A sala de espera do hospital estava cheia, como já virara rotina. Gilson e Salma haviam entrado com o médico no quarto de Socorro, que havia despertado na noite anterior. O delegado aguardava a liberação médica para entrar e realizar o interrogatório.

A maioria dos moradores da Casa Verde estava ali, mas ninguém estava tão ansioso quando Giane, Fabinho, Maurício, Malu e Bento. A pedagoga estava sentada acariciando a barriga de quase seis meses, enquanto observava o irmão ninando o filho. Giane estava sentada, apertando as mãos, ansiosa e nervosa pelo que viria.

_ Gente? – Salma veio pelo corredor com o marido, atraindo a atenção de todos – Ela tá bem, graças a Deus. E, bom... Ela pediu para falar com a Giane.

_ Sozinha não. – rosnou Fabinho, se aproximando da esposa.

_ Relaxa fraldinha, ela tá algemada em uma cama. Não vai fazer nada. – lembrou Giane, beijando o rosto do rapaz e a cabeça do filho – Qual quarto que é tia?

~*~

Abriu a porta do quarto lentamente, nenhum pouco ansiosa. A verdade é que queria que Fabinho fosse com ela, mas ainda não gostava de mostrar fraqueza, era orgulhosa demais para isso.

_ Socorro? – a corintiana chamou a amiga de infância, observando quão magra ela estava. O braço quase deslizava pela algema que a prendia na cama, tamanha era a finura do mesmo.

_ Oi... – a enfermeira tinha o rosto pálido, e a voz era um sussurro fraco.

_ Como você tá cara? – perguntou Giane, parando próxima à cama.

_ Viva, acho que é o que posso dizer. – a fotógrafa assentiu – E você? A tia Salma disse que o Lucas já nasceu, e que ele tá bem.

_ É... Foi um parto um pouco inusitado e complicado, mas ele tá bem sim. – Giane sorriu de lado, mas logo assumiu uma expressão séria – Porque você fez isso Socorro? Ajudou a me pegarem? Eles iam dar sumiço no Lucas e...

_ Giane, eu juro que eu não sabia que eles iam tentar fazer nada com o Lucas. – garantiu a moça na cama – Quando me procuraram, disseram que queriam ferrar com a Amora, e eu concordei.

_ Tá, mas daí concordar em ajudar eles a me sequestrarem? Você sabia que o Lucas estava para nascer. – Giane pressionou a outra, que chorava em silêncio.

_ Quando eles falaram sobre te sequestrar, eu não queria. Mas eles disseram que seria apenas te tirar de casa pelo tempo de assustar todo mundo e fazer o Bento desconfiar da Amora, que no máximo no dia seguinte, te levaríamos de volta... – a enfermeira contou – Quando ele disse que nós íamos para o Rio com você, que eles iam... Que eles iam sumir com o Lucas, eu discuti com ele e...

_ Quem era ele Socorro? Como era o nome daquele cara? – perguntou Giane, lembrando do homem que lhe dava calafrios.

_ Ele se apresentou para mim como Silveira. – explicou a doente – Ele me tirou do carro e atirou em mim, e foi embora com você.

_ Mas ele não era o mandante das sabotagens contra a Amora? – Socorro negou – A mandante matou ele, e fugiu. Socorro, cê precisa contar quem é esse cara.

_ Eu vou contar, juro. – prometeu a moça – Mas Giane, eu preciso que você me perdoe. Eu nunca quis fazer mal para você, ou pro Lucas. Eu só queria me vingar da Amora.

_ E isso quase acabou com a sua vida, com a minha e a do meu filho. – Giane suspirou, massageando as têmporas – Mas eu te perdoo Socorro, o que não quer dizer que você não vai conviver com isso pelo resto da sua vida, nem que algum dia eu vá permitir que você se aproxime de mim ou da minha família novamente.

_ Obrigada. – Socorro sussurrou, secando os olhos – Você pode chamar a tia Salma, o tio Gilson e a polícia? Eu to pronta para contar tudo.

~*~

Não apenas Salma e Gilson, mas também Bento, Fabinho, Maurício e Malu, entraram no quarto. E como Fabinho ainda não se aquietava em ficar longe de Lucas, o garoto foi para dentro do quarto com os pais, ficando em seu carrinho.

_ Muito bem Socorro, pode começar a falar. – pediu o delegado, após posicionar o gravador e o escrivão começar a digitar tudo.

_ Aquele loiro, o Silveira... Ele me abordou um dia lá na Casa Verde, dizendo ter uma proposta de emprego. Eu desconfiei, mas ele insistiu. E então ele me levou até o chefe dele... Mas quem fazia todo o serviço sujo era o Silveira. Ele que empurrou a Malu da escada, que sabotou os brinquedos os Wilson, que organizou tudo para sequestrarmos a Giane.

_ E porque você aceitou ajudar eles a sequestrarem a minha mulher? Cê tem problema garota? – Giane apertava Fabinho junto de si, evitando que ele se descontrolasse. Malu estava sentada, apenas observando tudo em silêncio, balançando levemente o carrinho do afilhado.

A enfermeira repetiu tudo que havia explicado para Giane, mas Fabinho não baixou a guarda. Não conseguia ter um coração bom como o da esposa.

_ Muito bem... Você disse que você foi levada ao chefe do Silveira... E quem seria essa pessoa? – perguntou Bento, apoiado na beira da cama. Socorro observou todos, engolindo em seco.

~*~

Tito Rabello e Lara Keller foram presos e indiciados naquela mesma tarde. A ex-apresentadora do Luxury havia convencido o rapaz a ajudá-la a incriminar Amora, destruindo o buffett de Wilson, empurrando Malu da escada e sumindo com o filho de Giane e Fabinho. A próxima vítima na lista de ambos era Camila Lancaster, futura senhora Cardoso.

Tito pegou 15 anos de prisão, Socorro teve que prestar trabalhos comunitários, e Lara conseguiu um ótimo advogado, que a inocentou. A ex-apresentadora se tornou candidata à deputada estadual.

Giane e Fabinho assistiram aos três julgamentos com Lucas no colo, acompanhados pelo restante de suas famílias. Quando Lara se aproximou, após ser absolvida, tentando tirar com a cara dos presentes, conseguiu os cinco dedos de Giane estampando sua cara.

_ Vocês acham que a Lara pode tentar fazer mais alguma coisa contra nós? – perguntou Irene, já fora do fórum, enquanto se dirigiam para os carros.

_ Ela não vai ser nem louca. – garantiu Fabinho – Se acontecer qualquer coisa, vão direto nela. E eu mesmo faço questão de chegar antes da polícia, só para acabar com a raça dessa desgraçada.

_ Melosinho e super-protetor, onde eu fui me amarrar. – Giane brincou, ganhando um selinho do marido – Vamos para casa vai.