Muralha Maria
Ano 840
Oito horas da noite

-Sabia que, de anos em anos, as estrelas caem do céu?- O pequeno garoto de olhos verdes olhou pra o amigo loiro como se este tivesse acabado de declarar que viu um titã dentro da muralha. Estava em cima do galho de uma frondosa arvore, comendo pão, o qual cuspiu quando recebeu a noticia.

-COMO ASSIM?- Desequlibrou-se, caindo no chão pela surpresa. Nunca havia escutado nada referente aquilo, afinal, estrelas caindo do céu? Parecia surreal. -Ai, ai.- Sentou-se, massageando a cabeça. -Do quê você está falando, Armin?- O menor corou, envergonhado por ter assustado o outro.

-No livro que o vovô me deu tem uma página falando sobre "a chuva de estrelas". Pelo que eu li, muitas e muitas estrelas caem do céu, pra terra. Reza a lenda que quem conseguir pegá-las, tem direito a um pedido atendido por Deus. -Explicou, percebendo a atenção dos seus dois melhores amigos. Mikasa, que também estava lá, silenciosa como sempre, os observava, curiosa. Abrindo o enorme livro direto na página marcada. apontou para uma enorme gravura no centro. -De ano em ano, há uma chuva de estrelas que dá pra ser vista de muitas regiões, e pelos cálculos aqui escritos, vai ser hoje, daqui a pouco.- O garotinho de olhos azuis parecia tão entusiasmado, tão feliz que Eren não podê deixar de ser contagiado também, assim como a menina.

-Que legal! E vai ser hoje? Onde poderemos vê-las? Será que vamos conseguir pegar alguma?- A asiática revirou os olhos, sorrindo minimamente.

-Mesmo se conseguirmos pegar alguma estrela, eu não vou deixar você fazer o pedido.

-HUM? AH! POR QUE, MIKASA?- Grunhiu, tentando puxar o cachecol vermelho da garota mais alta e derrubá-la, como vingança.

-Por quê você quer que Deus atenda seu pedido de ser da tropa de exploração.- Desceu da arvore, pousando suavemente no solo. - E mamãe não gostaria disso, nem eu.

-Isso é injusto!- Rosnou, zangado com a irmã de consideração. -Eu quero ir ver o mundo lá fora!- Arlert suspirou com a declaração, abraçando seu amado livro com força.

-Parem de discutir, por favor.- Sussurrou. -Ainda temos muito tempo pra pensar em outras maneiras de ir pra fora sem precisar ser uma coisa suicida.- No fundo, por mais que quisesse ver o mundo lá fora com Jaeger, desejava que fosse na época em que não existiriam mais titãs, podendo, assim, olhar o mar sem temer ser devorado. E, talvez, viver uma vida feliz ao lado do garoto que, pra ele, era seu tudo. Balançou a cabeça negativamente, não podia pensar naquelas besteiras. Onde já se viu dois meninos juntos? Formando uma família? Não, não e não. Devia parar de ter aquelas fantasias esquisitas. -Temos que arrumar um lugar alto para observar a chuva. Sabe, quanto mais alto, mais chance de pegarmos uma!

-Então, vamos! Eu sei de um lugar perfeito!- Agarrou a mão do menor e a da morena, correndo com eles até uma colina que ficava ali perto. O vento batia nos cabelos deles, dando um toque de aventura aquela pequena corrida. Seus olhinhos reluziam com a determinação e esperança. Corriam e riam, apressando uns aos outros para que corressem mais depressa, por que ninguém queria perder a chuva de estrelas. Subiram os dois na arvore que estava no topo, olhando atentamente o céu estrelado. Ackeman preferiu se sentar na relva, encostando as costas contra a dura casca.

-Quando nós poderemos v-...?- Nem acabara de falar quando uma coisa brilhante passou rapidamente pelo céu. Segundos separaram o primeiro pontinho do segundo, que passou num piscar de olhos. Os três vibraram, arregalando os olhos, ansiosos. -Que lindas!- Murmuraram juntos, sorrindo.

-WUAAAH!- O garoto de cabelos castanhos agarrou a mão do amigo ao seu lado, gritando e apontando o dedo médio para a escuridão. O loiro corou profundamente, agradecendo a noite por encobrir seu rosto. -Olha, Armin! Olha! As estrelas estão mesmo caindo no chão! OLHA! Vamos pegar!- Logo após, uma a uma, as estrelas iam caindo. Porém, para a infelicidade deles, elas pareciam sempre cair fora das muralhas, na região dos titãs. Por fim, depois de um tempo indeterminado, todos os pontinhas brilhantes foram acabando e o céu se acalmou. -Merda! Nenhuma delas caiu por aqui.- Cruzou os braços, largando a mão que segurara a chuva inteira. Suas palmas estavam suadas.

-Olha os nomes, Eren.- Advertiu a outra.

-Tá, tá. Tanto faz! Eu queria um monte de estrelas! Eu queria cinco!- Reclamou.

-Mas, pro pedido se realizar, só precisa de uma. Você não quer ser da tropa de exploração? Pra quê as outras estrelas?- O menor encarou-o com curiosidade. Jaeger sorriu, abraçando-o.

-Simples. Uma pra tropa de exploração derrotar todos os titãs. Outra pra que eu entre na tropa para ajudá-los nessa missão. Na terceira, eu pediria pra levar vocês pra ver a praia, o mar de gelo, as terras de fogo. Hum.. a quarta, bem, eu pediria pra você engravidar! A quinta é pra que, no fim, nós possamos nos casar e viver felizes para sempre, cuidando do nosso filho!

-HÃ? CA-CASAR? FILHOS? COMIGO? MA-MAS EU SOU UM GAROTO!- Arlert gritou, ficando vermelho como tomate.

-Deus pode tudo, certo?- A menina do cachecol ajudou a piorar a situação. -Você disse que os pedidos eram atendidos por Deus, então, esses sonhos poderiam se realizar.- O menino de olhos verdes gargalhou.

-Ia ser maravilho! Já imaginou, Armin? Nós dois juntos? - "Todos os dias", queria responder, mais a timidez não deixou, em vez disso sussurrou, retribuindo o abraço.

-Um dia, talvez, poderemos apanhar as estrelas que caíram fora da muralha.