O jardim estava cheio de convidados. Basicamente Storybrooke inteira comemorava o aniversário de Helena S. Mills. (o que devia dar mais ou menos umas... 10 pessoas)

Emma e Henry administravam o que parecia ser uma fila para cumprimentar a criança. Regina por outro lado tentava acomodar o pessoal em suas mesas, mas, apesar de as coisas estarem radicalmente mudadas, digamos que a paciência de sua majestade não era tão grande para certas situações de “trabalho braçal”.

A loira pareceu notar e acenou para que viesse até ela.

– Henry, segura sua irmã um segundo. Eu já volto.

Ela andou alguns metros e encontrou a morena parada de braços cruzados.

– Amor... – ela disse tentando ser o mais meiga possível – Por que você não vai servindo o pessoal enquanto a gente acaba de receber todo mundo?

Regina encarou-a com os olhos quase arregalados.

– Você quer dizer.... Servir? – ela fez uma pausa, encarando a mulher- Tipo, servir.. servir? De mesa em mesa?

Emma anuiu e se preparou para o olhar bombardeante que pressentiu que receberia.

– Mas... – ela continuou retrucando – Olha.. Eu fui a rainha má, mas não mandei cortar a mão de ninguém. Eles não podem simplesmente... Se levantar e dar um jeito? Eu já to praticamente pagando por um almoço beneficente pra cidade inteira! - resmungou.

Emma não pode conter uma risada.

– Toma – ela pegou a bandeja que estava em cima da mesa mais próxima e praticamente jogou à morena.

Por um segundo a mulher se surpreendeu e a loira recebeu um olhar maligno.

– Sabe, se a gente ainda morasse na Floresta Encantada eu mandaria te decapitar por isso – ela retrucou, sarcástica.

–Ahh é? – a loira exibiu um sorrisinho malicioso – E quem é que iria te servir... – ela se aproximou mais e completou quase num sussurro – à noite?

Antes que a outra pudesse rebater, ela lhe deu um beijinho na bochecha e saiu para continuar a recepção. Dois passos à frente, ela virou-se.

– E Regina... – a morena que olhava inconformada para o objeto de prata em suas mãos, encarou-a – Seja legal... – ela completou com um sorrisinho meigo, quase de súplica.

– Eu sou legal... - a morena resmungou antes de sair para cumprir o que parecia ser agora sua tarefa.

Emma riu e juntou-se ao filho mais uma vez.

Regina passava de mesa em mesa com o melhor sorriso forçado que conseguia exibir.

Tente ser legal... Ora...

Ela ainda resmungava internamente, revirando os olhos, quando alguém a chamou.

– Regina? Você está bem?

A morena saiu de seu devaneio ao perceber que havia sido flagrada por alguém. Archie lançou- lhe um olhar amigável.

–Ahhh... Estou sim, obrigada. – ela retribuiu o sorriso. Do jeito dela – Bela camisa, aliás.

Ele continuou com seu sorriso simpático e aceitou um dos doces que ela carregava na bandeja.

Tuuuudo bem. Emma pediu para ser legal. Eu posso fazer isso.

Ela se dirigiu ao próximo grupo.

– Olá... Marco. Ruby. Ahnn..... Vovó – ela cumprimentou cada um deles com um aceno de cabeça e um sorriso – Espero que estejam se divertindo.

Eles retribuíram o cumprimento amigavelmente.

– Está maravilhoso, Regina. – Ruby respondeu – Nós desejamos muita felicidade à sua família. E muito mais dias como esse.

Os outros concordaram com ela e Regina sorriu. Desta vez, um sorriso sincero. Ela serviu a mesa e continuou.

Viu? Não é tão difícil assim... É só ser gentil.. Com todo mundo.

Na seguinte, um homem estava sentado. A mesa era reservada para três lugares, mas ele ainda estava sozinho. Regina encarou Baelfire por alguns minutos. Ele retornou o olhar. Ela contou mentalmente até 10.

É só ser gentil... Gentil...Seja legal...

– Hey – ela “cumprimentou” com um aceno de cabeça quase imperceptível.

–Hey – ele retrucou quase num murmúrio.

Ela ficou parada alguns segundos. O silêncio entre os eles estava quase perturbador. Então, quando a coisa já estava começando a ficar constrangedora demais até para a Evil Queen, o homem balbuciou algo pra.. Sabe como é, quebrar o gelo.

– Bela festa hein..

– Hun-rum... – ela retrucou encarando o vazio.

Silêncio novamente. A morena procurou o olhar da loira por auxílio. Emma que já havia notado a situação de longe, fez um sinal com a cabeça como quem diz: vá em frente... Regina quase bufou. E seja LEGAL.. – completou o olhar da loira. Ela virou-se de volta para encarar o transtorno.

– Canapés?

– Perdão? – indagou o homem que, distraído, a essa altura só pensava em um jeito de se livrar da situação.

–Canapés – ela fez um aceno quase rude para a bandeja em sua mão – São pra comer – ela zombou de forma maldosa e sarcástica.

Baelfire lançou- lhe um sorriso falso.

– Sutil.... Como uma granada – murmurou baixinho para si.

– O quê? – ela retrucou fuzilando- o com os olhos.

– Nada..Nada. – ele tentou contornar, para não complicar ainda mais.

Ela também cedeu e deixou essa passar.

– Vai querer ou não vai?!

Já estava ficando difícil de aturar.

– Olha Regina, o que é que você tanto tem contra mim hein?!

A mulher arregalou os olhos.

– Não sei.... – ela fingiu pensar – Talvez seja o fato de ficar imaginando que você teve um relacionamento – ela deu ênfase na palavra de forma bem sarcástica - com a MINHA mulher... – ela o encarou.

Se fosse possível, digo, se não fosse extremamente inapropriado, ela o teria transformado em cinzas só com o olhar.

– Ou, talvez...- ela fingiu dar de ombros- Seja apenas a forma como você se veste, vai saber né... – ela completou com um sorriso um tanto ameaçador.

Ele retornou um risinho falso. Emma apareceu para jogar um balde de água fria na situação que já começava a ficar embaraçosa.

– Baelfire.. Como vai? - ela pausou e olhou para a mulher ali ao lado – Vejo que Regina já o serviu.. – ela sentiu a morena se retraindo e notou o traço de um leve sorriso maléfico.

É.. Eu já o recebi como ele merece. E eu fui gentil... Eu o cumprimentei! - a prefeita riu maldosamente em seu âmago.

A loira pareceu entender seus pensamentos e repreendeu-a disfarçadamente com o olhar. Regina corou de leve. O homem pigarreou para desfazer um pouco da tensão. Emma notou e virou-se de volta para ele.

– Entãoo... – ela continuou meio sem saber o que falar – Onde estão seu pai e Belle?

Ele deu de ombros.

– Provavelmente acabando de se aprontar. Digamos que pontualidade não seja mais uma das maiores características do Senhor das trevas. – ele disse zombando.

Emma riu. Regina já estava impaciente e puxou (literalmente puxou) o braço de Emma. A loira quase se desequilibrou. Regina ganhou um olhar zangado, mas a essa altura ela já não se importava mais.

– Acho que é melhor a gente ir indo pra... – ela pensou alguns segundos – Cortar o bolo, né?

Emma quase revirou os olhos.

Suas desculpas melhoram a cada dia querida... - Emma balançou a cabeça negativamente.

– Não devíamos esperar pelo menos todos estarem aqui? Ou fazer isso só no fim da festa? – a loira indagou.

Regina apontou para e mesa principal. Ou melhor, apontou especificamente para a criança que se divertia quase em cima da mesa.

– Olha.. Se a gente esperar mais um pouco, talvez – ênfase na palavra - sobre algum bolo para o final da festa... Agora se a gente esperar até o Gold decidir chegar, talvez sobre um pouco da vela pra gente dividir – ela fez uma pequena pausa e deu um sorrisinho para o homem – Ouu não né..

Emma lançou à Baelfire um olhar do tipo : “Tente entender... Ela até que está tentando ser agradável... Um pouco.”.

Ele anuiu e sorriu para ela.

Tudo bem... Você levou essa Regina... Desta vez.

A morena dirigiu-lhe um olhar triunfante e elas se afastaram.

A família estava toda reunida do lado oposto da mesa. Mary Margaret, David, Henry, o casal, e obviamente, a aniversariante. O homem encarou a vela por alguns segundos.

– Um dragão? – ele torceu o nariz – Sério, Regina?

Ela encarou de volta com a sobrancelha levemente erguida.

– Queria o que? Uma princesa? Quem sabe na próxima festa... Da sua mulher! – ela respondeu sarcástica, mas nem por isso maldosa.

Ele até riu e ela deu de ombros, cedendo também.

A tão discutida vela já estava acesa, e todos se preparavam para o parabéns.

“(...) Muitos anos de vida... Viva a Helena!!”

Regina segurou a filha próxima ao bolo. A criança parecia já desesperada para colocar as mãos, ou melhor, a boca, no que quer que fosse aquela coisa apetitosa à sua frente.

– Vai amor. Sopra a velinha... e faz um pedido – ela completou brincando.

Dizem que as palavras têm poder. Se foi mera coincidência ou não, isso eles teriam que descobrir. Regina sentiu o tempo desacelerar. De repente tudo ganhou um toque gradativo em câmera lenta. Ela pareceu se arrepender da frase quase que instantaneamente.

Enquanto os convidados riam um riso congelado, Helena encarava a chama da vela, que magicamente se alternava entre muitos tons coloridos, entrando em conflito com a paisagem que agora adquirira o aspecto todo preto e branco. Regina fitou a filha. A menina parecia hipnotizada. Somente o dançar das chamas quebrava a cena, agora toda petrificada. O mesmo calafrio de anteriormente percorreu- lhe o corpo. Regina começou a erguer a mão quando, tão inesperada e rapidamente quanto antes, o tempo voltou ao normal. E Helena soprou a chama.

A fina fumaça que dela se formou, foi se dissipando lentamente... Ganhando massa e se transformando rapidamente em uma névoa. Ela dominou o ambiente, envolvendo todos em uma nuvem densa. Os risos deram lugar ao desespero. O aperto no coração da mulher ficou mais forte. Ela mal respirava agora.

Mas o que é que...

Aconteceu tudo em algumas frações de segundos. As pessoas tentaram se proteger. David envolveu Mary Margaret. Henry agarrou a perna de Emma. Ela por sua vez, procurou Regina. Quando, em meio ao tumulto que havia se formado rapidamente ela a encontrou, o horror que leu em seu olhar cortou sua alma profundamente. Ela estava parada em pé. Os olhos úmidos. E as mãos vazias...

Helena se fora.