B&W (Black And White) escrita por Lasanha4ever


Capítulo 4
Capitulo 4




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Já se passou um mês desde o episódio com a depilação, e desde então, as brincadeiras estão piorando. A última que ele fez uma brincadeira comigo, foi uma montagem entre eu e o corpo de uma puta gorda. Colou meu rosto no corpo dela e espalhou pelo colégio inteiro. O diretor quase o expulsou. Dois dias depois, espalhei que ele era um gay broxa. Ninguém sabia que eu tinha espalhado isso, só ele e a Mari. Ele virou piada pelo resto da semana.

Vejo a Mari conversando com ele e me irrito. Fico ao lado dela, fuzilando-o com o olhar.

– Então tá fechado. Duas e meia. – ele fala e se afasta, lançando um olhar estranho em minha direção. Olho para a Mari, que está olhando para mim com outro olhar estranho.

– Você vai sair com ele? – quase berro, o que faz com que algumas pessoas olhem assustadas para mim.

– Não! Mas eu preciso que você venha comigo.

– Hein? Por quê?

– Porque sim, por favor.

Reviro os olhos e faço que sim com a cabeça. O que diabos ela quer fazer com ele?

Assim que a aula acaba, fomos ao McDonald’s comer o Mc Lanche Feliz, porque tem o brinde de O Malvado Favorito, e depois, ela me leva até uma rua sem saída.

Andamos até o final da mesma e encontramos, à nossa direita, uma casa abandonada. Odeio casas abandonadas, resultado de uma maratona de Scooby Doo quando eu era mais nova. Sim, eu morria de medo de Scooby Doo.

– Finalmente as mocinhas chegaram! Estava quase dormindo aqui! – aquela voz... Argh, por um instante eu tinha esquecido o motivo de virmos até aqui.

– Ah, nem demoramos. Tava com medinho do escuro é?

– Nem fodendo.

A Mari nos leva até o segundo andar, e então, entramos em uma sala. Está escuro, e empoeirado. Já começo a ficar com medo.

– Ah, merda. Eu esqueci uma coisa lá no colégio. – ela resmunga. – Eu já volto, vocês fiquem aqui, não vou demorar! – ela sai correndo berrando, nem para quando eu peço. Quando menos esperamos, a porta fecha abruptamente.

– Puta merda! – pulo de susto e ele ri.

– Tá com medinho, pó de giz?

Reviro os olhos. Está muito escuro. A única fonte de luz é pelas frestas da janela quebrada. Um calafrio sobe pela minha espinha e ele percebe.

– É só sair se estiver com medo, vai em frente. Não vou contar pra ninguém que você tem medo do escuro.

– Não tenho medo do escuro!

Resmungo e tento abrir a porta. Ela não abre. Tento novamente. Nada.

– Merda. Merda. Merda. – continuo puxando, cada vez mais forte. Não consigo abrir. – Ei, me ajuda aqui, essa porta não abre.

Depois de muitas tentativas falidas, nós desistimos.

– Porra, cadê sua amiga que não chega? – ele resmunga.

Ô garoto burro. A Mari fez isso tudo. Não tenho palavras pra definir meu ódio por ela neste momento.

Começa a esfriar e eu gelo dos pés à cabeça. Sento no chão o mais longe possível da janela, enquanto ele continua andando de um lado a outro, resmungando sobre o quanto odeia minha amiga e eu.

Já está anoitecendo. Tento me distrair com meu ipod, mas acabou a bateria. Ele se cansa de resmungar e olha para mim. Finjo que não percebo seus olhos esbugalhados.

– Puta merda, você tá bem?

Acho que eu talvez possa estar com um pouquinho de medo, sabe. Só talvez, tipo assim, 99,9% de certeza.

– Tô ótima. – retruco e viro o rosto. Tento não tremer com o vento frio que invadiu o quarto, mas ele percebe.

Ele se senta ao meu lado e coloca seu casaco em mim.

– Toma. Você precisa mais do que eu.

– Valeu.

Um silêncio desconfortável invadiu o lugar. Fecho os olhos e me encolho dentro do casaco gigante e cheiroso.

– Você vai dormir aqui? – ele parece chocado.

– Vou, ué, Se você ficar calado facilita.

Ele bufa e eu volto a descansar. Mas quem disse que é fácil descansar em uma casa abandonada e escura? Cada barulho que eu escuto e pulo de medo. Até ele percebeu isso.

– Você tá com medo mesmo, né?

– Não. – murmuro e ele ri. É tão obvio quando eu minto?

– Como eu acho que a sua amiga maluca nos largou aqui e não tem planos de nos tirar daqui tão cedo, que tal ficarmos em paz hoje, e amanhã, quando eu conseguir tirar a gente daqui, voltarmos ao normal?

– Hum, ok. Fechado.

Ele dá um sorriso pequeno e discreto. E então ele me abraça.

– Ei, o que você está fazendo seu maluco? – tento me afastar dele, mas ele me aperta bem forte.

– Não berra. Eu sei que você tá com medo, então tô te oferecendo um abraço amigo pra você poder dormir tranquila.

Ele me irrita. Parece que o ego está tão inflado que acha que um abraço dele é a melhor coisa do mundo. Eu acho que surtei um pouquinho demais.

Quando ele me puxa para o canto onde ele está – ou seja, a quina no quarto, onde ele tirou as teias gentilmente antes de me puxar – eu me sinto como uma bonequinha de pano. Meu medo é tanto que eu não consigo me mover direito, o que acaba fazendo com que eu caia sobre ele vergonhosamente.

Escuto a risada baixa dele e me levanto.

– Anda, senta logo.

Reviro os olhos. Ele fica com as pernas abertas e me obriga a sentar de costas para ele, no meio de suas pernas – e não, não foi em cima do seu pau.

Fico de braços cruzados – primeiro porque não tenho onde deixar as mãos sem ficar estranho, segundo porque isso me mantem um pouco mais aquecida.

– Pode relaxar, não vou estuprar você, nem nada. – ele sussurra em meu ouvido, fazendo-me arrepiar. Odeio quando sussurra em meu ouvido, porque eu sou muito sensível com isso.

– Se você contar isso a alguém, você é um homem tostado morto.

– Fica tranquila, branquela. Não vou contar a ninguém que você está morrendo de medo nos meus braços.

Reviro os olhos e então, fecho. Respiro fundo e apoio minhas costas em seu peito, de um modo que minha cabeça fica em seu ombro, e sua barba faz cócegas em meu rosto – acima da bochecha, abaixo da testa.

De uma forma estranha, eu me sinto segura.

Mesmo assim, não consigo dormir, mas ele pensa que eu estou dormindo. Tanto pensa que começa a cantar baixinho uma música que eu não conheço, mas que é muito boa. E então, ele me abraça. Consigo sentir o batimento cardíaco dele acelerado. E ele suspira. Tento controlar o meu coração para não bater tão rápido.

Ele entrelaça suas mãos nas minhas, e eu abro o olho apenas por um instante para ver nossas mãos unidas, para saber que não é um sonho – ou pesadelo.

É um contraste estranho, porém lindo. Branco e preto.


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