O calor que era insuportável segundos atrás desaparecera por completo, um frio gélido inundava o local, pareciam que estavam em meio a uma tempestade de neve, apesar de que não caia um floco de neve sequer. A claridade, que obrigava a todos fecharem parcialmente os olhos desaparecera. Nuvens escuras como o carvão faziam uma círculo em torno do castelo, pareciam estar em meio a uma rua escuro no meio da noite, ilumidanos por lâmpadas velhas e gastas, a visibilidade ali era pouquíssima.
 Os quatro permaneciam parados diante daquele portão, não sabiam se ficavam admirados ou com o receio de entrar, nenhum deles conheciam pessoalmente Azazel, Rasiel muito menos ouvira falar dele.
 Antes que pudessem tomar qualquer decisão, o portão de entrada, feito de pedra, abria lentamente, produzindo um rangido alto e pertubador. Levantava uma cortina de areia, que rapidamente assentava-se no chão novamente. Definitivamente seu futuro anfitrião sabia que havia visitas e a oferta para adentrarem em sua moradia não deveria ser recusada. Os anjos sabiam que necessitavam da ajuda dele e não voltariam agora. Apenas trocaram olhares, Raphael fora o primeiro a entrar, ainda bastante tranquilo, o que era totalmente oposto aos sentimentos dos companheiros, que o seguiam logo após.
 Apesar de não haver luz do sol, o local era bem iluminado, haviam tochas nas paredes, todas afastadas uniformemente. Estranhamente somente um dos diversos corredores tinham as chamas diferentes, sendo elas azuis, como o mar quando recebe os primeiros raios solares, este indicando o caminho para eles.
 A temperatura dentro do castelo era totalmente amena e aconchegante, um clima agradável, mas quase não deram importância para isso. Elizabeth e Rasiel não eram capaz de esconder o quanto estavam apreensivos, Jean parecia nervoso e irritado, as sombrancelhas franzidas demonstrava uma personalidade de poucos amigos, já Raphael era o único que conseguia manter-se imparcial com a situação, apesar de toda a sua seriedade no momento.
 Pararam de repente, quando viram-se diante de uma outra porta, esta adornada com ouro e prata, além das pedras preciosas de diversas cores que compunham belas imagens. O anjo da cura virou-se em direção aos três, seu olhar sério e impiedoso, lembrou Rasiel de quando ainda viviam como pai e filho.

─ Quero que prestem muita atenção no que eu vou dizer. Não conhecemos Azazel e nem como seus poderes se manifestam, então evitem qualquer tipo de contato com ele, qualquer um, entenderam?

 Os três apenas acentiram com um movimento da cabeça, não havia motivo para dizer mais nada, estava óbvio que Raphael cuidadira de tudo, se houvesse necessidade de falarem, fariam apenas na hora. O louro empurrava a porta e ela facilmente foi aberta.
 O local depois da porta foi revelado de maneira exuberante, amplo, com uma enorme mesa, recheada com pratos exóticos e jarras de possíveis bebidas. A iluminação forte fazia com que todos os detalhes fossem mostrados com exatidão. Em volta da mesa havia diversas almofadas grandes, com desenhos e símbolos estranhos, todos deitos com fios de ouro. Uma música tocava alegremente, os instrumentos eram manuseadores por mulheres bonitas com roupas leves. Havia dançarinas e outras esbanjando-se dos alimentos.
 Os anjos não sabiam como reagir, esperavam por algum cenário mais macabro, o que viram os deixaram pasmos. Enquanto estavam parados na porta, chamaram atenção de algumas pessoas lá, que ficaram em silêncio observando-os, até a música cessara. Algumas risadas femininas ecoavam logo após e uma voz forte, porém "divertida" seguidamente proferindo poucas palavras.

─ Então, depois de longos anos, demorados anos, uma visita!

 A voz vinha detrás de enormes cortinas avermelhadas, que caíam do teto até o chão. Era possível enxergar apenas sombras do outro lado, haviam três, uma ao lado da outra.

─ Ora, por favor! Sentem e aproveitem de minha humilde mesa. ─ dizendo isso, a cortina abria-se lentamente para os lados, revelando no centro o demônio Azazel e duas mulheres, ambas quase que semi-nuas. Azazel diferentemente de Mephistopheles e Myrho tinha a pele mais bronzeada, devido ao constante contato com o sol. Os cabelos pretos e ondulados chegavam até seus ombros, cortado desde a franja, numa linha na diagonal. Ele parecia estar realmente confortável. As mulheres ao seu lado, faziam-lhe carícias pelo peitoral, pouco se importando com as visitas.

 Rasiel olhava um tanto quanto chocado, não sabia o que achava daquela cena, esperava ver coisas piores, todavia não podia tirar conclusões precipitadas. Raphael fora o primeiro a falar dentro os anjos, mesmo que comentários de algumas das diversas garotas do local atrapalhassem.

─ Viemos a morada correta? És Azazel?

 O moreno instantaneamente sorria de canto, levantando de seu lugar, olhando diretamente nos olhos do anjo da cura. Seuas orbes brilhavam com um vermelho demoníaco. No mesmo momento, Raphael sentiu algo estranho, como uma tontura, seguido por uma sensação de que algo estava entrando em sua mente. Colocou a mão na cabeça e fechou os olhos, contudo percebera que estavam tentando controlá-lo.
 Jean foi o primeiro a notar o que estava acontecendo e com a sua personalidade de pavio curto, direcionou o olhar para Azazel gritando com o mesmo.

─ Pare! O que pensa que está fazendo?!

 Elizabeth aproximava-se do anjo atacado e tentava ampará-lo, segurando firme sem sua mão.

─ O que eu estou fazendo? ─ indagava o demônio, que ria prazeirozamente. ─ Estou me apresentando.

 Rasiel não estava entendendo o que acontecia, todavia sabia que não era bom e precisava mudar aquilo. Lembrou-se do que fora dito por Raphael de não ter contato com o demônio, o contato era visual, mas eles já não o mantinham.
 Azazel continuava a rir e de certa forma, fazia as mulheres rirem também.

─ Como é difícil ler sua mente. Ora, vamos, seja bonzinho comigo Raphael.

 Rasiel notando que continuariam nesse impasse, decidiu fazer uma tentativa de desconcentrar o inimigo. Correu rapidamente, percorrendo uma boa distância até chegar em pouco tempo no mesmo lugar de Azazel, jogando-se em cima dele, derrubando-o no chão e caíndo sobre ele.
 Imediatamente Raphael voltara ao normal, não sentia-se mais estranho. Os três anjos olhavam em direção ao demônio, que ainda mantinha-se no chão, juntamente com Rasiel. Este levantava e estranhamente mantinha-se de pé, com a cabeça abaixada. O jovem erguia o rosto, revelando, desenhado em seus lábios, um sorriso sádico e com olhos possuídos e vermelhos.

─ Oh, nossa! Que fraco, controlei-o facilmente! Ahahaha! O que vou fazer primeiro com esse novo brinquedo? Ops, quero dizer, corpo. Ahahahaha!