“Você disse? ‘Eu te amo. Eu não quero viver sem você. Você mudou minha vida.’ Você disse? Faça um plano, tenha um objetivo. Trabalhe para alcançá-los, mas de vez em quando, olhe ao seu redor e aproveite, porque é isso. Tudo pode acabar amanhã.”

 Quando acordei hoje de manhã ao lado da minha esposa jamais me passaria pela cabeça que horas depois eu estaria vivendo esse momento devastador.

 Q:Eu preciso pegar uns exames da minha paciente com Encefalopatia de Wernicke. Daqui a pouco eu passo aqui pra verificar a tua recuperação. –Quinn disse com a voz embargada.

R:Hey Quinn , você pode ligar para o Finn eu quero avisá-lo que ocorreu tudo bem. Ele deve estar tão preocupado. –a morena pediu a Tina que escrevesse o número em seu prontuário para a médica.

T:Você quer que eu faça isso? Tenho um tempo de sobra agora que Rachel tem acompanhantes. –perguntou tentando livrar Quinn da tarefa desagradável.

Q:Obrigada. Eu já volto. –avisou e saiu quase correndo do quarto para evitar que a vissem chorando.

 Quinn era conhecida por todo o hospital por ser uma profissional acima de tudo, ela foi profissional mantendo a calma e não se revoltando ou assustando Rachel com a sua perda de memória recente. Mesmo sendo ela uma das envolvidas e interessadas nesse novo sintoma patológico, ela foi profissional. Todavia no quarto de algum residente ela poderia desabafar, chorar, gritar que não haveria ninguém para julgá-la.

 No quarto o silêncio tornou-se um grande grito de alerta de que tinha algo errado com a Rachel.

R:Então, eu jamais pensaria que seriam vocês três aqui depois da minha cirurgia. Talvez Sam seja o corpo estranho, não que eu queira que você saia de modo algum. É que você  aqui, Santana não deve estar na confortável em tê-lo tão perto da Brittany depois de vocês terem se envolvido no colegial. Sabe vejam o exemplo da Quinn, ela ficou toda tensa e desconcertada com meu pedido para avisarem Finn. –a cada palavra dita pela morena os olhos dos outros no quarto se ampliavam, até mesmo Tina.

S.E:Na verdade eu deveria me não gostar de ter Santana aqui já que sou eu quem está casado com Brittany. –Samuel falou orgulhoso, para desgosto da latina.

R:Como? Mas, mas vocês se amavam. Depois de mim e Finn, vocês eram o casal que eu mais apostava que se casaria e ficariam juntas para sempre. –a pequena parecia inconformada com a noticia.

S:Você não sabe de nada hobbit. Vai se surpreender com o que vai descobrir.... –Santana foi interrompida por um pigarro da asiática.

T:Você poderá descobrir essas coisas depois, agora você precisa descansar. A sua es....a tua... a Dra.Fabray vai passar a visita daqui alguns minutos e vocês conversão sobre isso. –os outros saíram do quarto assim que a interna começou a falar. Um ambiente com uma Rachel desmemoriada era um risco a sanidade alheia.

 Quinn ficou por um longo tempo sozinha pensando o que seria a causa dessa seqüela, o que poderia ter acontecido no procedimento cirúrgico para Rachel ter uma perda de memória. Tudo era um borrão na mente brilhante da neurocirurgiã. A razão. A perspicácia.  O entendimento. A inteligência. A sagacidade. Nada, nada superava o medo, a dor de não ser reconhecida pela morena. Ela faria de tudo para ter a sua Rachel de volta, ela já lutou uma vez para ter o amor da diva e não vai ser dessa vez que ela irá desistir.

 Quando Rachel foi diagnosticada com meningioma seus pais estavam em um cruzeiro e não podiam ampará-la, Kurt estava na França num curso de moda, Santana numa fase rebelde porque Brittany tinha aceitado o pedido de casamento do Evans. O único que Quinn tentou ligar foi Finn o qual disse não ter tempo para visitar Rachel e não esperou outra tentativa da loira em fazê-lo mudar de idéia, desligando na cara dela.

 Esse fato não era de orgulho ou vantagem para Quinn, ela sentiu por ver a pequena esperar dia após dia de radioterapia alguém, alguma visita depois de sofrer com a medicação forte que á maltratava. ‘Um rosto conhecido’ era assim que Rachel se referia quando  inquiria as enfermeiras sobre uma visita. Doía na loira ver que para Rachel ela estando ali não significava ter uma amiga próxima e sim somente mais alguém com o jaleco branco sobrepondo o uniforme azul. Rachel já havia desistido de questionar sobre seus amigos, pais e um possível namorado ou sei lá o que Finn era pra ela. Então Quinn aproveitou seu dia de folga e sem a roupa de médica, para visitá-la. De início a morena a ignorou e a única alternativa foi fazer o de sempre. Agiu com médica. Mas conforme as visitas foram e tornando sucessivas, Rachel ficou flexível se abrindo pra uma relação maior e mais íntima do que medica/paciente com a mais alta. De amigas para melhores amigas foi um piscar de olhos e de melhores amigas para namoradas, noivas, casadas foi mais rápido ainda. Elas viveram tudo intensamente. A dor da doença. E a alegria do amor verdadeiro.

 A médica enxugou as lágrimas. Ela passou por tudo isso com Rachel por Rachel. Ela vai enfrentar o mesmo mal. O mesmo inimigo. Uma decisão que poderia ser difícil pra ela mas agora era essencial para a outra.

Q:Tina você pode fazer o favor de terminar a s visitas pra mim? Ah e você ligou? –a loira olhava tudo dentro do quarto menos a diva.

T:Eu pensei que...que, eu vou ligar agora. –Quinn sentiu os dedos da sua esposa cobrir o seu pulso, tentando chamar a sua atenção.

R:Eu quero agradecer por tudo, você se tornou uma pessoa muito melhor. Eu acho até que poderíamos tentar retomar aquela amizade, a que abandonamos ao sair do colegial. Eu quero muito ser tua amiga. E você sendo prestativa tentando avisar Finn foi a prova que você entende que nada vai separar nós dois. Nunca duas pessoas se amarão como eu e ele.   –Quinn sentia as palavras de Rachel dilacerar seu coração, tirar todo o ar dos seus pulmões, queimava a pele de todo o seu corpo. Não, essas dores não eram reais. Nada a feriu como ouvir essas palavras.  

 “O que é pior, novas feridas que são horrivelmente dolorosas ou velhas feridas que deviam ter sarado anos atrás mas nunca o fizeram? Talvez velhas feridas nos ensinem algo. Elas nos lembram onde estivemos e o que superamos. Nos ensinam lições sobre o que evitar no futuro. É como gostamos de pensar. Mas não é o que acontece é? Algumas coisas nós apenas temos que aprender de novo,e de novo, e de novo...”

                   –Gray’s  Anatomy