Um Anjo (quase) Caído escrita por Gaby Molina


Capítulo 13
Capítulo 13 - Invasões constantes


Notas iniciais do capítulo

O último capítulo deve ter tido, tipo, recorde de comentários
EEEEEEEEEEEEE O/
CONTINUEM ASSIM, FOI UM DIA MUITO FELIZ ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/421161/chapter/13

Serena

— Sai daqui! — gritei enquanto ele socava minha janela.

— Não! Abra essa merda!

— Não! Você não manda em mim!

Depois de dez minutos, ele desceu. Achei que tivesse ido embora, mas meio minuto depois abriu a porta de meu quarto.

— Seu irmão me deixou entrar.

— THOMAS, VOCÊ FUMOU PURPURINA?! POR QUE DIABOS...

— Calma. Calma — Heath suspirou, se sentando ao meu lado.

Inexplicavelmente, eu me acalmei.

— Isso. Ótimo. Eu... Hã... Certo, me escute.

— Estou escutando. Melhor se apressar, antes que eu jogue você pela janela de novo.

— Tá. Olha. Aquela noite na praça... — ele me fitou, sério. Não tinha humor nos olhos dele. Nem um resquício sequer. — Eu sei que combinamos de fingir que nada daquilo aconteceu. Mas aconteceu, está bem? E está claramente nos afetando. Então, só para que não reste dúvida: eu falei a verdade. O tempo todo. Realmente me preocupo com você.

— Que jeito engraçado você tem de mostrar isso.

— Eu não sabia que você queria que eu voltasse com você. Achei que fosse gostar de se livrar de mim um pouco. — ele deu de ombros.

— Heath. Quando eu quero me livrar de você, eu me livro de você. Se eu quisesse, não teria chamado você para aquela droga de festa. E não ligo de voltar sozinha. Mas eu... não estava sozinha.

— Certo. O tal Chad. Achei que gostasse dele.

— Eu não gosto dele! — bufei. — Merda, é complicado. Teve essa festa do Rodd há uns meses, e o Chad foi como acompanhante da Audrey. Só que... Bem, digamos que ele não estava muito interessado na Audrey. Descobrimos que tínhamos muita coisa em comum, e começamos a conversar. Ele queria me tirar para dançar, mas eu sabia como aquilo ia acabar, e eu não podia fazer aquilo com a Drey — mordi o lábio. — Até hoje ela não sabe por que ele nunca mais deu sinal de vida.

— Eu não sabia.

—... Então, eu nem me importava tanto que você tivesse me trocado por uma garota qualquer aí, mas...

— Lembrando que foi você quem me encorajou a arrumar uma garota.

— Tá, foi uma ideia idiota. — fitei-o por um momento. — Enfim. Mas você me trocou por uma garota qualquer aí e me fez voltar para casa com um cara que você nem conhecia. Só pareceu que você... não se importava, está bem? — desviei o olhar. — E estou cansada de pessoas que não se importam.

— Serena, eu...

Senti um leve arrepio quando ele disse meu nome.

— Você deveria ir. Ah, e quanto à Jill... O costume é ligar três dias depois.

Ele se levantou.

— Não vou ligar para ela.

— E eu com isso?

— Foi você quem trouxe o assunto à tona!

— Eu fiz um comentário. É diferente. THOMAS — gritei para que meu irmão ouvisse. — vai acompanhar você até a porta.

Empurrei Heath para fora de meu quarto, e Thomas apareceu para levá-lo até a saída. Bati a porta quando eles saíram.

Pulei em minha cama e me esparramei lá.

Droga. Droga. Droga.

Heath

— Sua irmã costuma chutar as pessoas para fora da casa dela? — sorri levemente para Thomas.

— Quando Serena não quer ter uma conversa, ela não tem essa conversa — respondeu ele.

Encarei-o.

— Você estava escutando nossa conversa, não estava?

— Por favor, não conte a ela! Vou acordar sem cabelo! — suplicou ele. Eu ri, mas fiquei imaginando se Serena faria mesmo isso.

— Pode deixar.

— Na verdade, eu só fiquei vendo se ouvia algum barulho de beijo ou alguma coisa...

— Estávamos só conversando — interrompi, tentando soar calmo.

— Você parece ser um cara legal.

— Você também. Temos que ser, não é? Para aguentar a Serena.

— Eu a aguento há doze anos. Sou mais legal que você — Thomas sorriu. Seu sorriso me lembrava o da irmã.

— Não duvido nada. Tchau, Thomas.

— Tchau, Heath. Fique longe da minha irmã.

Sorri.

— Eu bem que queria às vezes, sabe?

Espera. Quando aquele às vezes aparecera?!

Quando cheguei em casa, me tranquei no quarto e fui ouvir pela primeira vez os CDs que Serena tinha me dado. Peguei o CD do Train e passei direto para a terceira faixa.

Now she's back in the atmosphere

With drops of Jupiter in her hair, hey... Hey...

She walks like summer and talks like rain

Reminds me that there's time to change, hey... Hey...

Era uma música incrível. Logo entendi por que Serena gostava dela. Prestei mais atenção ainda a qualquer menção de Soy Lattes.

Só apareceu no fim.

Can you imagine no love, pride, deep fried chicken?

Your best friend always sticking up for you

Even when I know you're wrong

Can you imagine no first dance, freeze dried romance

Five-hour phone conversation

The best Soy Latte that you have ever had and...

Me?

Coloquei no replay pelo menos umas sete vezes depois disso. Aquela música significava... tudo. Era tudo. Basicamente.

Mas essa não era a maior das questões em minha mente. Porque ela não deixava minha mente. A maldita loura egocêntrica e complicada.

Complicado não era sempre bom, mas era interessante. E grudava na mente como nenhuma outra coisa.

Isso não resolvia o maior problemas:

Eu tinha o pior emprego do universo, e estava viciado nele.

Não, você não está, disse uma vozinha em minha cabeça. Você está viciado nela.

Eu odiava Serena Argent.

E a odiava ainda mais por não odiá-la.

Por não odiá-la nem um pouco.

Meu celular bipou.

Olá :3

Jill. Suspirei e joguei o celular pela janela. Provavelmente não era isso que os mortais faziam quando queriam apagar uma mensagem, mas eu não ligava.

No dia seguinte, eu e Damien fomos buscar Serena na casa dela — como sempre —, mas ela não saiu. Ao invés disso, Thomas veio dizer que ela tinha ido para a escola mais cedo com a Audrey.

Quando cheguei à escola, Serena veio correndo até mim. Suas botas de salto faziam barulho quando batiam no chão. Ela estava usando uma blusa escura soltinha com abertura nas costas, jeans e as botas. Seu cabelo louro caía em ondas. Uma mecha parecia cair em seu olho constantemente, e ela sempre a afastava e colocava atrás da orelha.

— Tentei te ligar, mas seu celular estava indo para a caixa postal — disse ela.

Enrubesci.

— Meu celular... Hã... Sofreu um acidente.

Ela ergueu uma sobrancelha.

— Nada demais — dei de ombros. — Mas vou ficar sem ele por um tempo.

— Tá. É... Vim mais cedo para o teste de líder de torcida.

Foi minha vez de erguer uma sobrancelha.

— Não para mim! Para a Audrey — ela revirou os olhos como se fosse óbvio. — Ela precisava de apoio moral.

— Quer dizer que não vou ver você naquela saia minúscula? — tentei não soar muito decepcionado. Tentei.

Ela me deu um tapa no braço.

— Tudo bem, sabe — sorri. — Ainda tem aula de natação na quarta.

Levei uma cotovelada dessa vez.

— Como se você não ficasse olhando quando eu tiro a camisa!

Empurrão. Voei no armário, e ela apenas riu.

— Sem coração! — zombei.

— Vira homem, Seeler! — ela abriu um sorriso presunçoso. — Vão anunciar a convocação do time daqui a alguns minutos, quer vir?

— E eu perderia o milagre de você me convidando para alguma coisa?

Ela revirou os olhos e me puxou até o campo. Sentamo-nos na arquibancada.

— Cara, vou morrer de nervosa! — Audrey mordeu a bochecha, correndo até Serena.

— Nervosismo — a loira corrigiu.

— Ah, oi Heath!

— Oi, Audrey!

— Vai ficar tudo bem — Serena sorriu. — Você foi ótima!

— Está falando isso porque tem que falar ou porque é verdade? — Audrey ergueu uma sobrancelha.

— E desde quando a Argent fala alguma coisa porque tem que falar? — sorri.

— Então... Vocês dois se acertaram?

— Ele é um bundão — foi a resposta de Serena.

— Ela é uma sádica — retruquei. — Mas a gente vai levando. Estou aqui pelas líderes de torcida com saias minúsculas.

— Mentiroso! — Serena sorriu.

— É, se acertaram — Audrey deu de ombros. — Vou voltar para lá.

* * *

— E as novas integrantes secundaristas da equipe são... — a treinadora pegou a prancheta.

— Torcida organizada é tão idiota — Serena mordeu o lábio. — Por que estou nervosa?

— Porque não é idiota ao ver da Audrey e você se importa com a Audrey.

— Certo...

Peguei a mão dela. Em circunstâncias normais, provavelmente levaria um tapa, mas ela estava tão concentrada no campo que sequer percebeu.

E depois segurou com minha mão com bastante força, praticamente esmagando-a.

Eu devia ter algum tipo de problema, porque a sensação não era nem um pouco ruim.

— Emily Behis — disse a treinadora. — Riley Moutard. Audrey Miller. E a nova capitã, Leslie Hills.

O sorriso que apareceu no rosto de Serena foi impagável.

— ELA PASSOU! PASSOU! PASSOU, TIPO, MESMO!

— ELA PASSOU! — gritei também, contagiado pela animação dela.

Ela estava tão sistematicamente feliz que até me abraçou. Por dois segundos. Depois me soltou e sussurrou:

— Certo, isso foi estranho. Vem, temos que ir falar com ela!

Mas não soltou minha mão.

— EU DISSE! — Serena berrou para Audrey. — Fiquei tão feliz por você que nem liguei para o fato de a oxigenada da Hills ter sido nomeada capitã.

— Como é que é?! — uma garota loura que costumava me secar nas aulas de Inglês encarou-a, revoltada.

— Isso mesmo que você ouviu, cara de cavalo. Agora, circulando.

Leslie se virou para mim, sorrindo.

— Oi, Heath.

Eu podia jurar que Serena apertou minha mão com mais força.

— Já pastou hoje? — Serena sorriu, fitando Leslie.

— Estou tentando — ela continuava com os olhos focados em mim.

Embaraçoooso... — cantarolei (bem menos afinado), imitando Serena. — Hã, foi... legal te ver, Leslie. Vamos, Argent?

Como se finalmente percebesse que estava segurando minha mão, soltou-a rapidamente.

* * *

— Muito bem, quero todos treinando a nona sinfonia — o sr. Rogers disse no terceiro período. Serena correu até ele e sussurrou alguma coisa. Ele assentiu e ela foi até o canto da sala com uma cadeira, um caderno e uma caneta.

Fui até ela.

— Foi dispensada do ensaio? — sentei-me ao lado dela.

— Tenho licença poética — ela não desviou os olhos do que escrevia.

— O que isso quer dizer?

— Quer dizer que, se eu tiver uma inspiração, o sr. Rogers me deixa ficar escrevendo música.

— Qual a sua inspiração agora?

Ela escondeu o papel.

— Não é da sua conta!

— Posso saber o nome da música, pelo menos?

— Little Taste Of Heaven. Você deveria estar treinando a nona sinfonia, sabia?

— Argent, eu toco triângulo. Ninguém vai sentir minha falta — dei de ombros. — Além do mais, sei a sinfonia de cor.

— Acho isso difícil de acreditar.

Pigarreei.

— Si Si Dó Ré Ré Dó Si Lá Sol Sol Lá Si Si... Lá... — cantarolei. — Quer que eu continue?

— Estou surpresa.

— Beethoven era meu professor de música. Eu seria basicamente expulso se não soubesse isso de trás para frente.

— Você está brincando, certo?

Sorri com o quanto ela achava aquilo esquisito, sendo que era tão normal para mim.

— Estou atrapalhando sua inspiração?

Ela fez que não com a cabeça.

— Mas não fique bisbilhotando.

— Combinado. Você terminou aquela música lá da detenção?

Ela fez que sim com a cabeça.

— E como...

— Agora você está atrapalhando — ela comentou.

— Certo. Calei a boca.

— Valeu.

Serena

Não consegui terminar a música, até porque Heath não cumpriu totalmente a promessa dele de não atrapalhar.

— Fica até mais tarde na escola? — pediu Audrey. — O primeiro treino da torcida é hoje, e ter você aqui seria o diferencial entre ansiedade e ataque cardíaco.

— Tudo bem. Mas só porque eu não quero levar você para o hospital — brinquei. — Já a Leslie Hills, não tenho tanta certeza.

Audrey riu.

— Sem barraco, Argent.

— Pode deixar.

Sentei-me na arquibancada com Audrey até o treino começar. E então apenas peguei meu caderno e continuei escrevendo enquanto as líderes de torcida faziam uma pirâmide ou sei lá o quê.

No intervalo, aproveitei para ir até a sala de música. Eu adorava tocar naquele piano, até porque eu não tinha um e aquele era o único a que eu tinha acesso.

E era um ótimo piano.

Sentei-me no banquinho e coloquei a partitura de Lost Cause — a música da detenção, como Heath chamava — diante de mim.

Comecei a tocar levemente as teclas, formando a melodia lenta que ficava mil vezes melhor naquele piano do que no teclado que eu tinha em casa.

Heath

Música. Foi o que eu ouvi quando estava indo embora. Tinha ficado até mais tarde porque Damien não conseguia achar seu casaco.

Deixei-o procurando na sala de Geografia e fui até a sala de música. No começo nem sequer reconheci a voz, mas reconheci a letra.

E reconheci os cabelos dourados atrás do piano.

A dark shadow hid your face

When I found out you didn't say

Everything that there was to know

About me and you, about our role.

Só para constar: a voz de Serena era incrível. Soava tão melódica e emocional, mas ao mesmo tempo tão potente e viva. Eu poderia ficar ouvindo-a cantar até pegar no sono. Apesar de que eu estava tão interessado na letra e na forma como os acordes se encaixavam perfeitamente que provavelmente jamais dormiria.

Não é insônia se eu não quiser dormir. O refrão chegou logo depois.

Uma estrofe e depois o refrão? Que ousada. Sorri com minha própria idiotice.

~refrão:

Now everything's falling apart

I don't even know who you are

Anymore

You turned off the lights and now it's dark

I'm taken by scars

We're the lost cause.

I used to fly but you cut my wings

Now I can't even walk without falling down

You were my hero, but now you're just mean

And if you wanted to protect me...

You shouldn't have just shut your mouth.

Cause I'm human too

Even if it looks like sometimes

I can't feel anything...

But I'm tired

Of putting effort

On the lost cause.

Cause that's what we are!

Quando ela cantou o refrão pela segunda vez, eu já estava completamente surpreso, impressionado e — é claro— embasbacado.

~ponte:

Sorry, sorry

Such a little word

But it's used to heal so much

Sorrow, sorrow

Two words so alike

First comes sorrow, then comes sorry

Then sorrow again, everytime I hear your voice

Cause your apologies are not enough, my bad

I'm sorry about that.*

Ela cantou o refrão mais uma vez. Quando terminou, eu aplaudi. Ela pulou do banco, quase tendo um infarto.

— Seu puto!

Eu ainda estava tão impressionado que nem liguei para o xingamento.

— Serena, aquilo foi... Uou. Você compôs aquilo?

— Com exceção da última frase do refrão.

— Verdade, quero meus direitos autorais.

— Uhum, senta lá.

— Agora, falando sério, que voz é aquela?!

Ela ainda não olhava para mim.

— Estou meio rouca.

— Argent, foi um elogio.

Ela derrubou o caderno.

— Ah! Você fazendo um elogio... Certo. — abaixou-se para pegar e depois finalmente virou-se para mim. — Sério que não ficou ruim?

— Ruim?! Serena, aquilo foi incrível!

Ela corou levemente, mas tentou esconder com o cabelo.

— Hã... Valeu. Agora para de aumentar meu ego porque eu preciso voltar para o campo.

— Então... Vejo você amanhã — sorri.

— Até — ela sorriu levemente.

Observando-a se afastar, arrependi-me de não ter gravado, porque Deus sabe quando eu ia conseguir vê-la fazendo algo assim de novo.

Depois lembrei-me da situação do meu celular e desisti.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

*Uma sombra escura escondeu seu rosto
Quando descobri que você não disse
Tudo o que tinha para saber
Sobre eu e você, sobre nossos papéis.

~refrão:
Mas agora tudo está desmoronando
Eu nem sei quem você é
Mais (no sentido de 'eu nem sei mais quem você é. Em Inglês a frase é construída com o advérbio no final da frase)
Você apagou as luzes e agora está escuro
Estou tomada pelas cicatrizes
Somos a causa perdida.

Eu costumava voar mas você cortou minhas asas
Agora não consigo nem mais andar sem cair
Você era meu heroi, mas agora é apenas cruel
E se você queria me proteger...
Não deveria ter apenas calado a boca.

Porque eu também sou humana
Mesmo que às vezes pareça
Que eu não consigo sentir nada
Mas estou cansada
De colocar esforço
Na causa perdida
Porque é isso que somos!

~ponte:
Desculpe, desculpe
Uma palavra tão pequena
Mas é usada para curar tanta
Dor, dor
Duas palavras tão parecidas
Primeiro vem a dor, e depois as desculpas
E depois a dor de novo, toda vez que ouço sua voz
Porque suas desculpas não são o suficiente, que pena
Desculpe-me por isso.

Fui eu que escrevi a música, então poupem o trabalho de procurar no Google. Haushausuh
Outra coisa: vocês gostam que eu coloque as composições da "Serena" na fic? Tipo, não vão ter o tempo todo; no máximo umas três durante a fic toda, mas... Sei lá. Acham legal?