru nterrompeu-a. Entrelaçou seus dedos nos cabelos da nuca da menina suave, mas firme, puxando-a para si, como se fosse a primeira vez que se beijassem.

...

A rosada secava os cabelos com uma toalha, os olhos fixos em algum ponto que nada representava até ardiam de tão fixos. Só pensava. Pensava em como tinha sido errado beijar Naruto e ainda pior ver como Hinata estava mal quando viu. Mas a menina tentava, tentava se arrepender, mas simplesmente não conseguia se arrepender do que tinha feito. Ela queria Naruto, e precisava mostrar a ele isso, perde-lo novamente por sua estupidez. Não perderia Naruto, como acontecera quanto a Sasuke. Sakura se sentia bem nos braços do loiro, e ela sabia que ele a amava, um amor tão grande não desaparecia tão rápido por causa de uma menina como Hinata, ela era tão sem sal, pensava Sakura.

...

No dia seguinte, Naruto tinha que consertar as coisas, ele estava tão mal quanto a duas semanas atrás quando ainda não sabia o que fazer para ficar com Hinata. Ele pensava que o namoro estava estranho e ruim, mas pior era o não namoro que eles passariam agora. Ele sabia que não namoravam mais, mas não estava nada oficializado. Estava claro que ela terminara com ele no momento que viu Sakura atirada nele. Mas qual é, não era culpa dele que ela tentara beijá-lo e era forte daquele jeito. Naruto só tinha que pedir perdão e conseguir explicar a situação para Hinata.

Comprou flores, nem deu bola para Ino que tagarelava sem parar e seguiu para a casa da Hinata na esperança de, pelo menos, vê-la, mas o que aconteceu foi bem diferente.

Bateu à porta com o coração a mil e o texto ensaiado na cabeça. Não tinha planejado, entretanto, a possibilidade de outra pessoa abrir a porta que não Hinata. Então, quando Neji apareceu com olhar fustigante sob o resto de sol do dia, Naruto ficou chocado e sem reação.

Escutou vagamente o que Neji gritava na cara dele, mas apenas pensava “ela não quer ao menos me ver”

—Olha aqui, Naruto, eu depositei minha confiança em você..... Nunca mais se aproxime dela está ouvindo, Baka!

O murro de Neji veio com toda força, não sabia se tinha algo do poder Byakugan por trás, mas soube que doeu mais que os murros normais que levara, ou talvez que ele estava com o coração completamente partido. Naruto não se levantou tão cedo e ficou apenas encarando o buque de flores na lama, uma metáfora tão bonita da relacionamento deles.