Um Anjo (quase) Caído escrita por Gaby Molina


Capítulo 28
Capítulo 28 - Prazer, meu nome é confusão


Notas iniciais do capítulo

Eu ia falar sobre como lembrei da HeyLuce quando pensei no nome do capítulo, mas estou mimando ela demais. HAUSHAUSHAUSH



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Serena

Eu gostava de ter Heath ali comigo, mas sabia que aquele era o último dia da aposta. No dia seguinte, eu definitivamente descobriria se os indícios de perdão dele se haviam dado pela aposta ou por mim.

Gastei meus últimos trocados no ingresso do cinema, e Heath pagou a pipoca.

— O que vamos assistir? — indagou ele.

— Não sei — admiti, lendo o jornalzinho do cinema. — Ei, tem um muito escroto aqui. Chama-se Caída Por Um Anjo.

Heath ergueu uma sobrancelha.

— Sério mesmo?

Assenti e o arrastei até a bilheteria. Depois que compramos os ingressos e estávamos na fila para entrar na sala, Heath resolveu dizer:

— Você sabe que o cara principal do filme não é um anjo de verdade, não é? A menina acha que ele é um anjo porque ele é lindo e popular.

Estreitei os olhos.

— O filme acaba de ficar ainda mais escroto! Cara, eu vou rir muito.

Heath

Sentamo-nos no fundo do cinema e ficamos esperando o filme começar.

— Qué? — Serena me estendeu a pipoca, com a boca meio cheia.

— Eu nunca comi pipoca.

— Qual é! — ela pegou um punhado e enfiou na minha boca. — Mastigue. Iiiisso.

Depois que acabei de quase morrer com pipoca entalada na garganta, falei:

— É bom!

— Ótimo, come mais — ela enfiou mais pipoca na minha boca. — Que foi? Veio muita pipoca.

O filme começou. Um narrador com voz chata de filme da Disney começou a entoar:

Era uma vez uma garota perfeitamente normal. Seu nome era Cara Sebb.

Serena soltou um riso baixo.

Ela morava em Nova York, a melhor de todas as cidades. Ela costumava se excluir da vida social da Dawn High e estava perfeitamente satisfeita com isso.

Até ele chegar.

E então deram um close num cara adolescente passando pelo corredor da escola. Até Serena parou de mastigar a pipoca para secá-lo.

Soltei um resmungo e fiquei tamborilando com os dedos em minha calça jeans.

— Você parece estar gostando do filme — comentei.

— Cale a boca, o anjo gostosão vai falar.

— Ele não é um anjo de verdade — resmunguei.

Serena sorriu e encostou a cabeça no meu ombro. Era tão fácil ficar bravo com ela. E, ao mesmo tempo, tão difícil.

— E aí? — o Não-Anjo sorriu para Cara Sebb.

— Sai daqui — Cara Sebb resmungou e saiu andando.

— Ela é igualzinha a você! — comentei com Serena, sorrindo.

— Não é, não — ela murmurou. Eu ainda estava encarando-a. — Sai daqui! — falou, me empurrando de leve. — E meu nome não é escroto.

— Não — sorri. — Seu nome é lindo.

Foi pela expressão surpresa no rosto dela que percebi que havia dito aquilo alto.

— Preste atenção no filme — pedi. Ela fez que não com a cabeça e continuou me fitando.

Seja forte, Seeler. Não olhe nos olhos dela. Não olhe.

Joguei pipoca nela. Ela soltou um "Ah!" exasperado e jogou pipoca em mim também. Provavelmente não teríamos parado até toda a pipoca do mundo acabar, não fosse o lanterninha ameaçando nos expulsar.

Voltamos a nos comportar. O filme se arrastou por mais uma hora, até chegar na cena onde o Não-Anjo estava indo embora.

Eu estava quase dormindo quando ouvi um soluço.

— Serena? — sussurrei. — Tudo bem?

— Claro que está tudo bem. Por que não estaria?

— Você está... Tipo... Emocionada com a partida dele, ou é impressão minha?

— É que... Poxa, eles se gostam tanto — ela fungou, escondendo o rosto vermelho com o cabelo.

Sorri levemente, abraçando-a.

— Isso é parte do seu trabalho também? — ela perguntou, sem me soltar.

Dei de ombros.

— Não.

Ela me abraçou com mais força.

— Está aqui por causa da aposta, ou do seu trabalho...? Ou...

Hesitei. — Eu vim aqui por causa do trabalho — confessei. — Mas agora não tenho mais certeza.

— Eu e você... — ela me fitou, convicta. — Nós somos inevitáveis.

— A morte é inevitável, e isso não quer dizer que as pessoas não tentem combatê-la.

— Podemos combater — ela se aproximou. — Mas não vencer.

Eu teria jogado para o alto todo o papo de estar bravo com ela naquele exato momento, se o lanterninha não tivesse vindo nos enxotar do cinema.

— Tive mais de quatro reclamações sobre vocês dois — ele ia resmungando enquanto nos arrastava.

— Chorões — Serena murmurou.

* * *

— Eu realmente queria saber o fim do filme — Serena resmungou enquanto caminhávamos pelo shopping.

— Eles vivem felizes para sempre — falei. — Não é assim que funciona?

Ela deu de ombros.

— Eu sou a pessoa menos indicada a responder.

— Por quê?

— Porque eu só gostei mesmo de um cara em toda a minha vida — ela manteve o olhar longe do meu. — E ele é o primeiro na lista de Caras Pelos Quais Serena Vai Se Foder Se Gostar.

— Ele soa como um cara legal.

Ela escondeu um sorriso.

— Ele é. Ei, segure minha mão.

— Por quê?

— Porque aquelas garotas ali estão secando você e eu estou me sentindo muito incomodada. Não gosto que as pessoas me analisem, e elas estão fazendo exatamente isso.

— E elas vão parar de analisar você se eu segurar sua mão?

— Não. Mas aí eu não vou poder bater nelas.

— Eu adoraria ver você em uma briga de gato — abri um sorriso presunçoso.

Ela me empurrou e eu entrelacei os dedos da mão dela nos meus.

— Melhor? — sussurrei.

Ela assentiu.

— Temos que pegar o elevador, quero te levar a um lugar.

Serena

— Argent, eu não faço ideia de como se patina no gelo — Heath protestou quando lhe entreguei um par de patins do número dele.

— Não seja medroso! Eu vou te ajudar.

Colocamos os patins. Quando ele estava prestes a entrar no ringue, eu segurei-o.

— Mas se você tropeçar, cair em cima de mim e resolver que é uma boa oportunidade para me beijar — fitei-o, abrindo um leve sorriso. — Eu estaria perfeitamente confortável com isso.

— Acho que estarei um pouco preocupado demais em não bater a cabeça na barra e morrer.

Heath

Serena riu e segurou minha mão.

— Você se preocupa demais.

Talvez ela fosse, afinal, uma tentação. Se era o caso, era a tentação mais apaixonante de todas.

Eu e você... Nós somos inevitáveis.

Eu ainda estava tentando entendê-la.

— Para alguém que odiava tanto nosso chove-não-molha, você parece querer muito voltar a ele — provoquei.

Ela começou a patinar mais rápido.

— Quer que eu retruque?

— Por favor, seja rude comigo. Eu imploro.

Ela me encarou.

— Talvez você não seja estúpido. Talvez apenas tenha sido possuído por um fantasma retardado.

— Teoria interessante.

— É como eu disse — ela suspirou. — Não vale a pena. Mas eu gosto de fingir que posso ter você às vezes. Sabe, para amenizar a dor iminente.

— Acho que você nunca tinha falado desse jeito sobre como se sentia.

— Não achei que precisasse. Mas frequentemente me esqueço de que você é um mané.

Ela saiu deslizando com seus patins, fazendo com que parecesse muito fácil. Tropecei algumas vezes. Várias, na verdade, e geralmente era porque eu estava observando Serena. Gostava de observá-la. Seus cabelos louros esvoaçavam por causa da velocidade, e ela muitas vezes fechava os olhos.

O que não deu muito certo.

— ARGENT, VOCÊ...

Não foi rápido o suficiente. Ela acabou indo de encontro comigo, e ambos caímos no gelo.

— Ouch — foi tudo o que eu disse, tirando gelo de meu próprio cabelo.

Serena enrubesceu e, antes que eu pudesse dizer mais qualquer coisa, ela rolou para o lado e se levantou. Depois estendeu a mão e eu levantei também.

E então continuou patinando.

Serena

— Foi legal, admita — encarei Heath quando saímos do ringue.

— Foi, foi bem bacana — ele sorriu levemente.

Continuamos andando.

—... O que você está olhando? — ele perguntou de repente.

Percebi que eu estava fitando sem querer umas garotas na cafeteria, as mesmas que estavam olhando para Heath mais cedo. Por um lado, eu não me sentia com tanto ciúme porque, assim como eu não podia tê-lo, elas também não podiam.

Mas por outro, aquilo era um lembrete constante de que eu não podia tê-lo.

—... Ei, olhe para mim — Identifiquei um sorriso na fala dele.

Quando virei-me para fitá-lo, ele me beijou nos lábios. Simplesmente. Colocou as mãos em minha cintura e grudou nossos corpos no meio do corredor. Eu sentia os olhares das pessoas que passavam, mas eu realmente não ligava.

— Isso não conserta as coisas — ele sussurrou quando nos afastamos.

— Nada nunca conserta as coisas.

Heath olhou para onde as garotas estavam sentadas.

— Elas sumiram.

— Eu também teria dado o fora, se fosse elas.

Ele riu.

— Eu já cansei de shopping por hoje. E você?

Fitei-o.

— É, vamos dar o fora daqui.

Heath

Serena era aquele tipo de pessoa que estava muito acostumada a andar por aí sozinha (dando trabalho para a linhagem de anjos da guarda que se demitiram porque estavam de saco cheio dela. Idiotas), portanto eu tinha alguma dificuldade em acompanhá-la, pois ela nunca avisava qual ônibus íamos pegar e em qual ponto íamos descer.

Descemos do ônibus e estávamos andando pela calçada quando ela parou.

— Heath.

Serena

— Sim?

— Eu não quero parecer louca nem nada... Mas aquele ali não é o seu pai?

Apontei para um homem saindo de um sobrado e atravessando a avenida. Heath estreitou os olhos, cético. Sem dizer nada, saiu correndo atrás dele.

Tomei isso como uma possível resposta. Resolvi ir até a casa de onde o homem tinha saído. Bati na porta. Depois de alguns segundos, ela se abriu.

Um garoto alto e em forma, de pele levemente bronzeada e cabelos pretos encostou no batente, cravando os olhos escuros em mim.

A primeira coisa que pensei foi Heath, apesar de que aquele garoto provavelmente era uns três anos mais novo. Mas a semelhança era indiscutível.

— Olá, olá — ele abriu um sorriso malicioso. — O que traz a bonitinha aqui?

Inspirei fundo para não retrucar. — Meu nome é Serena. Qual é o seu?

— Frederick Seeler — ele estendeu a mão. — Mas pode me chamar de Fred.


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Notas finais do capítulo

TAM TAM TAM TAM
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