Wings, Um Anjo Em Minha Vida escrita por Nynna Days


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Amores, novo capítulo.

E como no último capítulo, quero pedir para que comentem. Um simples comentário me enche de alegria, ok? Odeio ser repetitiva. Mas estou desanimando. E estou quase terminando de escrever essa história, E ainda tem muitas surpresas pela frente.

Ah, e aos que estão comentando, obrigada. Quase não tenho tempo, por conta da escola e de cursos e provas e só tenho tempo de escrever e postar. Desculpe por não responder.

Mas aqui está um novo capítulo. Aproveitem.



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Não tinha palavras para descrever a expressão de Caliel assim que eu terminei de contar tudo o que tinha acontecido. Seus olhos azuis estavam arregalados, denunciando o pecado inicial, e suas asas estavam baixas. Ela olhou do túmulo para mim, como se não soubesse em que se concentrar. Eu ainda procurava palavras para descrever a sua reação. Aterrorizada. Enfim achei a palavra.

Caliel estava aterrorizada.

Meu peito começou a doer ao mesmo tempo que meus olhos arderam. Eu respirei fundo tentando controlar aquelas emoções humanas que me possuíam. Olhei para as asas de Caliel que permaneciam encolhidas, como se tivessem medo de me tocar. De reflexo, percebi uma das minhas penas caindo. Engoli em seco.

Caliel continuava me olhando como se eu fosse o pecado inicial, como se eu tivesse começado o apocalipse. Isso me irritou por um segundo, mas me assustou no outro. Minha garganta estava seca e meus olhos ainda ardiam. Fechei-os por impulso. Abri-os alguns segundos depois. O silêncio fazia os meus ouvidos queimarem. Olhei para cima. As nuvens pareciam prontas para jogar meses e meses de chuva em cima de nós duas.

Me levantei, cansada. Estava ali para escutar um conselho, não para se reprimida com gestos. Quando flexionei meus joelhos e abri minhas asas, pronta para ir, senti a pequena mãe de Caliel envolvendo o meu pulso e me impedindo. Olhei em seus olhos claros e a vi suspirando. Fiquei reta e guardei minhas asas.

“Desculpe.”, ela sussurrou. “É só que é um pouco difícil ver isso se repetindo assim, na minha frente.”, ela desviou o olhar do meu, como se doesse. Realmente deveria doer. “Ele...”, ela olhou para o túmulo. Então balançou a cabeça como se não quisesse mais falar daquilo.

“Por favor.”, eu pedi. “Eu preciso saber. Preciso me livrar disso.”, coloquei a mão em meu peito e senti meu coração se acelerando só de pensar no dono daqueles belos azuis hipnotizantes. “Não posso mais suporta isso.”

Caliel voltou a ficar em silêncio e soltou o meu pulso. Respirei fundo, tentando manter a paciência angelical. Ela se sentou novamente no túmulo de seu antigo amor proibido e eu voltei a ver a tristeza trazendo em aspecto doente ao seu rosto angelical. Ela abraçou seus joelhos contra o seu peito e suspirou. Então levantou os olhos claros para mim e eu entendi que era para mim sentar.

Observei Caliel novamente. Com o vento, seus cabelos começaram a voar em torno de rosto redondo. Os olhos estavam cerrados e pareciam ter se escurecido. Senti algo afundando em meu estômago. Anjos não deveriam possuir aquele olhar. Aquilo pertencia aos humanos. E sempre que eles tinham aquele olhar, um mar de tristeza tomava os seus corações. Pressionei os lábios juntos e esperei Caliel começar a falar.

“Foi no século XVI.”, ela começou e seu olhar ficou perdido. Fechei os meus olhos, deixando que a minha mente fosse levada para as memórias de Caliel. “Eu ainda era uma cupida simples com asas acinzentadas. Minha missão era juntar o Duque Derek Lotfor com a professora de Catherine, sua irmã mais nova, Elizabeth. Eu era assistente de Elizabeth e sua mais fiel confidente.”

Em minha imaginação, poderia imaginar a cidade cheia de carruagens e pessoas bem vestidas. Caliel com um longo cabelo loiro e vestidos rendados. Um belo sorriso no rosto e os olhos azuis brilhantes como o céu recém amanhecido. Em uma de suas mãos uma mala e ela olhava para um castelo colonial e suspirava.

“Quando conheci Elizabeth, fiquei me perguntando como Derek nunca a tinha reparado. Os cabelos tão ou mais negros quanto a noite e os olhos pareciam duas safiras. Sempre bonita e engraçada, além de elegante. Nos tornamos amigas rapidamente e Catherine era uma criança linda e bastante inteligente. Não sabia o porque de precisarem de uma assistente, mas isso me polpou muito trabalho.”

Continuei com os olhos fechados, prestando atenção em cada palavra de Caliel.

“Estava tudo seguindo como eu planejava e Derek tinha começado a ver cada uma das qualidades de Elizabeth lentamente, até que ele pareceu.”, ela pausou e suspirou. “Dareel”

Caliel falou com tanta intensidade esse nome que eu não pude deixar de me deixar evasiva. Abri um olho, a espionando enquanto o silêncio se prolongava. Ela também estava de olhos fechados, encolhida como uma bola. Falar daquilo realmente doía, mas eu não conseguia entender direito a dor. Ela suspirou e eu voltei a fechar os olhos.

“Os olhos mais verdes do mundo e o cabelo preto, era como se eu visse o mais perigoso e mais lindo dos querubins. Ele era o irmão do meio de Derek e iria passar a primavera com o irmão. Eles eram de uma família conhecida na cidade, então foi fácil descobrir que ele era noivo.”, ela soltou o ar, como se dizer a palavra noivo fosse a mais dolorosa do mundo. “O que eu sentia por ele era tão intenso que eu quase nunca conseguia parar de compará-lo com um anjo, mesmo sendo um pecado.”

Engoli em seco. Eu também comparei Jeremy com um anjo quando o conheci.

“Esses sentimentos me deixaram descoordenadas e eu fui descuidada.”, ela ficou em silêncio e eu pensei que não iria mais falar nada. Até que a sua voz me fez pular. “Dareel me seguiu e me viu abrindo as asas. Naquela época, a religião era seguida a risca, então ele ficou maravilhado por ver um anjo. Não tive outra opção a não ser contar a verdade a ele”

“Você contou que era um cupido?”, perguntei abismada.

Ela deu de ombros, ainda com os olhos fechados.

“E que outra opção eu tinha?”, ela perguntou. Abri a boca para lhe dizer a outra opção. A opção certa, mas ela me cortou. “Eu não iria desistir da missão”, ela abriu os olhos e eu me assustei com a intensidade deles. “Não depois de conhecê-lo e ir tão longe”, ela suspirou e tornou a fechar os olhos, como se pudesse se concentrar melhor assim. “Dareel me prometeu segredo e que iria me ajudar em minha missão. Na verdade, até eu tinha me esquecido o motivo inicial de eu ter parado ali.”

E a história correu por seus lábios tão rápido que eu tive que voltar a fechar os meus olhos para poder me concentrar. É, realmente era melhor.

“Eu estava me envolvendo tanto com aquele humano, me alimentando com seus olhos e suspirando com seus sorrisos que me esqueci também de seu compromisso. Até que Marienne, sua noiva, apareceu de surpresa para visitá-lo. Quando os vi, um sentimento desconhecido bateu dentro de mim. Um sentimento que eu nunca mais quero ter em minha existência.”

“Qual?”, perguntei, curiosa.

Ela sorriu, amarga.

“Ciúmes.”

Meus olhos voltaram a se abrir alarmados. O céu acima de nós ficou mais pesado, como se a simples menção daquele sentimento impuro pudesse fazer chover por eras a fim. Eu já tinha visto o que o ciúmes fazia com os humanos. Trazia a desconfiança e o fim do amor. Muitos dos anjos tinham as missões fracassadas ou recomeçadas por conta desses sentimentos ruins. E ver que até um anjo poderoso como Caliel caiu nos tentáculos desse sentimento me deixou apavorada.

“Fiquei tão apavorada com aquele sentimento que quando os vi se beijando, saí correndo.”, ela soltou outro riso amargo. “Iria abrir as minhas asas e ir para o mais longe possível daquela dor, mas a chuva me impediu. Eu achei loucura estar chovendo em plena primavera, ainda mais com aquela intensidade, mas quando uma das gotas caiu em minha boca, percebi que eram lágrimas de anjos.”

“Lágrimas de anjos?”

Fiquei curiosa.

“Você nunca percebeu que toda vez que você chora, chove?”, Caliel me perguntou com uma voz doce, como se fosse minha mãe. Ela me encarou com os olhos estreitos como se me estudasse. Então, ela entendeu. “Você nunca chorou, não é?”

Neguei com a cabeça. Nunca tive motivos para chorar.

“Então, você tenta te explicar.”, ela sorriu e se inclinou, pegando a minha mão. Um sentimento bom se apurou dentro de mim. “A tristeza de um anjo é tão rara e tão dolorosa para os outros anjos, que quando choramos, afeta aos outros anjos que estão lá em cima. Então, chove. Mas, uma chuva diferente das que os humanos conhecem. Ela é mais limpa. Como se para limpar a alma do anjo sofredor.”, ela soltou as minhas mão e voltou a se encolher. “Pena que não funcionou comigo”

Seus olhos voltaram a ficar vazios.

“Dareel, como sempre, me surpreendeu. Ele me seguiu e me impediu de abrir as asas.”, um sorriso verdadeiro se abriu em seus lábios e seus olhos ganharam um pouco de vida. “Ele me abraçou e me disse que aquele beijo era apenas uma pequena despedida. Ele tinha acabado o noivado. Era a maior prova de egoísmo, mas eu me senti melhor quando ele disse aquilo. Que ele era meu, mesmo eu nunca podendo tê-lo.”

E ela continuou.

“Quando eu estava melhor, ele me contou que só iria se casar com Marienne forçado pela família e que sabia que ela amava outro.”, ela piscou os olhos rapidamente e riu. “Ele chegou a dizer que talvez tivesse outro anjo tentando juntá-los.”, soltei um riso, mas ele pareceu morto em meus lábios. Além de frio. Me arrepiei ao perceber que estava parecendo com Rafael. Então, com outra brusca mudança de humor, Caliel suspirou pesadoramente. “Sabe, o que estou te contando, nunca contei para ninguém.”

“Eu sei”, afirmei. Então, meu estômago se apertou e eu tive medo de vomitar a qualquer segundo. “Mas, eu precisava escutar isso. Obrigada por se abrir comigo, Caliel”

Caliel deu um sorriso brincalhão.

“Ainda não acabei, Aliel”, ela disse e eu voltei a me sentar. “Você acha mesmo que se acabasse desse jeito, eu teria o olhar tão amargurado quando falo de Dareel?”

Engoli em seco e a esperei continuar.

“Eu e Dareel estávamos tão atraído um pelo outro, que eu continuei na sua casa mesmo depois de concluir a missão. Mas, tínhamos os nossos limites e eu sabia que eram aqueles limites que o deixavam tristes. Quase não nos tocávamos e eu via como isso o enlouquecia. Cheguei a pensar em abrir mão de minhas asas por ele e me tornar uma humana comum.”

“O QUÊ?”, gritei.

“Por favor, não me crucifique por isso. Eu não conseguia ficar tão perto dele e saber que ele não poderia estar tão perto de mim”, ela pediu e fechou os olhos, me bloqueando de sua dor. “Eu sabia que alguma coisa de ruim estava para acontecer desde que coloquei aquela decisão de abrir mãos das minhas asas na cabeça. O céu não me deixaria ir embora tão fácil”, ela suspirou. “Teve um dia que o sentimento de que algo iria acontecer ficou muito forte e então, fiz Dareel prometer-me que mesmo se alguma coisa ruim acontecesse comigo, ele não iria interferir”

“Ele cumpriu?”, perguntou, ansiosa.

Outro sorriso amargo.

“Se tivesse cumprido, eu não estaria te contando essa história, Aliel”, ela disse e eu abaixei os olhos, envergonhada pela pergunta boba. “No dia seguinte, eu e ele saímos para um piquenique. Seria a primeira vez que iríamos a um lugar ficar a sós e que não envolvessem assuntos angelicais.”, ela sorriu, sonhadora ao se lembrar. “Era o dia perfeito. Ou era para ser.”, ela deu de ombros.

Me inclinei na sua direção, querendo escutar cada palavra com a mais apurada atenção.

“Me lembro como se tivesse sido ontem. Eu e ele deitado na grama fofa e verde. O céu azul e limpo, o vento batendo nos cabelos escuros de Dareel e me fazendo sorrir. Então ele disse: 'Devo queimar no inferno por desejar com tanta intensidade beijar seus lábios, mas sou humano, Deus me fez imperfeito e pecador.' Eu não entendi o porque daquelas palavras naquele momento tão...humano.”

“E o que ele quis dizer com aquilo?”, eu perguntei sem conseguir me conter.

Ela levantou os olhos azuis para mim.

“Eu também não entendi na hora, igual a você.”, ela passou os dedos lentamente pelo meu rosto, em outro gesto maternal. “Nós, anjos, não fomos criados para entender esse tipo de sentimento. Só ajudá-lo a nascer.”, ela abaixou a mão e viu a minha expressão confusa. “Dareel viu que eu estava tão confusa quando eu e me explicou em três simples palavras: Eu te amo.”

Meus órgãos pararam de funcionar e meu cérebro deu uma pausa.

“Não me olhe desse jeito.”, ela abaixou os olhos e seu rosto ficou corado. “Eu fiquei tão assustada com essa palavras quanto você e saí correndo. Nem tinha percebido que já estava de noite. Dareel me seguiu, obviamente. E eu me arrependo dele tê-lo feito.”, ela se calou por alguns segundos e suas mãos ficaram brincando por seu vestido branco. “Quatro homens me cercaram em um dos becos e tentaram me assaltar. Estavam com uma faca e sem nada para tentar esconder seus rostos. Eu sabia que eles não tinham a intenção de me deixar sair viva. Mas, eu não tinha medo, porque, bem...”, ela deu um meio sorriso. “nós não morremos.”

“Mas, Dareel seguiu você”, eu a lembrei.

“Seguiu e me encontrou.”, ela balançou a cabeça. “Ele...”, ela pausou, respirando com rapidez. “Ele não deveria ter me seguido. Não deveria ter me defendido. NÃO DEVERIA”, ela gritou e suas mãos foram para a sua cabeça, como se sentia dor. “Eles estavam armados e ele sabia que eu era imortal. Aquele...”, ela pausou pressionando a boca junta.

Como se o céu se iluminasse, eu a abracei. A escutei respirando com força, como se para se controlar e gritou. Me assustei com o tamanho da dor que saiu naquele grito. Segurei seus ombros e a afastei por um segundo. Ela foi, contrariada. Quando seus olhos azuis focaram em mim, eu arfei. Havia tanta dor ali. Senti meu espírito começando a despedaçar e minha resistência ir para o chão. Meus olhos arderam e minha garganta ficou seca. Meu estômago pareceu ter um buraco. Eu fiquei confusa por nunca ter sentido aquelas sensações antes.

Respirei com força e me afastei de Caliel. Minha cabeça começou a doer e o som de um trovão me despertou. Olhei para céu, vendo que ele estava mais pesado que nunca. Olhei para a lápide atrás de mim. O vento tocou os meus cabelos e tirou algumas folhas que estavam ali. Dareel Lotfor. Aquele era o nome que eu lia.

Então era isso que o céu fazia com os anjos desobedientes? Lhe davam uma dor tão insuportável que durava séculos para serem curadas. Olhei para Caliel que continuava encolhida para como uma bola e tinha as mãos na cabeça. Pensei que tinha um problemas, mas nada se igualava ao que eu vi nos olhos de Caliel. Tanta culpa. Tanto remorso.

Comecei a sentir meus sentidos se acalmando e abri as minhas asas. O vento se tornou menos traiçoeiro e eu fechei os meus olhos por alguns momentos, tentando coordenar meus pensamentos. Eu não queria sentir aquela dor. Não queria ter os altos e baixos que Caliel viveu. Mas só de imaginar uma vida onde eu não pudesse mais olhar nos olhos azuis de Jeremy e eu sentia meu estômago apertar novamente. Não, eu não poderia vomitar.

“Caliel”, chamei dando um leve passo na sua direção.

Ela gemeu, mas não se mexeu.

“Me diga, Caliel”, eu pedi. “Essa culpa toda é por ele ter morrido ou é por ele ter morrido e você sentir a mesma coisa por ele?”

Caliel soltou mais um grito e eu recuei. Eu não queria saber a resposta, mas precisava. Pensei em sentar, mas vi que não poderia. Tinha que fazer Caliel sair daquela dor. Então era assim que ela passava todo ano? Mergulhada em dor e remorso? E os céus deixavam que isso acontecesse com ela? Deixavam que ela fosse tão... humana? Não, Deus sabia o que estava fazendo. Caliel era um anjo e tinha chegado muito perto de cair. Ela apenas estava arcando com a consequência.

E não choveu.

**********************

“Obrigada”

Caliel tinha a voz baixa enquanto estava sentada comigo no telhado de meu apartamento olhando para os humanos em sua correria usual. Estávamos em silêncio desde que ela terminou de me contar a história com seu humano. E ela não tinha me respondido. Estávamos esperando Adriel aparecer e eu já ansiosa. Ele não sabia de nada. E nem queria saber como reagiria se soubesse.

Escutamos o bater de asas familiar e Adriel pousou com seu belo sorriso galanteador. Seu cabelo loiro arrepiado e os olhos verdes quentes. Ele estava com uma blusa de manga tão branca quanto as nuvens do céu e uma calça para acompanhar. Seu olhar doce se tornou desconfiado quando ele viu que não estávamos na mesma vibração de alegria que ele.

“O que aconteceu?”, ele disse sério e fechando as asas.

Eu não disse nada, abraçando as pernas contra o meu peito.

“Fui promovida a anjo maior.”, Caliel disparou com os olhos fixos no nada. Eu e Adriel a olhamos como se tivesse dito alguma blasfêmia. Ela reparou o nosso silêncio e nos olhou. “O que foi?”, ela deu de ombros.

Abri a boca para dizer algo, mas me calei. Nós tínhamos passado mais de duas horas juntas e ela não tinha me contado isso. Senti um medo se iniciando na minha espinha e disfarcei a respiração rápida. Eu tinha contado para ela sobre Jeremy. Porque ela não me disse que tinha sido promovida? Será que ela teria coragem de contar? Mas, ela já era um anjo da guarda. Se ela foi promovida, então...

“Você é um Sub Arcanjo?”, Adriel disse parecendo ler os meus pensamentos.

Caliel assentiu.

“Fui promovida ontem de tarde.”, ela olhou para mim e seus olhos se suavizaram, como se ela pedisse desculpas. Não tive coragem de ficar com raiva dela. Estava feliz por ela ter conseguido um cargo tão alto, em tão pouco tempo. “O próprio Gabriel me deu a notícia.”

“Miguel ainda não me disse nada sobre eu ser promovido”, Adriel disse fazendo uma careta. Ele tinha a esperança de ser um anjo da guarda, tanto quanto eu. “Por que não nos contou? Não confia em nós, loirinha?”

“Não seja idiota, Adriel.”, Caliel pegou uma pedrinha e jogou no outro anjo. Ele riu e ela o acompanhou. Não pude deixar de sorrir. Era bom ver Caliel sorrindo. “Não contei porque não achei importante. Achei até entediante. Não vou poder fazer mais nada. E quando vocês forem promovidos, vou mandar em vocês?”

“Só nos seus sonhos”, Adriel disse então parou para pensar. “Ah é, você não dorme. Então, não. Além disso, acho que vai demorar mais uns dois séculos para Miguel me promover. Eu tinha que ficar com o maior Arcanjo como supervisor?”

Sim, nós, anjos menores tínhamos supervisores. O meu era Rafael, o de Caliel era Gabriel e o de Adriel era Miguel. Eu ficava nervosa perto de qualquer um deles. Caliel, como Sub Arcanjo, teria que supervisionar novos anjos e substituí-los em uma missão, se ela ver que ele não pode mais completá-la por qualquer motivo.

“Miguel é bem melhor que Rafael, te garanto”, eu revirei os olhos. “Parece que anos de existências o deixaram no auge no tédio. Outro dia ele tentou sorrir, quase desmaiei.”

Todos nós rimos.

“Não se preocupe.”, Caliel disse a Adriel. “Gabriel deixou escapar que nessa década, muitos anjos vão ser promovidos, porque merecem. E Miguel irá promover a maioria. Talvez em menos de 50 anos vocês me alcancem.”, ela sorriu. Adriel fez uma careta. “Ou talvez não, com essa falta de esperança.”, ela revirou os olhos e me encarou. “E você, Aliel? Rafael já deu alguma pista que você vai ser promovida?”

“Na verdade, ele disse que essa seria a última missão e que se eu me desse bem, iria me tornar anjo da guarda.”, eu sorri.

Os olhos de Adriel brilharam.

“Esse é o ano de muitas novidades.”, ele disse. “Sabe, fui na Geórgia, aquecer as minhas asas e vocês não sabem que eu encontrei por lá. Ariel. Ela está tão enrolada naquela missão que estou vendo que irá pedir para outro. E como Miguel também é supervisor dela, acho que esse vai ser o meu teste final.”

“Sério?”, eu disse alegre.

“Sim, sim.”, ele assentiu, alegre. “Sabe, até que eu entendo o porque dela estar um pouco enrolada. Você não sabem a confusão que eles deram para ela resolver...”

E Adriel continuou falando. Em um pequeno segundo, o meus olhos cruzaram com os de Caliel e ela sustentou o meu olhar. Então, eu soube. Ela não iria contar nada.


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Notas finais do capítulo

E o que acharam da história de Caliel e o humano? Espero que tenham gostado, porque logo ela irá interferir na história.

Beijos e não esqueçam de comentar.