E os olhos se encontram, os corações aceleram, a respiração pesa, e ambos percebem que, não importa o que aconteça, sempre estarão juntos.

Eu estava sentado em um dos muitos bancos da biblioteca. Mirella já havia saído, e eu estava apoiando minha cabeça em minhas mãos. O que diabos aconteceu aqui?

- Ela já foi? – perguntou Afrodite entrando na biblioteca. Assenti com a cabeça. Ela sentou do meu lado. – Qual é o problema?

- Eu não sei – eu disse. Afrodite levantou meu rosto obrigando-me a encara-la. – Você  não acreditaria.

- Você se surpreenderia – disse ela.

- Quando ela estava caindo... eu... eu...

- Você escalou a parede e saltou para segura-la – ela completou. Encarei-a. – Eu vi.

- Isso é possível?

- Por que não seria?

- Talvez por causa da gravidade... – eu disse desviando o olhar.

- A gravidade deveria impedir muitas coisas – ela disse. – Mortais não sabem de tudo como gostariam de saber. Eles ignoram fatos que estão claros, mas eles insistem em dizer o contrário. Não é por causa da gravidade que o homem não pode voar.

- Você fala dos mortais como se não fosse uma – eu disse sem encara-la.

- Diga-me, Caio, você acredita em deuses?

- No plural?

- Sim, no plural.

- Acredito que há forças no nosso mundo que não podemos entender, mas isso não quer dizer que deuses existam.

- E se eu te disser o contrário?

- Eu não acreditaria.

- Tem certeza? – ela disse suavemente. Eu olhei para ela e novamente seu rosto mudava. – E se eu prova-lo?

- Afrodite, não ouse – disse Palas entrando na biblioteca.

- Ele tem de saber – disse Afrodite.

- Ele é jovem demais – disse o Sr. Jackson.

- Como podem ter certeza? – Afrodite se levantou e caminhou até o Sr. Jackson. – Ele merece.

- Você não tem nenhum direito sobre ele, não pode tomar essa decisão – retrucou o Sr. Jackson.

- E você tem? – Afrodite perguntou de forma ameaçadora. – Você o abandonou por causa de uma estupida profecia.

- Ele é meu filho. Entenda isso de uma vez por todas, Afrodite – exigiu o professor.

- Do que estão falando? – interrompi. Palas me encarou e eu estremeci.

- Não é nada – disse ela.

Afrodite caminhou em minha direção.

- Estamos falando de você, filho de Poseidon – disse ela séria.

- Não tem graça – murmurei.

- Não acredita em mim? – Afrodite perguntou.

Fiz que não com a cabeça.

- Isso não foi gentil – ela me encarou. – Então, diga-me, quantas pessoas que você conhece conseguem mudar de aparência de dois em dois segundos?

- É...

- E fazer com que os mortais ao seu redor parem.

- Nenhuma...

- E como eu saberia que você encontraria Mirella aqui, hoje?

- Isso é impossível – eu disse.

- Apenas se você quiser que seja.

- AFRODITE, JÁ CHEGA! – exigiu o professor. Ele aproximou-se de mim e me olhou nos olhos.

- Acredita em mim agora? – Afrodite disse atrás do Sr. Jackson.

- Você...

- Olá, meu filho – disse o Sr. Jackson.

Eu acordei na minha cama assustado. Então foi tudo um sonho? É claro que foi.

- Vamos, a mamãe já preparou o jantar – disse Beatriz entrando no meu quarto.

- Há quanto tempo eu estou dormindo? – perguntei.

- Desde que chegou da escola – ela disse. Encarou-me confusa.

- Cadê a mamãe?

- Ela está lá fora, conversando com o Sr. Jackson – disse Bia.

- Sr. Jackson? – assustei-me.

- Sim, o professor de educação física – disse ela. Sua confusão redobrou. – Você tá bem?

- Já vou descer – eu disse.

- O.K. – Bia saiu do quarto.

- Droga... o que aconteceu? – murmurei botando a mão na cabeça. Fechei os olhos e a imagem de Afrodite veio à minha mente: Filho de Poseidon. O que ela quis dizer com isso? Ah, esqueça, era só um sonho.