– Melanie

Senti-me mal no momento em que nossos olhos se encontraram, segundos antes de a porta se fechar. O sentimento de culpa abateu-me. Mas a questão era Por quê? Não havia nada entre Nathan e eu, havia? Adden me vira chorando mais cedo e decidiu me fazer companhia dizendo que não aceitaria um não como resposta. Ele fora tão atencioso quanto Nathan, não fazendo perguntas sobre meu humor. Também como eu poderia contar a eles que meu pai era um monstro e que agora estava solto, provavelmente me caçando. Minha cabeça doía, mas essa dor não se comparava a que vivia constantemente em meu peito, só queria ir para casa, deitar e chorar.

Adden foi embora alguns minutos mais tarde, disse que gostaria de jantar comigo qualquer noite, apenas assenti.

Hoje havia sido um dia produtivo, eu já decorara a agenda de Nathan e trabalhava com os formulários para sua próxima reunião. O que me deixou curiosa fora encontrar em sua agenda uma hora marcada não só hoje, mas em todas as terças do ano com a Dr. Hans, minha psicóloga. Nathan teria uma consulta hoje, logo após a minha, curioso.

Ás cinco em ponto fui até a sala dele, o encontrei ao telefone, não querendo incomoda-lo decidi voltar depois. Enquanto saia o ouvi dizer:

– Srta. Davis pode aguardar um segundo?

Assenti, e ele continuou.

– Sim Hanna, ás oito. – disse ele desligando. - Em que posso ajuda-la?

– Só vim para lembra-lo de sua consulta com a Dr. Hans hoje. Etnnie também ligou e precisa falar com você.

– Obrigado.

– Tenha uma boa noite Sr. Clark. - falei retirando-me da sala. 

                                        ~~ ~~

Cheguei alguns minutos adiantada ao consultório. Quando adentrei a sala de Susan, a vi sentada em sua poltrona. Sua sala era decorada com vários tons de pastel. Sentei-me de frente a ela em uma poltrona idêntica a sua.

– Oi Mel, como tem passado? - Susan era linda, seus cabelos louros em um corte curto a deixavam elegante, e realçavam seus belos olhos azuis-acinzentados. Ela devia ter algo entre 40 a 45 anos.

– Bem. - menti, a verdade é que não estava bem a muito tempo.

– Não me parece bem Mel, gostaria de falar sobre isso? Sobre James? – sua calma me irritava às vezes, mas hoje fazia com que eu sentisse vontade de me desmanchar em lágrimas.

– Não há muito que falar sobre James. - apenas o nome do bastardo me fazia tremer de raiva.

– Não?

– Por quê? Porque eu deveria falar sobre ele? Falar sobre o idiota que me deixou no altar?- logo eu estava gritando, era frustrante falar sobre James. – Nos conhecemos na faculdade, eu tínhamos 22 anos, um ano depois ele me pediu em noivado, tudo era bom demais, eu devia saber. - uma lágrima solitária rolou, e rapidamente a enxuguei. - Há dois meses eu tinha um bolo, a igreja, convidados e um vestido perfeito, só não tinha um noivo. Ele me deixou sozinha lá olhando para todos, tentando não desmoronar na frente deles. – eu havia começado, não iria parar agora, então tomei folego e continuei. – Um mês depois, em uma noite depois de varias garrafas de vinho eu fui até o apartamento dele, o encontrei na cama com minha melhor amiga. – levantei o olhar, Susan fitava-me com seus olhos acinzentados, algo como pena passou por eles, mas logo se foi, tão rápido quanto viera.

– E então, o que fez depois? - ela perguntou embora já soubesse a resposta.

– Fugi, deles, de mim, da dor. Ou foi o que pensei, pois eles me acompanharam o caminho todo e ainda se encontram aqui dento. - disse apontando meu peito. - Pensei que quanto mais longe eu estivesse dele, doeria menos, porém a dor me acompanhou, e agora vive presente em mim. Não adiantou fugir para outro estado, ou comprar uma casa nova, nada ajudou na verdade tudo só tem piorado. O bastardo do meu pai fugiu da prisão e agora provavelmente esta me caçando. - parei e refleti sobre minhas palavras e o quanto elas me machucavam.

– Estou orgulhosa Melanie, você finalmente foi capaz de expor sua dor para mim. Lamento que tudo isso tenha lhe acontecido. Lembro-me de quando a vi pela primeira vez, tão pequena e assustada, mesmo assim deixou-me entrar em sua vida. Você é mais forte do que julga ser. Acredito em você e você deveria fazer o mesmo, James não a merecia, nem seu pai. Também sei que um dia ira encontrar alguém e se apaixonar novamente. Só mais uma vez será suficiente Mel, você verá.

Suas palavras foram duras, porém sinceras, lágrimas não paravam de cair enquanto a ouvia.

Notei que nosso tempo havia acabado então me levantei.

– Mel? – virei-me e ela abraçou-me. –Estou muito orgulhosa de você!

– Obrigado Suzzie. – lembro-me de chama-la assim quando pequena. Susan fora meu anjo da guarda desde a morte de minha mãe.

Caminhei até a porta e a abri. Dei mais um aceno a ela e fechei a porta. Continuei em direção ao corredor, ao fazer a curva que levava ao elevador bati em algo e cai de bunda no chão. Ao olhar para cima vi Nathan, confuso. Ele estendeu-me a mão e receosa a aceitei.

– Sinto muito Srta. Davis não a vi. – ele geralmente fazia isso, idiota.

– Tudo bem, também não o vi. – me virei para o elevador.

– Melanie? 

– Sim?

– Gostaria de almoçar comigo amanhã? – cogitei dizer não, porém depois de hoje e a situação embaraçosa com Adden, resolvi aceitar.

– Sim, eu adoraria.

– Vejo você amanhã. 

Essa era a minha deixa, porém não queria partir. Balançando a cabeça, como que para recobrar o juízo, virei e segui até o elevador.