O Quarto Rosa escrita por Lótus


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

O gato



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O inverno estava próximo, o aspecto do pomar não era o mesmo, as árvores outrora tão frondosas com suas folhas esvoaçantes, se resumiam agora em vultos cinza, nos convidando a não querer mais brincar ou correr livremente pelo quintal da fazenda, e esse cenário sempre insistente nos levava a indagação: onde estão os animais? Esconderam-se? Foram embora? Eu geralmente ficava triste nessa época, porque essa natureza antes tão minha, tão exuberante, parecia agora uma natrueza estranha ao meu mundo, talvez sim, seria a outra parte de mim, só que triste e quase sem animais.

Minha mãe percebendo minha quietude forçada convidou-me a um passeio pela fazenda dizendo que tinha algo que queria me mostrar, fui, porém resignada, por não acreditar que naquele momento minha tão conformada mãe pudesse fazer algo que me distraísse a tal ponto de mandar a tristeza ir embora. Fomos. Depois de muito caminhar, atravessamos um riacho, quase seco, (pobrezinho), chegando em um local, fomos em direção a uma arvore seca, feia, quase sem vida. Perguntei: __ O que pode ter de interessante aqui? Não vejo nada. - Minha mãe com toda a paciência, atitude rara para ela, respondeu:

__Calma Bianca ainda não te mostrei. – Nisso ela se aproximou da árvore e apontou para um ninho construído no topo dessa árvore, trepou e disse:

__Veja, são filhotes de periquitos. – Eu amava periquitos, pude ver alguns soltos. Mas filhotes assim ainda não tinha visto.

__Você quer Bianca?

__Mãe eu não consigo cuidar deles! – falei já um pouco chorosa, preocupada com a possibilidade de perdê-los, se ainda nem os tinha.

__ Hahahaha! (minha mãe riu alto). Que isso menina, eu te ajudo a cuidar deles.

__Ahhh mãe! – eu estava emocionada demais para contrargumentar.

Assim fomos embora com nossos três pequenos e indefesos filhotes de periquitos, pareciam ter somente alguns poucos dias de nascidos.

Todavia, com a vinda dos pequenos periquitos para a nossa casa a rotina mudou totalmente, minha vida agora se resumia em cuidar desses pequenos, fiscalizar se estavam alimentados, se dormiam e cuidar de outros predadores, caso houvesse, nunca acreditei que pudesse acontecer algo de ruim aos meus pequenos e amados.

Três semanas depois, nossos periquitos estavam bonitos, todas as penugens viçosas, um verde vivo maravilhoso, levantavam e abaixavam as cabecinhas, pareciam dançar brincar e fazer gracinhas, andavam, batiam as asinhas, pareciam felizes, nem de longe pareciam àqueles periquitos do ninho. Em uma manhã passava perto do quarto onde ficavam acomodados em uma casinha que pareciam uma gaiola caseira improvisada, e ao passar perto desse quarto, pude ouvir batidas fortes de asas, pensei, nossa, estão voando?

As batidas de asas continuaram firmes, insistentes, mas de forma que poderia se sentir agonia nelas, me aproximei rapidamente e ainda pude ver,...um restinho de asa de um periquitinho dentro da boca do gato, o gato o comia vivo. Foi uma das cenas mais chocantes que me lembro de ter presenciado, devido ao amor que eu tinha por aqueles animaizinhos.

Aquele mesmo grito de horror, pavor, já utilizado por mim outrora com o Valdemar, surgiu com toda a força possível, só que dessa vez acompanhado de enxurradas de lágrimas, eu sentia muito dor, dor na alma. Gritei, chorei, gritei, chorei, até minha mãe aparecer abismada, procurando saber do ocorrido. Eu gritava:      __Mãaaeeeee! Eles se foram, nossos periquitinhos se foram.

Minha mãe procurou me acalmar e me disse que iria aplacar a dor que eu sentia, e disse:

__ Acabei de dar ordens para a Maria. Siga-a.

Maria era ajudante temporária de minha mãe quando matavam vaca na fazenda, assim, minha mãe me pediu para acompanhar a Maria e ver o que ela iria fazer com o gato. Fui só para ter certeza de que o gato não voltaria mais para nossa casa e fosse doado para alguém. Quando percebi, Maria carregava o gato dentro da sacola, e após chegar a um local isolado, tirou o gato da sacola, depositou-o em cima de uma pedra e em um golpe certeiro e impiedoso, esmagou a cabeça do gato com o machado, detalhe, o machado estava próximo do local.

Imediatamente comecei a chorar e indagar:

__Por quê? Por que fez isso com ele? Não queria que ele fosse morto, e ainda mais dessa forma.

Naquele dia eu estava duplamente triste, pelos periquitos e pela morte do gato.


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