Estava tudo escuro novamente, porém Igor caminhava sozinho. Mesmo o local parecendo muito estranho, ele não parecia se importar com o ambiente. As ruas estavam escura, mas ele andava tranquilamente pelas ruas. Entrou em uma delas que o levava para a rua de sua casa. Igor se viu diante de sua rua com o nevoeiro baixo, como se fossem serpentes.

O cachorro não se encontrava no terreno baldio e não estava na sua casa improvisada. Ele achou aquilo estranho. O que teria acontecido com o cachorro? Ignorando aquilo, andou até sua casa, destrancou a porta e entrou. Mesmo estava dentro da própria casa, ela parecia diferente.

– Mãe? – perguntou ele. Aquelas altura sua mãe já se encontrava em casa, mas a única resposta que teve foi o silêncio.

Que não durou muito.

As luzes estavam apagadas e a música da pequena caixa de música de sua mãe começou a tocar no andar de cima. Logo em seguida uma fraca luz foi acesa no primeiro piso, provavelmente vindo do quarto de sua mãe. Sorriu aliviado por saber que já estava em casa. Subiu as escadas para anunciar sua chegada.

– Mãe, cheguei – disse ele ainda subindo as escadas. Mas para sua surpresa ela não estava no quarto. Estava vazio... Literalmente.

Igor adentrou no aposento para explorar melhor o local. Não acreditava no que seus olhos lhe mostravam. O quarto estava completamente vazio e a caixa de musica estava tocando no chão, ao lado de um abajur aceso. Avançou para a suíte, mas as coisas dela não estavam lá. Saiu do quarto e rumou para o seu, mas as coisas dele também não estavam ali. Seus objetos haviam desaparecidos.

Confuso e assustado desceu o lance de escada novamente e percebeu que a casa estava completamente vazia. Não havia mais objetos. Igor ficou confuso e por um momento pensou em ter entrado na casa errada, mas ao olhar para a janela da cozinha, viu o terreno baldio ao lado, vista que sua cozinha sempre dava.

– Mãe? – perguntou ele novamente assustado querendo qualquer tipo de resposta. Mas o silêncio prevaleceu.

Assustado e não querendo mais ficar ali, Igor correu para a porta da frente e iria para a casa de Laura, mas a porta não abriu. Estava trancada.

Droga, pensou ele raivoso, procurando a chave em seu bolso. Para a sua surpresa ela não estava. Igor se virou para encarar a casa novamente. Agora todo cuidado era pouco e sabia que naquele momento estava correndo perigo.

Havia uma boneca largada no meio da sala. Igor relutou, mas foi cedido pela sua curiosidade. Pegou a boneca e a olhou. Parecia tão familiar... Lembrava-lhe a boneca que tinha visto na foto do jornal. Havia um pequeno cartão pendurado na boneca onde estava escrito “de Papai para Patrícia”.

– Você me deixou lá – falou alguém atrás dele. Igor virou-se assustado, deixando a boneca cair no chão violentamente.

Havia alguém no escuro, perto da cozinha. Ele não conseguia ver quem era, dava somente para ver seus pés descalços e sujos e parte de sua roupa, que lembrava-lhe um uniforme feminino antigo.

– QUEIME! – gritou a estranha voz.

Igor viu tudo pegar fogo repentinamente e os vidros explodiram. Parecia que estava no inferno e havia chamas para todos os lados. A pessoa não estava mais onde estava. Igor se viu diante do inferno. Tentou correr para algum lado, mas toras de madeiras caíram ao seu redor. Antes que pudesse pensar em algo, uma bola de fogo veio em sua direção... Pronto para engoli-lo.

...

– Você está com uma cara horrível – comentou Laura no fim da aula, percebendo as profundas olheiras de Igor, na qual ele insistia em esconder.

Ele se mexeu na carteira desconfortavelmente. Encarou o quadro negro com as anotações de biologia, onde Igor não estava entendendo nada.

– Tive um pesadelo – falou ele finalmente.

– Você já teve antes – você comentou uma vez.

– Foi diferente dessa vez. Foi mais agressivo. A sombra apareceu para mim no sonho – disse ele levemente perturbado – É uma garota... – finalizou.

Laura ficou em silêncio e sentou-se na carteira a frente dele.

– Nós sabíamos que no momento que começássemos a investigar isso, a sombra iria nós perturbar mais – falou ela consolando-o.

Igor parecia não se importar com aquilo, estava sonolento de mais e confuso ainda com as imagens que seu pesadelo insistia aparecer em sua mente.

– Isso não é tudo, Laura. Eu sei quem está me perseguindo – falou ele abrindo a bolsa e tirando a folha de jornal que tinham pegado na área restrita da biblioteca. A folha listava os nomes das doze:

“Abaixo segue a lista das pessoas vítimas desse terrível acidente:

1. Pedro Albuquerque de Almeida

2. Ana Barbosa Pereira

3. Henrique Victor

4. Paula Machado

5. Lucas Francisco

6. Patrícia Ferreira

7. Paulo Andrade

8. Cecília dos Anjos

9. Laura Feitosa

10. Jéssica Pigola

11. Roberto Araújo

12. Gustavo de Souza

De todas as vítimas a mais nova foi Patrícia, aluna do colégio que fazia a excursão no momento do acidente”

– É ela que me persegue, Laura – disse Igor apontando para a sexta vítima – Ela que está me perturbando – falou ele sem emoção, chocado de mais para expressar alguma coisa.

– Como você pode ter tanta certeza? – perguntou ela não duvidando de suas palavras, mas a procura de uma coerência.

– Lembra que no livro da biblioteca tinha algumas fotos que não tinha na internet? Uma das fotos era de uma boneca que na legenda dizia “boneca carregada por uma das crianças da excursão vítima do acidente”. No sonho essa boneca apareceu... a mesma boneca da foto. No sonho havia um pequeno cartão nela, onde estava escrito “da papai para Patrícia”. Muita coincidência um nome aparecer no meu sonho e ter o mesmo nome nas vítimas descritas aqui. Sem contar com o fogo no sonho... Tudo me leva a crer que é ela – finalizou ele falando rapidamente, querendo colocar tudo para fora de vez.

Laura ficou em silêncio novamente. Aquilo poderia ser a única explicação e via que ele tinha razão. Agora eles sabiam quem era a sombra, era uma perseguidora, na realidade. Agora só faltava responder outra pergunta: Porque Patrícia persegue Igor? O que ele fez ou que despertou nela?

– O que vamos fazer? – perguntou ele.

– Vamos procurar registros dela. Há algum fato que liga vocês dois – disse Laura determinada.

Eles se levantaram para sair da sala, mas a diretora surgiu na porta, que impediu a saída deles.

– Ah, você estão aí – disse ela aliviada por tê-los encontrado – Vocês não vão poder ir para a casa, o colégio já lançou o alerta. O nevoeiro veio com força e estava empatando a visibilidade de tudo. Hoje vocês iram dormir no colégio. Daqui a meia hora, vocês e o resto dos estudantes vão se encontrar no refeitório para eu poder dar as regras – disse a diretora ajustando o seus óculos e se recolhendo.

Igor olhou incrédulo para Laura, afinal foi ali que Patrícia tinha morrido.