Par Perfeito escrita por Laura Penha, Leyha Nyah


Capítulo 3
Não me subestime




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“Com um sorriso cúmplice fizeram um contrato silencioso de amizade.”

– Você ouviu o que eu disse, Ino? – Eu perguntei outra vez enquanto ela encarava seu reflexo perfeito no espelho do banheiro. – Ele disse que ia transformar minha vida num inferno. – Dei uma pequena pausa. – Um inferno! - Não era preciso fazer muito, minha vida não é lá essas coisas, então por que eu estava preocupada? Quero dizer, já sou discriminada pelo grupo da Karin por que tenho o cabelo cor-de-rosa, ele só teria que dar mais um motivo pra pegarem ainda mais no meu pé, e eu, como sempre, sobreviveria. Simples assim.

– Ele quer que você fique desesperada. – Capitão óbvio, oi.

– Tá funcionando.

Ela se virou para mim séria. – Tudo que você precisa pensar é que ele é lindo.

Certo. Ele é lindo. Muito lindo. – Espera. O que?

– É, testuda, use seu cérebro de ouro. – Ino colocou a mão sob o queixo tentando dar aquele ar de inteligência que só os gênios têm (continue tentando, amiga). – Vire o jogo a seu favor. Quando ele tentar se vingar de você... – Aquele olhar estava me assustando, os neurônios da minha amiga começaram a agir, sinal de que as coisas não estavam seguindo seu curso natural. – aí você inverte a situação e faz ele quebrar a cara.

A ideia era boa, mas depois que ele quebrasse a cara (de novo), iria querer mais do doce néctar da vingança. Eu também não podia correr o risco. Desconsiderar as palavras de Ino não chegavam nem perto de ser uma opção.

Meus pensamentos foram esmagados bruscamente pela voz estridente de nossa diretora saindo pelos megafones distribuídos pela escola, o que me traz de volta a pergunta: “por que diabos tem megafones dentro dos banheiros?” – Alô? –

Três batidinhas no que presumo ser o microfone – Esse troço tá prestando? – Ela dá uma pequena pausa – Bem vindos, alunos de Konoha Gakuen, para mais um ano de estudos cansativos. Peço a todos para se reunirem na quadra para uma apresentação formal de todos os novos professores. Obrigada pela atenção. - Um momento de silêncio e depois um murmurio - Já desligou?

*****

É como todos os anos. O hino do colégio começa. Todas as turmas ficam divididas em filas perfeitas. A diretora-escandalo-tsunade começa seu discurso e, no meio dele, dá uma discreta olhada no braço todo rabiscado e volta a falar. Depois os três novos professores falam alguma coisa. Logo após somos dispensados e corremos para fora.

Antes que eu pudesse chegar ao portão ouvi uma voz familiar me chamar.

– SAKURAAA! AONDE VOCÊ VAI? - Uma luzinha vermelha piscava insistente no meu cérebro. “Não vire”, “Ignore”, “Corra”, “Fuja”. Mas eu fui fraca e virei. Até hoje me arrependo amargamente. Em questão de instantes os braços de Naruto esmagavam meus ossos.

– Pode soltar agora – Ele me soltou insatisfeito.

– Será que você não pode parar de fugir?

– E você? – Olhei ao redor e vi Hinata ao longe, sentada em um dos bancos do colégio. – Não pode parar de me abraçar? O que você acha que ela pensa? –

Apontei pra ela com a cabeça.

Naruto suspirou triste. – Eu não sou nada pra ela. E mesmo que fosse... – E mesmo que fosse tinha toda a questão da família Hyuga pra se preocupar, todas as regras, os valores, as tradições, e mais importantes que isso, as condições para entrar na família. É exatamente o que eu chamo de um “amor de livro”, um amor impossível.

Kakashi diria que é exatamente o contrário, se está escrito, já aconteceu com alguém. “Por que não aconteceria de novo?”.
Involuntariamente sorri. Se eu tivesse um pai – e em algum lugar por aí eu tenho – gostaria que fosse como ele. Mas eu provavelmente nunca vou saber sobre ele, já que minha mãe evita o assunto tanto quanto evita alimentos gordurosos e Fandangos.

Suspirei fundo e voltei ao presente, à realidade. - Ela gosta de você. Eu sei. – Antes que ele perguntasse como, eu falei – Vai por mim.

Ele sorriu amarelo e balançou os cabelos loiros com uma das mãos - Obrigado.

– É, sou uma ótima amiga. – Meu sorriso logo se desfez ao identificar o ser que acabava de sair da escola. – E-Eu... Tenho que ir. – Antes que eu me virasse Sasuke me viu, sorriu maleficamente e começou a andar pra mim. Um calafrio percorreu minha espinha. Ai, Kami-sama, por quê? – Tchau. – Dei dois tapinhas no ombro de Naruto e fugi.

Voltei pra casa o mais rápido que consegui.

Naquele sorriso eu soube que ele não desistiria tão fácil e no meu olhar ele soube que eu levei seu aviso a sério. Muito a sério.

Correr para as colinas: sim, com certeza, claro, ou todas as alternativas anteriores?

*****

Acordei sem um único pingo de vontade de ir ao colégio, mas adivinha? Meu cérebro nerd fez um discurso incrível sobre como é importante comparecer as aulas de matemática 1, matemática 2 e geografia. (Uma observação importante: se eu quisesse saber sobre o clima, relevo, etc. de outras regiões, eu conferia pessoalmente, obrigada. Será que a diretora nunca ouviu falar que a prática leva a perfeição?)

Encarei a farda estendida na cama. “Só mais um ano”, repetia para mim mesma, “mais um ano e nunca mais precisarei de uniforme”. A saia xadrez de pregas longas, a blusa branca de botões, a meia branca e a sapatilha. Konoha Gakuen era o melhor em escolas em quase todo o Japão, perdendo somente para outras duas (cujos nomes não me lembro).

Desci metade das escadas até escutar uma voz diferente e parei.

– Mas, querida, já está na hora. – Inclinei minha cabeça para frente tentando ouvir mais alguma coisa. – Já estamos juntos há um mês.

– Um mês e meio – escutei minha mãe suspirar – Ela pode não aceitar bem nosso namoro.

– Se você me quisesse mesmo na sua vida já teria me apresentado sua filha. – É, chantagem emocional. Sempre funciona.

– Olha só, - Falei enquanto terminava meu trajeto e seus olhos se voltaram para mim. O homem tinha uma aparência jovem (eu apostava nos 23 anos) e cabelo branco que quase batia nos ombros. Outra vez minha mãe estava namorando crianças. – se o problema era me conhecer, oi, sou a Sakura – e como se não pudesse parecer mais retardada – sou filha dela e ela é minha mãe – Mamãe me repreendeu com o olhar, então peguei minha linda saia de pregas, segurei em suas duas pontas e me curvei – prazer.
Eu quase sentia as mãos de minha mãe envolverem meu pescoço.

– Querida, esse é Hidan, meu namorado.

– E por isso as dietas loucas – murmurei e outra vez aquele olhar de repreensão – Estou atrasada, mas foi bom te conhecer.

Saí de casa como um verdadeiro furacão.

Ouvi um ronco baixinho vindo do meu estômago e coloquei a mão por cima. – É, amigo, você prefere ficar com fome ou comer pão integral de novo? - E ele se calou. Eu e meu estômago estávamos chegando a um consenso.

*****

– O que tá fazendo, Haruno? – Pergunta o genial Uchiha durante a aula de matemática 1.

– Você não ouviu o professor novo? – Sasuke continuava com cara de bunda, então, eu de tão generosa, expliquei. – Ele passou um teste. Resolva. – Ele só revirou os olhos e pôs os pés em cima da mesa.

O professor Oro- Ochiru- Ororu- Arg! O professor novo se virou de repente e foi andando até a nossa carteira. Sorri mostrando todos os dentes.
“Ele se ferrou, ele se ferrou.”

– Qual é seu nome? – O estranho é que o professor falava olhando pra mim. Será que ele é vesgo? Escuto só uma risada do maldito emuchiha do meu lado. Meu sentido aranha alertou: “Eu me ferrei, eu me ferrei”.

– Qual o seu nome?

– Anh... É comigo? - Ele continuava a me encarar sério. - Tem certeza? - Isso, mostre ao professor o quanto você é retardada. - Sakura. - Respondi baixinho.

– A senhorita Sakura está te incomodando, jovem?

Eca, ele só faltou apalpar, passar manteiga e comer o Sasuke ali mesmo.

Sasuke ficou tenso, pôs os pés para baixo lentamente e balançou a cabeça em negação. A minha vontade de rir voltou, mas pus as duas mãos na boca me controlando. Era muita viadagem pra um dia só.

– Mesmo? - Vi uma gota de suor escorrer da testa dele e outra vez ele ficou calado.

O professor passou a língua enorme nos lábios, piscou um olho só antes de voltar para a frente da sala.

Olhei para a pobre criança traumatizada - Você vai fazer o teste agora?

– Se eu não for estuprado antes.

A aula passou rápido, mas ali, naquele pequeno instante, eu senti que alguma coisa aconteceu, e não, não foi o acontecimento bizarro entre o jovem emuchiha e o cobra Orochi. Foi algo mais forte, mais especial. Fez meu estômago vazio se contrair.

Será que são vermes?

Sasuke escreveu alguma coisa em um papel e me deu. Antes de ler, fiquei admirando a caligrafia dele e, discretamente, comparei com meus garranchos no caderno do Green Peace. Droga!

Festa, na minha casa, amanhã às oito. A sala toda vai.

Demorei um pouco para calcular que dia era amanhã. Sete dias na semana, começando do domingo, e se hoje é quinta... Ah, sexta. Peguei minha caneta e respondi: É um plano maligno pra me humilhar na frente de todo mundo? Você acha mesmo que eu vou cair nessa? Acha que sou burra assim? Não me subestime, Uchiha.

Ele leu rindo: Vai ter comida de graça.

Que horas vai ser, mesmo?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado
Beijinhos e ja ne ;*