One Shot - Love Happens escrita por Bruna Jackson


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

olá gente ^^
eu não postei mais essa semana na Reticências pq eu estava escrevendo essa one shot :)
essa fanfic é dedicada pro meu coautor, o Guilherme, que era mortal e eu consegui "converter" pro nosso lado o/ agora ele é um grego filho de Ares, que nessa história se chama Haythan. Bom, obrigada por ser esse coautor prestativo, egocêntrico, agoniado e criativo que me ajudou muito ^^ e me encheu o saco pra eu terminar de escrever logo u-u
bom gente, espero que gostem... nos vemos nas notas finais.



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Era antevéspera do dia 4 de Julho, o dia da independência. Para a alegria do chalé cinco, hoje também chegavam muitos novatos. Todos estavam à espera deles, e meios-sangues armados foram colocados na floresta que cerca o acampamento para garantir que o sátiro e o semideus chegassem a salvo. Lá pelas cinco horas da tarde, eu e meus irmãos trocamos de turno com os filhos de Atena e fomos até a casa grande, esperar até que um número maior de semideuses chegassem. Então seria a hora certa para agirmos.

Bom, acho que estou me apressando. Meu nome é Haythan Palmer, mas pode me chamar de Cipher. Sou o típico filho de Ares com quem ninguém no acampamento quer arrumar briga. Cheguei ao acampamento há três anos, e fui recrutado no mesmo dia. Ganhei duas adagas de presente do meu pai. Saí em duas missões nesse tempo que estou aqui. Na primeira, ganhei a bênção de Apolo, e na segunda, a de Hades. Não vem ao caso o meu objetivo nas missões. Só sei que eu ganhei mais moral em três anos do que o tal de Jackson em cinco. Mas eu respeito o cara; ele é um veterano.

Além de tudo isso, sou praticante de parkour, exímio arqueiro, fã das duas guerras mundiais e de Assassin’s Creed. E, é claro, o maior egocêntrico que o mundo já viu. Mas, apesar de tudo isso, não sei muita coisa sobre mitologia grega, que é basicamente o que me cerca todos os dias. Bom, esse é um resumo da minha vida desde que cheguei aqui. Agora, posso voltar à chegada dos novatos.

Normalmente, quem fica responsável pela parte das pegadinhas são os filhos de Hermes. Não só com os novatos, é claro, mas com o acampamento inteiro. Nem Quíron escapa. Mas desde que Clarisse, minha irmã veterana, começou a enfiar a cabeça dos novatos na privada, isso se tornou uma tradição entre os filhos de Ares. Fiquei sentado na varanda da casa grande ouvindo meus irmãos conversarem sobre qualquer coisa que eu não me interessava e olhando para a floresta, vendo alguns monstros se desintegrarem sob as flechas de bronze celestial e mais semideuses chegarem. Eles formaram um grupo de uns doze semideuses, enquanto esperavam alguém vir para começar o tour pelo acampamento. Era a hora de agir. Eu e quatro irmãos fomos até o grupo, cada um escolhendo um alvo. Analisei os novatos e optei por uma garota de cabelos e olhos castanhos que tinha acabado de cruzar a fronteira. Ela tinha uma expressão determinada no rosto, e um brilho de coragem no olhar. Vamos ver se esta coragem vai continuar, então.

POV Bridget

Meu nome é Bridget Mason, tenho quinze anos e descobri que sou uma semideusa há algumas horas. Bom, todos devem saber aquela história de ter um sátiro na escola que se torna seu amigo, depois revela sua verdadeira identidade e te leva pro acampamento, né? Não foi diferente comigo. A única coisa diferente que aconteceu comigo foi que eu já gostava de mitologia grega antes de saber que isso se tornaria a minha vida.

Voltando ao dia de hoje, meu sátiro me trouxe até Long Island, em uma parte isolada que aparentava ter somente campos de morango. Mas, conforme eu me aproximava, pude ver que não eram apenas morangos que haviam ali. Descemos do carro que estávamos à beira da floresta e começamos a correr em direção a uma espécie de portal. Vi alguns adolescentes usando camisetas laranja (provavelmente semideuses) armados guardando a passagem. Atravessamos o portal e paramos junto a um grupo onde outros meios-sangues estavam. Provavelmente eram novatos como eu, porque não usavam a camiseta laranja que todos os outros usavam. Eu mal havia chegado e um grupo de cinco caras fortões vieram em nossa direção, cada um escolhendo um semideus e levando para conhecer o acampamento. Tive um péssimo pressentimento em relação a isso, e não melhorou nada quando um deles, de cabelos castanhos e olhos azuis, usando um moletom com capuz me olhou e veio em minha direção. Engoli em seco enquanto ele se aproximava.

POV Haythan

Cheguei até a garota e exibi um sorriso forçado, sem tirar meu capuz.

- Olá, bem vinda ao Acampamento Meio-Sangue – disse eu. – Meu nome é Haythan Palmer, e vou guiá-la pelo acampamento. Qual é seu nome?

Ela me fitou por um segundo antes de responder.

- Bridget Mason – disse-me. Ela não parecia muito à vontade.

- Bom, Bridget – continuei – siga-me.

Eu não estava muito a fim de ficar falando, mas tive que manter as aparências de guia. Enquanto ela me seguia, fui falando qualquer coisa sobre ser filho de Ares e apontando algumas construções.

- E você, de quem é filha? Já tem alguma ideia? – perguntei, enquanto nos aproximávamos dos banheiros.

- Ainda não... – ela respondeu.

- Ei, venha aqui, quero te mostrar uma coisa – disse.

Ela quase estacionou, mas puxei-a pelo cotovelo, tentando não assustá-la.

- Venha, não vou te machucar. É sério.

Ela cedeu, e andamos alguns passos até nos aproximarmos da porta. Então ela percebeu que eu a estava levando para dentro do banheiro, e recuou um passo.

- Não, eu não vou entrar aí com você – disse ela.

Antes que ela pudesse sair correndo, agarrei-a pela cintura e joguei-a sobre meu ombro, impedindo que fugisse. Ela deu alguns socos nas minhas costas, mas não surtiram efeito. Chutei uma porta e soltei Bridget de joelhos no chão, fazendo-a encarar a privada. Antes que eu pudesse segurar sua nuca, ela jogou-se para trás, sentando no chão e encostando as costas na parede. Me olhou como quem pede piedade, e algo me dizia para deixá-la em paz.

- Por favor, me deixe, Haythan – pediu ela. – Por favor.

Ela suplicava. Não sabia o que estava acontecendo, mas eu cedi. Atendi sua súplica. Sem dizer uma palavra, me afastei. Saí do banheiro e deixei-a lá. Fui até meus irmãos, que riam de suas vítimas. Ri com eles e inventei algo sobre a garota. Bridget. Eu não conseguia tirá-la do pensamento. O que estava acontecendo?

Afastei-me deles e fui até a arena. Destroçar alguns bonecos de palha certamente melhoraria meu humor.

POV Bridget

Confesso que chorei um pouco depois que Haythan saiu. Mas logo levantei, lavei o rosto e saí do banheiro masculino.

Tentei seguir o mesmo caminho que fiz com Haythan, mas me perdi. Acabei em uma construção circular que com certeza era uma réplica dos anfiteatros gregos. Mas ao centro havia uma fogueira enorme em vez de um palco. Entrei lá e fiquei esperando alguém vir. Depois de algum tempo, deitei-me em um banco duro de pedra e adormeci, sonhando com Haythan, o tal filho de Ares. Eu deveria estar com medo ou com raiva dele. Mas não sou de guardar ressentimentos. Estranhamente, gostei de ver aqueles olhos azuis em meus sonhos.

POV Haythan

Saí da arena completamente suado, mas não estava exausto como a maioria das pessoas ficam depois de uma hora de treino. Devo ter destruído todo o estoque de bonecos que o acampamento possuía, mas eu não havia esquecido seu rosto, o jeito como olhou para mim me pedindo piedade. Fui até o chalé e tomei um banho, esperando a hora do jantar. Quando ouvi a concha de caramujo soar, segui até o refeitório e sentei à minha mesa. Tentei evitar, mas esquadrinhei o local em busca de Bridget, e não a encontrei.

Depois do Jantar, fomos até o anfiteatro ouvir as mesmas músicas que o chalé de Apolo sempre tocava e comer doces. E lá estava Bridget, dormindo em um dos bancos. Quando ouviu a movimentação, ela levantou, esfregou os olhos e sentou. Com o passar do tempo, ela comeu alguns doces, cantarolou algumas músicas e fez alguns amigos do chalé de Atena e Hefesto. E eu não consegui tirar meus olhos, encobertos pelo capuz, do rosto dela. Quando a música acabou e a fogueira já alcançava cinco metros de altura, Quíron chamou nossa atenção dizendo que estava na hora de os novatos serem reclamados.

- Por favor, venham até aqui todos os semideuses que chegaram hoje no acampamento – pediu o centauro.

Lentamente, Quíron foi cercado de novos rostos, inclusive o de Bridget. Quando percebi, estava torcendo para que meu pai não a reclamasse. Mas o que Hades é isso?

Todos foram reclamados, o que é um milagre. Normalmente os deuses deixam um ou dois dias se passarem até reclamarem todo mundo. Descobrimos que Bridget é filha de Poseidon, o que foi uma surpresa para todos. Poseidon não tem muitos filhos, e muito menos os reclama logo de cara. Cada um ganhou uma arma de seu pai ou mãe, e Bridget recebeu uma espada e uma faca. Provavelmente uma faca de atirar, pelo tamanho diferenciado. Em seguida vieram as bênçãos. Poucos receberam bênção, mas Bridget recebeu de Atena e Afrodite.

- Tudo devidamente resolvido, vocês podem voltar aos chalés. Lembrando a todos que cada um deve ir ao seu respectivo chalé e permanecer lá, a não ser que queira ser devorado por uma Harpia – disse Quíron. – Boa noite a todos!

Voltei ao chalé com meus irmãos e irmãs, pensando em Bridget. Essa garota estava me enlouquecendo. Por que ela não sai do meu pensamento? Fui até o chalé e dormi assim que deitei.

POV Bridget

Quando acordei, todos estavam vindo até o anfiteatro e sentando com seus irmãos (pelo que pude ver, os espaços eram marcados). Como não sabia aonde deveria ir, fiquei onde estava. Logo alguns semideuses vieram e puxaram conversa comigo, perguntado se eu estava gostando daqui, coisas desse tipo, e se apresentaram para mim como filhos de Atena ou de Hefesto. Eles dividiram seus doces comigo, e cantarolamos algumas musicas em grego. Senti o olhar de Haythan sobre mim, e não me espantei quando virei para conferir e ele estava me observando sob seu capuz preto. Logo que as musicas terminaram, um centauro nos chamou.

– Por favor, venham até aqui todos os semideuses que chegaram hoje no acampamento – pediu ele.

Esperei até que alguns saíssem de seus lugares e fui até o meio também. O centauro – Quíron, como fui informada – disse que era hora de sermos reclamados, descobrirmos quem é nosso pai ou mãe olimpiano. Assim que ele terminou de falar, algum objeto apareceu acima da cabeça de cada um, e olhei para ver o que estava sobre mim. Um tridente verde, indicando que eu sou filha de Poseidon, deus dos mares. Dei um sorriso quando vi que muitos – inclusive Haythan – me encaravam, surpresos. Recebi uma espada e uma faca estranha de presente do meu pai. Agradeci em pensamento.

Então alguns de nos começaram ser envolvidos por uma aura colorida, sendo abençoados por deuses específicos. Me surpreendi quando uma aura rosa me cercou, sendo substituída, logo em seguida, por cinza. Afrodite e Atena, só podia ser. Agradeci às deusas mentalmente também.

– Tudo devidamente resolvido, vocês podem voltar aos chalés. Lembrando a todos que cada um deve ir ao seu respectivo chalé e permanecer lá, a não ser que queira ser devorado por uma Harpia – falou o centauro, com sua voz antiga. – Boa noite a todos!

Perguntei a uma garota de Atena, que eu estava conversando antes, em qual chalé eu deveria dormir. Ela me apontou uma construção baixa feita de pedras, então agradeci e fui para lá. Não estava com muito sono, e arrumei meus pertences no pequeno guarda-roupa enquanto pensava em Haythan. Sacudi a cabeça, afastando os pensamentos enquanto me repreendia por pensar nele. Deitei em um dos beliches e logo adormeci, sem sonhar com nada.

POV Haythan

Acordei no dia seguinte em cima da hora para tomar café. Pulei do beliche, mudei de roupa e saí correndo para o refeitório sem fazer a cama. Joguei uma parte do meu café-da-manhã nas chamas para o meu pai, como de costume, e comi o restante rapidamente. Eu tinha que ajeitar minha cama antes que a inspeção iniciasse.

Assim que terminei de fazer a cama, peguei minhas adagas e fui para a arena treinar alguns semideuses. Desvantagem de ser bom em luta: Quíron te coloca pra dar aulas para quem não é. Depois de passar a manhã inteira ensinando como desarmar o oponente, almocei e fui ate o paredão de escalada. Subi umas cinco vezes sem ser atingido pela lava e resolvi treinar mais um pouco na arena. Quando cheguei lá, Outro grupo de semideuses estava treinando, e quando estava prestes a ir embora, vi que Bridget estava ali e resolvi ficar. Tive que fazer uma serie de repetições chatas que eu já sabia fazer com perfeição. Quando o treino acabou deviam ser seis horas da tarde. Vi Bridget ir em direção à caixa de isopor com água e fui até lá também. Quando ela me viu, fez menção de sair, e eu tentei a impedir.

– Calma, tudo bem – eu disse. – Só quero conversar hoje, garanto.

Ela me olhou, desconfiada, mas não foi embora. Tampouco disse alguma coisa.

– Eu queria pedir desculpas por ontem – prossegui – embora pedir desculpas não seja do meu feitio. Me desculpe por tentar enfiar sua cabeça em uma privada em vez de te dar as boas vindas.

Ela assentiu, satisfeita.

– Mais alguma coisa? – perguntou, friamente.

Suspirei.

– Não, era só isso. – respondi.

Ela esboçou um sorriso.

– Bom, então tudo bem. Até mais. – disse ela, indo alcançar suas novas amigas.

Quando voltei ao chalé, meus irmãos estavam se arrumando para sair. Chamei John e perguntei o que estava acontecendo.

– Festa no chalé de Apolo, cara – respondeu. – Você tá meio quieto, sei lá o que aconteceu contigo, mas devia ir. Eles comparam aparelho novo pro tal DJ que eles têm. Festa de inauguração.

– Ok, valeu. Acho que vou mesmo – disse.

Eu esperava que Bridget não fosse na tal festa, precisava tirá-la dos pensamentos. Tomei um banho, troquei de roupa e fui ao chalé do lado, de Apolo.

POV Bridget

Devo ter acordado cedo demais, porque quando saí do chalé não tinha praticamente ninguém andando por aí. Fui até os campos de morango e cumprimentei alguns sátiros que estavam por lá. Quando voltei, vi Ashley, uma filha de Atena que estava falando comigo na noite anterior e fui até ela.

– Oi, Ashley – cumprimentei.

– Oi Bridget – respondeu ela.

Ficamos conversando por um tempo até que uma trombeta soou ao longe. Não era trombeta, era uma concha, tenho certeza. Deve ser herança do meu pai saber esse tipo de coisa. Ela me disse que era hora de tomar o café-da-manhã, e fomos até o refeitório. Sentei sozinha à mesa, já que éramos agrupados por chalé. Antes de começar a comer, vi que todos estavam queimando uma parte de sua comida, e fiz o mesmo. Terminei de tomar meu café e fui até Ashley, que estava na porta do refeitório.

– Ei, vai fazer o que agora? – perguntou-me.

– Nada, pra falar a verdade. Meu chalé está arrumado e não tenho meu horário ainda – respondi.

– Gostaria de me ajudar a fazer a inspeção? Hoje infelizmente é meu dia – disse ela.

– Claro – aceitei.

A inspeção era, basicamente, passar de chalé em chalé para verificar a organização e dar uma nota de um a cinco para cada um. Começamos pelo meu chalé, o primeiro depois de Zeus e Hera (que não tinham ninguém), e recebi nota cinco. Ares recebeu três e estávamos chegando no chalé de Apolo quando perguntei a Ashley sobre os filhos de Ares.

– Normalmente são durões e difíceis de vencer em batalha – disse ela, com um olhar divertido – mas não impossíveis. A razão se sobrepõe à força. Porquê?

– Ah, só para saber – respondi. Mas Ashley, obviamente, não acreditou em mim. Nem eu acreditaria, pra falar a verdade.

– Sobre qual deles você quer saber, mais especificamente? – perguntou-me.

– Haythan – respondi, sem pensar.

Ela deu um sorriso largo enquanto escrevia em sua prancheta a nota do chalé.

– Ele é um mistério para mim, pra falar a verdade. Nunca conversei com ele e só o vejo conversando com seus irmãos. Só sei que é o mais difícil de vencer. Ele luta melhor com duas adagas do que eu com uma espada – disse ela. – O que você viu debaixo daquele capuz hein? – brincou.

– Ele nunca o tira, né? O capuz – tentei fugir do assunto.

– Não, pelo menos nunca o vi sem. Mas, voltando ao assunto, o que nele que te encantou? – insistiu.

– Olhos azuis – respondi, cedendo. – Sou apaixonada por olhos azuis.

Ela concordou.

– Também gosto. Mas, não sei porquê, seus olhos me fazem ter vontade de me afastar. – disse ela, pensativa.

– Cá entre nós, não são só os olhos... – falei.

– Eu sabia... Ele é um gato, não é? Todas acham, mas nenhuma realmente tem coragem de conhecê-lo de perto – disse Ashley.

Terminamos a inspeção e fomos à arena para treinar um pouco. Assim que Ashley começou a explicar como devíamos atacar os bonecos de palha vestidos com armadura, alguém chegou. Virei-me para ver e deparei-me com Haythan, segurando uma adaga em cada mão e indo em direção a um boneco oposto ao meu no círculo. Treinamos o exercício repetidas vezes, e quando estava acabando, vi que Haythan atacava o boneco como se fosse um inimigo real, com golpes que nem tínhamos aprendido naquela aula. Em um movimento rápido, decepou a cabeça do boneco com as duas facas juntas e seus dois braços, chutando o peito do boneco destroçado e derrubando-o. Desviei o olhar antes que ele me flagrasse e fui até o isopor com água que tinha em um canto. De repente, alguém estava ao meu lado. Adivinha quem era? Exato, Haythan. Virei-me para sair e ele chamou.

– Calma, tudo bem – ele disse. – Só quero conversar hoje, garanto.

Olhei-o desconfiada, mas fiquei ali. Esperei que ele começasse a falar.

– Eu queria pedir desculpas por ontem – continuou ele – embora pedir desculpas não seja do meu feitio. Me desculpe por tentar enfiar sua cabeça em uma privada em vez de te dar as boas vindas.

Assenti. Se não era de seu feitio pedir desculpas, aquilo estava ótimo.

– Mais alguma coisa? – perguntei.

Ele suspirou.

– Não, era só isso – respondeu-me.

Não consegui evitar um sorriso, não sei por que.

– Bom, então tudo bem. Até mais. – respondi. Fui até Ashley, que estava saindo da Arena.

Ela não tocou no assunto Haythan novamente, e eu a agradeci mentalmente por isso.

– Ei, hoje vai ter uma festa no chalé de Apolo – disse ela. – Quer ir?

– Hã, prefiro não ir... Quero ler um pouco e descansar depois desse treino. Estou moída – menti.

– Ok então. Eu vou, se mudar de ideia... – ela deixou a frase no ar e foi até o chalé de Atena para se arrumar.

Fui até o meu chalé e vi que Haythan estava entrando no chalé de Apolo. A festa começava cedo, então. Chegando ao meu chalé, tomei um banho e joguei-me na cama, exausta. Nem sequer fui ao jantar ou à fogueira: dormi feito uma pedra, e acordei só no dia seguinte.

POV Haythan

A festa em si começou só duas horas depois de eu entrar no chalé sete. Mas como eu já estava lá, me fizeram ajudar a arrumar tudo. Quando começou, aquele chalé ficou muito pequeno para o tanto de gente que tinha. Parecia que o acampamento inteiro estava lá. Dancei algumas músicas no começo mas logo desisti de tentar me animar. Bridget não saía dos meus pensamentos. Encostei-me em uma parede do chalé e fiquei lá, até que uma garota veio falar comigo. Era Ashley, do chalé de Atena.

– Oi Haythan – cumprimentou ela.

– Oi Ashley – respondi.

– E aí, curtindo a festa? – perguntou-me.

– É, tá animada – respondi, secamente.

– Quem você tá procurando? – perguntou Ashley, percebendo que eu estava olhando pelo cômodo escuro em busca de um rosto.

– Uma am... um amigo – disse.

– Por que você não deixa esse seu amigo se divertir e faz o mesmo? Esquece ele agora, depois vocês se encontram – falou ela.

Sorri e a segurei pela cintura, diminuindo a distância entre nós.

– Boa ideia – respondi.

Ela sorriu e colocou as mãos nos meus ombros, olhando fixamente para mim. Embora Ashley fosse muito diferente de Bridget, não pude evitar pensar nela, querer que fosse ela no lugar da garota loira. Quando me peguei pensando em Bridget, soltei Ashley, dando qualquer desculpa para ir embora e fui para o outro lado do chalé, perto das caixas de som e me escorei na parede, fechando os olhos e tentando esquecer Bridget. Mas eu não conseguia. Senti que alguém se aproximava e abri os olhos, vendo John.

– Ei, cara, tá fazendo o que aí? – perguntou. – Cadê a animação?

– Ah, sei lá – respondi. – Não estou no clima de festa.

– Isso eu já percebi – respondeu. – É por causa de alguma garota? Vi que você estava falando com uma loira antes...

– Hm, é, bem por isso... – menti.

– Ah cara, deixa disso, vamos voltar pra lá! Você sabe o quanto essas festas são raras por aqui – ele disse.

Assenti e voltei pro meio da agitação. Meia hora depois eu estava de volta ao meu chalé. Tomei banho e fui dormir, pensando naqueles olhos castanhos que não abandonavam minha mente.

Acordei, no dia seguinte e decidi que teria que fazer alguma coisa. Eu não aguentava mais ficar só pensando em Bridget. Eu tinha que falar com ela. Mas falar o que?

Quando saí do chalé em direção ao refeitório, passei por um grupinho de garotas de Afrodite e parei ao lado, fingindo que amarrava o cadarço para ouvir o que diziam.

– ... e adivinhem quem me convidou ontem para ver os fogos? – perguntou uma garota morena.

Todas as outras soltaram um gritinho escandaloso e desnecessário.

– O John! Sério, fiquei pasma! Eu sei que não é grandes coisas ver os fogos, mas é o que podemos fazer, então... Vamos dividir uma toalha na praia essa noite! – continuou a mesma garota.

– Aquele cara do chalé cinco? – perguntou outra.

– Claro né, quem mais seria? – respondeu aquela morena.

Levantei e continuei o caminho até o refeitório, cruzando com John no caminho. Bati em seu ombro.

– Que é isso hein cara? Chalé de Afrodite, muito bom – provoquei.

– Hã? Como você ficou sabendo disso? Quem te contou? – sua cara ficou vermelha.

– Digamos que tenho meus métodos pra descobrir – falei.

– Tá, agora você já sabe né... e você, vai chamar alguém pra ver os fogos? – perguntou-me.

– Não sei ainda... – respondi.

– Qual é, eu sei que você anda de olho naquela novata. Bridget, se não me engano. Por que não chama ela? – perguntou ele, com um sorriso idiota.

– Cara, ela é uma novata, nem a conheço direito! – respondi, tentando me esquivar.

– Só uma novata em quem você não consegue parar de pensar hein? – ele riu. – Devia mesmo chamar. Sério, ela é linda. Não me mate, mas é sério. Você sabe disso também.

– Bom, é... – cedi.

– Então cara! Se você não chamar, outra pessoa vai. Pense nisso – ele disse e saiu, indo pra qualquer canto que fosse.

Pensei nisso enquanto tomava o café. Bom, acho que eu tinha que tomar uma atitude. Resolvi convidá-la.

POV Bridget

Depois que acordei e tomei um café-da-manhã solitário sentindo o olhar de Haythan sobre mim, fui para o lago de canoagem remar um pouco e tentar influenciar as águas, como uma boa filha de Poseidon. A prática era mais fácil que a teoria nesse negócio de controlar a água. Fiz ondas enormes, dividi o lago em dois (como Moisés), arrisquei até andar sobre as águas, mas acabei caindo. Pelo menos não me molhei.

O dia passou tranquilo, e não vi Haythan nenhuma vez. Estranho. Depois do almoço, joguei um pouco de vôlei e fui ajudar os filhos de Hermes a fazerem os últimos fogos de artifício. Por volta das seis horas da tarde, quando eu estava em meu horário livre, voltei ao lago de canoagem e fiquei brincando de atirar bolas de água em alguns semideuses que estavam praticando canoagem. Eles reclamavam, mas não faziam nada. Afinal de contas, eles estavam na água, e eu tenho poder sobre ela. Então ouvi passos se aproximado de mim e virei-me para ver quem era. Deparei-me com Haythan, sem surpresa alguma.

– Olá Haythan – cumprimentei e voltei a brincar com a água.

– Oi Bridget – respondeu ele. – Eu queria, bom, te fazer um convite. Como um pedido de desculpas mais formal pelo que eu fiz anteontem.

Perdi minha concentração na água e a bola que eu estava prestes a lançar desmanchou-se. Virei-me para ele.

– Um convite? – perguntei. Ele assentiu. – Bom, faça então.

Ele engoliu em seco e continuou, fitando meu rosto.

– Bom, hoje é dia quatro de julho, e o chalé de Hermes sempre queima fogos na praia em comemoração. E eu queria te convidar pra ver comigo – disse, parecendo inseguro. – Eu sei que não é grande coisa, mas...

– Parece ótimo – respondi, interrompendo-o.

Ele esboçou um sorriso. Acho que isso é o máximo que ele consegue fazer pra expressar sua felicidade.

– Ok. Passo no seu chalé em uma hora, pode ser? – perguntou.

– Pode – respondi.

Assim que ele saiu, um sorriso enorme apareceu no meu rosto. As águas ficaram agitadas e uma canoa quase virou, mas consegui estabilizar a situação antes de sair dali e ir ao meu chalé.

POV Haythan

Eu estava muito feliz, embora não deixava transparecer. Ela aceitou! Peguei uma toalha de piquenique verde que estava no armário do chalé e joguei em cima da cama. Tomei banho e fiquei matando tempo. Uma hora depois, saí do chalé e fui buscar Bridget.

POV Bridget

Ninguém nunca tinha me convidado pra ver os fogos do quatro de julho na praia. Parecia tão legal! Ainda mais feito por semideuses. Eu duvidava que seriam simples fogos azuis e vermelhos, e estava ansiosa para ver. Ainda mais ao lado de Haythan. É, eu tentava evitar, mas não podia negar que Haythan não deixava meus pensamentos.

Tomei um banho demorado, sequei os cabelos e escolhi uma roupa normal. Eu não tinha trazido muita coisa pra cá, então optei por um short jeans e uma camiseta azul marinho. Fiquei matando tempo no chalé, esperando que Haythan chegasse. Então ouvi três batidas um tanto fortes na porta. Não atendi de cara, embora estivesse ansiosa para ir. Ele bateu novamente, com mais força dessa vez. Dei uma risada e abri a porta antes que ele a derrubasse.

– Oi Haythan – disse eu, tentando evitar um sorriso enorme.

– Oi Bridget. Vamos? – disse ele.

Assenti. Fomos caminhando e depois de alguns passos ele avançou sua mão para a minha e a segurou. Eu deixei. Fomos andando até uma parte da praia que não tinha quase ninguém, então ele parou e estendeu uma toalha grande na areia. Ele sentou e sentei ao seu lado. Ficamos conversando um tempo sobre a vida no acampamento. Percebi que todas as vezes que eu falava alguma coisa sobre histórias, mitos gregos, ele ficava calado, então tentei evitar isso ao máximo. Apesar disso, pude perceber que ele é um tanto egocêntrico. Os fogos começaram, mas não paramos de conversar.

– ... e ninguém quer me enfrentar numa briga porque tem medo de acabar acertando essa cara linda. – disse ele.

Não pude conter uma risada.

– Acho que não é só por isso – respondi. – Se você fizesse um elogio a alguém a cada vez que se achar desse jeito, faria a autoestima de alguém aumentar um bocado – mudei o rumo da conversa.

– O que é autoestima? – perguntou ele, ironicamente.

Ri novamente. Eu mais ria do que conversava.

– Gostei desse negócio de fazer alguém rir – comentou ele.

Percebi que ele estava meio distante, distraído. E estava de capuz, mesmo que não tivesse mais sol.

Puxei seu capuz, revelando cabelos castanhos bagunçados.

– Bem melhor assim – disse. – Por que você está tão distante? O que te aflige? – arrisquei.

Ele me fitou por um tempo antes de lembrar que devia responder minha pergunta.

– Pois é... Estou pensando em muita coisa. Acredito que sou a pessoa que menos sabe de coisas aqui – ele disse. – E apesar de estar sempre rodeado de gente, me sinto sozinho por que eles falam de coisas que eu não entendo.

Ele concluiu e puxou o capuz , abaixando a cabeça.

Eu, teimosamente, puxei seu capuz e baguncei seu cabelo, rindo.

– Ei, não fica assim – disse – isso é normal acontecer, principalmente quando se é um semideus. Mas se isso é realmente um problema pra você, devia tentar procurar alguém com quem consiga manter uma conversa... Ou tentar aprender sobre o que as pessoas falam, pra poder conversar junto.

Nesse momento, um dos foguetes dos filhos de Hermes foi lançado na direção errada, explodindo perigosamente perto da praia. Eu gritei de susto, mas Haythan não moveu um músculo sequer.

– Relaxa – ele falou – é só um foguete.

Fuzilei-o com os olhos, e ele chegou mais perto de mim e me abraçou.

– Você podia me ensinar, né? – perguntou ele.

Eu nunca tive raciocínio rápido, mas o fato de ter seu braço ao meu redor só deixou isso pior. Não que eu estivesse reclamando. Dei uma risada.

– Te ensinar o que? – perguntei.

Ele revirou os olhos.

– Sobre esse negócio de ser um semideus, essa mitologia confusa – respondeu.

– Ah, sim – falei. – Sem problemas.

Tombei a cabeça no seu ombro.

– Você lembra que eu tentei... te zoar anteontem, né? – perguntou-me.

– Sim, lembro – respondi, sinceramente. – Mas não se preocupe, não sou de guardar rancor. Mas, ei, vamos fazer uma troca. Eu vou te ensinar o que quiser sobre a “mitologia confusa”... Se você começar a sorrir mais. Nem que seja pra mim.

Ele deu um sorrisinho de canto de boca e respirou fundo.

– Você sabe quem eu sou, né? – perguntou Haythan. – E sabe o quanto vai ser difícil pra eu conseguir cumprir o que você está pedindo.

Ele soltou o abraço, puxou o capuz e deitou sobre a toalha.

– Você não deve saber direito quem eu sou, por que sou nova aqui... Mas vai descobrir logo que eu sou teimosa – disse. – Quando estou determinada a fazer alguma coisa, eu não desisto. E, para o seu azar – concluí – estou determinada a fazer você cumprir isso.

– Meu Zeus, com o que eu fui me meter... Esses novatos... – disse ele, fazendo-me rir. – Tá, eu já vi que você sabe fazer uma coisa que eu não faço com frequência... – sorrir, supus. - Tem certeza que vai querer entrar nessa roubada? – perguntou. – Eu também sou teimoso.

– Não me importo com sua teimosia – respondi, decidida. – Eu encaro o desafio.

Ele sentou, olhando-me nos olhos. Colocou a mão no meu rosto e aproximou-se, diminuindo a distância entre nossos rostos e me beijando. Meu coração disparou de felicidade.

– E eu achando que você era do tipo tímido – murmurei, assim que ele se afastou. Dei um sorrisinho. –Ei, eu é quem devia te fazer sorrir, não o contrário!

– Desculpa se te assustei – disse ele, tirando o capuz. – Eu não sou tímido. Mas com você eu fiquei, não sei por que.

– Você não me assustou – respondi – só me surpreendeu. Mas foi uma boa surpresa. Não precisa se afastar de mim só pela sua timidez repentina... Pelo contrário. Eu sei que sou só uma novata aqui no acampamento, mas você pode confiar em mim, não se fecha.

Ele esboçou um sorriso e me abraçou para assistirmos ao fim dos fogos. Quando acabou, ele recolheu a toalha e voltamos de mãos dadas até a ala dos chalés. Ele me deixou na porta do chalé três e foi para o seu chalé. Logo ouvi algumas pessoas falando no chalé cinco e voltei à porta para ver o que era. Vi um cara implicando com Haythan, mas indiferente do que ele fazia, Haythan não reagia. Até que ele falou algo que realmente irritou Haythan, e ele virou-se, puxando a adaga. Ele olhou para mim, por cima do ombro de alguns curiosos e guardou-a. Eu não gosto muito de brigas, mas queria saber se ele era tudo o que falavam.

POV Haythan

Depois de ter deixado Bridget no chalé dela, voltei para o meu, reprimindo um sorriso. Fui até meu beliche e Will, um de meus irmãos, veio me encher o saco.

– Ah, que é isso hein? Pegador! – disse ele, rindo.

Ignorei-o e fui até a janela, olhando o chalé de Bridget. E Will veio junto.

– Ah, que fofo... Não consegue esquecer a namoradinha... – disse ele.

Bufei. Fui ao lado de fora do chalé, andando a passos lentos. Will continuou a me importunar.

– Ah, cara. Você é muito manso. Tem certeza que é um filho de Ares? Papai deve ter vergonha de você. Você mancha a reputação dele. – falou Will.

Virei-me para ele com a raiva borbulhando dentro de mim. Vi que muita gente começou a vir ver o que estava acontecendo. Desembainhei minha adaga até a metade, mas lembrei que não podia matar ninguém dentro do acampamento. Olhei para o chalé de Bridget e a avistei na porta, olhando o que acontecia. Guardei a adaga, e nesse breve momento de distração, Will tentou me dar um chute na cara. Consegui olhar a tempo de segurar seu pé. Empurrei-o para trás com toda a força, e ele deu um mortal de costas e caiu de barriga no chão. Mas ele é meu irmão, então não seria tão fácil assim. Esperei enquanto ele levantava e vinha em minha direção, dando um soco desesperado que eu desviei. Segurei sua mão com o braço esquerdo e dei um soco em seu estômago, fazendo-o dobrar ao meio. Então dei um soco na cara, fazendo-o cair no chão. Puxei meu capuz sobre a cabeça e olhei para Bridget. Ela estava impressionada.

– Mais alguém quer me falar alguma coisa? – perguntei. – A hora é essa.

Todo o pessoal que estava por perto saiu, e retornou ao seu respectivo chalé.

Voltei-me para a porta do chalé cinco com um meio sorriso estampado no rosto.

Acho que nunca um filho de Ares foi tão feliz naquele acampamento quanto eu estava.


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Notas finais do capítulo

e aí, mereço reviews? vcs fariam duas pessoas mt felizes caso comentassem ^^
obrigada por lerem :D



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