A noite desceu depressa. Amora pediu que um dos vizinhos ficasse com Mayara e André, e deixou com as crianças os números para os quais deveriam ligar, caso eles não voltassem até de manhã. Afinal, como Fabinho mesmo havia dito.

_ Do mesmo jeito que nós estamos armando para eles, eles podem estar armando para gente.

Bento tirou o carro dali, deixando escondido em uma ruela lateral. Ele e Fabinho estavam escondidos em outra ruela, próxima ao tal consultório, encobertos pela noite. Amora sairia do prédio às 21h e iria direto para lá. Malu e Maurício estavam em um barzinho ali perto, fingindo ser apenas um casalzinho de namorados.

A clínica era bem no final da rua, e estava abandonada fazia tempo pelo visto. Depois dela, só havia mato, mato bem alto.

_ Já deu 21h, e nem sinal da Amora ou de ninguém. – sussurrou Fabinho.

_ Calma, a Malu tá de onde ela possa ver a saída do prédio e aqui... A Amora não tem pra onde ir. – Bento garantiu – E eu tenho certeza que ela não vai nos enganar.

_ Como você sabe? – perguntou Fabinho, e o florista riu.

_ Lembra o que você disse sobre fé? – o publicitário confirmou, sorrindo de canto – Eu to me agarrando a fé de que a Amora está do nosso lado.

~*~

A ex-it-girl mais querida do Brasil desceu as escadas de seu prédio, trêmula. Não sabia o que a aguardava, se a pessoa manteria sua promessa, se conseguiriam salvar Giane e Lucas, mas rezava para que sim. Já tinha vermelho demais em seu saldo, não precisava computar mais isso.

Viu Maurício e Malu no bar, e deu um aceno para eles. Seguiu pela rua, que estava vazia. Diferentemente da Casa Verde, o lugar onde morava ficava deserto logo as 20h30, a exceção de ocasionais viciados e bêbados.

Chegou à frente da clínica, e olhou em volta. Apanhou o celular para ligar para o número desconhecido, mas um farol vindo pela rua a interrompeu. Observou o carro se aproximando, com os olhos semicerrados pela claridade. O veículo estacionou perto dela, e quando desligou o motor, ela pode ouvir um grito de dor.

_ Ora, ora, ora... Que prazer conhecer a famosa Amora Campana. – um homem loiro (provavelmente o sequestrador comparsa de Socorro) desceu do carro sorrindo – Adoraria ficar batendo papo, mas precisamos entrar, antes que a mocinha aqui tire o bairro todo da cama.

O homem abriu a porta traseira, puxando Giane para fora. Amora arfou ao ver a garota, que lhe fuzilava, enquanto apertava a barriga o máximo que podia.

_ As contrações estão há cada dois minutos. Pelo visto, isso é um bom sinal, não é queridinha? – perguntou o loiro, sorrindo para Giane, que lhe cuspiu na cara – Mal posso esperar para esse menino nascer, para poder me livrar de você.

Ele puxou Giane pelo braço, arrancando uma chave do bolso e abrindo a porta. Empurrou a grávida para dentro e virou-se para Amora.

_ Vamos... A chefia já está chegando. Enquanto isso melhor calar a boca da garota aqui. – Amora assentiu, olhando ao redor, antes de seguir os dois para dentro do consultório – Não é exatamente um hospital, mas quem está ligando? Você está ligando gracinha?

_ Fique longe do meu filho, ou eu acabo com você. – rosnou a corintiana, fazendo o loiro rir.

_ E ainda acha que pode exigir alguma coisa. – Amora riu, puxando a garota pelo braço – Garota, se você sabe o que é melhor para você, fica quieta. – ela sibilou as últimas palavras, fazendo o loiro rir. Ele saiu da sala, e Amora suspirou – O Fabinho, o Bento, o Maurício e a Malu estão lá fora. Eles vão tirar você daqui. Mas não os irrite.

_ Você tá por trás disso? – Giane sussurrou de volta, e Amora negou.

_ Depois eles conversam com você. Se concentra em segurar o bebê ai dentro, pelo menos até eles te tirarem daqui e correrem pro hospital. – a grávida concordou – E nem adianta me pedir ajuda. Eu avisei que você ia pagar.

_ Leva a garotona ai pra dentro. A chefia chegou, e o tempo fechou. Vai cair o mundo ali fora, e ninguém vai poder ouvir ela. – o loiro voltou rindo, e Amora concordou. Ela puxou Giane para dentro, sentando-a em uma cadeira velha e indicando que ela ficasse em silêncio. Quando virou-se para sair, ouviu um som de tiro e gelou.

~*~

_ Vamos. – Fabinho começou a levantar, mas Bento o impediu.

_ Esse loiro é o comparsa da Socorro... – lembrou o florista – E você ouviu, a “chefia” está chegando. Se nós formos para lá, seja lá quem está por trás disso não vai aparecer.

_ Avisa a Malu para esperar. – Fabinho apontou a irmã e Maurício, que começavam a sair do bar. Bento ligou rapidamente, pedindo que a amiga esperasse mais um tempo.

Fabinho quicava no lugar, com o coração saindo pela boca. Ouviu os gritos de dor de Giane quando chegou, e o loiro falando sobre dois minutos. Se bem lembrava das aulas de parto, isso significava que em no máximo meia hora, a garota teria que empurrar. E também havia a chuva que estava chegando. O céu estava escuro, trovoando, e logo começaria a chover forte. Apertou mais a jaqueta contra si.

_ Tem outro carro vindo. – Bento sussurrou, apontando a rua. O jipe preto veio e estacionou atrás do sedan do homem loiro – Você consegue ver alguma coisa?

_ Nada. – sussurrou Fabinho.

A pessoa no carro desceu e o homem loiro veio de encontro a ela. E então o improvável aconteceu: o recém-chegado ergueu uma arma e atirou contra o comparsa.

_ Merda... – sussurrou Fabinho – Mudança de planos.