O dia amanheceu tão chuvoso quanto aquela noite, pensou Regina. Eles foram forçados a se abrigar numa tenda improvisada por Gold, mas a estrutura já dava sinais de que estava para ceder a qualquer momento. Um vento mais forte começou a soprar cortando caminho entre as árvores.

– Vou procurar uma saída – disse Regina prestes a deixar a tenda.

– Não! – Emma interrompeu a mulher agarrando um de seus braços – Está muito forte, você não pode sair lá fora!

– Justamente por isso. Se não encontrarmos um modo de escaparmos daqui logo não vai sobrar nada! – ela tinha que praticamente gritar as palavras por cima do uivo intenso da tempestade – A TENDA NÃO VAI SUPORTAR POR MUITO MAIS TEMPO!

Relutante, Emma teve que assentir e deixa-la ir. Estavam todos amontoados dentro da cabana e Gold pronunciava algumas palavras de encantamento para segurar a estrutura. Os charmings envolviam Henry de forma protetora e Ruby estava com a loira mais a frente segurando a porta, aguardando pela volta da prefeita. Levou apenas alguns segundos e Regina já estava de volta, toda ensopada e com os olhos arregalados.

– Precisamos sair daqui, JÁ!!

– Acha que estamos aqui por livre arbítrio? – indagou Gold.

– Nãao! Vocês não entendem, tem um tornado vindo do sul! Mais alguns minutos e ele vai atingir esse lugar em cheio! Precisamos sair daqui, de qualquer maneira!

Regina puxou as duas mulheres e arrastou-as fazendo com que todos ficassem colados.

– Posso criar um escudo de energia a nossa volta. Não vai durar muito tempo nessas condições e com tantas pessoas dentro, mas é a nossa melhor chance!

O pessoal assentiu e ela se preparou para o feitiço. Emma segurou sua mão e lançou- lhe um olhar tranquilizador. O melhor que ela pôde nas condições, pelo menos. Neste exato momento algo pesado se chocou contra a parede do abrigo tirando a concentração de Gold. Era essa a brecha: assim que o encantamento do homem foi quebrado uma parede roxa de energia surgiu envolvendo os sete integrantes.

– CORRAM! – Regina gritou apontando o caminho oposto do furacão que se aproximava progressivamente e eles saíram em disparada.

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Quando finalmente conseguiu despertar o sol já raiava forte lá fora.

– Bom dia, bela adormecida... – disse Morgan, que arrumava seus pertences ali perto.

– Nem brinca.. – retrucou Regina esfregando a mão na cabeça que doía razoavelmente – Que horas são?

– Digamos somente que você já perdeu o café da manhã e o almoço..

A rainha arregalou os olhos.

– Me lembre de abolir esse vinho da minha dieta... Pelo menos por algum tempo.

Morgan riu.

– Já vai? Tão cedo?

Morgan ergueu uma sobrancelha.

– Tá, tá... Talvez não tão cedo assim, mas precisa ir já?

A mulher acabou de aprontar suas coisas.

– Eu agradeço imensamente por sua recepção, Regina. Mas infelizmente tenho assuntos a tratar. Foi um prazer conhecer você.

Regina assentiu e pôde notar que as palavras eram verdadeiras. Morgan já se aproximava da porta.

– A não ser que...

– O que?? – Regina replicou ansiosa. Aquela era a primeira amiga que tinha em tempos e não se sentia confortável em perdê-la rápido assim.

–A não ser que você venha comigo...

A rainha se sentiu um pouco idiota, mas sentiu seus olhos brilharem.

– Você quer dizer.. Ir? Para o seu mundo? Mas..

– É só por um tempo se quiser. Pode voltar depois – ela deu uma piscadinha.

Regina se lembrou de quando convidou Morgan para passar a noite em seu castelo.

– Seria uma honra – ela repetiu as palavras da mulher.

Morgan sorriu satisfeita.

– E ah... Só mais uma coisa... Para onde vamos também sou conhecida por outro nome. Meu nome completo.

Regina permanecia quieta ouvindo atentamente.

– Morgana – ela completou.

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O escudo funcionava razoavelmente bem e inúmeras coisas batiam em sua superfície sem atravessa-lo. Emma pode confirmar quão feia estava a tempestade. Quando um imenso pedaço de tronco veio de encontro com a esfera de energia chacoalhando sua estrutura, ela constatou que certamente não sobreviveriam se tivessem que sair correndo sem a proteção. Regina abalou-se por um momento e encontrou apoio nos braços da loira. Ela se recompôs e eles continuaram a corrida. Já era possível avistar o corpo da massa de ar em espiral que avançava destruindo tudo pelo caminho.

Se não encontrarmos logo alguma saída não vamos conseguir nesse ritmo – pensou Regina. A prefeita já começava a sentir o peso que o encantamento lhe requeria. A magia ali era de fato diferente do que ela havia se habituado.

Quase que num atendimento a sua súplica Emma avistou o que parecia ser uma borda da floresta. Não dava pra ter certeza, mas ela conseguia distinguir uma luminosidade extremamente intensa vinda daquele ponto.

– ALI! – ela apontou a direção – PARECE QUE A FLORESTA ACABA ALI!

De fato, quando o grupo alcançou o lugar a surpresa foi unânime. As árvores cessavam abruptamente naquele ponto e à sua frente estendia-se uma imensidão branca.

– Mas que coisa... - Mary Margaret soltou involuntariamente.

Era como se alguém estivesse brincando com o clima. A floresta de antes, o clima ameno que foi substituído de repente por uma tempestade, agora essa camada generosa de neve. Assim, do nada. Parecia que a as bordas da mata haviam sido recortadas e acabavam bem ali. O deserto congelado se estendia até perder de vista. Montanhas e mais montanhas de gelo, neve e um frio colossal. Era realmente difícil de acreditar que há dois segundos eles estavam em uma floresta. Deram uma ultima olhada para trás. O tornado aparentemente havia passado direto. Emma suspirou parcialmente aliviada.

– O que fazemos agora? – perguntou ela.

– Sua mãe não era a Branca de Neve? Quem sabe ela não consiga se camuflar no ambiente... – respondeu Gold sarcástico.

Emma dirigiu-lhe um olhar repreensivo e Mary limitou-se a bufar. O homem arrumou uma pedra ali por perto e se sentou. O pessoal o encarou.

– O quêee?? Caso não tenham notado eu uso uma bengala ! – ele apontou freneticamente para o objeto em sua mão – Acabaram de fazer um homem parcialmente incapacitado correr feito louco floresta a fora, não me repreendam por sentar um pouco. Além do mais, alguém tem alguma ideia brilhante??

Eles acabaram dando de ombros.

– Será que é melhor voltarmos? – perguntou Henry.

– Eu não tenho coração pra enfrentar aquilo de novo – bufou Ruby.

Os charmings assentiram.

– Não, tem razão – disse Regina – Além do mais, aquele tornado não me parece algo acidental.

– Quer dizer que alguém mandou aquilo pra cima da gente?? – foi a vez de Emma falar.

– Nisso eu concordo com você, Regina.. – Gold começou a dizer, mas seu pensamento foi interrompido por uma onda de ar que soprou repentinamente sobre eles.

Tem cheiro de.. Mar? – pensou Emma. Não fazia muito sentido.

A brisa foi passageira. Ao sentir aquele aroma Regina sorriu disfarçadamente. A neve ali era tão clara que o contato com a luz do sol provocava até irritação nos olhos. Mas então, uma mancha escura apareceu deslizando sobre o manto branco. A sombra distante aproximava-se com velocidade incrível. Ergueram os olhos e puderam avistar a imensa ave que agora pairava não muito distante de suas cabeças. Aparentava ser uma águia, mas sua envergadura era descomunal. O grupo amontoou-se tentando se proteger caso algo inesperado viesse a ocorrer. Naquela terra tudo era possível. E inesperado de fato foi o que ocorreu. Todos, com exceção de Regina e Gold, assistiram boquiabertos a ave se transformar a alguns centímetros do solo. Foi uma cena de fato deslumbrante. Numa explosão de luz, o animal foi lentamente adquirindo sua forma original. As asas diminuíram progressivamente, se transformando em membros e as penas dianteiras em delicados dedos. Parte por parte ela adquiriu a aparência humana. E que aparência... Seu vestido escarlate entrava em contraste com o ambiente, as mangas tocando quase o chão. De sua cintura pendia um cinturão trabalhado em metal com várias pedras incrustadas e, como de costume, o pingente no pescoço.

– Precisamos passar a nos encontrar em situações menos catastróficas... – a mulher disse se dirigindo a Regina.

A prefeita deu um passo à frente.

– Você não mudou nada...

Emma pode notar algo diferente na voz de Regina. Algo pesado. Seria algum tipo de rancor?

– Não posso dizer o mesmo. Você está melhor.

Emma sentiu uma pontada (na verdade estava mais pra uma facada) de ciúme. Gold ainda encarava a mulher admirado, assim como o restante parecia fazer também.

– Mas não vamos perder mais tempo com futilidades. Sei por que estão aqui. E vou ajuda-los.

– Ela tem estilo... – Ruby sussurrou para Emma a seu lado.

A loira lhe deu uma cotovelada.

– O que? Ela tem ué...

Emma sentiu que estava ficando vermelha e não era de vergonha. Não sentia que aquela mulher era uma ameaça, bom, pelo menos não da forma convencional. Mas sentia que havia ainda muito mais por trás do passado dela com sua mulher. E ela não estava gostando disso nem um pouco.

– Meu nome é Morgana - ela continuou sem mais delongas -Bem vindos a Avalon.